quarta-feira, 31 de março de 2010

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28115
“quem é que pode definir o amor?”
Se entranha em nossa pele e se mistura
Às vezes nos tomando com ternura
Ou mesmo com seu ar de puro horror,
Vivendo a sensação enquanto for
Domando a mais terrível criatura
Tornando a mais volátil tão segura
Enquanto se espalhando com torpor.
Gerir o sentimento e no final,
Sabendo ser diverso cais e nau,
Vestindo da ilusão que ora contemplo
Indefinível mesmo, mas ainda
O quanto desta luz se mostra infinda.
Tornando uma alma quase etéreo templo.

28116

“sendo, pois, a si próprio tão contrário”
Decerto contradiz ou me esclarece
Ao mesmo tempo angústia, medo e messe,
Num sentimento vasto e sempre vário,
Fazendo da esperança em raro brinde
A glória procurada e quando vista,
Peçonha se entornando enquanto insista,
Caminho tão prismático deslinde,
Vivenciando assim auge ou abismo,
Nas ânsias de um amor fim e começo,
No quanto em claridade desconheço,
No ardil em tempestade ainda cismo,
Gerando por si próprio um ledo fim,
O amor demônio feito em querubim.


28117


“Fraco a indefeso, é força irresistível;”
E quando se percebe em tal escala
Ao mesmo tempo enquanto me avassala,
A dor se transformando, indescritível,
Seguindo cada rastro que se vê
Pereço num instante em que renasço,
Na doce sensação de um meigo abraço
Não sendo casual, nem há por que,
Tormenta que alivia e me maltrata
Ansiosa caminhada em espinheiros,
Ao ter nos sonhos meros mensageiros,
A força incoercível da cascata,
Amor entranha; tolhe e nos liberta
Arromba qualquer porta, mesmo a aberta.

28118


“é deus, e faz de um Santo um pecador”
Gerando a dor intensa e sendo rude,
Porquanto vez em quando nos ajude,
Deveras nos transporta medo e dor,
Assíduo companheiro da esperança
Encontra nos seus braços, fantasia,
E quando se propõe com rebeldia
Aos mais distantes rumos já se lança
Porfia entre tempestas e momentos
Suaves, não contendo-se, devora,
Não conhecendo mais limite ou hora,
Da angústia e do temor, caros proventos,
Por ser assim, amor, dono e servil,
A cada novo tempo, um novo ardil.

28119

“sendo imutável, quase sempre é vário”
Gerando o contra-senso mesmo quando
Aos poucos sem limite nos tomando,
Não vê na caminhada um adversário,
Erguendo a cada passo suprema luz,
Ourives do vazio, tantas vezes,
Enquanto em suas mãos nós somos reses,
Ao mais extremo oposto nos conduz,
Vertente feita em glória e tempestade,
Gestando uma ilusão sempre transforma,
Ao não se deixar sob qualquer norma,
Insaciável mesmo quando invade,
E logo se afastando gera o caos,
Ausência de algum cais; destroça as naus.


28120


“O amor é cego, e vê todo o invisível;”
Além de sensitivo se observando
Momento mais audaz, porquanto brando,
Adoça enquanto fere, força incrível,
Tornando-me impassível, calmaria
Gerenciando a sorte quando em guerra,
No ser e por só ser o eterno encerra,
É mão que destroçando já nos guia,
Fantásticos caminhos envolvendo
Toando as mais sublimes emoções
E quando em seus desníveis tu te expões
No quanto se produz, traz estupendos
E opacos decifrares do viver,
Nefasta luz transforma-se em prazer.

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“vive, às cegas, o alguém que ama outro alguém”
Mergulha em precipícios de tais tons
Sobejas amarguras, tristes sons,
No quanto variáveis já contém,
Expressa a dor em risos e delírios,
Sevícias em delícias; sabe o quanto
Da lucidez se perde a cada canto,
Somente no final, risos, martírios
Assim ao se mostrar em tal nudez,
O amor não se permite qualquer senso,
E quando noutra senda recompenso
O que deveras quis e se desfez,
Na multifacetária caminhada,
Por vezes afinal não resta nada.

28122


“É luz, mas, entretanto, em noite escura”
Semeia as tempestades e a bonança
Enquanto na verdade não se alcança
É tudo o que um amante em vão procura.
Dicotomias tantas; dita quem
Cevando com ternura e mansidão,
Por vezes maltrapilho e duro chão,
Do qual nada se vê nem se contém,
Somente alguma luz já poderia
Traçar um novo sol, mas quão brumoso
O céu se mostra enfim tempestuoso,
E a noite de tão quente, morre fria,
Assisto ao caminhar desta quimera,
Inverna num segundo a primavera.

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