segunda-feira, 29 de março de 2010

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27912


“O espólio dos seus dedos peçonhentos”
Em meras e asquerosas formas vejo
E quando ao caminhares tão sobejo,
Achando-se mais forte que estes ventos
Percebas quanto inútil tu lutares
Contradições diversas tu verás
Num ar bem mais tranqüilo quão mordaz
As pútridas verdades, teus altares.
E vendo-te deveras deste jeito
A majestade feita em simples ser,
Aonde levarás o teu poder?
A natureza dita e tem seu pleito
Na ínfima presença do que temos
Naquilo que amanhã transformaremos.

27913


“Ao clarão tropical da luza danada,”
A vida se transforma em rapidez,
Recomeçando tudo o que desfez
Gerando a que deveras foi gerada,
E assim no refazer da minha história
Recicla-se deveras a matéria,
Da plena magnitude até miséria,
Não importando mais qualquer vanglória
Escória do presente no futuro
Um ser tão magistral, mas não perduro,
Depois ao me tornar um verme apenas,
Revivo sem memória, mas revivo,
E assim não se bastando ser altivo,
Melhor seguir em horas mais serenas.

27914



“Como quem se submete a uma charqueada,”
Depois da plenitude de um reinado,
O tempo que vivera desabado
Depois do quanto ser, volvendo ao nada,
Um verme tão somente e nada mais,
Assisto ao meu eterno caminhar,
A natureza sendo meu altar,
E nela tempestades, temporais,
Vencidos depois lamas, charcos, lodos
Enredos tão diversos mesmo rumo,
O quanto do viver somos o sumo
E não escapa nada, vamos todos
Ao fim e ao recomeço, sem final
Eternidade é fato natural.


27915


“A mostrar, já nos últimos momentos,”
Tanta necessidade de viver
Se ao fim jamais amigo irás morrer
Não necessitas tantos desalentos,
Eterno sim, tu és, e disso afirmo,
Embora seja ateu, nunca o neguei,
A natureza segue a sua lei
Deveras e te provo e até confirmo,
Extinta a vida em ti, já recomeça
E nunca mais termina depois disso,
Diversidade feita em forma e viço,
Mas somos da engrenagem mera peça,
E quando se demonstra a realidade
Existe sim, garanto, a eternidade.


27916


“Sobre a esteira sarcófaga das pestes”
Emanações diversas se percebem
E quando novas mortes se recebem
Terrenos que deveras mais agrestes
Proliferando vida, após o esterco
Jogado em profusão por sob a terra,
E quando a realidade se descerra
De vida após a vida mais me cerco.
A morte não existe; é mero plano
Diversidade gera outro ser,
Daquele que deveras pude ver,
E nisto não existe torpe engano,
Levando ao próprio cerne, a natureza
Transforma qualquer dúvida em certeza.



27917


“E hão de achá-lo, amanhã, bestas agrestes”
Enquanto tu pensavas no poder
Verás que quando ao fim poderás crer
Usando tão somente novas vestes
A sorte não traindo o dia a dia,
Transformações diversas são previstas,
E quando na verdade mais avistas,
Noutro sonho qualquer se refugia
Uma alma que se pensa mais audaz
E mesmo se altaneira, ao fim do engodo
Retorna com certeza ao mesmo lodo,
Do qual realidade se compraz,
E assim num ato feito morte e vida,
Encontro compartilha a despedida.


27918


“A que todas as coisas se reduzem”
Após o retornar ao seu início,
Atípica mortalha, precipício
Aonde noutras formas já reluzem,
Mutável criatura, vida resta
E deixa após imagem mais sutil,
O quanto a realidade se previu,
Embora te pareça tão funesta,
Assisto ao renascer diariamente
Constância não se vê tampouco a forma
Resume o que deveras se deforma,
Gerando nova vida, e se pressente
Alheio ao que se passa não se vê
Tampouco se procura algum por que.


27919


“O horror dessa mecânica nefasta,”
Assusta com certeza, mas percebo
O quanto é necessário algum placebo
Que da realidade, mesmo afasta,
Assim ao se mostrar a divindade
O que em verdade seja alguma fuga,
O corpo ao qual a vida ora se aluga
Deseja crer na própria santidade,
Galgando paraísos invejáveis
Fugindo deste abismo feito em terra,
Diverso do que sabe agora encerra
Caminhos preciosos e louváveis,
Mas quando se percebe por inteiro
O corpo se oferece ao rapineiro.


27920


“E apenas encontrou na idéia gasta,”
Algum apoio mesmo. É necessário
Usar com parcimônia algum armário
E se esconder do quanto se devasta
Atroz realidade não sonega
E a morte jamais deixa de trazer
O renovar da vida noutro ser,
A claridade é tanta que te cega.
Preferes crer num gesto sonhador
De uma evidência torpe feita em fé,
Corrente atando assim a cada pé,
Mas que possa te dar tanto louvor,
Deveras este deus que tu criaste,
Em ti já não faria algum contraste.


27921


“Que, iguais a fogos passageiros, luzem”
Momentos desta vida tão sutil,
E nela a própria senda se previu
E rumos tão diversos se produzem,
Assim ao caminhar por sobre a Terra
Não vês que a cada passo dado agora
O quanto do que foste te devora
E a fantasia apenas te soterra.
Percebo quanto é fútil crer no quando
Se toda a realidade traz à luz
Caminho para o qual já nos conduz
Matéria em matéria transformando,
Negar a própria sorte não ajuda,
Verdade se mostrando em voz miúda.

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