sexta-feira, 19 de março de 2010

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27202


“Se passa um bote com as velas soltas,”
Eu imagino ali o meu destino,
E quando noutros mares me alucino,
As ondas se mostrando mais revoltas.

Pudesse ter ao menos um segundo
De paz aonde amor não poderia
Viver somente falsa alegoria
Nas entranhas do abismo me aprofundo.

E sigo contra a força das marés
Vencendo as movediças ilusões
O meu caminho em mágoas decompões
Atando com mais força tais galés

A morte açoda então meu pensamento
E quanto mais sozinho, desalento...


27203


“Ou como a prece ao desmaiar do dia”
Jamais não poderia acreditar
No quanto ainda tenho que esperar
Para poder viver uma alegria.

Entristecido sigo contra tudo
E morro a cada instante um pouco mais,
Os erros cometidos são banais,
Mas mesmo assim deveras não me iludo,

Assisto ao meu final, e não consigo
Vencer os dissabores costumeiros,
Aonde poderia se os canteiros
Traduzem tão somente um vão castigo.

Carrego em minhas costas este peso,
Tentando prosseguir, do amor ileso...


27204


“E doce e grave qual no templo um hino”
Ainda que se possam ter certezas,
Os olhos embotados de tristezas,
Não tendo mais a força, não domino

Os ermos da diversa insensatez,
Mesquinharias traço com terror,
E sei que não mais tendo ao meu dispor
A luz aonde nada mesmo vês

No quadro alucinante do passado,
Esboço alguma paz que não virá,
E sei que tudo é vão e desde já
O tempo se mostrando mais nublado.

Alvissareiro sonho? Pesadelo...
Não posso mais sequer inda contê-lo...


27205


“Carpindo o morto sobre a laje fria;”
Descrevo em solidão meu pensamento,
E quando se pensara em doce alento,
A história em vil tormento se recria.

Angustiadamente não consigo
Vencer os meus temores, morro então
Os dias tão medonhos mostrarão
Somente a dor incrível do castigo.

Algozes madrugadas solitárias
E nelas a tristeza predomina,
Assim se percebendo a minha sina,
Ausentes dos meus olhos, luminárias.

Escravizado teimo em ter liberto
O mundo que iludido, não deserto.


27206


“Minh'alma é triste como a voz do sino”
Dobrando pelos mortos numa Igreja
E quanto mais a luz ela deseja,
Maior eu já percebo o desatino.

Ferido pela ausência de um carinho,
Escoriada sorte me abandona,
O medo se aproxima e vem à tona
Deixando o meu viver bem mais sozinho.

As pedras, os espinhos, os terrores,
As ânsias sonegadas, medos tantos,
E quando se percebem desencantos,
Aonde poderia ter as flores

Se apenas me preparo para a morte,
Sem ter alguma paz que me conforte...

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