terça-feira, 13 de abril de 2010

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“dizei, por que me matam cada dia”
Vontades tão dispersas morte e vida
Enquanto a realidade se duvida
A sorte noutras sendas já se adia
Vencido pelo quanto poderia
E nada se mostrando em despedida
O peso do viver traça a saída
E dela nova sorte se recria
O manto do passado é triste carma
E quando esta verdade não desarma
O medo que tampouco dita norma
Em ter-vos mais distante e mais mordaz
O quanto se mostrasse e já desfaz
Angústia do viver tanto deforma.

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“que podem completar minha alegria,”
As tramas do que tanto desejara
E nelas a verdade disfarçara
O quanto se mostrasse em rebeldia
O vento do passado não me guia
Tampouco a sorte molda outra seara
O gesto que deveras se mostrara
Traçando a cada traço a poesia
Não vejo mais a luz que nos guiava
E sem saber do quanto pode escrava
Esta alma onde não pude reviver
O quadro ora tecido pela vida
Ao mesmo tampo trama a já perdida
Vontade de talvez viver prazer

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“Mas se por sorte são tão lisonjeiras,”
Palavras mais sutis que derramais
E nelas se percebem temporais
Aonde não se vêm mais bandeiras
Sentindo o quanto pude e não mais posso
Vencido pela sorte mais cruel
Se ainda se pudesse ter o céu
Diverso do que sei agora vosso,
Não vejo mais por que no verso quando
Se teima por caminhos mais inglórios
Os dias se mostraram merencórios
Num quadro onde percebo mais nefando
O risco de viver dita a ventura
E a sorte mais diversa se procura.


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” sem elas pena e morte mais ligeiras”
Sabendo do passado em que tivemos
Ainda a navegar dispersos remos
Enquanto se tentassem verdadeiras
As ânsias pelas quais se poderia
Vivenciar o todo que não tenho,
Porquanto ainda creia neste empenho
A sorte se amortalha em agonia.
Espúrio caminheiro em noite vã
Em vossos dias vejo apenas sombra
Aonde a realidade tanto assombra
Não tendo mais sequer uma manhã
À beira deste imenso precipício
Amor já não seria além de um vício.

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“por que nunca se acabam, se teria”
A sorte traiçoeira de quem tenta
E quanto mais atroz ou violenta
Maior ainda em mim a fantasia
E sendo-vos senhora mais fiel
Não pude acreditar no quanto em vosso
Caminho sem saber se ainda endosso
O rito aonde a vida nega o véu,
E vendo tão distante cada passo,
Esgarço-me decerto em vagos vãos
Lavrando inutilmente torpes grãos
O quanto não se pode mais desfaço
E ponho em minha estrada novo sol,
Sabendo da esperança um girassol.

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“como mui bem minha alma o compreendia,”
Já não pudesse a senda mais bonita
Aonde uma esperança ainda grita
O quanto se fez frágil galhardia
O peso do viver vergando quem
Pudesse caminhar com liberdade
Portanto quanto a vida me degrade
Eu sinto que decerto não convém
Ao velho timoneiro um novo porto
A morte se apresenta como um cais,
E quando novamente destroçais
Meu mundo tanto quanto fora morto
Pereço a cada dia e tento ainda
O quanto na verdade não deslinda...

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“Se as penas que me dais são verdadeiras,”
Masmorras, cadafalsos, tais prisões
Aonde a cada tempo diz versões
Diversas das dos sonhos mensageiras
Amortalhando enfim a cada verso
O tanto mergulhado em vário abismo
E mesmo quando ainda em vão eu cismo
O mundo se transcorre em tom perverso,
Exímia navegante a morte doma
O porto aonde eu vi ancoradouro
Percebo quanto mais tento e me douro
Dispersa do que eu quis; a velha soma,
Ditames de uma vida sem juízo
A cada engodo um novo prejuízo.

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