sexta-feira, 19 de março de 2010

27212/13/14/15/16

27212


“Minha'alma quer ressuscitar nos cantos”
O que já sabe há tanto esvaecido,
Tocando com amor cada sentido,
Provendo de esperanças os encantos,

Mas nada adiantando tanta luta,
O corte se aprofunda em fria escara
E a morte num momento se escancara
Com toda sua força insana e bruta.

Escapam-me dos olhos alegrias,
E vejo só tristezas onde outrora
A vida se fizera sem demora,
E agora em luzes toscas e sombrias.

Apago da memória alguma paz,
O tempo, contratempo sempre traz...


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“Procura o brinco que levou-lhe o rio,”
Criança que se fez em esperança
E quanto mais a vida atroz avança
Maior o desespero que desfio.

Estraçalhando assim o que talvez
Pudesse dar alento ou mesmo um riso,
Não tendo em minha vida o que preciso,
Somente sou o resto que tu vês

Vagando pelas ruas e sarjetas
Tristeza dominando o meu olhar,
Que faço se distante do luar
As alegrias morrem, quais cometas.

Deixando para trás a iniqüidade,
Enquanto este terror, domina e invade...


27214


“Como a criança que banhada em prantos”
Já não consegue ver o seu brinquedo,
Enfrentando a maré, deveras cedo,
E bebo tão somente os desencantos.

Mergulho neste abismo feito em dor,
E tento mesmo assim sobreviver,
Pudesse no final, ao menos ver,
Um dia com fantástico esplendor.

Mas sei que nada vem após tempestas
Aquela calmaria se perdeu,
O mundo que pensara fosse meu
Fechando com vigor antigas frestas...

Dispersas emoções, raros segundos,
Porém os dissabores são profundos...

27215


“Que a vaga solta quando beija a praia”
Ainda toque a areia mansamente,
Mas quando a tempestade se pressente
Felicidade aos poucos já se esvaia

Levando para sempre em mar imenso
As doces emoções que ainda via,
Restando a cada passo esta agonia
Na qual a todo instante sempre penso.

Mereço pelo menos uma chance
De ser feliz, mas sei ser impossível,
O som do meu cantar sendo inaudível
Por mais que ainda tente não alcance

As ânsias de um prazer que não consigo,
Vivendo tão somente em desabrigo...




27216


“E seus gemidos são iguais à queixa”
Do velho marinheiro que tentara
Vencer a imensidão em noite clara,
Porém realidade nunca deixa.

O barco se perdendo sem o leme,
Aporto no vazio: solidão.
Somente os medos todos mostrarão
Por mais que o sofrimento inda se teme,

Tristeza se tornando mais constante,
Norteia a minha vida, inglória e atroz,
Ninguém mais ouviria a minha voz,
Tampouco o meu futuro, mais brilhante.

Percebo ao fim de tudo, a noite vã,
E dela já não creio na manhã...

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