sexta-feira, 2 de abril de 2010

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28400


“Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...”
Misturam-se meus sonhos, pesadelos
E quando vejo a treva a envolvê-los
Aonde se mostrara o soberano
Caminho para a glória se delira
Ou mesmo é tal verdade assim funesta?
A que destino um homem já se empresta?
Inútil é decerto minha lira?
Não tendo mais saída, pois quem sabe
Bem antes que o castelo já desabe
Conceba novo rumo, novo dia,
Ou nada se fazendo, o que será?
Só sei que é necessário e desde já,
Futuro em treva e morte não se adia...

28401

“Azuis, dourados, plácidos, sublimes...”
Caminhos porventura já traçados
Em dias mais felizes, tão sonhados
Ou rendidos finais em torpes crimes?
Deveras se podia ter certeza
Do rumo que se toma nesta senda
E quando outro futuro se desvenda
Matando a cada dia a natureza
Gerando a torpe fera feita inglória
Medonha caricata, vergonhosa,
O tempo não descansa, e cedo glosa
Traçando uma derrota, uma vitória.
Urgente, pois se faz a decisão
Salvemos ou morramos neste chão!

28402

“Ali se estreitam num abraço insano,”
O corte na raiz, não do arvoredo
E sim da hipocrisia e desde cedo
Talvez da dura história mude o plano;
Senzalas que criamos no presente
Senzalas que criamos pro futuro
Senzalas feitas solo árido e duro
Senzalas da esperança sempre ausente.
Senzalas tão somente e nada mais,
Navios com porões abarrotados
Falando dos momentos já passado,
Falando destes vis e atemporais
Caminhos que desvenda a humanidade
Por mais que um tolo bardo ainda brade.


28403


“'Stamos em pleno mar... Dois infinitos”
Caminhos que possamos escolher,
Vivamos tão somente pro prazer?
São fúteis na verdade tantos gritos?
Somando algum momento vez em quando
Não basta, é necessário muito além,
E quanto da verdade se contém
Nas horas em que a fúria nos tomando
Gerindo cada passo rumo ao tanto
Que possa se escolher pelo melhor,
O fim se não souber, eu sei de cor
E nele tão somente o desencanto.
Voracidade expondo esta ferida
A nave com certeza destruída...



28404


“— Constelações do líquido tesouro...”
Constelações de sonhos, nada mais
Constelações sobejas, naturais
Constelações de paz, ancoradouro
Diverso do que tece este terror
Diverso do que vejo a cada dia
Diverso desta noite vã sombria
Diverso deste enorme desamor,
Eu tento e não consigo mais conter
Ensandecida voz solto em poema,
Rompendo qualquer medo, sem algema
Prevejo em mais completo desprazer
O golpe sobre a terra preparado,
O mundo sem futuro um vil legado.

28405

“O mar em troca acende as ardentias,”
Deixando que se veja algum farol
Ainda resistindo, imenso sol
Sonega noites mortas e sombrias,
Mas quanto poderia haver ainda
De sorte neste mundo sem juízo
Riqueza traduzindo em prejuízo
A morte a cada traço se deslinda
Ainda esta mortalha de outras eras
Ainda se mostrando tanto medo
Ainda sem caminho, este segredo
Ainda sem porvir, terríveis feras.
Girando sem sequer saber por que
Procuro uma atitude, mas cadê?

28406

“Os astros saltam como espumas de ouro...”
Num sonho majestoso de futuro,
Mas quando vejo o céu cinzento e escuro
Aonde se matando o nascedouro
A fonte em água límpida deveras
A fonte do futuro mais feliz
A fonte na verdade se desdiz
A fonte em seca mata as primaveras
Despreparado? Opaco e tão somente
Negando deste solo uma semente
Granando estupidez e vilania
A porta se cerrando pouco a pouco
Decerto um brado intenso e quase louco
Não tem somente enfim qualquer valia.

28407

“'Stamos em pleno mar... Do firmamento”
Talvez ainda venha a luz que cure,
Mas quando tanta dor já se perdure
Aonde posso ver algum alento?
Nefasta realidade, torpe tom,
Vestígios do passado a cada passo,
Pudesse novo tempo, e não refaço,
Colher o quê? Decerto nada bom.
A morte se espalhando a cada cena
Reflete insanidade em tom voraz,
O quanto se perdendo desta paz,
O quanto se perdendo em nada acena
Somente este fastio e esta mortalha
Que a cada novo dia, nunca falha.

28408


“Como turba de infantes inquieta”
Vagando pela casa em descompasso
Deveras o futuro traz o traço
Do quanto em noite escura se completa
A sorte discernida há tantos anos
Apocalipses? Trevas? Vil mortalha
Na qual a cada dia se trabalha
Tecida pelos nossos desenganos.
Verdade que se mostra a cada fato
E quando não se vê realidade
O medo do amanhã quando me invade
No verso, que é minha arma, eu já retrato
Espero não ter sido sempre em vão
O canto deste velho coração.


28409


“E as vagas após ele correm... cansam”
E as vagas após tanto muita vez
Traduzem a completa insensatez
E nelas novos dias não alcançam,
Servis aos mais terríveis dos senhores,
Servis e tão somente ao vil dinheiro
Servis e num instante derradeiro
Servis e sonegando até albores
Perpetuando a morte a cada gesto,
Mesquinha tanta luta por poder
E quando sem futuro nada a ver
O que nos resta apenas o funesto
Delírio de uma morte em fogo intenso
E dele a cada não eu me convenço.

28410



“Brinca o luar — dourada borboleta;”
Vagando pelo céu em plena prata
Cobrindo em raios fartos bela mata
Reinando sobre a noite do planeta
Assim belo cenário se fazia
E agora em grises tons, noite brumosa,
A sorte tantas vezes gloriosa
Há tanto que deveras é sombria,
O corte do arvoredo, uma queimada
O céu tão poluído, o mar também,
O nada sempre em nada nos convém?
Depois de tanta luta, resta o nada?
Absurdos caminheiros do futuro
Tornando o dia a dia mais escuro.

28411

“'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço”
Um nauta sem destino, a natureza
Mergulha neste mar feito incerteza
E não reconhecendo qualquer traço
Destina-se deveras ao que tanto
Lutamos e sonhamos num instante
Cenário deslumbrante ou degradante
Beleza tão sobeja ou desencanto,
Verdade está nas nossas duras mãos
Cevando com certeza este futuro
Se existe, se inda vejo o que procuro,
Ou morto se abortando últimos grãos.
Resposta? Está solta pelo vento,
A glória ou a dor e o sofrimento?

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