quarta-feira, 31 de março de 2010

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28129

“e me abrias os braços para o amor”
Assim que se transforma a luz em treva
O quanto da esperança se longeva
Deveras se propõe o agricultor,
Mereça ou não mereça melhor sorte,
No todo se percebe qualquer parte,
Ainda que decerto se descarte
No sentimento a dor que me conforte,
E o pêndulo da vida se mostrando
Por vezes mais cruel não me permite,
Viver além ou mesmo no limite,
O mundo num tremor já desabando,
O corte se aprofunda e a solidão,
Tem neste amor sincera tradução.

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“fechavas a janela para o mundo”
E desejando além do simples fato
Aonde sem certeza me maltrato
E neste pouco ou muito me aprofundo,
O verso se moldando mesmo insano
Dizendo do que tanto desejara,
A porta escancarada traz a clara
Certeza do passado, e se eu me engano
O vento que ora assola o meu caminho,
Ainda se mostrando desditoso,
Por certo propicia dor e gozo
E nesta variável eu me aninho,
Do vago e tão calado caminhante,
O sol que tanto quis e me agigante.

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“Vias-me. E então, num súbito tremor,”
Aonde se fez luz agora o nada,
Traçando a sorte há tanto desprezada
E nela o que restou do sonhador,
Ainda que cansado da colheita
Espúria plantação de dor e treva,
O medo a cada tempo mais se ceva
Enquanto o fanatismo se deleita,
Gerasse pelo menos luz e paz,
Mas nada do que eu quis ora recolho,
A sorte traduzida num abrolho,
E nele se mostrasse mais capaz
Quem tanto produzira uma esperança
Diversa do que a vida agora alcança.

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“no quadro claro da janela aberta”
Sofismas do passado ainda dizem
Diverso do que tanto contradizem
Desejos quando a sorte me deserta,
Alertam-se deveras caminheiros
Enfrento os temporais e sei do quanto
A vida num momento em desencanto,
Promete novos cortes e espinheiros,
Jogando contra o medo num confronto,
Aonde poderia ser mais eu,
O verso noutro verso se perdeu,
E o medo se mostrando sempre pronto,
Assídua luta nega algum futuro,
O amor que tanto quero e não procuro.


28133

“braços cruzados, muito branca, ao fundo”
Da cena perpetrada em noite vaga,
Apenas o temor ainda afaga
E dele cada vez mais eu me inundo,
Servindo de tenaz, quando pudesse
Vencido pela angústia do não ser,
Perdido em tamanho desprazer
A fruta que colhera se apodrece
E nada me apetece nem o sonho,
Devastação completa anunciada,
A porta totalmente destroçada
E ao canto que inda busco já me oponho
Erguendo um brinde à dor que tu me deste,
O solo se mostrara mais agreste.

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“Cantava... E eu te entrevia, à luz incerta,”
Traçando a lucidez onde jamais
Calassem no meu peito vendavais,
E o quanto da esperança não me alerta,
Refúgios em refugos, mera escória
Dos tantos que pensara e nunca pude,
A vida se negando em atitude
Venal e quando pode merencória
Resume esta passagem pelo tempo
E dita sem sentido algum momento,
E sendo solitário me atormento,
A cada passo em falso um contratempo
Gerindo ao caminheiro um amanhã
Escassa poesia, e quando há: vã.

28135


“teu cenário cantava à minha entrada”
Gerânios da janela, flores tantas,
E nelas com certeza desencantas
Sabendo ser volúvel tal florada,
Ausente primavera em duro inverno
Porquanto me iludira e não soubera
Da vida senda amarga e tosca fera,
Na qual e pela qual sempre me hiberno,
Vasculho nos meus bolsos, busco a chave
Que tanto se segreda e me segrega,
A cada corte afunda a mesma regra
E nela vejo apenas mero entrave,
O vandalismo ronda o sentimento,
E dita a cada dia o desalento...

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