sexta-feira, 19 de março de 2010

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27207

“Não sei porque — mas a minh'alma é triste”
E sinto que jamais conseguiria
Verter algum momento de alegria
Deveras coração ainda insiste,

E luta contra as dores corriqueiras,
Vencido pelo medo do querer
E tendo no final o desprazer
Rasgando as esperanças, vãs bandeiras.

Não pude perceber sequer a glória
De um dia aonde se pudesse ainda
Viver a fantasia rara e linda,
Se a noite vai passando merencória...

Perdido, sem destino sigo ao léu,
Estrelas; não mais vejo em turvo céu...


27208


“Ou só no campo, ou no rumor das salas,”
Apenas o vazio dominando
Cenário que pensara bem mais brando
As esperanças morrem, vis vassalas.

Escarpas e montanhas, cordilheiras
Tantas adversidades encontrei,
E quando procurara mansa grei
Somente escadarias e ladeiras.

Esgarçam-se deveras os meus sonhos
E traçam o vazio do depois,
Aonde poderíamos nós dois
Resumem nossos dias, mais tristonhos.

Ao menos um sorriso merecia
Quem tanto se perdeu na fantasia...


27209



“Mas eu não sei em que o prazer consiste”
Se tudo se transforma em medo e dor,
Pudesse ter o olhar mais sedutor,
Porém a minha vida segue triste.

Aprendo a disfarçar meu sofrimento,
Sorrisos de ironia sem sentido
O amor adormecido num olvido
Esboça vez em quando um vão momento.

Aprendo a crer no nada como base
De um mundo que talvez ainda insista,
Porém não vendo mais um rastro ou pista
A sorte do meu mundo se defase.

Levando desta forma o dia a dia,
Só resta para mim, a poesia...

27210


“Dizem que há, gozos nas mundanas galas,”
Eu sei que talvez possa até haver,
Mas quando procurando algum prazer
Vazias da esperança, suas salas.

Esbarro nos meus erros vez em quando
Escuto alguma voz bem mais macia,
E quando se percebe é fantasia,
O templo dos meus sonhos, desabando.

Tristeza me acompanha em cada verso
E nada me trará outra promessa,
A história novamente recomeça,
Trazendo o meu viver, vago e disperso,

Imerso nesta incrível solidão,
Meu mundo prosseguindo sempre em vão...


27211


“Um só dos lírios que murchou o estio”
Já não permite crer na primavera,
O medo tão somente me tempera,
E nele o coração segue sombrio.

Vestígios de uma luz, persigo e tento
Saber se ainda existe a claridade,
E quando a dor medonha já me invade,
Percebo o meu caminho violento.

Atrocidades tantas, medo imenso,
Negar a própria sorte e ser assim,
Preparo tão somente amargo fim,
Nem mesmo num prazer, ao menos, penso.

A morte se aproxima e nela vejo,
Quem sabe uma alegria, num lampejo...

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