terça-feira, 23 de março de 2010

27364/365/366/367/368/369

27364


“Depois com ferros vis se vê cingido”
Podendo muitas vezes transformar
E quando se lapida maltratar
Deixando o original em triste olvido.
Por sortes tão diversas caminhamos
E temos nossos passos rumo ao nada,
Mudando a direção da velha estrada
Por vezes somos servos, somos amos.
E quando se percebe em rituais
Complexos nossos dias propagados,
O vento transformando nossos Fados,
Momentos dolorosos, magistrais.
Assim errôneos seres quais cometas,
Enquanto no vazio te arremetas.

27365


“Onde o sol, bem de todos, lhe é vedado”
As sombras dominando este cenário
Ao mesmo tempo enquanto frágil, vário
Mostrando noutra face, transmudado,
A velha luminária se transforma
E quando se percebe mais sombria,
A vida gera a luz e se recria,
Na eterna mutação, que é lei e norma.
Perfaço a mesma estrada e nela vejo
As plantas entre inverno e primavera
Enquanto o sol ardente nos tempera,
O frio muitas vezes diz desejo.
Sincrônicos? Jamais. Disparidade
Ditando a mais sublime realidade...


27366


“Como que até regia a mão do Fado”
Expressões diferentes traduzindo
O que talvez pareça ser infindo
E ao fim decerto está ora fadado.
O quadro se tecendo a cada dia
E nele as pinceladas são constantes,
Por quanto se percebem variantes
A sorte muitas vezes desafia,
E o senso se percebe inexistente
No quase e no tanto, muito além,
Divina discordância se contém
Por mais que alguma luz ainda tente.
Ao término da vida em inconstância,
Na morte única voz sem discrepância.

27367


“Tal qual em grau venerando, alto e luzido”
O Fado transcorrendo em tempestades
Ao mesmo tempo quando mais agrades
Maior o temporal já pressentido.
Assisto á derrocada tão vulgar
Naufrágio da esperança, ancoradouro
Diverso do que outrora em nascedouro
Pudera ainda mesmo adivinhar.
Desespero gerado a cada queda
E nela outro momento mais profundo,
No qual sem ter defesas eu me inundo
Por mais que a própria vida, assim nos veda.
E o rumo variável do viver
Transforma medo em glória, dor/prazer.


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“O mortal, sem querer é conduzido”
Dos píncaros aos vários abissais,
Momentos entre tantos temporais,
Depois o vento leva em vago olvido.
Somando estes tropeços com acertos,
Deveras poderemos perceber
Numa inconstância eterna o mesmo ser
Caminhos muitas vezes entreabertos.
Portais fechados, rotas discrepantes,
Formando e reformando em tantas cores,
Diverso do que outrora ainda fores
Verás novas estâncias por instantes.
Assíduas raridades, dias bons,
E duras tempestades noutros tons.

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“Quão fácil de um estado a outro estado”
Mutáveis faces dizem este espelho,
E quando nele às vezes me aconselho
Percebo santidade num pecado.
Ousando ser feliz de vem em quando,
Teimando contra a força da maré,
Não sei o que deveras é; não é,
A cada novo tempo transformando.
Geração em geração se modifica
E o quanto do passado ainda trago,
Ao mesmo tempo é dano, duro estrago,
O dia após o dia se edifica.
E quando se percebe; nada mais
Do que pensara em cores magistrais.

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