quinta-feira, 1 de abril de 2010

28267/68/69/70/71/72/73/74/75/76

28267


“Musa libérrima, audaz,’
A mortalha da esperança
Que deveras já te alcança
Tudo nega e nada traz
A semente desejada
No passado se mostrando
Neste solo outrora brando
Vai gerando o mesmo nada
E do nada se transforma
Numa face mais cruel,
Onde houvera um claro céu
Tanto azul, sobeja norma,
Vejo o tempo agrisalhado,
O terror, nosso legado.

28268


“Dize-o tu, severa Musa,”
Do que outrora fora sonho
Hoje em tempo mais medonho,
Solidão deveras usa
Do terror do nada ter
Como forma de mostrar
O terrível lapidar
Desdenhoso do prazer,
Nele açoda-se o vazio
E pesando sobre nós
O temor, vago ou atroz
Que num verso já desfio
Procurando melhor sorte
Que deveras me conforte.

28269


“Perante a noite confusa”
Nada vejo do passado,
O caminho destroçado
Com o medo sempre cruza
E traduz o nada quando
Outro dia se lapida
Modifica a nossa vida
E o poder já desabando
Como fúria sobre quem
Desejara outro momento
E deveras me atormento
Quando o nada se contém
E transcende esta esperança
Que ao não ser somente lança.

25270

“Como um cúmplice fugaz,”
Do terror, o rapineiro
Se mostrando um mensageiro
Do que tanto se é capaz
Molda a fonte mais sombria
E deveras caprichosa
Sonegando qualquer rosa,
Espinheiro então se cria
Quando a sorte sonegando
Um momento mais feliz
O futuro contradiz,
O passado nos pesando,
A mortalha já nos cabe,
Esperança em vão se acabe.

28271

“Se a vaga à pressa resvala”
Nada resta do talvez
E somente insensatez
Decorando a velha sala,
O passado se apresenta
E transcende feito em luz
O futuro nos conduz
Tão somente à vã tormenta
E a conquista de uma glória
Não permite ao andarilho
Que vislumbre raro brilho,
Nesta lua merencória,
Morta a vida, o que restando?
O futuro desabando...




28272


“Quem são? Se a estrela se cala,”
Caminheiros do futuro
Que deveras neste escuro
Antevejo na ante-sala
Do vazio que se traça
Com terror a cada dia,
Esperança já sombria
Se transforma em vã fumaça
Glória há tanto procurada
Não se vê em qualquer senda,
O terror que se desvenda
Sorte sinto desprezada,
Morte vejo a cada fato,
Na aridez deste regato.


28273


“Que excita a fúria do algoz”
O desejo da mortalha
Podre campo de batalha
Do futuro nega a voz,
Semeando tão somente
O terror e nada além
Se o vazio me contém
Onde pode uma semente?
Nada resta e nada cevo
Neste solo tão agreste,
O contrário do que deste,
O que deixo, não longevo,
Amargura sem final,
Onde havia matagal.


28274


“Mais que o rir calmo da turba”
De chacais e de urubus
Solos mortos, vejo nus
E o passado me conturba,
Caminheiro em temporais
Navegante do não ser,
Morto em vida, desprazer
Encontrando ausente cais,
Marinheiro segue a rota
Rota roupa me recobre
O que fora outrora nobre,
Na verdade não se nota,
Se denota a estupidez
E traduz o que ora vês.

28275


“Que não encontram em vós”
Esperança após a guerra
A tristeza se descerra,
Só restando o duro algoz,
Nada além se percebendo
Do vazio que ora bebo,
O futuro não concebo
Sequer vejo dividendo,
O passado traduzido
Na mortalha do presente
O velório se pressente
Esperança em vago olvido,
Terrorismo? Nada disso,
Só não vejo qualquer viço.

28276


“Quem são estes desgraçados”
Que caminham sobre escombros
Carregando nos seus ombros
Os destinos desolados,
Vago assim também sem rumo
Sobre turva sensação
Do vazio e do senão,
O meu erro sempre assumo,
Mas as feras tão sombrias
Devorando em gula imensa,
Só pensando em recompensa,
Matam tantas alegrias
E a mortalha que nos cabe,
O futuro que se acabe.

Nenhum comentário: