sexta-feira, 26 de março de 2010

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27572



“A sanfonar a música da vida”
Por vezes me perdendo noutros tons,
Escuto da esperança antigos sons
E a vejo tantas vezes já perdida

A sorte quando e vão é percebida
E dela se concebem falsos dons,
Momentos que julgara mesmo bons
Perdendo a direção nega a saída

Saudade diz do quanto desejara
A vida mais tranqüila, mansa e clara,
Mas quando se traduz em nada ter,

Ouvindo da sanfona os dissonantes
Acordes que tentara por instantes,
Desvendo tão somente o desprazer...

27573

“no deserto do peito solitário,”
Aonde se pudesse acreditar
Além do raro raio do luar,
Momento em alegria, claro e vário.

Sabendo o coração noutro fadário
Mergulho no vazio a se mostrar
E nele posso mesmo adivinhar,
O quanto desejara e sei contrário.

Apego-me ao vazio e tento a sorte
Que tanto possa crer quanto conforte
E mude a direção deste caminho,

Mas sei quanto é dorida a sina feita
Na luz ainda opaca e insatisfeita
Deixando este andarilho então sozinho...


27574


“prosseguindo o seu longo itinerário,”
O amor não me permite solução
E apenas os vazios moldarão
O que pensara outrora solidário.

Vislumbro a insensatez deste cenário
E crio a mesma inglória solidão
E vejo noutra senda a escuridão
Aonde imaginara um lampadário.

Assisto à derrocada deste sonho,
E quando noutro rumo me proponho,
Seara se transforma plenamente,

E tudo o que era luz mostra-se escuro,
Somente traduzindo o que perduro
A própria realidade me desmente...


27575

“quando a Esperança morre, emurchecida,”
Somente traduzindo o meu jardim,
Sonego desde sempre e nego o sim,
Deixando a caminhada sem saída.

Aonde se perdera a própria vida,
Moldando o que pensara ter enfim,
Destroço este caminho de onde vim,
E a luta se mostrando já perdida,

Quisera ter a chance de poder
Ao menos conhecer algum prazer,
Mas nada se traduz felicidade

E quando ainda resta algum nuance
Por mais que contra o medo inda me lance,
Somente o nada ter, minha alma invade...

27576


“e vive, — quando o Amor, triste, o abandona,”
Apenas do passado, o coração,
Nem mesmo novos dias me trarão
Enquanto as dores; sinto, vindo à tona.

E quando o sofrimento já se adona
De uma alma transformando em negação
Aquilo que pensara em solução
Somente num segundo em vão tampona.

O peso de uma vida solitária
Tocada pela insânia temerária
Gerando o nada ser dentro de mim,

Pudesse acreditar em nova sorte,
Mas quando este vazio me comporte
A seca destroçando algum jardim...

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“do humano coração, que é uma sanfona,”
Enquanto se mostrasse em plenitude,
Moldando noutro tom uma atitude
Gerando esta emoção que o sonho clona.

A sorte muitas vezes se faz dona,
Por mais que a direção às vezes mude,
O quanto se quisera em amiúde
Desejo dentro da alma em vão ressona.

Contrariando as notas vez em quando,
O mundo noutro ritmo transformando
O que pesara ser mais evidente,

Marcando com cadência mais sofrida,
Toando em destempero nossa vida,
Ainda que outro acorde uma alma tente...





27578


“era tal qual essa outra voz sentida”
Em tantas alegrias e tristezas
E mesmo quando mostre tais grandezas
Deveras muitas vezes nega a vida,

E quando a realidade se duvida
E traça com terríveis correntezas
Aonde imaginara estas belezas
A glória se destroça; mal urdida.

E o peso do viver lanhando as costas,
Por mais que ainda creia, ou mesmo gostas
A sorte se lançando nestes dados,

As cartas já marcadas ditam norte,
Sem ter de uma esperança algum aporte,
Os dias em vazio vislumbrados...


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“da gaita do gaiteiro, dolorida,”
A sensação do medo se estampando,
As notas desde sempre lamentando
O que ainda resta de uma vida,

Esperança não vejo, já perdida,
Os sonhos abandono, ledo bando,
E o peso do viver me maltratando
Não há sequer nem rumo nem saída

Do imenso e tão terrível labirinto
Que em cores mais reais agora tinto,
Mordazes os momentos terminais.

E o que fazer da noite sem ter lua,
Minha alma no vazio continua,
Meu barco já não vê sequer um cais...


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“Aquela voz monótona e chorona”
Ditando as notas todas da saudade
E quanto a fantasia ainda invade,
Realidade aos poucos me abandona.

Pudesse ter nas mãos o meu futuro,
Quem sabe noutros tempos, noutros dias
Diversas emoções tu me trarias
E o mundo não seria tão escuro.

Vagando por estrelas posso vê-la
Envolta em raro brilho, enlanguescente,
Minha alma a plenitude já pressente
E segue cada rastro desta estrela

E a lua prateando o meu sertão,
Acordes espalhando: coração...

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