segunda-feira, 29 de março de 2010

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27922

“A vida fenomênica das Formas,”
Enquanto tão mutável realidade
Transforma mal começa o seu degrade
E dela novos dias, velhas normas.
Sincrônicos momentos pontuais
Acrescentando pouco ou quase nada,
E vendo a mesma história já contada,
Obedecendo aos vários rituais
Permanecendo aquilo que já fora
Em nova face, creio ter assim,
Início coadunando com o fim,
Embora outra verdade é tentadora,
Percebo nesta sebe à volta a vida
Há tanto, eternamente, ressurgida.

27923


“Quis compreender, quebrando estéreis normas,”
O refazer da vida em novo nível,
E ainda que pareça ser mais crível
No quanto da verdade já deformas,
Pensar na falsa imagem, divindade,
Suavizando a agreste caminhada,
Seria bem mais fácil do que o nada,
Da mente após a morte, eis a verdade,
Perder a consciência é doloroso,
Deixar tantas estradas para trás
O quanto desta vida satisfaz
Mesmo se feita em dor, temor e gozo,
Assim atado a Terra vejo um deus,
Com olhos na verdade mais ateus.


27924


“Que se chama o Filósofo Moderno”
Quem tanto percebera novos tempos
Envoltos pelos mesmos contratempos
Gerados sobre o ser ou não eterno,
Externo opinião, direito meu,
E sinto neste sítio outra vertente
Criada pelo engodo mais urgente
Negando cada passo de um ateu,
E tento traduzir esta esperança
Em forma mais sutil, inteligível
Aonde não pudera ser mais crível,
A mente na verdade não alcança,
O deus sendo criado para dar
Alento ao que ficou e o amparar.



27925

“Esse mineiro doido das origens,”
Que transformando a morte em nova vida,
Escuras caminhadas; não duvida
Tampouco se propõe a tais vertigens,
Devora a podridão e se alimenta
Da decomposição gerando após
Um ato que pareça mais atroz
Ou mesmo uma faceta violenta
Da dura realidade sendo assim
Eternidade eu vejo e não renego,
Aonde se podia ser mais cego,
Acreditar num sonho de onde vim,
Partindo para além do vale escuro,
Por onde tão somente já perduro.


27926


“Com a cara hirta, tatuada de fuligens”
Minúsculo fantoche te devora
A vida desta forma já se ancora
E volta num momento às vãs origens,
Recicla-se deveras a existência
E tanto se demonstra o quanto fomos,
E agora tão vazios; inda somos
Já não conheço ao menos a clemência
De quem pudesse um dia me mostrar
Diversa realidade da que vejo,
Mesmo se houvesse em mim algum desejo
Persiste cada coisa em seu lugar,
Mutante criatura se eterniza
Diversidade em forma já matiza.


27927

“O desespero endêmico do inferno,”
Assusta aos passageiros da agonia
E quando o mito assoma e já te guia,
Diverso do que creio ser eterno,
Vagando pela vida com tal cruz
Da qual tu não libertas, sendo crente
O quanto do futuro se pressente
Em lava, medo, peste, fogo e pus
Diverso do que tentas com enganos
Vestindo esta mortalha antes do tempo,
A cada novo passo um contratempo
Mudança tão freqüente de teus planos,
Inferno que inventaste; este papão,
Mantendo os teus limites sobre o chão.


27928


“Trazendo no deserto das idéias”
Momentos tão diversos riso e pranto,
Aonde se pudesse ter encanto,
Deveras tu pensaste em assembléias
E delas julgamentos mais insanos
Dos erros cometidos, contra o ser,
Embora tanto pensas no prazer
Somando no final, diversos danos,
Jogado contra a fúria não decide
E o passo sonegando uma saída,
Destroças o que outrora fora vida
E até por teus engodos, já te agride
Formato onde te punes simplesmente
Demônio dentro em ti; sinto presente.

27929


“Aí vem sujo, a coçar chagas plebéias,”
O demônio, parceiro contumaz,
Que tanto te maltrata e satisfaz,
Domando a maior parte das idéias,
E quando foges dele não percebes
O quanto está em ti sempre abrigado,
Moldando no futuro o teu passado,
Ainda caminhando em podres sebes,
Assustas com figuras infantis
Atípicas imagens horrorosas,
Enquanto na verdade, caprichosas
Vontades e desejos tão sutis,
Percebo que criaste a sordidez
Aonde não alcança a sensatez.


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“E um tropismo ancestral para o Infortúnio”
Transforma a tua vida num inferno,
Aonde poderia ser mais terno,
Deseja tão somente quem já pune-o,
Assisto assim ao fim da vaga peça
Criada há tanto tempo por dementes,
E quando na verdade não pressentes
Sem nada que talvez ainda impeça
O caminhar por pedras espinheiros,
Momentos tão cruéis onda não vês
Sequer se existem mesmo alguns porquês,
Da morte e renascer os engenheiros
Vivendo sob a terra, são medonhos,
Mas não como os demônios de teus sonhos.

27931


“Como uma vocação para a Desgraça”
O ser humano goza do sofrer,
Parece que talvez lhe dê prazer
A sorte caprichosa que esfumaça
E traça a solitária desventura
Do prêmio e do castigo, pobre infante,
Não vê que na verdade a cada instante
O sofrimento vem e se perdura
Prenunciando o gozo que virá,
Na cíclica beleza feita em treva
Por mais que na verdade nada ceva,
Deseja esta colheita, e desde já,
O que percebo então inglório mito,
No qual com toda fé, não acredito.

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