quarta-feira, 31 de março de 2010

28143/44/45/46/47/48/49

28143


“Estruge ainda na razão do mundo”
A voz onipotente da esperança
Que tanto quanto pode já se alcança
E dela vez em quando ora me inundo,
Deveras tempestades, enfrentara
Quem muitas vezes sonha, mesmo quando
A vida noutra sendas desbotando
A luz ainda quando se fez clara,
Aprazo a solidão que tanto ensina
E gera realidades discrepantes,
Sabendo ter nas mãos os diamantes,
Decerto se concebe nova sina,
Aonde perfilaram-se satânicos
Momentos mais cruéis em tons tetânicos.

28144


“De sua voz o eco formidável”
Vagando pelo espaço em luz atroz,
Ainda se prepara em laços, nós
O rumo que é por certo mais mutável,
Por conseguinte vejo o quão é fútil
O caminhar sem ter sequer lanterna,
E quando a fantasia ora se interna,
O pêndulo se mostra mesmo inútil,
Assim a mesma vida dita nobre
Tez onde pudesse ser mais clara
A lúcida presença em que prepara
O rito onde deveras já se encobre
Destino traduzido em luz e chaga,
Enquanto me amordaça quer e afaga.

28145

“Há muito que tombou, mas inquebrável”
Delírio se mostrasse mais audaz,
E nada do poder me satisfaz,
Trazendo este terreno enquanto arável

Em aridez completa, em dissonância,
O peso do viver vergando a planta
Ao mesmo tempo trai ou agiganta
Diversa com certeza ressonância.

Eclética emoção mesmo exaustiva
Gerasse contra-senso onde não há,
E tendo desde sempre aqui ou lá
A sorte pela qual inda se viva;

Assisto ao meu final de camarote,
E a vida preparando um novo bote.


28146

“Do passado através o véu profundo”
O quase perpetua o som mais doce,
E quanto mais ainda duro fosse
O sonho pelo qual ora me inundo

Mordazes desconfortos trazem medo
E tudo o que se crê inda não basta
A face; tantas vezes, vejo gasta,
Enquanto algum sorriso; em vão concedo,

Sensata caminhada? Nunca vi
Nem tanto quanto pude ora prossigo,
A angústia produzindo o desabrigo,
O amor que ainda possa ver em ti

Não dita qualquer norma e mesmo se
Traçasse outra seara não se vê.

28147


“Que mostra-me o seu crânio resplandente”
Corsária atroz bandeira em vil mortalha,
Porquanto toda a sorte diz batalha
Ao fim a vaga história se pressente,

Apátrida caminho soma o nada,
E o vendaval transcende à própria morte
Quem nunca me mostrasse e já conforte
Negando desde quando esta alvorada.

Mentindo pra si mesma, nada diz,
E o vasto prado agora sendo agreste,
Diverso do que outrora me disseste,
Ainda que pudesse ver matiz

Mais rara de uma vida feita em mágoa,
Aonde nem o sonho mais deságua.


28148


“Olhando para a história - um século e a lente”
Aumenta ou diminui a quantidade,
Por mais que ainda tente ou mesmo brade,
O vento da verdade dita e sente.
Gerando discordância a cada passo,
O manto se recobre em luto e moldo
Deveras muito aquém do quanto em soldo
Recebo e me transformo no que traço.
Ausente dos meus olhos, luz intensa,
Porquanto a vida traz em glória e medo,
E sendo desta forma que procedo,
Não tendo quem da sorte me convença
Mergulho neste abismo feito em treva,
Enquanto uma esperança atroz se ceva.

28149


“Na fronte audaz da populaça brava”
Mostrando um heroísmo onde não vejo,
Sequer a menor sombra de um desejo
Enquanto a realidade se desbrava
Em senda florescente ou tão mordaz
O amor se mostra sempre em luz sombria,
O quanto deste sonho fantasia,
Ou mesmo uma verdade já desfaz,
Não posso sonegar nem tento quando
Ressoa dentro em mim o temporal,
E quando se mostrasse em ritual,
O mundo noutro mundo se moldando,
O verso mais venal não mais desvenda,
Tampouco se transborda noutra senda.

Nenhum comentário: