quinta-feira, 1 de abril de 2010

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“Acha um corpo que roer”
O que resta da floresta
Esta imagem tão funesta
Do terrível desprazer
Destroçando fauna e flora
Num vazio imenso e vão
Aridez tomando o chão
Nada ao menos te decora,
A nudez expondo o solo,
Em terrível derrocada
Tão somente vejo o nada
Para a morte então decolo,
Vejo o fim se aproximando
Esperança se acabando.

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“Mas o chacal sobre a areia”
Se alimenta dos destroços
Do passado nem os ossos,
Fogaréu ditando a teia
Onde outrora houvera alento
Seca eterna desde agora,
Não restando mais a flora
Desolado, areia e vento,
E o terror se espalha sobre
Este solo que deveras
Expressa em primaveras
O que agora em vão recobre
O vazio se percebe
Onda havia flórea sebe.

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“Vaga um lugar na cadeia,”
E o vazio determina
Onde houvera fonte e mina,
Hoje a morte se rateia,
Esquecendo do que um dia
Poderia ser tão belo,
Neste verso; o fim revelo
E traduzo esta sangria
Cada tempo mais cruel,
Novas eras não virão,
Tão somente solidão
Morte em água, solo e céu,
Assistindo à derrocada
Que fazer? Somente o nada...


28229


“E cai p'ra não mais s'erguer”
A esperança que inda havia
De outra luz em novo dia,
De um suave amanhecer,
Trevas tanto, grises céus
E a terrível penitência
Tanta dor, tanta inclemência
Segue imersa em fogaréus,
Os segredos desta terra
Desnudados desde então
Um terror toma a amplidão
Longa história já se encerra,
E o vazio que transtorna,
Solidão cruel se entorna.


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“Ai! quanto infeliz que cede,”
Corpos tantos pelo chão,
Ao sentir devastação
Ilusão não se concede,
E perdendo uma esperança
O que restará do todo,
Nem tampouco um charco, um lodo,
O deserto agora avança
Crava as garras mais venais
Toma toda a terra e traça
Tão envolta na fumaça
Traduzindo-se em jamais,
Novo norte? Não mais vejo,
Glória? Nem sequer lampejo...



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“E a fome, o cansaço, a sede”
Toma conta do cenário
Sertanejo sem a rede,
Ilusão de um visionário
Novo tempo? Nada disso,
A mortalha sendo eterna,
Esperança já se hiberna
Tanta vida, tanto viço
Num instante se perdeu,
E o momento mais venal
Em terror já capital
Espalhando imenso breu
Sendo assim nada mais resta,
Só deserto, onde floresta.


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“Desertos... desertos só”
Nada além neste horizonte,
Seca a terra, a mina, a fonte,
Só vislumbro areia e pó.
A mortalha recobrindo
Solo outrora varonil,
Esta terra, o meu Brasil
Que já fora belo e lindo,
Num momento mais atroz,
Um Saara se transformando
Sem futuro desde quando
Da cobiça se fez voz,
E o passado em claridade,
Do deserto, a eternidade...

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“Depois no horizonte imenso”
Onde azulejava a sorte,
Sem ter nada que conforte,
Na verdade me convenço
Do final que se aproxima
Em terror sem galhardia,
Nova noite mata o dia,
Onde houvera alguma estima,
Solidão destroça a luz
E o passado vindo à tona,
Esperança me abandona
Ao vazio se conduz
O caminho de quem tanto
Se mostrara em raro encanto.


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“Depois, o oceano de pó”
Recobrindo a terra nua,
Nossa senda continua
Num caminho tosco e só,
As entranhas, formas vis,
Ardentias, profusão,
Solo em decomposição
O futuro contradiz
Medo, morte, e nada além
É somente o que ora vejo,
O que fora algum lampejo
Nem reluz o que contém,
A mortalha nos recobre
Solo, outrora rico e nobre.


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“Depois, o areal extenso”
Onde havia matagais,
Criminosos ancestrais
Destruindo um mar imenso
De vergel e de esperança
Água farta em luz intensa,
Hoje a morte em recompensa
No vazio a voz se lança
E mergulho num deserto
Abissais medonhas formas,
Neste vão que te transformas,
Um terrível nada aberto,
Vai se expondo esta nudez,
Onde o sonho se desfez.

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