quinta-feira, 1 de abril de 2010

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28207


“Ao som do açoute... Irrisão”
A fúria se transformando
Fogo insano se espalhando
Destroçando a plantação
Fome eu vejo em cada face
O terror não se contém,
Da esperança muito aquém,
Sorte vaga que se embace
Nas terríveis heresias
Onde outrora houvera luz,
Tanto medo reproduz,
Nas angústias que porfias,
Derrocada da esperança
Natureza em vil vingança.

28208


“Dança a lúgubre coorte”
Num terror que se espalhara
Ao mostrar a sorte amara
Feita em dor, terror e morte,
Uma terra antes gentil,
Agora vejo em tez mordaz,
Onde um dia quis a paz,
O terror não se previu,
Assolando o verde eu vejo
Cada ponto esfumaçado,
Tanto medo, este legado,
Diferente do desejo
De quem soube enfim te amar,
Terra, céu, floresta e mar.

28209


“E assim zombando da morte,”
A sorte se mostra nua
Face escusa, nova lua,
Sem ter sombra que conforte,
Furiosa natureza
Se amortalha em voz tenaz,
E o que fora mais audaz,
Condenado com torpeza
Perecendo a cada dia,
Não mais deixa uma esperança
O meu braço não se cansa,
Minha voz é quem me guia,
Mas assim não vendo fim
O que faço sem jardim?

28210


“Nas roscas da escravidão”
Natureza se perdendo,
Morte como dividendo
Tão escuro este porão,
O caminho a percorrer
Se transforma num deserto,
O futuro sendo incerto,
Condenando ao desprazer
Nada além deste vazio
Da esperança sequer gota,
A bandeira sendo rota,
Rota vaga em dia frio,
Navegante aventureiro
Já sem cais nem timoneiro.


28211


“— Férrea, lúgubre serpente —“
Açoitando em moto-serra
O futuro já se encerra
Tudo cessa num repente,
A mortalha se tecendo
Em grisalha natureza
Segue contra a correnteza,
Morte e dor, teu dividendo,
Nada resta, só, talvez
Uma frágil desventura
Tanta luz, tanta procura,
Se perdendo noutra tez,
A alegria cessa enquanto,
Do teu povo, vago canto.


28212


“Prende-os a mesma corrente”
O furor em glória insana,
Uma tez mais soberana
Se mostrando agora ausente
E o terror já se espalhando
Alegrias; não terás,
Quem deveras tão mordaz
Prosseguindo em contrabando
Desde quando se mostrara
Em luzes frágeis, natureza
Segue em dura correnteza,
A manhã jamais é clara,
Tanta cinza no teu céu,
Teu futuro, o mais cruel.


28213


“Nem são livres p'ra morrer”
Passarinhos, feras, aves,
Seres bravos e suaves
Nada pode conceber
Navegando em água escura,
Solidão já se aproxima,
A mudança deste clima,
Cada vez mais se perdura,
Corte em fúria de outra luz
Tudo em cinza, nada vejo,
Onde outrora um azulejo,
Céu brumoso se produz,
E assim segue sem porvir,
Mar em dor, tanto a bramir.

28214


“Hoje... cúm'lo de maldade,”
Sem no olhar um horizonte,
Poluída cada fonte,
Só terror e iniqüidade,
Afluentes do vazio
Foz em turvas águas; creio
Que secando assim o veio,
No futuro quente e frio,
Solitário caminheiro
Percorrendo a terra nua,
Em crateras qual lua,
Talvez haja um espinheiro
Derradeira prova aonde
O futuro não se esconde.
28215

“A vontade por poder”
Vai gerando a desventura
Quando a sorte se procura
Se encontrando o desprazer
Nada vejo só terror
E deveras esta senda
Onde o brilho dita a lenda
Poderia noutra cor,
Mas agora em turbulência
Natureza se desnuda,
Tal seara, sem ajuda
Não terá mais florescência
E a nefasta face exposta,
De uma terra decomposta.


28216

“Ontem, plena liberdade,
Hoje nada se mostrara
Funda chaga, vil escara
Onde a sorte se degrade,
Geração em dor imensa
Carpideira do futuro,
Um momento mais escuro,
Não verá mais recompensa,
A senzala do passado
Eterniza-se em terror,
Natureza a decompor,
Morte em solo destroçado,
Auriverde, o teu pendão,
Gris deveras o teu chão.

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