sábado, 17 de abril de 2010

30006/07/08/09/10/11/12/13/14/15/16/17/18

30006


Posso até rever no espelho
Tanta sorte que talvez
Ao tocar a lucidez
Vez por outra me aconselho
Ao vencer tantas desditas
Ditos soltos, frases ocas
E deveras nestas bocas
Quando inúteis forem ditas
Perpetuam a falácia
De quem tanto aventureiro
Meu caminho derradeiro
Não se faz com tanta audácia
Caminheiro do vazio,
Com meus erros me recrio.


30007

Fantasias que inda trago
De um passado mais atroz
Poderia noutra foz,
Mas poluo o imenso lago
Onde a etérea placidez
Deveria ser constante,
E por tanto se agigante
Meu caminho se desfez
Nesta voz inconfundível
De quem tanto poderia
Transformar em fantasia
O que sei ser inaudível,
Versejando sobre o nada
Busco errático a escalada.


30008

Não percebo mais o quanto
A vida trouxe em falsa luz
E se tanto não me opus
Hoje apenas teimo e canto
Rareando a sorte quando
Eu pensara noutra trilha,
A verdade ainda brilha
Mesmo o sonho desabando,
Misantropo? Nada disso,
Na verdade um ser comum,
E se busco por algum
Que me traga assim cobiço
Ascender à eternidade
Até quando a treva invade.




30009

Esboçando a luz aonde
Nada pude adivinhar
Onde quis qualquer luar
A verdade sempre esconde
O caminho de um poeta
Feito em trevas, a amargura
Tantas vezes se perdura
E decerto me repleta
Morto em vida, sigo assim
Sem caminho ou mesmo norte
Já não tendo quem comporte
Pedregulho dita o fim
Do que fora noutro tempo
Simples, mero passatempo.


30010

Das senzalas de minha alma
Contumazes derrocadas
Onde pude madrugadas
O silêncio não me acalma
Torturando em cada engodo
Transmudado caminhante
E se tanto num instante
Penetrando charco e lodo
Não fugindo do que sei
E tampouco me esgueirasse
Ao mostrar temível face
Solidão traçando a lei
Um poeta; nada além,
Que o vazio em paz contém...




30011

Pecado é não saber da direção
Dos erros mais comuns, fonte e final
Engodo nunca fora sensual
Tampouco nos enredos da paixão
Somente o transgredir em travas feito
Aonde poderia satisfeito
A vida se transcorre em dor e não,
E sei que tantas vezes mergulhava
Em água poluída ou mesmo em chamas
E quando em realidade tu reclamas
Uma onda bem maior, ou tanto brava
Rescende ao meu terrível dia a dia,
Alento? Só encontro em poesia!



30012


O sangue se entornando a cada corte
E tendo a solução bem mais distante
Arrastam-se correntes; delirante
Caminho me levando para a morte,
Do todo se vertendo o mesmo nada
E quando vi a sorte noutra senda
Sem ter cada alegria que se atenda
Dos meus anseios; tosca debandada.
Esgarçam-se as já rotas ilusões
E morto em vida resta tão somente
A lúdica esperança que apascente
Diversa do que em dor venal me expões
E tendo esta certeza do jamais
Cultivo dentro em mim, meus temporais.


30013

Servil, mas sem ser vil nada teria
Quem eviscera a sorte em dor, punhal
O rito se tornando mais banal
A morte doma a fera? Fantasia...
Gestando o que pudesse ainda ter
Sementes onde agora vejo apenas
A morte se entornando em toscas cenas
Parindo a cada instante o desprazer.
Vestido do terror onde talvez
Pudesse acreditar num novo alento,
E quando outro caminho anseio ou tento
Errático cometa se desfez
E tanto poderia haver a estrada,
Mas como se minha alma atormentada?




30014


Ainda se mostrando em tom tão agressivo
O resto do que fui entranha a sala e toma
Cenário mais atroz e quando vejo a soma
Do pendular espelho ainda sobrevivo,
Mortalha que tecera a vida desde quando
O tempo transformado em treva e ventania
Gerara este demônio e nele se recria
A sorte desairosa; e a noite se entornando...
Ouvisse qualquer som em noite solitária
O mundo não teria a face desdenhosa
De quem sem ter saída ainda teima e glosa
Achando ser a morte espúria necessária.
Ecléticos, sutis, os dias são falazes
Diversos deste tanto; aonde o sonho trazes.

30015

Jogado em algum canto imerso em solilóquio
Aprendo com a vida a não seguir conselhos
Pois neles não se vê além dos meus espelhos
E a cada novo passo um outro que provoque-o;
Assim a vida traça o medo do não ser
Insuperável erro aonde se sacia
O tétrico caminho em torno da agonia
Gerando a cada engodo um novo anoitecer.
Estradas onde um dia ainda imaginara
A sorte mais sobeja e mesmo até mais bela
O verso noutro tanto exposto se revela
Por tanto que inda seja a vida tão amara.
Medonho este fantasma em luz tão vária e rude
Lutar contra mim mesmo, o que deveras pude


30016

Se eu pudesse ter nas mãos
O timão de minha vida
Nova sorte decidida
Ao plantar de amores grãos
Os meus dias não mais vãos
Nem percebo a despedida
A beleza sendo urdida
Já não sabe mais dos nãos
Onde tudo terminara
Numa angústia sem final,
Mas amor se magistral
Não permite este abandono
E se dele enfim me adono
Eu concebo a maravilha
Sem a dor que tanto humilha.



30017
Caminhando em noite imensa
Sem temor, por muita vez
Bem diverso do que vês
Novo amor que me convença
A minha alma quer e pensa
Nisto encontro a lucidez
Meus enganos, meus porquês
Desconhecem recompensa
Se eu polvilho em lua e prata
A saudade me arrebata
E domina este cenário,
Tanto amor ditando o rumo
Neste encanto não me aprumo,
Mas é mal que é necessário...



30018
Dos sonetos que inda faço
Procurando alguma estima,
Na verdade nada rima
E não cedo um só espaço
Quando a sorte atroz eu traço
Com palavra que se prima
Pela insânia mudo o clima
E me encontro amargo e lasso,
Fosse assim outro momento
Onde após qualquer tormento
Vicejasse em claro sol,
Mas medonho o meu caminho,
E se tanto vou sozinho,
Não desvendo um só farol.

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