terça-feira, 13 de abril de 2010

29601/02/03 HOMENAGEM A MAIAKOVSKI

29601

“deita no mesmo vaso em cinza e brasas”
As ânsias mais comuns em luta e fardo
A cada passo ouvindo outro petardo
Incêndio se espalhando pelas casas
E quando da verdade tu defasas
Também és responsável pelo cardo,
E sendo assim se o passo ora retardo
Deveras bem diverso tu te atrasas,
Se néscio ou mesmo roto caminheiro
O passo dita o quanto mensageiro
Pudesse ter ainda novo tempo,
Mas quando se entregando ao nada ser
Talvez inda pudesse merecer
Além do que percebo em passatempo.


29602


“A chuva lúgubre olha de través.”
E vendo a cada gota especular
A morte em nova sorte a se tramar
Percebo qualquer luz mesmo revés.
E tanto quanto pude ou nada invés
Vestindo tão somente algum luar
No quanto poderia imaginar
O mundo não se vê nem através
Dos versos mais audazes que perfaço
E deles revivendo cada traço
Passando pela história como um nada,
Poético caminho desvendado
Ainda se ouvirá deveras brado
De quem não soube ver uma alvorada?

29603

“fios elétricos da idéia férrea”
Assisto ao quanto em nada me traria
O verso inusitada poesia
A sorte muito além de mera e térrea
Sem nada que deveras inda emperre-a
A mera caminhada à fantasia
Por onde na verdade nada guia
Porquanto a solidez, ainda enterre-a
E siga contra a força mais feroz
Da bala, do canhão e deste algoz
Perfilam-se poemas sanguinários
Os dias mais felizes? Sequer sombra
A vida quando tolhe sempre assombra
Gerando fios torpes adversários.

SOBRE VERSOS DE MAIAKOVSKI

2 comentários:

Valquíria Calado disse...

O grande poeta russo, tenho muita admiração por seu trabalho.O o livro vida e poesia, onde tbm tem cartas de amor, a sua musa inspiradora Lila Briik, romantido por demais mas o acho trágico e enovador.Parabéns por tua postagem, me acresceu. Beijo e lida semana.

Diogenes Pereira de Araujo disse...

NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI


Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!



EDUARDO ALVES DA COSTA
Niterói, RJ, 1936