terça-feira, 30 de março de 2010

27985/86/87/88/89

27985

“pedindo fumo para o seu cachimbo”
Olhando para trás vendo o passado,
O tempo que pensara abençoado
Agora se percebe em pleno limbo,
O coração de um velho cantador
Ouvindo o murmurejo do riacho,
Lembrando do fogão, da mesa e o tacho,
Ainda revivendo o grande amor
Que um dia foi embora e não voltando
Deixando o sofrimento invés de reza,
A sorte tantas vezes nos despreza
Qual fosse passarinho, segue o bando
E nunca mais voltou da arribação,
Ao velho só restando a solidão.

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“Em vez de beijo, sempre me aperreia”
O saber da solidão que não se acaba,
A casa, esta palhoça, quase taba
Um dia, eu me recordo, sempre cheia,
Agora sem ninguém só a saudade
Que não me deixa em paz, tomando conta,
Minha alma solitária desaponta
Enquanto esta tristeza vem e invade,
Falando deste amor que já se foi
E nunca mais voltou; tristeza deixa
Ao coração restando simples queixa
Rumino o meu passado feito um boi,
E a sorte depois disso, nunca vi,
Somente a solidão que mora aqui.

27987


“E assim vivendo, de mazelas cheia,
Saudade de quem foi para outra terra,
Lembrança tão somente é o que se encerra
No peito que a lembrança ora rodeia
Falando de luar e de viola,
Dos dias mais felizes desta vida,
Agora uma esperança já perdida,
Tristeza toma conta e tudo assola,
A casa tão vazia, o peito em dor,
Assim somente vejo o triste fim,
Quem dera se voltasse para mim
Aquela que se foi, e o sofredor
Ponteia de saudade e em cada corda
O amor que já não tenho se recorda.


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“Sofre do tempo o mais cruel carimbo”
Lembrando de uma casa, da tapera
De um tempo que passou; da primavera
Amor que nem fumaça do cachimbo
Aos poucos se perdendo, vai embora
Deixando só as cinzas, nada mais,
E quando vejo os tristes vendavais,
Minha alma, tão sozinha, ainda chora.
E o céu ficando escuro, o coração,
Troveja de saudade, sempre dói
O mundo que criei; tudo destrói,
Aonde quis um sonho, ouço este não,
Repete a mesma sina do vaqueiro,
Correndo em meio à pedra e espinheiro.

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“Em vez daquele natural vigor”
Somente uma saudade me enfraquece,
Por mais que ainda tente em reza e prece,
Aonde se escondeu o meu amor?
Não pude perceber em que lugar
Está quem tanto quero e disse adeus,
Pudesse me dizer querido Deus,
Eu ia com certeza procurar,
A solidão batendo em minha porta,
O medo penetrando na janela,
Fraqueza do vaqueiro se revela,
O som desta viola ao longe corta,
E tudo o que pensara em alegria,
Agora se transforma em agonia...

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