sexta-feira, 19 de março de 2010

27167/68/69

“Tudo sorri — mas a minh'alma é triste,”
Assim como o dobrar de um velho sino,
A cada desamor mais desatino
Felicidade eu sei que não existe.

O coração cansado de vagar
Por entre estrelas várias e não ter
Sequer a menor sombra de um prazer
Há tanto se esqueceu de algum luar.

Vivendo simplesmente e nada mais,
Aonde se quisera mais contente,
Como se fora eterno penitente
Vagando por caminhos mais venais.

Minha alma procurando um lenitivo,
Somente esta tristeza imensa, vivo.


23

“Eu vejo o mundo na estação das flores”
Primaveris momentos que não sinto,
O amor que tanto quis; agora extinto,
Os medos dos meus dias são senhores.

Pudesse pelo menos ter no aroma
Da rosa solitária algum relance,
Mas quanto a vida em dor avance,
Somente este vazio enfim, me toma.

Cansado de lutar, triste e sozinho,
Ausência do que fora uma alegria,
Seguindo sem destino em noite fria,
Um pássaro perdeu há tanto o ninho.

Ausente dos meus olhos, primavera,
Eterno inverno é tudo o que se espera...


24


“Só eu não sei em que o prazer consiste”
Depois da derrocada deste sonho,
Aos poucos, solitário, decomponho
Nem mesmo uma alegria vã resiste.

Servir às fantasias, ter ao menos
Momentos mais felizes de esperança,
Porém a vida passa e o tempo avança
Envolta pelas dores e venenos.

Assisto ao meu naufrágio, perco o cais,
E tudo o que me resta é ter certeza
Do quanto se perdera sem destreza
Ternura em dias frios, invernais.

Agora que a tristeza me domina,
Já seca e sem futuro, a antiga mina...

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