sexta-feira, 19 de março de 2010

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“E, como a rôla que perdeu o esposo,”
Caminho sem saber a direção
Por onde novos dias mostrarão
Momento que pudesse mavioso.

Vencido pelo medo do futuro
Entristecido, sigo sem paragem,
O amor seria apenas a miragem
Num tempo mais cruel, amargo e duro.

Vestindo esta mortalha tendo extinto
O quanto poderia ser feliz,
A vida a cada instante já desdiz
O que deveras, tento e ainda sinto.

Não pude ter nas mãos, felicidade,
Melancolia agora, teima e invade...


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“O morto esposo gemedora chora”
A ausência do que fora sua vida,
Ao perceber a dura despedida,
A solidão deveras se demora.

Arcando com terrível sofrimento,
Tristezas dominando o dia a dia,
Aonde em que planeta poderia
Ainda ter nos olhos um alento

Se tudo o que pensara já se esvai,
E o riso desdenhoso do sarcasmo,
Deixando o caminheiro quieto e pasmo,
Enquanto a tempestade imensa cai.

Acarretando em mim tal dissabor,
Ausente dos meus olhos um amor...

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“E em doce arrulo que o soluço imita”
Vagando por espaços, segue a rola,
Assim também minha alma, amarga e tola,
Perpetuando em voz sofrida e aflita

A negação da sorte que pensara
Durante tanto tempo fosse minha,
Agora a morte chega e se avizinha,
Aprofundando em mim a chaga e a escara.

Carcaças do passado ainda trago
E delas alimento uma esperança,
Ainda que persista em temperança
Que faço se não tenho mais o afago

Daquela que se fez amante amiga,
A vida em solidão me desabriga...

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“Que o bosque acorda desde o alvor da aurora,”
Uma esperança tola que se esgueira
E sendo em minha vida a derradeira,
Ainda que tão frágil me decora,

Carrego no meu peito uma mortalha
E dela faço um manto em noite fria,
Ausente dos meus olhos a alegria,
A dor se torna assim como medalha.

Apego-me aos fantasmas do passado,
Espectros que inda vivem e sustentam,
Os dias onde as dores me atormentam
Terror já num sorriso disfarçado.

Pudesse ter nas mãos outra saída,
Tristeza então há tanto adormecida...


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“Minh'alma é triste como a rola aflita”
Seguindo sem destino e sem paragem,
Por mais que seja bela esta paisagem
Condena-se deveras à desdita.

Pudesse ter a glória de viver
Momento mais feliz, ah quem me dera,
Se ausente dos meus dias, primavera,
Inverno me fazendo então sofrer.

Tristezas dominando o pensamento,
Percebo quão vazia fora a vida,
E tendo neste verso a despedida
Não vejo nem sequer algum alento.

E assim se repetindo o peito insiste
Vivendo sem amor: MINHA ALMA É TRISTE!

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