domingo, 11 de abril de 2010

24998/99/500/501/502/503/504/505

24998

“neste lidar que escolhi”
Tanta sorte desairosa
a saudade toma e glosa
Já me leva até a ti
Das estâncias do querer
Dos momentos mais felizes
Muito além do que me dizes
Disfarçando o desprazer
Com ternura e com encanto
Cada dia desvendado
Fala agora do passado
Que decerto ainda canto
Laborando com a vida
Poesia dita a lida.

29499

“viverei sempre contente”
Procurando a minha estrada
Nesta lua iluminada
Tropical e sempre quente
Moçambique é minha terra
E deveras tanto sonho
Cada verso que componho
A saudade não descerra
A verdade diz do mar
Da beleza de saber
Onde posso ter prazer
Na vontade de encontrar
A justiça a cada verso
Nesta luta sigo imerso.

29500

“a pá e a casquinha ali,”
A certeza no horizonte
Deste sol que aqui desponte
Tanto bem eu percebi
Nesta senda a preferida
Neste campo em que se entranha
Na riqueza da montanha
Nele encontro a minha vida
No oceano em azulejo
Cores várias, maravilha
O meu peito também brilha
E um futuro que prevejo
Na certeza de outro dia
Onde a sorte se porfia.

29501

“e enquanto tiver os braços,”
Com a força necessária
Nesta luta temerária
Estreitando nós e laços
Navegando mundo afora
O meu canto não se cansa
Nele traça-se a esperança
Neste sol que nos decora
Negritude com orgulho
A senzala já distante
Nesta terra um diamante
Belo mar em que mergulho
Pescador das ilusões
Peroladas emoções.

29502


“nunca outro mister busquei”
Nem tampouco buscaria
Ao fazer da pescaria
Nela a vida dita a lei
E também com as palavras
O poeta com o anzol
Interroga suas lavras
Delas forja lua e sol,
Ao banhar-se na alegria
Na tristeza ceva a luz
Quando a treva reproduz
Uma trova já recria
A pureza desta lida
Pela luta traduzida.

29503

“a pesca me dá sustento”
E no verso a fantasia
Quem por certo assim porfia
Encontrando o seu alento
Nas entranhas do oceano
Ou nas sendas de uma frase
Tanto sonho que se embase
Muito além do desengano
Cada dia joga a rede
E procura destes peixes
Como as letras ditam feixes
Mata a fome, mata a sede
E já sabe conhecer
Da verdade o seu prazer.

29504

“e no mar sempre vaguei;”
Ao viver esta aliança
Entre o quanto já se avança
E desvenda cada grei
Onde possa navegante
Um poeta com seus sonhos
Enfrentando os mais bisonhos
Dias que sempre agigante
Noites tanto turbulentas
E palavras mais sinceras
Encontrando sempre as feras
E bebendo das tormentas
O poeta e o pescador
Neles vivo o destemor.

29505

“Sou pescador desde a infância”
E com força nada escapa
A palavra que solapa
Com terror ou elegância
Faz da pesca ou do soneto
Numa trova, no trovão
Encontrando a direção
Destemido me arremeto
E conheço os sete mares,
Rios tantos sei a foz,
Aumentando a minha voz
Nas palavras meus altares
Noite clara, dia escuro
Cais do verso, tão seguro.

Nenhum comentário: