sexta-feira, 26 de março de 2010

27592/93/94/95/96/97/98

27592


“há um velho copo de cristal lavrado,”
Guardando dentro em mim cada lembrança
E quando ao meu futuro olhar se lança
Revive cada cena do passado,

Pudesse transformar então meu Fado
Gerando com prazer uma aliança
Teria talvez tido temperança
Aonde se colheu somente enfado,

Recebo a tua voz e nela sinto,
O quanto imaginara estar extinto
Quebrado há muitos anos, pois cristal,

Mas vejo que talvez restando ainda,
A sorte de um amor que se deslinda
Mudando a velha face sempre igual


27593


“junto, entre flores, vasos, e um bordado,”
Percebo esta presença que me dita
A sorte mais audaz, densa e bonita
Num ato de prazer nunca pensado,

Vencer os meus temores e sentir
O quanto inda é possível caminhar,
Nas ânsias mais airosas de um luar,
Quem sabe possa ter no meu porvir,

Momento prazeroso ainda vivo,
E nele ser além de um mero porto,
O velho sentimento outrora morto
Ressurge e com certeza mais altivo.

Vencendo os meus antigos vendavais
Encontro estes remansos magistrais...

27594


“esquecido num canto, e, da parede”
Ao ver a tua face ainda viva,
Trazendo esta lembrança que me priva
Da mansidão suave de uma rede,

Esqueço cada passo em luz sombria
E teimo contra a força das marés
Sabendo meu amor por quem tu és
A sorte talvez mostre um novo dia,

E eu possa recolher então as flores
Que um dia insanamente cultivara
Tornando bem mais bela esta seara
Permito te seguir por onde fores,

E ter nos rastros teus já bem traçado
Futuro que desejo, abençoado...

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“as setas de ouro sobre o campo ao lado,”
Permitem que talvez direcione
O rumo aonde a sorte me abandone
Traçando com vigor um novo Fado,

Mergulho neste abismo que deixaste
E traço dele imensa cordilheira,
Por mais que a fantasia inda não queira
A vida me trará raro contraste,

Gerando do vazio a eternidade,
Matando o que talvez ainda exista
Da dor não deixarei sequer mais pista,
Somente uma esperança ora me invade

Deixando adormecida esta tristeza,
Mudando a direção da correnteza.

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“horas de tédio, enquanto o sol despede”
Jamais eu poderia imaginar
Vencendo a tempestade devagar,
Vivendo a fantasia que concede

A sorte abençoando o dia a dia,
Mudando com certeza a direção
Das horas que o futuro mostrarão
E agora o coração só fantasia.

Chegando ao porto manso e tão seguro
Depois de tantas dias em procelas,
Rompendo do passado velhas celas,
Bebendo cada gota do futuro,

Revejo cada sonho e nele traço
O que transformará em firme passo.

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“onde passo estirado na rede,”
O tempo necessário pra saber
O quanto se mostrando num prazer
Matando com certeza a minha sede

Vencido pelos ventos, já sofri
Demais e não pretendo outra tempesta,
O coração em viva e plena festa
Traduz o que deveras vejo em ti,

Das feras contumazes e terríveis
Nem mesmo alguma sombra conhecendo,
O tempo me trará tal dividendo
Em sonhos mais reais e tão plausíveis,

Marcando e tatuando em minha pele
O anseio que domina e que me impele.


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“Naquele quarto estreito e abandonado,”
Aonde imaginara não haver
Sequer a menor sombra de prazer,
Somente e tão somente um duro enfado,

Agora devorando este maná
Que tanto concebera haver em ti,
Do amor além do amor reconheci
O sol que eternamente brilhará

Tornando a minha vida mais suave,
E nela se percebe a claridade
Que agora me tomando já me invade,
Tirando do caminho algum entrave,

Vestindo assim as tramas da esperança
Minha alma em plenitude agora avança...

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