sábado, 27 de março de 2010

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27676

“Por isso que de ti não me deslembro,”
E nem mais poderia, por haver
Ao recordar do amor quanto prazer
Em versos mais felizes já desmembro
Momentos que passamos lado a lado,
Vivenciando a glória a cada instante
E tendo tanta luz que me agigante,
Ousando em minha voz imenso brado,
O corte cicatriza pouco a pouco,
As chagas e feridas tatuadas
Perdidas muitas vezes as estradas,
Vagara no passado feito um louco,
E agora que eu te tenho, junto a mim,
Jamais nova aridez neste jardim...

27677

“Açoitando-me está, membro por membro”
O quanto vivo ainda do que fora,
Imagem do passado redentora
A cada nova dor, disto relembro
E sinto este perfume inebriante
Mascaro com ternura o sofrimento
E mesmo em tempestade ainda tento
Viver o que se tivera noutro instante.
O quanto deste amor se fez capaz
Domina este cenário plenamente
E quando estando assim de ti ausente
Alheia a cada sonho vejo a paz.
Mortificando enfim o que me resta,
A sorte se desenha mais funesta.


27678


“Desde esse dia um látego iracundo”
Vergasta em minhas costas penetrando,
Matando o que já fora bem mais brando,
E agora do terror sempre me inundo,

Desde este dia em que me abandonaste
Deixando tão somente esta lembrança
E quando esta saudade ora me alcança
A vida se mostrando em tal contraste
Por onde caminhara, nem poeira
Apenas este açoite que me lanha,
A solidão deveras é tamanha,
Por mais que a solução procure e queira
Jamais eu poderia imaginar
Que ausência iria aos poucos me matar.

27679


“Em que da cova te deixei no fundo,”
Terrível solidão tomando a cena,
A própria desventura me envenena
Enquanto de saudades eu me inundo,
Vivesse pelo menos mais um tanto
Do amor que me tomara intensamente,
Mas quando dos teus olhos sigo ausente,
Restando tão somente o desencanto,
Amordaçada a vida não consigo
Além deste vazio que legaste,
A cada amanhecer outro desgaste,
Açoda-me deveras, desabrigo.
E o corte se aprofunda dia a dia,
Enquanto este vazio ora me guia.

27680


“Daquela escura noite de setembro”
As marcas tão profundas me entranharam,
Castelos de esperanças desabaram
Momento mais cruel; sempre relembro.
Audaciosamente a vida fora
Além do que pensara noutros tempos,
Vencendo os mais difíceis contratempos
Uma alma tendo a imagem redentora
De quem se fez amiga, amante e amada,
Eterna companheira de viagem,
Olhando com cuidado esta paisagem
Só vejo desde então apenas nada,
Aonde se pensara em primavera
Setembro só me trouxe a imensa fera...

27681

“Só eu, meu doce amor, só eu me lembro,”
Do quanto imaginamos belos dias,
E agora estas tristezas são meus guias
Decepam dia a dia cada membro,
A morte é preferível, vejo assim,
Que não suportarei tanto abandono,
E quando do vazio eu já me adono,
O tempo se esgueirando busco o fim,
E o cálice divino dos teus lábios
Há tanto não matando a minha sede,
Apenas o retrato na parede,
Os barcos vão sem ter os astrolábios
E assim me condenando ao vil naufrágio
A dor se cobra em alto, e venal ágio..

27682


“Já te esqueceram todos neste mundo”
Imagem distorcida do passado,
Momento muitas vezes vislumbrado
E nele com certeza me aprofundo,
Há quantas andaria a minha sorte
Não fosse ter perdido quem guiasse,
E apenas vejo enfim venal impasse,
Mataste-me também com tua morte
Já não suporto e tento ver enfim
Alguma luz que possa me alentar,
Somente este vazio em meu olhar
E sigo sem ninguém lembrar de mim,
E assim compartilhando a solidão,
Apenas nos separa este caixão...

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