sexta-feira, 19 de março de 2010

“ MEU GLORIOSO PECADO II HOMENAGEM A GILKA MACHADO


MEU GLORIOSO PECADO II

Gilka Machado

Quantas horas felizes, quantos dias
nos contemplamos sem jamais trocar
uma frase! - Eu temia... Tu temias...
Mas como era expressivo nosso olhar!...

Nem uma frase! E tantas melodias
no meu, no teu silêncio, no do mar,
no do céu, no das árvores sombrias,
como tudo se amava sem falar!

Trocamos o vocábulo e (oh! tristeza!)
Quantas injúrias, que contradição
nessas palestras de alma em ciúme acesa!

Ah! se mudos ficáramos então,
não profanara o orgulho e a singeleza
das palavras sem voz do coração!

GILKA MACHADO


1


“das palavras sem voz do coração”,
Delírios que se encontram, mil prazeres
Tocando com volúpia nossos seres
Deveras em insânia, com paixão.

No fogaréu intenso que contém
Delírios sensuais, viagens tantas,
Enquanto assim te encanto, tu me encantas
Na imensa maravilha, nosso bem.

Vagando por estrelas, bebo a luz,
E traço no teu corpo meus caminhos,
Envoltos pelas chamas dos carinhos,
Intensa claridade reproduz

Deliciosamente nua do teu lado,
Meu corpo no teu corpo emoldurado...


2


“não profanara o orgulho e a singeleza”
Divinas maravilhas professadas
Nas ânsias entre as ânsias demarcadas,
Decerto mais sutis tanta beleza.

Ascendo ao Paraíso e com certeza
As horas sendo assim abençoadas,
Desvendo no teu corpo tais estradas
E sigo sem pensar a correnteza.

Mortalhas do passado? Nunca mais,
Delírios em desejos magistrais
Ternura que se aflora em gozo farto,

Na intensidade plena de candura,
Depois de tanto tempo em vã procura
Deidade caminhando no meu quarto...


3


“Ah! se mudos ficáramos então”
Sabemos decifrar cada sinal,
Promessa de um momento divinal,
Eternizando aqui nosso verão.

Adentro os mais diversos paraísos
Com toques sensuais e delicados,
Unindo com prazeres nossos fados,
Vibramos em desejos mais concisos.

Ascendo ao mais sublime patamar,
Auge da emoção, luzes soberanas
As noites delicadas e profanas
Vagando sem destino, céu e mar.

E bêbados dos sonhos tanta entrega,
Infinitos sem par, amor navega...




4


“nessas palestras de alma em ciúme acesa”
Procuro uma saída que não vejo,
E quanto mais profano o meu desejo
Maior no nosso caso esta incerteza

Queria ter no olhar esta pureza
Que tanto necessitas, mas almejo
Momento mais feliz e num lampejo
Imensa claridade diz beleza.

Não posso mais conter esta vontade
E mesmo que talvez já não te agrade,
Eu quero mergulhar nos teus anseios,

Sentindo tua pele junto a minha
Minha alma na tua alma já se aninha,
Delírio feito em beijos, toques, seios...


5


“Quantas injúrias, que contradição”
O amor professa sempre tais loucuras,
Enquanto mergulhados em ternuras,
Ao mesmo tempo sinto a negação;

E quero ter em ti ancoradouro,
Mas sei quão movediço o sentimento
E nesta insensatez meu desalento,
Num sol que é tão volúvel não me douro.

Porém eu necessito dos teus dias,
E sei quantos momentos magistrais
O amor nos mais divinos rituais
Além do que deveras fantasias,

E assim nesta inconstante maravilha,
Minha alma sobre espinhos, pedras, trilha...





6



“Trocamos o vocábulo e (oh! tristeza!)”,
Por vezes carinhosos noutras não,
Às vésperas do fim, da solidão
Pudesse inda conter a correnteza.

E quando se criando a fortaleza
Tempestas, vendavais se mostrarão,
Mas nada desviando a direção
Do amor que se transcorre com firmeza.

Esgarçam-se deveras estes panos,
E neles nossos medos, desenganos
Afloram e nos tornam suscetíveis.

Pudéssemos talvez acreditar
Na força incomparável deste amar,
Os dias não seriam tão terríveis...


7


“como tudo se amava sem falar’,
Somente com os gestos já sabíamos
Do quanto sem limite nos queríamos
No encanto que aprendemos desfiar.

Assíduas emoções em passo largo,
O gozo incomparável, festa e riso,
Assim ao perceber o Paraíso
Do quanto te desejo e nunca largo

Aprendi a viver felicidade
Orgásticos prazeres, noite imensa,
E tendo neste jogo a recompensa
Encontro nos teus olhos a deidade

Que tanto procurara a vida inteira,
A sorte sendo enfim, a companheira...





8


“no do céu, no das árvores sombrias,”
Espelhos traduzindo maravilhas
E ao mesmo tempo cores onde trilhas
Mundanas emoções e fantasias.

Diverso do que outrora tu querias
As sortes onde ainda sei não brilhas
Ascendem às estrelas andarilhas,
Deixando para trás as noites frias.

Encontro no teu corpo um porto audaz,
E quando tanto amor nos satisfaz
Jamais abandonando um sonho intenso.

Se temos o prazer de ser assim,
Profícuo e fabuloso este jardim,
E nele em cada flor me recompenso...


9


“no meu, no teu silêncio, no do mar,”
Ausência do que fora tão perfeito,
E quando em solidão, agora deito,
Vontade de te ter e te tocar.

Bebendo esta saudade, nada faço
Senão seguir os rastros que deixaste,
Passado com presente em tal contraste
Do todo não restando nem um traço.

Mas quando me encontrar contigo, amor,
Eu hei de mergulhar sem ter perguntas
As almas caminhando bem mais juntas
Já sabem deste prado redentor.

E o gozo professado sem limite,
Que tanta fantasia nos permite....





10


“Nem uma frase! E tantas melodias”
Assim neste silêncio do abandono,
Do amor e do prazer eu já me adono,
Enquanto novo mundo também crias,

Diversas emoções raiando dias
E nelas cada gozo, novo abono,
Os medos mais inúteis, abandono
E teimo em viver fartas alegrias.

Carícias mais profanas, delicadas,
As horas em ternura desvendadas
Percorro sem fronteiras o infinito,

E tendo no teu corpo a minha glória
A noite nunca amarga ou merencória
Jamais o coração se mostra aflito...


11


“Mas como era expressivo nosso olhar”,
Envolto pelas luzes do desejo,
E quando mais prazeres eu prevejo,
Percorro tuas sendas devagar...

E quero cada vez mais ter de ti
O amor incomparável, nossos rumos,
E bebo dos teus gozos, tantos sumos,
Depois de tanto tempo que perdi.

Vagando por espaços magistrais,
Sorvendo cada gota do rocio,
O que tu me ofereces, propicio
E quero cada vez, e sempre, mais.

Assim vamos seguindo nossa vida,
Num mar sem desencontro nem partida...


12


“uma frase! - Eu temia... Tu temias...”
O fim de nosso caso, mas agora
Ao ver a luz imensa que se aflora
As noites não serão decerto frias,

Tampouco nossas mãos seguem vazias,
Jamais se cogitando se lá fora
A neve do passado ainda ancora,
Diverso do que tanto mais querias.

Eu beijo tua pele e me arrepio,
Na eterna sensação de um louco cio,
Mergulho em oceanos mais profanos.

Não posso suportar sequer a idéia
Do amor que se perdeu em alma atéia
Se em ti, divinos ares, soberanos...

13


“nos contemplamos sem jamais trocar”
Palavras que pudessem nos trazer
Qualquer momento em dor e desprazer,
Somente desvendando este luar

Que toca tua pele já desnuda
E vaga noite afora, em prata e luz,
Ao mesmo tempo enquanto nos conduz
A sorte do teu lado não se muda.

Assediando estradas benfazejas,
Penetrando por sendas maviosas
Enquanto nos meus braços sei que gozas,
Decerto com mais força me desejas.

E assim ao parearmos emoções,
Momentos magistrais tu dás e expões.


14


“Quantas horas felizes, quantos dias”
De imensa e incomparável fantasia
O amor com tal vigor nos propicia
E nele este caminho que sabias

Fantástico momento onde me guias
Deixando no passado uma agonia,
A fonte se renova todo dia,
E nela dessedento em alegrias.

Eternidade mesmo que finita
A luz que nos rodeia tão bendita
Permite um caminhar já demarcado

Por cores tão diversas e perfeitas,
Enquanto me deleito te deleitas
Num glorioso gozo, o meu pecado...

Nenhum comentário: