quinta-feira, 18 de março de 2010

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27131


“São sempre incertos do reinante os passos”
Assim como no amor a previsão
Se torna tão complexa direção
Mudando a cada dia velhos passos,

E sei que não podendo ter nas mãos
Timão que me garanta a travessia,
A cada temporal transmudaria
Destinos verdadeiros, falsos, vãos...

Descrevo com terror e paz imensa
Instáveis trilhos quando enamorado,
E o vento destruindo o meu passado,
Às vezes me sonega a recompensa.

Reinando sobre todos os sentidos,
Um déspota não dá sequer ouvidos...


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“No tapete macio dos degraus”
Escadaria feita em esperança
Ao nada muitas vezes já nos lança
Distanto de algum cais, diversas naus.

E sendo sempre assim, tão inconstante
Amor não poderia nos trazer
Certeza dum risonho amanhecer
Tampouco se transporta em luz brilhante.

Esplêndida emoção em luz escassa,
Sombria tempestade em copo d’água
Num oceano imenso já deságua,
Porém de uma nascente já não passa.

E tal disparidade me atordoa,
Do enome transatlântico, à canoa...

27133



“Boceja e o corpo sensual estira”
Enlanguescida deusa feita em glória,
Ao mesmo tempo a luz, já merencória
O que tanto trouxesse me retira.

Fulgura fátuo brilho tão fugaz
Aonde se quisesse mais perene,
Por mais que muitas vezes me serene
A paz já não concebe ou satisfaz.

Esdrúxulos caminhos dita amor,
Perpétuas ilusões em vagos motes,
E quando muito além ainda notes,
Percebes todo o rumo decompor.

Perceba nesta imagem vários tons,
Terríveis, muitas vezes sendo bons.


27134


“Sob os dosséis dos sólios a mentira”
Entorpecendo uma alma sonhadora,
E quanto se aproxima há tanto fora
Do todo não restando sequer tira.

Perceba a luz que emana-se do olhar
Daquele que se deu em franco sonho,
E quando este momento é mais tristonho,
Começa tudo mesmo a desabar.

Fagulhas irradiam-se de quem
Pudesse ter mais forte esta esperança,
Mas quando a realidade vem e alcança
O nada, simples nada, me contém.

Assisto ao meu final de camarote,
Sem ter sequer quem veja ou mesmo note...

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“Vigorosa estender-se como a vinha”
Tomando esta seara mais fecunda,
Por mais que em luz imensa se aprofunda,
O amor pouca valia inda continha.

Esqueça os desenganos, siga em frente
E pense no amanhã como se fosse
Além de algum momento que agridoce
Permite que a vontade ainda enfrente.

Derrames de carinhos e de tédio,
O amor já não conhece mais remédio
Assim remediado sempre está.

E tudo o que querias no passado,
Ao ver no olhar deveras bem amada,
Decerto novamente brilhará.

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