sábado, 17 de abril de 2010

30031/32/33/34/35/36/37/38/39/40

1

Pudesse desvendar cada segredo
Embora saiba sempre ser assim
O tanto que fizesse gera o fim
E nela tantos erros eu procedo
Fazendo do vazio o meu enredo
Dessedentando em fúria meu jardim
Aonde dito o rito enquanto enfim
Quem sabe continue alheio e ledo.
Não vejo solução e nem podia
Viver outro momento que não este
Embora em tua ausência não em deste
Sequer a menor chance, perco a luta
Na lua tão distante o teu reflexo
E quando ainda busco qualquer nexo
Minha alma insanamente, pois, reluta...



30032

Jogando a minha sorte noutro tanto
Aonde não pudesse transcender
Ao menos qualquer forma de prazer
Envolta em falsa luz, teimoso eu canto.
Não posso sonegar sequer o espanto
E quando aprendo aos poucos o viver
Nefasta realidade passo a ver
Enlutando com dores cada manto
Esboço reações, nada adianta
A vida não se dá sem ser assim,
A morte vencerá num ledo fim,
E a voz inda vai presa na garganta,
Um dia quis ouvir algum alento,
Mas sei que solitário eu me atormento...


30033


Ourives da palavra algum poeta
Que possa traduzir um sentimento
Enquanto outro caminho ainda tento
A vida se transforma e me deleta,
Não pude competir contra a completa
Loucura de quem dita o pensamento,
E assim ao me afastar por um momento
Não quero confirmar nesta concreta
Paisagem feita em trágica figura,
E quando solitária se afigura
A sorte de quem tanto quis a luz,
Rasgando cada verso de um soneto
Ao pálido caminho me arremeto
Somente este vazio me conduz...


30034


Jogado agora às traças o meu verso
Jamais teria ao menos um segundo
Aonde em poesia se eu me inundo
O mundo se mostrando mais perverso,
E quando neste pouco ou nada imerso
Sentindo este vazio, torpe e imundo,
O coração de um velho vagabundo
Persegue cada luz, morre disperso.
Não pude compactuar com a heresia
Que vejo amortalhando a poesia
E então prefiro mesmo a solidão.
Esgarçando a palavra esta colheita
Deveras onde a fera se deleita
Traduz assim somente a negação.


30035


Isolo-me do mundo e só me resta
Um facho meio opaco desta luz,
Beleza muitas vezes reproduz
O quanto poderia entrar na fresta,
Mas sei tal realidade que é funesta
Vertendo invés do claro torpe pus,
E quanto mais ainda enfim me opus
Jogado porta afora nesta festa,
E o vandalismo toma o que já fora
Uma arte tão sublime e abandonada
A cada novo verso se percebe
Quanto improvável ver na mesma sebe
A primavera intensa, outra florada...

30036

Apenas me restando o obscuratismo
Aonde me guardando para o fim,
Renego cada passo de onde vim
E salto neste instante neste abismo.
Por vezes percebera o cataclismo,
Mas quando se perfila tudo assim
O vinho avinagrado sinto enfim
Tomar esta paisagem onde eu cismo.
Pecados cometidos? Poesia.
Apenas nada mais e se eu desisto
Não quero ser do verso como um Cristo
Nem mesmo decorar cena sombria,
E deixo para aqueles que mataram
Soneto, estas carcaças que restaram.


30037


Cadáver mal cheiroso do que um dia
Ainda fora estrada reluzente
Porquanto a tal loucura se apresente
O sonho para sempre já se adia,
Medonha face exposta se é sombria
Translado se fazendo do doente
Aonde academia nega e mente
O que falar então da confraria?
Não resta senão isso: eu me calar
Não pude com a força deste mar
Há tanto poluído por rapinas,
E sendo assim estúpido poeta
A morte desta inútil se completa
No quanto em versos turvos desatinas...




30038


Se às vezes num soneto vão me acampo
Procuro uma defesa pelo menos
Que possa retirar alguns venenos
Que colho quando luto em tosco campo,
Meu telefone agora tendo um grampo
Os dias não serão bem mais amenos
Tampouco me importando se serenos
Matassem o derradeiro pirilampo,
Encampo velharias, sou museu
E jogo meus poemas no porão
Sabendo quão diversa direção
Demonstra a que ponto se perdeu
O velho repentista do passado
Morrendo num imenso rebolado.


30039


Adeus aos meus propósitos já dei
E não voltando atrás, seguindo em paz,
Do quanto ainda um dia ser capaz
Permite quem me dera, bela grei.
Aonde surrupiam norma e lei
O monstro do vazio é mais mordaz,
E beija como fosse Satanás
Não deixa nem sentir o que escutei
Outrora de uma mestra em português
Falando sobre métrica e cadência
Ainda tenho em mim esta inocência
Enquanto encontro ausente lucidez,
Por isso retirando cada verso
Silente desde já meu universo...


30040


Clementes dias noites tempestades
Se assim já a vida, mas do jeito
Que as coisas vão mostrando já seu pleito
Inusitado rumo em que degrades
Deixando para trás velhas saudades
E nada se mostrando no teu leito
A Musa se mandando, e insatisfeito
Matando a poesia, não agrades
Sequer aos mais sobejos modernistas,
São coisas bem diversas, mas não vês
Aonde se bebesse a insensatez
Disperso amanhecer daí avistas
E crendo que isto é belo, meu amigo
A Diva te condena ao desabrigo...

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