domingo, 28 de março de 2010

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27842


“É o despertar de um povo subterrâneo”
Trazendo o renovar da própria vida,
E quando a realidade decidida
Por mais que se renegue ou desengane-o
É dele a geração da eternidade,
E nele se traduz o ser divino,
Deveras deste fato eu me fascino,
Por tanto quão nefasto este degrade
Fartura de alimento a cada morte
Redimem os erráticos viventes
Olhando com olhares bem mais crentes
Selando assim deveras nossa sorte,
Do povo mais estúpido e boçal
Um ato soberano e magistral.

27843


“A família alarmada dos remorsos”
Enfrenta as punições e sacrifícios
Assim enriquecendo com seus vícios
Canalhas sem suores ou esforços
Gerindo as santidades e os perdões
Comercializando o que sem preço,
No olhar a podridão tem endereço
Enquanto os teus deslizes logo expões.
Vendetas costumeiras, deuses falsos,
Espúria e tão cruel negociata
A sorte noutra senda se desata
E vive dos tropeços e percalços,
Abutres sanguinários disfarçados,
Vivendo tão somente dos pecados...


27844


“Numa coreografia de danados,”
Dançando em homenagem a um troféu
Comprando um pedacinho deste “Céu”
Vivendo dos; por crenças, enganados.
Assim caminha a sorte sobre a Terra,
Esbarra-se na fúria dos errantes
E quando se percebe por instantes
O quanto em podridão turva se encerra,
A sordidez tomando a eternidade,
O caos se gera em torno do que fora
Imagem mesmo falsa, redentora
Do que pudera ser a divindade.
Canalhas e venais caricaturas,
Com almas, se inda têm, turvas e escuras.


27845


“Acorda, com os candeeiros apagados,”
E finge ser lanterna o falso brilho
Do qual e pelo qual se faz um trilho
Traçando mentirosos, toscos Fados,
Perece desta forma a criatura
Gerada pela insânia de um canalha,
O quanto por riqueza se batalha,
Tornando qualquer cena mais impura,
Impiedosos seres caricatos,
Vergonha para a raça, dita humana,
O olhar que tanto vende quanto engana,
Sacia-se em diversos, rasos pratos.
Vendendo a salvação que não existe,
Transforma em grão dourado um mero alpiste.


27846

“Fazendo ultra-epiléticos esforços,”
Tentado subverter a natureza
Gerando do vazio uma grandeza
Vendendo em altos juros os remorsos,
Destroços agigantam, criam asas,
Demônios santificam-se deveras
E traçam do não ser as novas feras
E nelas imiscuem fogo e brasas.
Assim os vendilhões, magos venais,
Encarando o morrer como se fosse
Um ato muitas vezes agridoce
Criando após um cais um novo cais,
Dos temporais comuns fazem sustento,
Putrefação do corpo? Um alimento.


27847


“E de su’alma na caverna escura,”
Tocados por morcegos e peçonhas,
Aonde quer deveras que inda ponhas
O quanto tu ganhastes na procura,
Vencido pelo tempo, mesmo assim,
Ainda tu desejas muito além,
E quando na verdade nada vem,
Renova-se o caminho, sem um fim.
Eternidade? Mentes sem saber
O quanto é doloroso acreditar,
Melhor é ter certeza e caminhar
Independentemente de morrer.
Senzala após a vida? Vá pro inferno!
Cada momento aqui que seja eterno.


27848

“Cresce-lhe a intracefálica tortura,”
E dela sem saber já se alimenta,
O quanto desta vida se faz lenta
Velocidade intensa me amargura.
O gesto mais audaz não impedindo
A sorte desenhada dita a morte,
E quando queres algo que o conforte
Pensando no viver quase que infindo
Tecendo esta mortalha que te veste
E nela este feitio feito em crença,
Sem ter sequer talvez que te convença
Negar a eternidade, um ato agreste?
O quanto tu me afirmas e não creio,
O quanto que te digo, e estás alheio.

27849


“Dentro da noite má, para agarrá-lo”
Papões que tu conheces muito bem
Da infância que deveras não mais vem,
A sorte vai seguindo um novo embalo,
Vendido numa feira este demônio
Criado para dar quem sabe um freio,
E tanto quanto pústula, receio,
Gerando tão somente um pandemônio.
Vergastas são comuns em quem castiga
E trama uma vingança, pois mordaz,
Invés de produzir somente a paz
Prostituindo a glória, trama a briga,
Genocídios em nome de uma luz?
Assim é que tu crês nalguma cruz?

27850


“Que, tateando nas tênebras, se estende”
Além do quanto pode a divindade
Por tanto quando ainda bem mais brade,
O que se fora cruz já se revende.
O gosto do dinheiro é delicado,
Jamais é saciada assim a fome,
E quanto mais cadáver mais se come,
É caro sempre o preço do pecado.
Julgando e nos jogando num inferno,
Um sacerdote espúrio toma a forma
Criando proveitosa e torpe norma,
Propaga um falso guizo como eterno,
Os quadros se repetem por milênios
Deveras só mudando alguns convênios.

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