quinta-feira, 15 de abril de 2010

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“Ante um abismo súbito rasgado”
Encontro o meu futuro em ar sombrio
Odiosa realidade desafio
Errôneo caminhar desde um passado
Aonde se fizera em ar medonho
O mundo que se mostra neste instante
Apenas num cenário tão frustrante
Matando o que sobrara de algum sonho
E deste nada ser eu mesmo sinto
O quanto poderia ser diverso
E tento com audácia um universo
Sabendo deste mundo agora extinto
E tanto quis oásis, mas miragem
Percebo na desértica paisagem.

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“Como pára um cavalo alucinado”
Assim eu me encontrava quando vi
A sorte tão diversa viva em ti,
Mudando o que pensara ser legado,
Vivesse qualquer forma de prazer
Apenas bastaria para quem
Entranha no vazio enquanto tem
Somente esta mortalha e sem se ter
Ao menos um momento de alegria
Esgota-se no não, terrivelmente
E quando outro caminho não pressente
Concebe a realidade vã sombria
E nela não colhendo mais as flores
Os grãos que ora cultiva: dissabores...

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“Pára surpreso, escrutador, atento,”
Ao ter esta diversa natureza
Da vida que se trama em incerteza
Deixando tudo ao velho e vário vento,
Aonde poderia haver a brisa
Tempesta se formando em ar sutil,
Decerto outro caminho se previu,
Mas quando a morte vem e não avisa
Medonha face exposta neste espelho
E dela se resulta outra tramóia
Uma alma sem guarida, alheia, bóia
E tenta procurar novo conselho,
Mas quando se percebe solitária
A sorte tão somente é temerária...


29840

“Ia em busca da paz, do esquecimento”
Que ao menos me alentasse após procelas
E quando outros desníveis, celas, selas
A vida revivendo o sofrimento
Alhures poderia ter a sorte
Que tanto desejara e nunca vira,
O amor quando demais acende a pira
Incendiando tudo e sem suporte
A noite se tornando em duras mágoas
Geridas pelo sonho em que frustrava
Resisto à tal maré, imensa e brava,
Reviso com terror as velhas fráguas
E tento desvendar este segredo,
Jazigo de mim mesmo, enfim eu cedo.

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“Na doida correria em que levado”
Correra após as tantas tempestades
Sabendo a cada passo velhas grades
Revivo as duras mágoas do passado,
Servindo de alimária a quem se fez
Somente em turva face, este bufão,
O tempo não promete viração
E nesta turva cena a insensatez
Tomando o que pudera ser ameno
Não tendo mais saída, rumo ao fim,
Destroço, tão somente, sigo assim,
E a cada novo não eu me enveneno,
Riscando assim do mapa a fantasia
A morte sem defesa se porfia.

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“Como que de repente refreado”
Depois de inúteis buscas onde tanto
Pudera ter visão do desencanto
Aonde o meu caminho eu vi guiado
Resisto, mas somente resistir
Não deixa qualquer chance que se veja
A sorte que pensara mais sobeja
Renega alguma luz em meu porvir,
Assim ao percorrer a mesma senda
Aonde tanto quis e não sabia
O mundo desabando em heresia
Sem ter sequer vontade que se atenda
Desvenda este cenário que de horror
Não deixa nem nuance de um amor.



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“Pára-me de repente o pensamento”
E apenas percorrendo a solidão
O tempo gera a mesma negação
E dela se percebe este momento
Assaz cruel aonde se mostrasse
Qualquer cenário torpe, tosco e frio
O tanto que pudesse, já desfio,
Somente encontro ao fim o mesmo impasse
Na face caricata que se vê
Na especular razão, tento uma luz
E quando a mesma imagem reproduz
Sem ter algum motivo, sem por que
Mergulho neste abismo e sigo ao léu,
Vagando por estrelas, meu corcel...

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