terça-feira, 30 de março de 2010

28104/05/06/07/08/09/10/11

28104


“Porém o tempo, a consumir-se em fúria,”
Já não permitiria uma saída
Ausente dos meus olhos, minha vida
Tomada pelas ânsias de uma incúria,
Atando cada passo em luzes frágeis
Galgando tão somente o nada ser,
Na falta de ternura, em desprazer,
Os dias poderiam ser mais ágeis,
Algozes, na verdade são diversos
E deles sem notícia sigo alheio,
O passo mais audaz, sempre receio,
Assim como contidos, os meus versos,
Apenas esperança me domina,
Quem sabe mudaria a amarga sina?


28105




“Somente o Horror das trevas se divisa;”
No olhar de um andarilho sem destino,
O mundo que pensara cristalino,
Agora a cada dia se escraviza
E nada do que fora se percebe,
Premissas hoje ditam solidão,
O quanto do meu sonho fora em vão,
Vazia e sempre escura a minha sebe,
Audaciosamente eu procurei
A sorte que deveras nunca via,
E sendo mais ausente esta alegria,
Tristeza vai ditando toda a lei,
Pudesse ser feliz, ah quem me dera,
Teria finalmente a primavera.

28106


“Além deste oceano de lamúria,”
Somente a ingratidão tomando a cena,
Minha alma neste instante se apequena,
Aonde quis a glória vi penúria.
Semente se abortara em pleno chão,
O vento mais dorido já traçando
Aonde imaginara outrora brando
Total enorme eu sei, devastação
E o quanto ser feliz inda pudesse,
Talvez num novo dia, noutra senda,
Somente a solidão vaga e desvenda
Negando ao meu futuro alguma messe.
Sentindo a cada dia desabar
O sonho que aprendi edificar.

28107


“Minha cabeça - embora em sangue – ereta”
Rodando em carrossel, vive a tristeza
De ter somente a dor desta incerteza
Na qual a realidade se completa,
Vivesse pelo menos um momento
Aonde se pudesse acreditar
Distante dos meus olhos o luar,
Sentindo o mais completo desalento,
A noite se passando em trevas, vejo
E nela não concebo outro caminho,
Deveras percorrendo ora sozinho
Searas mais atrozes do desejo,
Uma esperança morta, tão somente,
É tudo o que decerto esta alma sente.


28108


“Nunca me lamentei - e ainda trago”
Nos olhos o temor da solidão,
Enquanto se ausentando do verão,
A sorte se desenha e o tempo estrago
Com versos doloridos e não mais,
Sabendo ser tão triste o dia a dia,
Aonde esta emoção já não se cria,
Exposto a gigantescos temporais,
Nefasta vida, ausente de esperança
Sombria madrugada, sem manhã
O quanto a minha vida segue vã,
Apenas a tristeza ora me alcança
E o gosto tão amargo da saudade,
Ainda com furor, chega e me invade.


28109


“Sob os golpes que o acaso atira e acerta,”
O dia se aproxima do final,
O medo que percebo sem igual
Uma alma solitária e tão deserta
Deveras poderia ter enfim,
O brilho que jamais eu conheci,
O amor sem ter limites via em ti,
E quando me percebo, sigo assim,
Sem nada em minhas mãos, somente o medo,
E quanta noite feita em ilusão
O barco sem sentido ou direção
Por vezes esperança inda concedo,
Mas sei que no final, nada se soma,
E angústia o sentimento inteiro toma.


28110


“Nas garras do destino e seus estragos,”
Depois de tantas noites procurando
Um tempo que em verdade fosse brando
Trazendo a placidez de doces lagos,
Os dias se passando em nada creio,
O quase se tornando uma constante,
Aonde se pensara um diamante,
Apenas pedregulhos, sigo alheio.
E o quanto ainda posso acreditar
Num dia diferente em minha vida,
Se já não concebendo uma saída
Vazio com certeza o meu lugar,
Seara da paixão, abandonada,
Por onde caminhara, o mesmo nada.


28111


“Por mi’alma insubjugável agradeço”
As tantas ilusões que ainda tenho,
E quando se percebe tanto empenho,
O amor já desconhece este endereço,
Vagando pela noite solitária,
E nada se fazendo em plena lua,
Uma alma sem ninguém só continua
Caminho sem carinho, procelária.
Acordo e nada tendo, volta a dor
Antiga companheira, contumaz,
Amor já não mostra mais capaz
E dele nem um raio salvador,
Apenas esperança e sigo só,
Percorro e não percebo nem o pó.

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