terça-feira, 13 de abril de 2010

29597/98/99/600

29597


“outra parte estranheza e solidão”
Quando ensimesmado nada falo
E quanto mais atroz a dor me calo
Aonde não pudesse diversão
Não sei se tento rumo ou direção
Verdade não conheço algum estalo,
E sinto quando em ânsia desabalo
O tempo morre em tanta inanição,
Vencido desde sempre quem me dera
Saber do quanto pude em primavera
Se nada no canteiro dita flores,
E quando me percebo em noite fria,
Não tento e nem concebo a poesia
Se há tempos já morreram meus albores.

29598


“Uma parte de mim é multidão”
A festa o riso o gozo o regozijo
E quanto mais eu quero e mais exijo
O mundo se mostrando ebulição
Expresso com furor algum vulcão
Altares dos prazeres eu erijo
E peço muito além do quanto aflijo
A fúria se tornando esta expressão,
Risonho camarada, companheiro
O tanto deste ser é verdadeiro?
Respostas não conheço e nem pretendo
Assim assisto ao muito e mesmo pouco
Se eu posso ou se reponho me treslouco,
O tanto que restou serve de adendo.


29599


“outra parte é ninguém: fundo sem fundo”
Vagando dentro em mim sou solitário
Aonde poderia solidário
Nas ânsias do vazio me aprofundo,
Apenas traduzindo o quanto em mundo
Vencido pelo sol desnecessário
Trancado com segredos num armário
Reflito o que não sou nem poderia
Se tanto quanto calo a fantasia
Gerando o que não pude perceber
Assim ao me mostrar bem mais desnudo
Enquanto não me venço e não me iludo
Navego pelas ânsias do meu ser.


29600


“Uma parte de mim é todo mundo”
E desta multidão que aqui carrego
Porquanto muitas vezes sigo cego
E tanto quanto posso vagabundo
Escudo-me no pouco que aprofundo
Não bebo sequer gota em que navego,
E quando mais atroz, já me renego,
Seguindo qualquer rota, giramundo.
Apátrida caminho, vez por tanta
E quanto se talvez ainda canta
A fonte inesgotável sim ou não,
Aonde não se vê qualquer retrato,
Aonde não se vê além do fato
Ali talvez encontre a tradução...

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