quarta-feira, 14 de abril de 2010

29789/90/91/92/93/94/95/96

29789

Os dias do passado em tons diversos
Escrevem solidão em cor nefanda
A sorte desairosa já desanda
E toma com tristeza assim meus versos
Momentos onde pude, mas perversos
A morte se traçando agora manda
Apenas o temor e outrora branda
Manhã ditando raios onde imersos
Os sonhos de quem tanto desejou
Um tempo mais feliz e não sabia
Do quanto se mostrara em agonia
O mundo em que distante mergulhou
Singrando mar medonho, nada faço
Sem cais a cada dia, sigo lasso...

29790


Noctâmbulo fantasma do passado
Cismando a cada noite em duro estorvo
Assim como se fosse amargo corvo
O tempo destroçando qualquer fado,
O peso de viver tomando tudo
E o vândalo caminho de quem ama
Mergulha a minha estrada em barro e lama
E mesmo assim às vezes eu me iludo
Vestindo esta mortalha do que tanto
Vencido pelas ânsias de poder
Viver tão mansamente algum prazer,
Mas sinto em minha face o amargo pranto
Salgando o que pudesse ser feliz
E a sorte desdenhosa contradiz...


29791


Os dias entre trevas são concretos
Ausente uma esperança segue a trilha
E quando ainda em sonhos tolos brilha
Mergulham nos meus braços, desafetos,
Pudesse acreditar n’alguma sorte
Diversa da que agora vejo enfim,
Não sei se talvez fosse dentro em mim
De um novo dia em paz, um doce aporte,
Arranco dos meus olhos esta venda
E não sabendo a luz que na verdade
Não sei não conheci e nem percebo,
O amor que tanto eu quero e até concebo
Diverso do que tenho em realidade
Trazendo o desalento a cada instante
Matando o que pudesse, deslumbrante...



29792


Ocaso dentro em mim cevando o nada
Angustiadamente a poesia
A cada verso apenas mostraria
A morte há tanto tempo desejada
Acordo e tão somente degrada
Imagem neste olhar já se recria
Ainda me domina esta agonia
Em senda tão terrível demonstrada
Estradas que pensara mais tranqüilas
Momentos de ternura que não tenho
De que me valeria tanto empenho
Se apenas os venenos vãos destilas?
Assim sem horizonte sigo em frente
Sem ter sequer a luz que me apascente.



29793


Resisto ao caminhar em mansidão,
Já não suporto além deste vazio
Que a cada novo verso desafio
E trago do passado a solidão
E imerso neste nada mostrarão
O rumo noutro encanto já desfio
Fazendo do terror o meu estio
E nele a seca em turva direção
Mudando qualquer dia em nova esfera
Ainda com temor a vida gera
Ausência tão somente e nada mais
Pudesse velejar com ar sereno,
Mas quando do naufrágio vejo o pleno
Caminho feito em trevas, vendavais...


29794


Não penso neste amor como pudesse
Viver cada momento em fantasia
Ao menos noutra luz encontraria
A sorte mais profunda que se tece
E dela novamente em mansa prece
Singrar neste oceano em alegria
Arrisco-me deveras da agonia
Apenas o passado me entorpece,
O quadro desenhado em tal matiz
Desmente o que este sonho tanto diz
E assim ao se fazer novo poema
Mordaça, dura venda, em triste face
E nelas cada passo que se trace
Gerando ao fim do sonho nova algema...


29795


Não tente destruir cada castelo
Criado com ternura, falsa senda
Aonde a fantasia não se atenda
Gerando o que pensara outrora belo
E agora se percebe em luz escassa
E dela nada resta nem sequer
O quanto poderia uma mulher
Em tez que não mostrasse esta devassa
Gestando a tempestade e o pesadelo,
Senzala se recria aonde outrora
A velha luz que agora ainda aflora
E nada se traduz aonde ao vê-lo
Servindo de mortalha em dor e luto,
Apenas sonhador teimo e reluto...

29796

Acordo e sem saber se ainda existe
Um ponto de partida e de chegada
Bebendo cada dor desta alvorada
Sabendo ser deveras dura e triste
A sorte que por certo agora insiste
Matando em face amarga e desolada
O quanto poderia ser estrada
E sei que há tanto tempo não resiste
Aos quantos vendavais disseminaste
No todo que pudesse traduzir
Momento mais tranqüilo e sem sentir
Senão no dia a dia este desgaste
Velando sobre o túmulo se avança
A vida na total desesperança...

Nenhum comentário: