sábado, 17 de abril de 2010

29931 ate 29991

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1

“Aos ais do meu coração”
Perseguindo a claridade
Nesta sombra que me invade,
Noutras horas que virão
Percebendo a majestade
Da fantástica emoção
Que transmuda a direção
Trama a plena liberdade
Vivencio o sofrimento
De quem tanto desejara
Uma vida ao menos clara
Mas decerto me apascento
Quando sinto a leve brisa
Que os engodos suaviza...

2

“Ao frio clarão da lua,”
Recebendo esta carícia
Que deveras diz notícia
Do momento em que se atua
A vontade nua e crua
Seduzindo com malícia
Mesmo quando tão fictícia
Alma tola já flutua
Navegando o firmamento
Vasculhando céu e mar
Na vontade de encontrar
Tanto amor neste momento
Vivo apenas por saber
Que inda existe algum prazer.

3

“Embalada na falua”
Encontrando no caminho
Quem deveras foi sozinho
Solidão não continua
E sedento, a pele nua
Nos teus seios se me aninho
Da esperança me avizinho
Pensamento não recua
E seguindo em temperança
Cada vez que mais avança
Molda um tempo mais feliz;
Vejo ao longe esta quimera
Muito aquém do que se espera
Mera dor em cicatriz.

4

“Ao fresco da viração”
Passa a vida num instante
O desejo mais constante
Constatando esta emoção
Tão sobeja nega o não
E transborda radiante
Gera um mundo deslumbrante
Doma sempre o coração
Nada posso além do cais
Nem tampouco magistrais
As luzernas do passado
Onde havia alguma luz
Tão somente reproduz
O que fora o meu legado.

5

“do sonho nas melodias”
Nas angústias de quem tanto
Percebera este quebranto
Que decerto fantasias,
Com o corte, as heresias
Vivo além do mero espanto
E deveras cada pranto
Traduzindo a agonias
Nos acordes mais audazes
A emoção que ainda trazes
Profilático delírio
Solitário caminheiro
Dos teus sonhos eu me inteiro
E sonego algum martírio.

6

“era de noite, dormias”
Entre os astros posso vê-la
Tão sobeja, a rara estrela
Tanto brilho me irradias
E deveras novos dias
Ao saber assim contê-la
Muito além do que entretê-la
Traduzindo as fantasias
Onde possa finalmente
Perceber tanta fartura
Deste encanto que perdura
Dominando a minha mente
Se descrente do futuro
Tens o brilho que procuro.

7

“sobre seu leito de areia”
Dorme o mar em noite imensa
E deveras recompensa
Transformada em lua cheia
Quanto mais a luz se ateia
Bem mais forte me convença
Da beleza rara e intensa
Noite inteira se incendeia
Vasculhando cada parte
Do que fora coração
Novos tempos mostrarão
Dos pavores o descarte
E transforma imensidade
Nesta luz que agora invade.

8

“como a vaga transparente”
Sobre a pele em tez morena
Ao se ver sobeja cena
Alegria se pressente
E deveras já se ausente
Deste olhar que me envenena
Toda a glória concatena
Esperança não desmente
E seguindo cada passo
Desta estrela que me guia
Tendo a voz da poesia
Vou marcando este compasso
Com ternura e com afeto,
Nos teus braços me completo.

9

“era tão pura, dormente”
Caminhando eternidades
Bem distante das saudades
Coração segue demente
E dos sonhos a semente
Mesmo quando me degrades
Nos teus cantos sei que brades
Com teu vívido e envolvente
Delicado e sem igual
Transbordando em magistral
Luz que tanto me tocara
Minha vida desde então
Em delírio e sedução
Toca a estrela bela e rara.

10

“tua alma de sonhos cheia”
Invadindo esta seara
Tanto encanto me declara
Fogaréu que me incendeia
No cantar desta sereia
Vida intensa, sorte rara
Cada passo ora se ampara
Nesta fúria que se ateia
Das luzernas e ardentias
Tantos brilhos irradias
Dominando todo o céu,
Vida após te conhecer
Expressando este prazer
Com ternura tece o véu.

11

“dormia a onda na praia”
Nos teus olhos brilhos fartos
Lua invade salas, quartos
E decerto quando esvaia
Esperança onde se traia
Sonegando mansos partos,
Céus e medos, vãos infartos
No vazio em que desmaia
Coração alerta e vivo
Tão somente por saber
Das magias do prazer
E se apenas sobrevivo
Trago ainda esta certeza
Que transformo em fortaleza.

12

“como virgem que desmaia”
Com temor de quem errático
Não se vendo em senso prático
Bebe a luz e doura a praia,
Sorte alheia e da alma uma aia
O teu sorriso enigmático
Se por vezes sou lunático
O corcel perdendo a baia
Gera enorme contra-senso
E o que fora outrora imenso
Transbordando num senão
Esmagando com delírios
Reaviva tais martírios
E destroça esta ilusão.



13

“entrevendo a imagem tua”
Nada além de um só momento
Onde encontre algum alento
Tanta sorte continua
Ganha o mar, invade a rua
Segue as sendas do tormento
E deveras me apascento
Ao saber em ti a lua,
Mansa deusa soberana
Extorquindo a solidão
Numa noite de verão
Emoção que tanto ufana
Gera a luz e nela sabe
Do destino que te cabe.


14

“Ai que ainda me deliro”
Ao lembrar da rota estrada
E vagando a madrugada
Na manhã audaz me atiro,
E senso assim se inda prefiro
Uma mansa caminhada
Afinal retendo o nada
Lendo em tosco e vão papiro
Vejo as trama conhecidas
E percorro novas vidas
Encontrando a liberdade
Tanto posso e nada faço,
Onde amor tomara espaço
Solidão agora invade.


15

Jogado contra a força imensa das marés
Vencido pela angústia, a morte se aproxima
E vendo com pavor, fulgor em torpe clima
Perdendo o que restara ainda em vagas fés,
Arcando com engano, esparsos toscos pés
E a senda procurada ainda não se estima
Além do que pensara em mera e tola rima
Olhando mansamente, encontro de viés
O rito mais audaz, a sorte em desengano
E quando renascendo em novo e duro plano
A morte guia o dia eterno sonhador
Mostrando esta semente, aborto feito em grão,
E dela refazendo o que fora meu chão,
Inútil tal retrato escuso de um amor,
Traçando do não ser o que inda poderia
Deixando para trás qualquer tosca alegria.

16


Banalizamos tudo, o sexo, amor e o gozo
Caminho para o nada em gestos mais venais
E quando se imagina apenas ritos, cais
Percebo o rumo sempre atroz e sinuoso
Aonde poderia um dia majestoso
Não vejo uma esperança e sinto o nunca mais
Qual fora um porto além dos velhos rituais
E nele um ar sombrio, às vezes belicoso,
Fornalha da ilusão, a tosca confraria
Que a cada novo encontro ainda fantasia
Momento mai suave e mesmo mais gentil
Sutis as dores quando o pano encerra a peça
Bem antes que a platéia ausente e se despeça
Desaba uma esperança aquém do que se viu.


17

Percebo a derrocada a cada ausência e o laço
Expressa a dor intensa e quanto poderia
Viver além do cais, e sinto esta sangria
A cada novo dia esboça novo espaço
O rumo sem destino envolto em leve traço
Impede que se creia em glória e em alegria
Singrando mar azul e quanto mostraria
Do encanto que ora sinto, aos poucos me desfaço
Carpindo sobre o corpo exausto de quem fora
Uma alma tão sutil e mesmo sonhadora
Farsante poesia expressa a podridão
E quando esta carcaça entranha em doce odor
Resume este final espúrio de um amor
E o cais que eu desejara? Apenas negação...


18

Acasos traduzindo o quanto ainda posso
Viver esta ilusão que possa traduzir
Além de qualquer medo as ânsias do porvir
E nelas vejo enfim horror que sei tão nosso
E quando a caminhada em fúria eu endosso
Ascendo ao vão destino imerso no sentir
Tentando nova sorte e o vento ora a bramir
Trazendo do que fui apenas um destroço.
Gerindo a caminhada envolta em urzes tantas
Enquanto me seduz decerto desencantas
Fagulha do passado invade esta seara
Gerando solitário e tosco caminhar
Deixando para trás o quanto do luar
Em noite dolorosa ainda a vida aclara.


19

Corsário da esperança, amor sem ter juízo
Vestindo a solidão, o medo me atrapalha
Aonde houvera luz, um campo de batalha
Arcando com temor, imenso prejuízo
Nefasta realidade o mundo sem aviso
O fio se amolando expressa esta navalha
Rondando a velha cena eu vejo torpe gralha
E assim a morte em vida ausente paraíso
Esgota-se em demônio imenso que cultivo
E tanto se podia e quando sobrevivo
Cenário se moldando em ar duro e nefando,
Somente esta carcaça, herança do passado,
E o gosto do viver há tanto abandonado
Aos poucos me entrelaça e sinto sufocando.

20

O nada transcendendo ao quanto se renega
O fogo da paixão, estúpida quimera
E aonde poderia ainda a primavera
Caminho destruído inverno em fria entrega
A cada velho vinho exposto nesta adega
A morte e embriaguez em fúria me tempera
Assisto à derrocada espúria desta fera
E a sorte desejada aos poucos já se nega.
Arcando com medonho esgarce da esperança
Ao canto mais sombrio etérea e louca dança
Sofismas do passado, angústias do futuro
Errático planeta em órbitas venais
Procuro alguém encontro e vejo o nunca mais
Diverso da ilusão que ainda em vão procuro.

21


No quadro exposto agora em vãs toscas medalhas
Resíduos do que fora inútil, fútil glória
O campo desolado expressa a merencória
Imagem que inda trago; estúpidas batalhas
As sortes mais sutis, rebentam cordoalhas
E neste imundo pasto, a pútrida vitória
Na liberdade encontro ainda esta vangloria
E dela a divindade ausente do que espalhas,
Demônios são heróis, satânicas orgias
E nelas se percebe então vastas sangrias
Carcaça da esperança apodrecendo aos poucos
Ignaros ditam regra e deles o fulgor
Matando o que restara em perdão, em amor
Transforma a multidão, exército de loucos.

22

Escrevo como quem procura por sinais
Que possam permitir algum alento, ao menos,
E quando se percebe a fúria dos venenos
Bebendo cada gota enfrento os vendavais
E deles me recrio em ares joviais
Os sonhos que tivera agora sinto plenos
Promessa se abortando em tolos, vis acenos.
E neles se percebe ausente um porto, vivo em cais.
Carrascos do passado, ausência do que possa
Viver além da sorte e nisto imensa fossa,
Gerando o dissabor deveras costumeiro
Encontro o meu fantasma exposto em luz sombria
E toda realidade, aos poucos se esvazia
O fardo que negara, agora mais ligeiro.

23


Amor que tanto amor dita somente
Momento variável, medo e sorte,
Tomando da esperança o seu suporte
Produz desta ilusão vaga semente.
Ditosa caminhada ou esmo rumo,
Vestindo uma emoção além do porto
E quando se pensara quase morto
Revive novamente em vário prumo.
Saber das discordâncias deste insano
E ter entre os caminhos, perdição
Amor ditando às vezes solidão
Mudando a direção em desengano.
Sedento desta luz andando alheio
O encanto mais voraz que tanto anseio.

24

A podre realidade nega a sorte
E molda a dor de quem nunca sonhara
Além do quanto trago em funda escara
Nas ânsias do desejo, meu suporte.
Jazigo da esperança cultivado
Envolto por espinhos, pedregulhos
Ouvindo a ressonância dos marulhos
O encanto se mostrando sonegado,
Enganos entre pedras e espinheiros
Roseiras esquecidas no jardim
A morte toma conta do que em mim
Pudesse traduzir mansos canteiros
Ascendo ao infinito mesmo quando
O sonho que buscara se negando.

25

“Filósofos de agora, eu vos encontro aqui
E tendo em vosso rumo espaços mais distantes
Do que pensara outrora em dias deslumbrantes
O rumo feito em luz, aos poucos já perdi,
E sendo tão comum a angústia que previ
Ao ver em tom alheio, imensos diamantes
A senda feita em busca ascendo por instantes
E o vento que virá e aonde me emergi
Preposto tão nefasto ou gasto quase inútil
Ausente em vós resposta ainda sinto o fútil
Caminho feito em rito e em cartas, búzios, lendas
Distante cartomante ainda em velhas tendas
Astrólogo, farsante encontra no passado
O rumo há tanto tempo em luzes desvendado.

26


Que dizes nestas noites tão sombrias
Alheia ao sentimento que pudesse
Gerar além de mera e tola prece
Ao fim das tempestades, heresias,
Bisonha caminheira do vazio
No quanto poderia e nada existe
Seguindo cada passo dedo em riste
O quanto já perdera e não recrio
Fantasmas do passado me rondando
Promessas que não posso mais cumprir
E estando mais distante do porvir
Cenário que percebo tão nefando,
Arrasto os meus anseios pela sala
E uma alma sonhadora ora se cala,


27

Vivo envolto em trevas tantas
São medonhos dias quando
O meu sonho se entornando
Fartas vezes desencantas
Andarilho coração
Sem paragem nem segredo
Cada verso que concedo
Preconiza esta emoção
De um momento mais feliz
Onde tudo poderia
Transcorrendo em claro dia
Da esperança quero o bis
Solto a voz e sei aonde
Nossa sorte enfim se esconde.

28


Do sertão da minha terra
Lua prata toma o céu
Emoção em carrossel
Tanto engata quanto emperra.
Vivo além de qualquer serra
De uma abelha vejo o meu
O ferrão antes cruel
No meu peito não mais ferra.
Gero o verso mais feliz
Bebo a sorte imorredoura
Alegria diz tesoura
Corta tudo o que desdiz
Caminhada mais tranqüila
Onde a lua em paz, desfila.

29

Não canta a tristeza
Quem sabe escutar
Das ondas do mar
A farta beleza
E da correnteza
Sabendo singrar
Jamais vai cansar
De tanta riqueza
Assim me sentindo
Poeta e cantor
Falando do amor
Que é triste e tão lindo
Desvendo o segredo
Na paz que concedo.

30

Soneto que faço
Com tais redondilhas
Por onde tu trilhas
Ganhando este espaço
Permite este traço
Das sortes novilhas
E distantes ilhas
Caminho que grasso
Buscando este cais
Mesmo em vendavais
Na luz mais sobeja
Deslindo a beleza
Que expõe sobre a mesa
O que alma deseja.

31

Quero te falar
Das horas felizes
Que tanto desdizes
Negando o luar
Pudesse cantar
Diversos matizes
As sortes, atrizes
Mergulhos no mar
Cansado da luta
Amor não reluta
E vence o temor
Assim passo a vida
Sem medo ou guarida
Nas ânsias do amor.

32

Correndo sem freios
Olhando pros lados
Os dias passados
Amor sem rodeios
Os sonhos alheios
Felizes recados
Momentos marcados
Seguindo tais veios
Que levam à sorte
Trazendo o suporte
A quem se daria
Há tempos que sonho
E tanto proponho
Distante do dia..



33

Não deixe que o tempo
Rondando esta vida
Há tanto perdida
Feroz contratempo
Mesquinho este rumo
Deveras tristonho
E quando enfim sonho
Também já me esfumo
Fazendo o caminho
Com todo o vigor
Por vezes me aninho
Nas tramas do amor
Vivendo o que quero
Num canto sincero.

34

Pudesse te falar das noites vãs
Aonde desvendara medo e frio
E quando em tristes versos eu recrio
Distante, tão distante das manhãs
A vida se prepara em seus afãs
E crendo no momento que desfio
O amor por vezes sendo um desafio
Prepara a cada dia grises, cãs.
E assim ao me sentir bem mais alheio
Das sortes mais longínquas já receio
O rumo que deveras eu tomei.
Nefando caminhar por entre as trevas
Meus últimos desejos quando levas
Deixando mais deserta a minha grei.

35

Retorno ao descaminho de onde vim
Volvendo o meu olhar aos meus demônios
E quando me percebo em pandemônios
Traçando cada passo bom ou ruim
Esqueço dos momentos mais atrozes
E sinto ter na face o vento leve
E quando a realidade já se atreve
Prepara a cada curva seus algozes,
As vozes do que fui voltando à tona
Sementes de uma vida mais cruel
Granando em minha boca fúria e fel
Uma esperança aos poucos me abandona
Da dor perpetuada no meu peito
A velha solidão tomando pleito.


36

Acendo outro cigarro e vejo a face
Da morte me rondando com furor
Não posso mais pensar no que compor
Se tudo não deixando tal impasse
Por mais que a realidade não mais trace
Os passos deste tolo sonhador
O quanto poderia me propor
Por terras mais distantes sei que grasse.
Mesquinhos olhos ditam o futuro
Nefasto companheiro que tocando
Com seu ar duro, frio e tão nefando
Do quanto não virá sempre asseguro
E sinto o fim da peça, finalmente
Em cena degradante, amor ausente.

37


Confraternização de dor e tédio
Apenas nada posso com a sorte
Decido a cada passo novo aporte
E creio conceber algum remédio,
E quando me ascendendo ao nada eu vejo
As sombras que acompanham meu poema,
Ainda tão presente cada algema
Revigorando o passo, num lampejo
Eu passo a acreditar nalguma luz
Depois das brumas fartas que tivera
O quanto poderia em primavera
De certo noutro tanto me propus.
Escravo da ilusão, torpe demente
Esqueço num momento, tal corrente.

38

Chamando por talvez quem não me escute
Revejo os meus anseios tão comuns
Os dias mais felizes, tive alguns,
Ainda quando mesmo em vão relute,
Por tantas noites frias inda creio
Na fúria de um momento mais dolente,
Mas quando me percebo plenamente
Entregue à dor intensa, mais que tente
Não posso vislumbrar tal liberdade
E vencido percorro os infinitos
Aonde se pudessem velhos mitos
O mundo com certeza me degrade
E os tons tão variados desta lua
No quanto inutilmente a alma flutua.

39

Ascendo ao mais sublime caminhar
Depois das trevas, lutas e constâncias
Sabendo das vitais vis discrepâncias
Aonde poderia algum luar
Se tudo não se mostra além do nada
Por onde não se chega a qualquer fado,
Recebo da esperança o seu recado
E sigo sem sentido velha estrada
Após a tempestade corriqueira
Ausência de calor gerando o vago,
Ainda de um vazio em que me alago
Pudesse acreditar noutra bandeira:
A gloria libertária de um amor
Que há tanto noutra senda perde a cor.

40


Ouvisse a noite intensa que vivemos
Em tantas ilusões já disfarçada,
Talvez ainda visse a madrugada
No quanto poderia se não temos
As horas mortas vidas entrelaçam
E matam o furor da sede intensa,
O gozo tão fugaz, a recompensa
E as vidas sem guarida, seguem, passam.
Riscando desta agenda mais um dia
Insólitos delírios propagados,
Momentos entre fogos desvendados
Realidade turva já se adia.
O pantanal expresso no futuro
E o medo deste chão deveras duro.

41

O parto de quem tanto glorifica
A carne invés de uma alma, mesmo vã
A sorte com certeza se é malsã
Apenas o vazio ainda fica
Dependo do talvez para viver
E sei que nada tendo além do chão
Herança derradeira, sem perdão
O quanto da semente irei colher
Traduz a morte em vida que carrego
E o charco dominando a frágil alma
Somente o que pudesse ainda acalma,
E a tanto caminheiro vaga cego
À parte, nada tendo vejo o fim
E dele me procrio, é sempre assim...


42


Vestígios de uma vida feita em festa
São pertinazes sonhos de quem ama.
Mas quando se demonstra clara a chama
Do todo quase o nada ainda resta
Imagem se adentrando pela fresta
Mudando do passado a tola trama,
Aonde fora riso vejo o drama
Aonde alguma luz, sombra funesta,
Mortalhas cultivadas com terrores
Ausência de momentos, onde fores
Verás o quanto em nada transformei
E a morte ressurgindo como fosse
Promessa de um momento bem mais doce
Gerando do não ser a sua lei.

43

Recebo tantas luzes, bebo o sonho
E rasgo o coração; inutilmente
A vida quando em glórias se pressente
Traduz a hora demente em que componho
Com ar bem mais dorido, até medonho
Futuro dos meus olhos cedo ausente
E o quadro se aproxima lentamente
Decerto vez em quando, louco me oponho
E sinto o que o final já se aproxima
A fera dentro em mim domina o clima
E o quanto se transforma num ocaso,
Seria alguma fonte de esperança
O corte do passado em aliança,
Mas como se perdi, há tanto o prazo.

44


No quanto em desafios poderia
Vencer os meus fantasmas e não posso,
O templo dos amores, não endosso
A noite se ultrapassa e é sempre fria,
No mausoléu dos sonhos, fantasia
Um mundo que seria bem mais nosso,
Ainda com terror se eu remoço
O velho coração dita a sangria.
Espelho não sonega a realidade
E quando vejo a cena que degrade
Em rugas e grisalhos, duros cãs,
Persigo o que talvez jamais houvera
A doce juventude, uma quimera
Traduz inutilmente meus afãs.


45

Jogado contra as pedras, nada resta
Daquele que em naufrágio se daria
Não fosse tal borrasca em tez vadia
A porta escancarada não se empresta,
Ainda percebendo quão funesta
Mortalha que a verdade não adia
O peso da esperança vergaria
Do quanto deste nada ainda gesta
A vida em avidez, desesperada
E o parto traz a força que abortada
Expressa a solitária desventura
O contrapeso dita tal verdade
E quando procurara a liberdade
A morte a cada noite me amargura.

46


Pudesse acreditar no que disseste
Talvez já se mudasse a direção
Do sonho que debalde tenho em vão
Num solo dolorido e tão agreste,
Diverso do que tanto propuseste
O todo se moldando deste não,
A sorte noutro rumo diz verão
Porém somente inverno em frio e peste.
Açoda-me um jardim disperso em urzes,
Por onde tuas luzes reproduzes
E tantos espinheiros matam rosa,
O quanto do viver bem poderia
Traçar com novo tom a melodia
Que diz a vida ser maravilhosa.




47


Não posso procurar uma resposta
Aonde em frases feitas me daria
Um novo amanhecer em raro dia
A face em manso vento sendo exposta,
Do quanto que pretendo e se desgosta
Do quanto se deseja em fantasia
O manto que deveras me cobria
A sorte noutra sorte diz proposta,
Mas quando me percebo em voz dorida,
A frase que dissera diz desdita
E mesmo se eu pudesse, quando dita
Jamais transformaria minha vida,
Seguindo sempre assim, sem rumo e fado,
O que dizer das sombras do passado?

48


No pantanal que uma alma expressa em medo
Enredos tão diversos por fazer
E neles percebendo o desprazer
Se vez em quando até já me concedo
Não posso prescrever qualquer enredo
Traçado no passado e posso ver
O dia num brumoso amanhecer
Gerando o que deveras mostra o ledo
E duro caminhar de quem não fez
E sabe da total insensatez
Gerida pela angústia do vazio,
E quanto mais audaz o passo expressa
Ainda na verdade tenho pressa
E o fardo carregado propicio.


49


Servindo como escada a quem procura
Degrau após degrau a eternidade
No quanto a cada dia se degrade
A vida noutra senda já perdura
E traça vez em quando com ternura
O que pudesse ser felicidade
Na angústia de um momento em liberdade
Diverso do quanto me amargura
No precipício feito em raras luzes
Matizes que deveras irradias
Por quanto mais distantes alegrias
Cravando minha carne em frias cruzes
Servindo a quem tentasse solução
Perdi há tanto tempo a direção.

50


Morrendo pouco a pouco em vil desgaste
O quando poderia ser feliz,
Mas nada do que outrora ainda quis
Permite a solução se sem uma haste
O medo que deveras me legaste
Reflete a mais terrível cicatriz
E dela o que talvez expresse o bis
Bisonho mundo ao qual tu te entregaste.
Realizando assim o velho sonho
Ao qual por vezes mesmo me proponho
Acende dentro em mim terror e sombra,
Figura de um passado mais feroz
Eleva a cada instante a sua voz
E dentre tantas fúrias já me assombra.




51

“foi para vós que ontem colhi, senhora”
Os momentos mais doces e terríveis
E deles concebendo vãos temíveis
Sabendo desde sempre que devora
Ao mesmo tempo enquanto nada traço
Somente os desafios mais comuns
E quando me percebo trago alguns
Anseios e decerto ainda esparso
Do nada vento vindo em voz tenaz
Assisto ao fim e penso poderia
Saber bem mais possível fantasia
E dela mais plausível qualquer paz,
Mas nada além das flores que colhi,
Nem mesmo o que deveras há em ti.

52

Ouvisse a voz do vento me clamando
Pedindo algum alento que não tenho
Por mais que na verdade em falso empenho
O mundo seja sempre amargo ou brando
O peso da esperança em contrabando
O quanto do desejo diz que venho
Do tanto se moldando em torpe cenho,
A senda mais audaz já não contenho
E vendo esta figura em tosco espelho
Deformam-se momentos em loucura
Ainda que talvez sorte amargura
Dos erros cometidos, vão conselho
E jogo-me ao abismo que legaste
Ausente da esperança, frágil haste.


53


Percalços que enfrentara dia a dia
Perfaço o mesmo engodo conhecido
Navego pelas tramas da libido
E tudo o que mais quis já se esquecia.
A morte como atroz e leal fato
O sândalo que exalas nada diz
Um vândalo sonhar em cicatriz
Reflete este não ser que ora retrato.
E penso num anseio mais fugaz
Perdido entre os meus erros, desengano
E quando deste encanto não me ufano
Apenas um sorriso satisfaz
Chagásico caminho dita a forma
E enquanto a realidade nada informa.

54



O senso mais atroz em paz e guerra
O vasto amanhecer ditando o fim,
Chamando esta desdita de onde vim
O quanto desejara já descerra
Marcante caminhada rumo ao fardo
Mesquinho cada cardo que encontrara
A sorte sendo atroz a glória rara
O gato em madrugada é sempre pardo.
Ouvisse da emoção qualquer resposta
Ourives dos meus dias mais audazes
E enquanto de outra forma satisfazes
A mesa em iguarias podres posta,
Charcos dentro da alma, lama e pus,
Aos restos da ilusão, tento e me opus.

55



Já decomposta face exposta em ares tais
Que possa permitir a quem se deu além
Viver a tempestade inútil que contém
Momento em ondas feito, as horas terminais
Negando a própria sorte imerso em vãos cristais
Vencido pelo medo e quando me convém
Espreito do vazio a ausência de outro alguém
Que nada poderia em torpes rituais
A bala que talvez solucione a crise
Amor se preconiza enquanto em tal deslize
Sentindo o mesmo anseio entranha-me a vontade
De um quanto nunca pude e mesmo que pudesse
Alheio ao descaminho e nele vendo a messe
Que tanto me alivie enquanto me degrade.

56


Restando deste canto apenas o que tento
E neste beco imerso as luzes mais distantes
Aceito os mais sutis embora deslumbrantes
Por mais que isto transporte enorme desalento.
Aonde se fez treva o quadro em vil tormento
Pudesse acreditar em meros diamantes
E vencido o caminho encontro por insatantes
O porto que buscara e nele o sentimento
Escuso caminheiro, um andarilho atroz
Escuta do infinito a mesma e torpe voz
Gerando o desvario e trágico final,
Amando além do quanto ainda poderia
Imerso tão somente em vaga fantasia
Subindo até o fim degrau após degrau.


57

Nadando contra a força das marés
Tentando conseguir ao menos paz
O passo mais atroz, o mais mordaz
Sabendo desde sempre das galés.
O quanto se pudesse se tu és
Além do quão devia e satisfaz
Gerando muito mais do que capaz
O encanto que ora vejo de viés.
Resvalo nos teus sonhos e me faço
Acima do que fora bem ou mal,
E sinto neste medo o triunfal
Caminho pelo qual em rota e traço
Esgoto os meus momentos e mergulho
Mal importando corte e pedregulho.


58

Jazigo da esperança, morte em vida
Assisto aos meus momentos mais venais
E quando se pensara em rituais
A sorte noutra sorte decidida
Penetra em minha pele, tal ferida
Acréscimos de farpas sem iguais
Por vezes desejoso peço mais
E quanto se faz fera e já perdida
A luz de um novo tempo se esgarçando
Sombria realidade em ar nefando
Vestígios do que fomos? Nem ao menos
Somente o temporal tão costumeiro
E sendo do vazio o mensageiro
Não vejo mais momentos tão serenos.


59


Espero meu canto
Pudesse trazer
O quanto em prazer
Diverso do pranto
Que se mostra tanto
No verso a fazer
Rumando sem ter
Somente me espanto
E vivo a semente
Que quando desmente
Promete aridez
Do amor que quisera
Expressa-se em fera
O quão se desfez.

60

Olhando pra dentro
Dos olhos mais puros
Distantes apuros
No quanto concentro
Vencido o tormento
Seguindo este rastro
Enquanto me alastro
Percebo e me alento
No gosto perene
Da boca maldita
A sorte se edita
Na dor que me empene
E mostre o senão
Eternizando o não.

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