terça-feira, 16 de março de 2010

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Assisto à derrocada das cidades
Na face degradada e dolorida,
Ainda que restasse qualquer vida
Diversa das antigas realidades.

Estúpido fantoche ainda vê
Retrato do futuro e nada faz,
Lutasse tão somente pela paz,
Mas sobrevive apenas, sem por que.

Destroça a mãe que um dia alimentara
Matando o Pai que outrora em sacrifício
Já fora seu cordeiro, e desde o início
Se arrependera até do que criara.

Reflexo da voraz, tosca heresia
“A terra se abalava e estremecia.”

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“A terra se abalava e estremecia”
Enquanto em palidez venal momento
Gerando totalmente o desalento
Matando e torturando em agonia.

Espúrio olhar ao longe regozija
Gargalha-se Mefisto, vaga sobre
O escombro que deveras já recobre
E nada após o tanto inda se erija

Deixando o caos completo como herança
Daquela que se fez autoritária,
Rainha sem escrúpulos, falsária
De torpe vaga e pútrida lembrança

Assim após o fim deste Planeta
Ao nada do depois nos arremeta.


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Ao nada do depois nos arremeta
O quadro lacerado que ora vejo,
E quando se pensara em azulejo
Agrisalhada face se cometa.

Acinte repetido em gerações
Diversas espalhando esta aridez
Na qual toda uma história se desfez
Não escapando nem mesmo os grotões;

Exala-se este odor adocicado
De pútridas carcaças que se espalham,
Abutres entre os corpos já retalham
O que se percebera destroçado.

E a Terra desnudando os seus segredos
“Lá desde o alto aos côncavos rochedos”.

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“Lá desde o alto aos côncavos rochedos”
Dos vales mais profundos aos abismos,
Depois dos mais terríveis cataclismos,
Assim se encerrarão nossos enredos.

Nefasta face expondo esta verdade,
Culpado e suicida, o ser humano,
Tomado tão somente por engano
Mesmo quando esta face se degrade

Desiste da esperança quando assola
Com fúria e destemor, a mãe gentil,
Que um dia insanamente assim pariu
O ser que de servil, ora controla

Do amor que foi parido, pari o nada
A sorte desairosa cultivada.

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A sorte desairosa cultivada
Por mãos gananciosas nada traz,
Num ar tempestuoso e tão audaz
O que já fora vida se degrada.

Ilude-se em venal quinquilharia
Vendendo-se ao demônio pouco a pouco,
E quando ainda insurjo me treslouco
A sorte a cada passo se esvazia.

Partícipe da festa, vez em quando,
Não nego com certeza minha culpa,
Por mais que outro caminho já se esculpa
O quadro cada vez se deformando

Traçamos com terríveis, toscos riscos
“Cá desde o centro aos altos obeliscos”

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“Cá desde o centro aos altos obeliscos”
Aspectos mais funestos da verdade,
Aonde se pudesse em liberdade
Os homens sendo sempre mais ariscos

Desviam cada vez a própria fonte
E matam o que resta do porvir,
Apodrecendo a vida, posso ouvir
Lamento desta mãe sem horizonte

Mesquinharia doma o que pudera
Ser mais do que talvez simples demônio,
Destrói com fúria o enorme patrimônio
E como fosse assim terrível fera

Avassalando insano, rios, matas,
Por mãos tão agressivas e insensatas.

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Por mãos tão agressivas e insensatas
A derrocada expressa em sofrimento,
Não restando sequer algum momento
Imagens soberanas que retratas

Com toda insanidade contumaz
Aspectos tão diversos e uniformes
Os restos são deveras mais disformes
Apenas o final nos satisfaz

Medonha face exposta a cada dia,
Tornando-se impossível convivência
Aonde se pensara inteligência
A morte sem defesas perfazia

E em meio aos vendavais, terríveis medos
“Houve temor nas nuvens, e penedos.”


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“Houve temor nas nuvens, e penedos”
Gigantes nuvens feitas de fumaça
E quando sobre a Terra já se traça
O fim tornando tétricos enredos

A sanha do Planeta desenhada
Por mãos toscas e torpes, violentas
Gerando após tormentas mais tormentas
Herança pouco a pouco sonegada.

Vingança? Não. Somente conseqüência
De nossa estupidez esteja certo
Que tudo redundando num deserto
Criado com terrível eloqüência

Resultando das vândalas bravatas
Imensos fogaréus tomando as matas.

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Imensos fogaréus tomando as matas
Estúpido caminho eu adivinho,
E quando destroçamos nosso ninho,
Criaturas terríveis, pois ingratas

Não deixaremos nada após, por isto
Merecemos o fim que cultivamos,
E quando em voz audaz pensamos amos;
Servis dos nossos erros. Eu insisto.

E vendo esta faceta em garatuja
Traçada por demônios: nosso espelho,
Já não sabendo mais qualquer conselho
A face que se vê terrível, suja

Da verdade fugíamos ariscos,
“Pois dava o Céu ameaçando riscos”.


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“Pois dava o Céu ameaçando riscos”
Avisos deste estúpido final,
E a face que se mostra tão boçal
Repete os arranhados velhos discos

Não vês quão necessário ter um fim
Ganância após ganância gera o caos
Sem ter ancoradouro, pobres naus
Vagando em oceano segue assim

À beira do naufrágio inevitável,
Riscando mares turvos, podres águas
E quando na verdade tu deságuas,
Palavra sendo franca e não potável

Demonstra a escuridão anunciada:
Depois de tudo vejo o simples nada.

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