quinta-feira, 1 de abril de 2010

28287 até 28312

28287


“E ri-se Satanás”
Terrível heresia
Que se vê na agonia
Onde encontrarei paz?
A vida se desfaz
O luto se porfia
Tanto medo se cria
Neste mundo mordaz
Na ausência do futuro
Onde vejo o passado
Solitário velado
Caminhando no escuro
Planeta em ledo adeus,
Imerso nestes breus.

28288

“Gritos, ais, maldições, preces ressoam”
A esperança trancando a sua porta
O sonho dia a dia já se aborta,
Apenas os vazios inda escoam
Tomando toda a terra em fogaréu
Ainda que pudesse resistir
Sem ter sequer a sombra de um porvir
Brumoso eternamente então tal céu
Negando qualquer forma de existência
Gerando tão somente o nada ser
O quanto se tortura em desprazer
Mostrando esta terrível penitência
Inglório caminhar da raça humana
Que um dia se pensara soberana.

28289

“Qual um sonho dantesco as sombras voam”
Rondando este deserto após a vida
A sorte na terrível despedida,
Somente as heresias inda ecoam
Gestando a solidão, negra fumaça
A fúria da Natura contra ataca
Cravando no final em fria estaca
O quanto do futuro já se embaça
Medonha face exposta do planeta
Agora tão vazio quão venal,
Girando sem sentido pelo astral
Volvendo contra si, tosco cometa,
Redemoinhos tantos, vendavais,
E as ânsias em momentos terminais.

28290

“Faz doudas espirais”
Girando intensamente
Voltando num repente
Em sonhos espectrais
Nada vejo e não mais
Não tendo uma semente
Uma esperança ausente,
Os ventos são fatais
A sorte se perdendo
A morte em dividendo
O que será de nós?
Nada restando enfim
Onde quis um jardim
Um sonho morto, atroz.

28291


“E da ronda fantástica a serpente”
Não deixa que se veja nem a sombra
Do quanto se perdeu e agora assombra
Tornando cada passo um penitente
Ausente dos meus olhos a esperança
Vazios dias mortas ilusões,
E quando novamente tu te expões
O fogaréu ao nada já se avança
Na Lança do terror o quanto em fúria
A terra se tornando inabitável
O fim já se mostrando inevitável
Da vida feita amor, restando a incúria
Nem mesmo uma lamúria posso ouvir,
Não resta nem sequer mesmo o porvir.





28292


“E ri-se a orquestra irônica, estridente”
Demônios e satânicas figuras,
Nas trevas entre as brumas tão escuras
Tinindo com furor cada tridente,
Somente a estupidez reinando agora
Aonde houvera vida no passado,
A morte se recebe por legado
Vazia a cena, a fúria já devora
E o tempo se esgotou, nada mais resta
Tampouco algum momento em doce alento,
Deveras tão somente o sofrimento,
Aonde havia luz, rio e floresta
Desértico caminho se desnuda,
E a sorte num instante, cego, muda.


28293


“Fazei-os mais dançar”
Demônios caricatos
Deveras os seus atos
Impedem de sonhar
A morte do luar
A seca dos regatos,
Terríveis desacatos
O quanto pude amar
E nada disso vejo
Ausente o meu desejo
A treva me inundando
Medonho este momento
E nele, me apresento,
Sereno ou mesmo brando.


28294


“"Vibrai rijo o chicote, marinheiros”
Da nau que ora naufraga num espaço,
E quando este desenho horrendo traço
Vislumbro num segundo os mensageiros
Do Criador em lástima se expondo,
Na visceral vontade de existir
Ao perceber o fim de algum porvir,
Da imensa claridade enfim me escondo
E sei que no final de tudo assim
Apenas a vagar um astro morto,
Deveras dos demônios belo porto,
A história se encaminha para o fim,
Quem sabe seja simples pesadelo,
Mas como se consigo até vivê-lo?

28295


“Diz do fumo entre os densos nevoeiros”
A voz em rebeldia de Satã
A vida que deveras foi malsã
Não serve nem tampouco aos espinheiros
O gozo do passado nos meus olhos,
A luz ausente mesmo do que tanto
Pensara num momento em raro encanto
Saudade sinto até dos vis abrolhos,
A sorte deslindada na quimera
Medonha que se mostra em tantos gris,
O mundo numa imensa cicatriz,
A vida não consegue e sem espera
Mergulha num abismo em louco espasmo,
Satã se gargalhando em vão sarcasmo.

28296


“Tão puro sobre o mar,”
O céu que via outrora
Aonde se decora
Deveras o luar
Num louco gargalhar
A sorte não demora,
E tudo vai embora
Não resta nem sonhar,
Um peso em minhas costas
As cenas decompostas
Falando do passado
Que tanto me faz bem
E quando nada vem,
O que terá mudado?


28297

“E após fitando o céu que se desdobra,”
O fim se transformando inevitável,
Aonde poderia ser arável
A terra com mil juros sempre cobra
E o passo se fazendo agora em vão
Não deixa qualquer sombra, morto em vida,
Preparo também minha despedida,
A sorte se entranhando em frio chão,
Caminho sobre escombros, nada mais,
E nesta ausência toda nem a voz
Do mais terrível cão da fera atroz,
Tampouco vejo a sombra dos chacais,
Apenas o vazio, este vazio
Tormenta em tom nefasto e mais sombrio.


28298

“No entanto o capitão manda a manobra,”
Na fulgurante barca dos horrores
Aonde houvera então jardins e flores
Somente este vazio se desdobra,
O corte se profana, a terra morre
E o vasto de um deserto toma tudo,
E quando vez por outra inda me iludo
Realidade nunca me socorre,
Venais os descaminhos desta cena
Sofrível tal momento que inexato
Sem água, morta a vida eis um fato
Noção de tal instante tendo plena
O quadro se mostrando irreversível,
O mundo em agonia; pois, terrível.


28299


“Cantando, geme e ri”
Demônio triunfal
Vagando neste astral
O rumo já perdi,
Jamais eu percebi
Momento mais venal,
Assim num ritual
O todo vejo aqui
Num átimo vazio
E o gene se transforma
Nesta mutante forma
Satânico recrio
Em temporal fugaz
A morte feita em paz.

28300


“Outro, que martírios embrutece,”
Não tendo menor chance, me misturo
E outrora imaginara ser mais puro
Caminho que deveras obedece
Às trevas tão somente e nada mais,
Ausência de esperança gera o medo
E quando aos vis demônios me concedo
Sabendo dos terríveis rituais
Vestígios do que fora outrora humano
Perdidos na genética mutante,
E o quadro se transforma neste instante
Do nada sou também um soberano
Imorredoura fonte do vazio,
Num ar tão tenebroso e mais sombrio.


28301


“Um de raiva delira, outro enlouquece,”
Jazendo sobre as sombras do passado,
O corpo de um planeta desvairado,
Na morte este vazio se amortece,
Risonho cavaleiro do não ser,
Terrível como fosse outro demônio
Reinando sobre vasto patrimônio,
Porém já devastado, o que fazer?
Somente a solidão, sem o futuro
Espúrio caminhante em trevas tantas,
Ainda emoções houvesse quantas
Pudesse, mas deveras já conjuro
Teimando contra a vil eternidade
Numa ânsia que decerto me degrade.

28302


“E chora e dança ali”
Demônio em luz sombria
Aonde houvera dia,
Deveras já perdi,
A sorte que escolhi
Austera fantasia
Na bêbada agonia
Aonde, aqui, ali
O resto do que viva
Ainda que vivesse
Em meio a vaga messe
A mente mais altiva
Mergulha num abismo
E tosco, torpe, cismo.


28303

“A multidão faminta cambaleia,”
Em volta desta fúria intransponível,
O quanto deste quadro é tão temível
O medo entranhando em cada teia,
Ao léu este planeta gira e gira
Eterno carrossel sem direção
Vagando tão somente em solidão
Qual fora incomparável, louca pira,
Incêndios pululando em toda a face
Desnuda desta esfera que vulcânica
Espasmos de uma intensa tez tetânica,
E a solidão se mostra em tolo impasse.


28304



“Presa nos elos de uma só cadeia,”
Vagando por espaços sem sentido,
O mundo que pensara dividido
Negando qualquer luz, já se incendeia
Na insana tez deveras da candeia
O medo pode ser já percebido,
E quando se encontrasse algum olvido,
A morte renovada se permeia
E o vento assola todo este areal,
Cadáver do cadáver triunfal
Satã gargalha em festa eterna e nobre,
O furioso passo se tornando
Aonde se pensara fosse brando,
Ao fim de cada etapa o pus recobre.

28305


“E voam mais e mais”
Terríveis mariposas
Sanguíneas vis esposas
Em atos teatrais
Tornando os rituais
Em cenas mais viscosas
Por mais que belicosas
As asas infernais
Entranham tempestades
Volúpias performáticas
Essências aromáticas
Em lutos seus degrades
Mecânico fulgor
Terrível estupor.

28306


“Ouvem-se gritos... o chicote estala”
O pesadelo em treva eu vivifico
E quando me percebo e verifico
O sacrifício toma toda a sala,
Arrastam-se correntes as galés
Assistem ao final do velho drama
Ainda se mostrando enquanto clama
Olhando para os lados, de viés
E tendo em suas mãos velha vergasta
Satânica figura em ironia,
Deveras tempestades já procria,
E a sorte a cada instante mais se afasta,
Medonho caricato eu sigo assim
E aguardo tão somente pelo fim.

28307

“Se o velho arqueja, se no chão resvala,”
E toda a tempestade feita em fúria
Vergastas se estalando em farta incúria
Minha alma desta cena se é vassala
Domina este cenário e também ela
Envolta por satânico delírio
Decifra cada passo do martírio
E tosca e em tepidez já se revela
O quanto fora inútil minha vida
Depois deste espetáculo em terror,
Matando o que restara, o sonhador
Em luzes tão funestas não duvida
E segue a torpe trilha dos demônios
Vagando entre nefandos patrimônios

28308

“Faz doudas espirais”
A terra em carrosséis
Exposta em duros féis
Girando sempre mais
Nefandos funerais
Expondo antigos méis
Aos rostos infiéis
Seguindo magistrais
Demônios se apossando
Deste terreno quando
Encontram cada espaço
Vagando sem destino
Também eu me alucino
E cedo a cada passo.

28309

“E da ronda fantástica a serpente”
Edênica ressurge a cada instante
E vendo tanta fúria, degradante
Caminho se demonstra num repente
A sorte se transforma em nada então
E o medo se esvaindo a cada olhar,
Pudesse noutra senda caminhar,
Mas sinto ter deveras sempre vão
O tempo se congela no vazio
O corte se aprofunda sempre mais
E quando em loucas cenas rituais
Deveras sobre o nada me recrio
Assola-me a vontade de fugir
Ao tétrico caminho do porvir.

28310


“Em ânsia e mágoa vãs”
Girando eternamente
A fúria se consente
Em vários tolos clãs
O medo dita a cãs
Açoda novamente
O rito de um demente
Em torpes toscos afãs
Os olhos no passado
O corte aprofundado
O vento quase insano
Demônios entre tantos
Deveras desencantos
E o luto soberano.

28311


“No turbilhão de espectros arrastadas,”
A sorte se esvaindo em grises tons
Deveras se mostrando em loucos sons
As sortes tantas vezes degradadas
As horas não existem nem porfiam
Cantigas demoníacas se ouvindo
Cenário cada vez mais poluindo
E os medos entre medos desafiam
As sombras do passado me rondando
O corte se percebe agora enorme
O olhar de um louco insano já disforme
As esperanças morrem tosco bando
O vento do futuro em negação
E ainda se percebe em diversão.

28312


“Outras moças, mas nuas e espantadas,”
Açoites e vergastas cortam mais
E dentre estes diversos festivais
As cordas do passado arrebentadas
Mordazes gargalhares de Satã
Em pendulares ritos, fogos tantos,
E neles se percebem desencantos
Loucura porfiando amargo afã,
O peso do viver vergando as costas
Deveras é difícil prosseguir,
A sorte feita em aço faz sentir
As mortes entre insânias decompostas,
Terrível pesadelo? Nada disso
Ausência de calor, num fogo em viço.

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