terça-feira, 30 de março de 2010

27997/98/99/28000/02/03

27997

“De repente, não mais que de repente”
Do todo que se fora resta o nada,
Aonde poderia uma alvorada
Somente a bruma imensa se pressente,
O corte penetrante da saudade
Invade e não permite outra saída,
A sorte tanta vez enaltecida
Aos poucos já percebo se degrade,
E o quanto deste amor nada restando,
Somente a fúria feita em dor, lamento,
E quando me recordo e me atormento,
O tempo sendo outrora bem mais brando
Tempestuoso, queda e nada além
Da solidão enorme ora contém.

27998


“fez-se da vida uma aventura errante”
E nada se permite, nem o sonho,
E quando em cada verso que componho
Aonde se pensara deslumbrante
A vida se perdendo em rumos vãos,
Negando a própria sorte, solitário,
O encanto tantas vezes necessário,
Deixando como rastros meros nãos,
O medo se apossando dos meus dias,
O nada toma conta do meu peito,
Pensara noutro tempo, satisfeito,
Porém as minhas mãos estão vazias,
Jogado contra as ondas, sem um cais,
Meu barco enfrenta duros temporais.

27999


“Fez-se do amigo próximo o distante”
E o ocaso dominando o céu, sombrio
A vida muitas vezes, desafio,
O rumo se perdendo a cada instante,
Vencido em noite amarga, nada tenho,
Somente esta certeza do não ser,
O amor que tanto quis, traz desprazer,
Maior que tenha sido o meu empenho,
A dor dilacerando a minha pele,
Vergastas onde quis carinhos teus,
Os dias se repetem; mesmo adeus,
Loucura em desespero me compele,
Vagando pelas ruas solidão,
Ouvindo por resposta sempre o não.


28000


“E de sozinho o que se fez contente”
Tornando o meu caminho em aridez,
O amor que tanto quis e se desfez
Apenas o final torpe pressente
Uma alma sonhadora do passado,
Vestindo as ilusões que já não cabem,
Castelos da emoção cedo desabem,
O quanto desejara, destroçado.
Pensando em ter talvez algum alento,
Procuro por sinais e nada vejo,
Somente vive em mim este desejo,
Que nunca abandonou meu pensamento.
Pudesse ter ainda uma esperança,
Mas como se ao vazio alma se lança?

28001

“Fez-se de triste o que se fez amante”
Jogado pelos ermos, noite escura,
Cansado de viver tanta procura,
O mundo desabando num instante,
A noite se aproxima tão medonha,
Nefastas sombras dizem dos teus passos,
A dor vai ocupando meus espaços,
Minha alma inutilmente ainda sonha,
E o quanto fui feliz e não sabia,
O quanto te queria e te perdi,
Razão de toda vida havia em ti,
Agora tão somente a fantasia
Ainda me alimenta, mas persiste,
A noite solitária, amarga e triste.


28002


“De repente, não mais que de repente”
O mundo transformado em dor e treva,
Aonde à solidão inda me leva,
Pudesse ter no olhar a luz que sente
Uma alma sonhadora em busca inútil,
Vasculho pelas ruas da cidade,
Aonde poderei felicidade,
O amor se fez terrível, vida fútil.
O quarto escuridão, nada de luz,
Mesquinhos companheiros bar em bar,
Não tendo minha noite algum luar,
Somente esta neblina me conduz,
E leva aos meus momentos mais felizes,
Que sei serem somente cicatrizes.


28003


“E do momento imóvel fez-se o drama”
Negando toda a sorte a quem queria,
Viver intensamente esta alegria,
Caminho que o desejo sempre trama,
Desfaço em passos torpes caminhada,
E nada deste sonho se fez vida,
A sorte noutra sorte sendo urdida,
Tornando mais brumosa esta alvorada,
Pudesse pelo menos perceber
Quem tanto eu desejei e não me quis,
Seguindo pelas ruas, infeliz,
Buscando qualquer sombra de prazer
Que possa me trazer um lenitivo,
Desta esperança tola, sobrevivo...

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