sábado, 27 de março de 2010

27749 ATÉ 27762

27749

‘leves e alvas à plaga ocidental”
Seguindo entre procelas mais ferozes
Vencendo os mais terríveis vãos algozes
Num ato quase insano e triunfal,
Percorrem minhas naus num ritual
Superno entre momentos mais atrozes
Ouvindo das sereias doces vozes,
Vorazes em delírio sensual,
E quando se percebe ao longe o cais,
Momentos muitas vezes magistrais
O velho timoneiro coração
Vagando entre tempestas, direção
(Sabendo desde sempre tanto infausto,)
Esboça alguma luz que inda redima
Após as variantes desta vida
Que embora nos seduza, traz perdida
A senda feita em vário e insano clima...

27750

“as nuvens vão: seja por onde for”
Neblinas entre céus soberbos, faustos,
E bebo dos terríveis holocaustos
Aonde a sorte inglória a se propor
Traduz as velhas perdas do passado
E molda no futuro tanta treva,
Ainda que esperança tola ceva
O mundo não trará bom resultado.
Vencido pelos medos mais fugazes,
Esculpo do vazio a garatuja
Imensa e tão atroz, por vezes suja
Que em mãos tão poluídas tu me trazes.
Demônios recriados dia a dia,
E neles se estampando esta agonia.


27751


“Sorri o céu, como o humano labor”
Gerado em inconstante vendaval,
Aonde se quisera sempre igual,
Percebo a cada instante imensa dor.
E quando novo tempo irei propor
Vencido pelo vão descomunal
Não vejo ser possível num degrau
Chegar ao mais supremo e raro amor.
Assisto às derrocadas dos meus passos,
E quando ainda teimo em novos traços
Espaços mais diversos reproduzem
Momentos torturantes e venais,
Ausente dos meus olhos portos cais,
Aos naufrágios tempestas me conduzem...

27752

“saúda o sol, benigno, triunfal”
Momentos maviosos, mas fugazes
As dores expressando em tais tenazes
Angústias corriqueiras, ar venal.
Pudesse ter a paz que não mais vejo,
Seria muito bom, um lenitivo,
Mas quando tão cansado, sobrevivo
Percebo quão insólito o desejo
E dele não se vê sequer a sombra
Do que pensara outrora ser capaz,
O mundo num tormento se desfaz
E a vida tão somente cobra e assombra,
O velho marinheiro agora lasso,
O rumo se perdendo já desfaço...


27753

“em mil flechas desponta a catedral”
E tendo nos meus olhos o fatídico
Momento aonde às vezes sendo ofídico
Veneno que ora sorvo em alto grau
Esculpo os meus delírios mais constantes
E deles cada gota me transtorna,
Satânica paisagem que ora adorna
Em fatos tão comuns, meros farsantes
Divergem do que tanto proclamara
Em vozes dissonantes, vida e morte
Devastações sonegam o suporte
Criando da ferida imensa escara.
Escassas ilusões vestes puídas
As sortes sem escusas sendo urdidas...

27754

“e santos de ouro e rosado fulgor”
Jogados sobre falsos patamares,
Gerando os mais soberbos, vis altares
E neles um satânico vigor.

O caos em pandemônios se denota
E o corpo ensangüentado exposto em cruz
De um mártir feito em glória reproduz
O que se poderia além da cota
Ser toda esta inclemência mais vulgar,
Medonhas labaredas, santo ofício,
Aonde se moldara um precipício
Na pútrida impressão a se mostrar
Aquém da santidade de um bom Deus
Traído pelos próprios filhos seus.

27755


“radia então a Hosana e há o rumor”
Em tons por vezes díspares e terríveis,
Matando a redenção em tantos níveis
Deixando em trevas todo o Seu louvor.
A venda sem princípios de um amor
Tornando os Seus clamores inaudíveis
Prostituindo os cantos mais plausíveis
Numa aridez temível, lavrador

Das pútridas quimeras disfarçadas
Em luzes por um Pai abençoadas
Carpindo este cadáver feito em cruz,
Assim a humanidade desvirtua
Uma alma que se fez tão bela e nua,
Satanizando enfim Pobre Jesus...

27756

“dos falcões, este alívolo coral”
Deitado em mar deveras turbulento
Alçando num mergulho em desalento
A natureza explana em forma desigual,

E nesta mais sublime realidade
Diversidade traça as uniões
E nesta maravilha contrapões
Caminhos dissonantes liberdades

E grades de uma imóvel vida, audazes
Estradas entre luzes, trevas, medos,
Assim se decifrando tais segredos
Desvendas e deveras mesmo trazes.
Nos ares e profundos abissais
A vida em suas faces magistrais.


27757

“assim, depois que amor – riso de calma_
Perfez suas vontades mais insanas
Deveras tantas vezes soberanas
Traçando as variedades diversa alma
Expressa maravilhas no não ser
E traça etéreas sanhas porfiando
Temporais num templo atroz e brando
Terríveis dissonâncias de um prazer.
Abrolhos entre flores, plantações
Lavradas com estercos sempre iguais
E quando resultados desiguais
Momentos maviosos tu me expões
No todo feito em nada, realizas
Os vendavais convivem com as brisas...

27758

“nuvens rasgou que me agravaram tanto”
O céu entregue em cores grises, claras
E nelas os anseios que declaras
Gerando muitas vezes desencanto,
Portanto nos meus ermos se porfio
Adentro os mais profundos de minha alma,
Procura que deveras já me acalma
Tornando o meu viver bem menos frio.
E o sol rasgando nuvens me permite
Acreditar num belo amanhecer,
Depois de dentro em mim tanto chover
Uma esperança atinge seu limite
Ascendo aos mais diversos fins sabendo
Que o fim será terrível e estupendo.

27759

“pode exsurgir à luz do sol minha alma”
Enfrentando as neblinas costumeiras,
Por mais que na verdade ainda queiras
Carrego desde sempre antigo trauma

E o peso de uma vida sem limites
Ainda qual vergasta me açoitando,
O velho coração em contrabando
Além do que talvez inda acredites

Levando a minha sorte ao nada ter
Traçando com terrível galhardia
O quadro que pensara alegoria
Descora e pouco a pouco posso ver
A vastidão imensa deste sol,
Vencendo qualquer nuvem no arrebol...


27760

“e lhe sorri multiplicando o santo”
Momento feito em luz e tempestade,
Assisto à fantasia que me invade
E quando me percebo ainda canto.
Gerasse algum tormento em desencanto
Talvez bebesse ainda a realidade,
Mas longe do que sei tranqüilidade,
Também não vou trazer no olhar, o pranto.
Separam-se de mim os meus albores
Deixando prosseguir por onde fores
Os medos mais banais que inda cultivo.
E tendo no vazio a sensação
Dos dias que decerto mostrarão
Motivo pelo qual eu sobrevivo.


27761

“ideal da existência é uma harmonia”
E dela perfazendo o meu caminho
Deveras tantas vezes mais sozinho
Usando como voz a poesia.
Servir aos meus propósitos enfim,
E crer noutra manhã mesmo nublada,
A sorte muitas vezes não diz nada
Tampouco se permite boa ou ruim.
A chuva inevitável jamais tarda
E o peso ainda verga o caminheiro,
As flores se murchando no canteiro
A vida sonegando roupa e farda.
Enfadonhas cantigas ouço além
E sei que junto delas, nada vem...

27762

“o pensamento. E o sentimento é um canto”
E nele se decifram dores, risos,
Às vezes outras não; sinto concisos
Os passos rumo ao belo, ao desencanto.
Adentro tais mistérios e me vejo
Precocemente mesmo, embrutecido,
Pudesse ter apenas num olvido
A morte do que fora algum desejo.
O céu que azulejara em esperança
Negreja-se em terrível tempestade,
E quando se tornou insanidade
Em meio às turbulências sempre avança.
Vivendo da ilusão posso compor
A vida feita em sol e em tanto amor...

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