sábado, 27 de março de 2010

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27669


“Que beijo a minha própria sepultura”
Enquanto me traduzo em dor e pranto,
Aonde se pudesse em tal espanto
Viver a própria dor, tanta amargura,
E sendo assim deveras sonhador,
Vagando entre o vazio e o não existe
Minha alma; com certeza sei tão triste
Tocada pelas ânsias desta dor
E quando se previra algum alento,
Perdida sem caminho; morre só,
Volvendo num instante ao velho pó
Tocada pela dor do esquecimento,
Assim prossigo embalde ainda creia
Na sorte mesmo quando a vejo alheia...

27670


“Ao beijar o teu túmulo esquecido,”
Encontro alguns sinais do meu passado,
E quando me percebo neste enfado
Bebendo cada gota de um olvido
Aonde se perfaz nova esperança
Alheio ao caminhar em meio ao nada
Do todo que pensara ser estrada
Apenas ao vazio já se lança
O olhar que enaltecera um brilho ainda
Deveras nada traça e não mais quer
Segreda dentro da alma o que vier
Enquanto o meu destino se deslinda
Num outro vão momento mesmo quando
A sorte noutra sorte se moldando...

27671

“E até, meu doce amor, se me afigura,”
O templo aonde outrora quis sentir
Deliciosamente algum porvir
Envolto pelas ânsias da ternura.
Mas todo este caminho feito em vão
Jamais eu poderia decifrar
Se tendo tão distante deste olhar
Os brilhos que outro rumo mostrara
Sorvendo cada gota do passado
Vivido em tempestades, nada resta
Somente a solidão louca e funesta
Tomando com terror o belo prado
Aonde num momento mais audaz
Pensara conhecer enfim a paz.



27672


“Eu tenho a sensação de haver morrido”
Ao ter nos braços tanto desalento
E quando me percebo em forte vento,
O tempo noutro tempo decidido,
Jogada às mesmas feras do passado,
Já não suportaria outra tortura,
E quando a paz deveras se afigura,
Momento muitas vezes delicado,
Delírio tão somente e nada mais.
O peso do viver lanhando as costas
As horas entre medos decompostas,
Pereço nos sobejos vãos astrais
E a fúria se transforma em ar sombrio,
E o caos após o caos eu desafio.

27673



“Vou chorar minha acerba desventura,”
Enquanto não puder sentir constante
A força que deveras me agigante
E noutra face mesmo se afigura,
Perdendo o meu caminho sigo alheio
Ao todo que jamais se fez tão meu
E quando este destino se perdeu
Restando doravante um novo veio
Por onde desventuras se trasbordam
E os abissais herdados; reconheço
Sabendo do terror seu endereço
Fantasmas do que fomos já me abordam
E o peso do viver não mais suporta
Fechando para sempre a antiga porta.


27674


“Quando, entre os brancos mausoléus, perdido,”
Vagara por soturnos caminhares
Traçando do vazio meus altares
Sonho precocemente destruído.
Vestindo a velha dor que me acompanha
E nada transformando o dia a dia,
Enquanto a antiga imagem renascia,
Agigantando a dor, venal montanha.
Incertos passos traçam meu futuro,
Tenazes se aprofundam, minha pele
E ao mais profano rumo se compele
Gerando tão somente o mesmo escuro.
Acordo solitário novamente,
E a morte a cada passo se pressente.


27675


“Nem com outra te meço ou te confundo”
Tampouco poderia ser diverso
Se eu trago com firmeza cada verso,
Gerando nele amargo e torpe mundo
Aonde poderia ter a paz,
Ainda que vencesse descaminhos,
Os dias mais audazes são sozinhos
E o olhar que hoje percebo é mais mordaz.
Alucinadamente me perdi
E tudo o que eu quisera se fez nada,
A morte noutra senda anunciada
Agora está bem perto, sinto-a aqui.
E o que me restará? Somente o frio,
Que a cada amanhecer, cedo porfio...

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