quinta-feira, 1 de abril de 2010

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“Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror”
A cena se mostrando em face demoníaca,
A sorte determina o quanto em tez maníaca
O mundo neste instante eu vejo decompor
Na morte a cada olhar, na vida inexistente
Planeta se perdera e nada se mostrando
Aonde poderia haver um povo brando
A vida se transforma e vejo um penitente
Caminho feito em treva e nada mais além
Respiro a podridão e nela me desnudo
O vento se desvenda em corte e não me iludo
A porta se arrombando e o quanto se contém
Da furiosa chama em prantos e terrores,
Aonde houvera luz somente dissabores.

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“É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...”
Nefasto patrimônio escassa fantasia
Mortalha tão somente ainda me cobria
E vejo em tosco céu deveras nas alturas
Um Pai calado e triste, em face desolada
A sorte neste inferno agora se desvenda
E aonde houvera luz, somente opaca senda
Do todo prometido, apenas vejo o nada,
Singrando sem destino imenso este cometa
Girando em carrossel, nefasto rosto vejo
E quando se percebe aquém do que desejo
Ao nada simplesmente a sorte se arremeta,
Mudando a direção, fagulhas entre fogos
Das fráguas se percebe insânia em torpes jogos.

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“Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras”
E a cena se reflete em tudo o que inda resta
Demônio em pleno riso, orgástica esta festa
E além do que pensara as noites tão escuras
Sedenta fantasia, estúpido canalha
O corte mais sutil, a senda mais terrível
Pedaço deste mundo em face mais temível
Enquanto se porfia em campos de batalha
O que restara enfim, devora-se depressa
A história no vazio, eu sei que pode ter
Ainda qualquer brilho inútil de um prazer
E toda a servidão assim que recomeça
Espalha novo incêndio e mata o que restara
Da insana caminhada em chaga, fogo e escara.



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“Como o teu mergulhar no brigue voador”
Caminho descoberto entre trevas percebo
Com fúria do vazio em vão sinto e concebo
O que não poderia ao menos sonhador
Gerar a tempestade horrível que ora vejo
E nela se traduz o mundo agora insano
Gerindo este não ser, demônio soberano
Numa ânsia tão venal, somente vil desejo.
Medonho temporal à sorte se permite
E nada do que fora outrora posso ver
A senda se destrói em tanto desprazer
Ultrapassando assim deveras o limite
E tendo nada além de todo o desencanto,
Ainda que pudesse estúpido quebranto.

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“Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano”
Jamais se concebera o fim de tal maneira
A vida mesmo eu sei audaz e passageira,
Porém o que ora vejo apenas tanto dano
Escava-se no nada e nada se produz
Aquém do que sonhara a morte intransigente
O fogo de um inferno aqui sendo presente
Ausente deste olhar qualquer forma de luz,
O medo se espalhando aonde poderia
Haver felicidade intensa esta agonia
Que resta deste todo aonde se emergira
Inútil fogaréu, estúpida esta pira.

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“Desce do espaço imenso, ó águia do oceano”
Fantasma do passado ainda vejo bem
Transforma a tempestade e morre muito além
Deveras rapineira a sorte em desengano,
Furor intensamente escassa fantasia
O medo se propaga a noite se eterniza
Tampouco se percebe alento em mera brisa
Nem mesmo algum sorriso esboça uma alegria
A morte toma tudo e nada mais resiste
Somente uma alma atroz, a fúria se apresenta
De forma mais vulgar deveras violenta
Cenário sem porvir decerto bem mais triste
Edênico caminho há tanto destroçado,
Não resta qualquer sombra ainda do passado.

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