segunda-feira, 12 de abril de 2010

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29506

“faz quase esquecer o amor”
O quanto amor me maltrata
Sorte quanto mais ingrata
Mais difícil se propor
Alegria vez em quando
Quanto mais se pode ter
Mais vontade e mais prazer
Na alegria transformando
Quantas vezes imagino
Nova senda a desfrutar
E decerto tanto amar
Se em amor eu me fascino
Tanto pode quanto deve
Deixa às vezes bem mais leve.


29507

“pois d´esta vida os pesares”
Nada podem me dizer
Do terror do desprazer
Muito além do que pensares
Nada tendo quem porfia
Porfiando em luz extrema
A verdade dita a algema
Liberdade é poesia,
Vejo encanto a cada passo
Cada passo desencanta
A verdade em tosca manta
Todo sonho já desfaço
Ou encontro o paraíso
Ou acolho o prejuízo.

29508

“também quer o pescador,”
Novo dia em melhor sorte
Sem o sonho que conforte
Vivo as ânsias de um amor
Que deveras tanto meu
Quanto fosse meu passado
Nada sigo, desolado
O caminho se perdeu
Nas ilhotas da ilusão
Nas entranhas deste mar,
Aprendendo cedo a amar
Já não vejo a direção
Cais distante, velho porto,
A esperança nega o aborto.


29509


“da mulher doces carícias”
Das delícias de um desejo
Tanto sonho assim eu vejo
Deixo além outras sevícias
Sigo assim de peito aberto
Navegante da palavra
Cultivando a minha lavra
O meu sonho eu não deserto
Correntezas enfrentando
Mares tantos, caracóis
E deveras os faróis
Nos teus olhos desvendando
Nado contra a tempestade
Tanto amor meu canto invade.

29510


“ledas horas ir passar”
Depois tento outro caminho
E se tanto me avizinho
Encontrando enfim meu mar,
Nos anseios desta noite
Pescaria da ilusão
Onde ponho o coração
Já não vejo mais o açoite
Pernoitando uma esperança
Neste mar de letras tantas
São deveras o que cantas
Nas angústias onde lança
O passado diz futuro
Novo tempo eu te asseguro.


29511


“e ao pé da mulher que estimo”
Os penhascos, as montanhas
Novos dias sempre ganhas
Da esperança em alto cimo,
Cordilheiras vou trazendo
Do meu quanto poderia
Destilando a poesia
Noutro tanto que estupendo
Vida farta em noite clara
Outro peixe em minha rede
De palavras mato a sede
Quando o verso se declara
Formidável fortaleza
Enfrentando a correnteza.


29512


“para o corpo repousar,”
Depois de tanta batalha
A verdade nunca falha
Dita as regras deste amar
Ao sentir o vento forte
Da procela que se vê
Procurando algum por que
Onde busco um manso norte
Da palavra com cinzel
Burlando esta esperança
O meu barco sempre avança
Sorte gira em carrossel
Roda a vida, a vida roda
E jamais aceita a poda.

29513


“Só à noite a casca atraco”
No teu colo mais gostoso
Dia certo; majestoso
Quando enfim se forte ou fraco
Nada perco nem a sombra
Do que tanto desejei
Nos teus braços eu sou rei
A verdade não assombra
Comandante e até grumete
Nada importa sou só teu
O meu mundo se perdeu
No teu porto se arremete
Timoneiro sem destino,
Nos teus ermos me alucino...



29514


“que me importa o resto a mim”
Se a palavra é minha amante
Num momento fascinante
Rega sempre o meu jardim
Pescador com seu anzol
Lavrador tem seu rastelo
Poesia é meu castelo
E decerto mostra o sol
Comandante do meu sonho
Percebendo tanta luz
Cada sílaba conduz
Se risonho ou se medonho
Mal importa uma estação
Inverno outono ou verão.

29515


“mas se a forme não me mata”
Nem tampouco me traria
Solução sem poesia
Sorte turva ou mesmo ingrata
Sendo assim eu principio
Cada verso como fosse
Ou no mar ou na água doce
Num inverno ou neste estio
Jogo a rede no arrastão
E sonetos, trovas, faço,
Redondilha quando a laço
Predispondo à geração
Do futuro diz presente
E agora o passado sente.

29516

“da vida custosa assim;”
Nas angústias de quem pesca
Tempo quente ou água fresca
Vou cuidando do jardim
Gondoleiro da esperança
Pescador das águas frias
Se nas mãos das poesias
Dia a dia sempre alcança
O momento mais atroz
Esperado ou mesmo quase
No ditar de cada fase
Vida ganha forma e voz,
E se tenho assim o quanto
O que foi ou vem eu canto.

29517


“é pequena a recompensa”
Campesino, letras, mar
E se tento navegar
Liberdade recompensa
E se teimo na promessa
De outro tempo que não sei
Não importa mais a grei
Mesma história recomeça
Endereço-me ao futuro
Trago as marcas de quem fui,
A palavra quando influi
Clareando em tempo escuro
Vai cevando com ternura
Até quando em não perdura.



29518


“quem em Deus depõe a fé;”
Recebendo a força tanta
E deveras se agiganta
Quando em alta esta maré
Iemanjá é minha Musa
Minha Musa é pescadora,
A minha alma sonhadora
Das palavras cedo abusa
E fazendo do que sou
O que tanto nunca fosse
Amargor tramando o doce
Onde o sonho navegou
Cais em verso; eu pesco o sonho
Tempo novo eu recomponho.

29519


“mas do mar não teme as iras”
Nem tormentas da emoção
Dominando o meu timão
Se ao versejo já me atiras
Tiras uno cordoalhas
Faço o tanto do tão pouco
Muito embora até tampouco
Novos sonhos já retalhas
E as navalhas, delas fios
São meus cantos, cortes, luzes
No total não reproduzes
Nem sequer meus desafios,
Passo a passo dia a dia
No tear da poesia.


29520


“é triste coisa — sei que é”
Navegar sem ter destino
E se tanto me fascino
Na verdade dita a fé
Poesia não se cansa
Nem tampouco em redondilha
Pescador que faz desta ilha
Recompondo da lembrança
As correntes enfrentara
Com a força do seu leme
Sem ter nada que me algeme
Não suporto mesmo a escara
Avançando contra as ondas
Novos mundos, versos, sondas...


29521


“Ter contínuo a vida em risco”
Ao cerzir com meu buril
Tecendo o que não se viu
Muitas vezes mais arisco
O poeta é pescador
Pescador faz poesia
Quando em plena maresia
Sabe a pesca pela cor,
Nos matizes mais diversos
Adivinha cada céu
Tendo assim o seu cinzel
Dele sabe tantos versos
Sou apenas aprendiz
Do que este universo diz.

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