terça-feira, 27 de abril de 2010

30027 até 31100

31093

Meu segredo não comento
Na verdade com ninguém
Se a saudade ainda vem,
Com a força deste vento
Toma todo o pensamento
E decerto eu sigo aquém
Do que pude com alguém,
Mas enfim o desalento
Se eu pudesse com certeza
Noutro tempo em tal beleza
Encontrar um novo abrigo,
Mas segredo eu não concedo
Não confesso, tenho medo,
Nem se for mesmo comigo.

31094


Tanta fúria devassando
Onde outrora fora manso,
E se quando a dor alcanço
No meu peito está nevando
Eu queria um tempo brando
E deveras um remanso,
Nesta luta já me canso,
E decerto me entregando
Na incerteza do que vem,
Continuo sem ninguém,
Mas se sou assim feliz,
A saudade nos maltrata
Sei do quanto é sempre ingrata,
E meu sonho não a quis.


31095

Onde a sorte se desterra
Onde o medo já domina
Vejo seca qualquer mina
Aridez domando a terra,
E a saudade assim se encerra
No que tange e me fascina,
Outro tempo determina
O que o coração descerra,
Ao vencer o meu temor,
Vivo o imenso e claro amor,
Nada temo, sigo em frente,
Mas se a dor volve a domar,
Não permito mais o amar,
Deste sonho estou descrente...

31096

Se eu pudesse aeronave
Tomaria rumo ao quando
Meu amor se demonstrando
Tanta dor que cedo agrave,
Se eu pudesse ser suave
Onde agora exterminando
O meu mundo se forrando
Noutro tempo novo entrave,
Resultando no vazio
Onde teimo e desafio,
Cada instante em solidão,
Mas se posso num instante
Viver sonho fascinante,
Novamente nego o não...

31097


A saudade me acompanha
E não deixa que eu perceba
Outro tempo se conceba
A partida sem barganha,
Muito aquém desta montanha
Quem deveras já se embeba
Noutro rumo noutra gleba
A verdade dita a sanha,
E se pude ter em mente
O que tanto já se sente
Quanto fora o sonhador,
Por caminhos tão diversos
Ora bons ora perversos,
Descaminhos de um amor...


31098

Esta vida é um caso sério
Não consigo desvendar
Sem saber hora e lugar
Cada dia outro mistério
E se posso sem critério
Contra a fúria caminhar,
Nada resta e devagar
Vou rumando ao cemitério.
Poderia ter a sorte
Que deveras me comporte
E se tento outro caminho
Onde quis a glória imensa
Não há mais quem me convença
E persisto assim sozinho...


31099

Encerrando assim a vida
Após tantas ventanias
E percebo fartos dias
Onde a sorte se duvida
E pudesse uma saída
Encontrar pós vilanias
Tão freqüentes heresias,
Mas distante desta ermida
Resumindo o meu caminho,
Num cenário degradante
Minha a vida a cada instante
Não se vê num novo ninho
E se tento estou sozinho,
Mas seguindo sempre avante...


31100


Tantas vezes quis o mundo
Bem melhor para quem sonha,
A verdade é tão medonha,
Coração mais vagabundo
Quando amor é moribundo
Do terror já se envergonha
Bebo a sorte mais risonha
E dos sonhos eu me inundo,
Mas pudesse ser assim,
Sonhador até o fim
Meu futuro mais tranqüilo,
Porém quando a sensação
Desta imensa solidão,
O temor ora desfilo...




31088


Neste céu grande e profundo
Astros rolam, vida passa
E se tudo se esfumaça
Eu também e neste mundo
Quando do sonhar me inundo
Sendo fera sou a caça
O caminho onde se traça
Muitas vezes vagabundo,
Gera ações em gerações
Tão diversas, mas iguais
Onde há sonhos magistrais
Outros rumos tu compões
Nos teus sonhos mais felizes
São diversos os matizes...


31089


Ao cindir-se coração
Entre medo, amor e tédio
Do tormento imenso assédio,
Novo tempo outra visão,
Mas amor tem aversão
E não tem sequer remédio,
Se deveras sendo médio
O que fora imensidão,
Pouca entrega traduzindo,
Neste tempo outrora infindo,
Num momento terminal,
Se é preciso então sonhar,
Solte a amarra enfrente o mar,
Sendo o sonho a tua nau.

31090


Onde enorme vastidão
Poderia ser benesse
O meu sonho enfim se tece
Nos teares da ilusão
E se tenho esta emoção,
Não se vê quem obedece
O carinho sendo a prece
Tu verás a salvação,
Nada mais posso dizer
Do que tanto quis viver
Com ternura e sem martírio
Neste tanto que ora vejo,
Ao cumprir cada desejo,
Toda a glória diz delírio.


31091

Tantas vezes fui sulcando
Os terrenos mais doridos
E se quando percebidos
Os meus dias em tom brando,
Outro tanto se formando
Nos terrores de um olvido,
Onde o mundo repartido
Noutro mundo se formando,
Vejo assim já retratado
Cada engodo do passado
Noutro engano no porvir,
E se posso ainda crer
Neste raro e bom prazer
Sorte enfim irei seguir...


31092

Cada dia em novo espaço
A coragem da batalha
Quando a fome me retalha
Nos meus braços o cansaço
Sem pedir licença eu passo
Nem o medo me atrapalha,
Ao romper tal cordoalha
Solução deveras traço,
E redunda-se o prazer
Na vontade de viver
E não ter mais outro fim,
Senão este que ora vês
E se tanto sem porquês
Cevo em paz o meu jardim...


31083

Um arquejante sonho, um medo atroz
A sorte molda ao caminheiro audaz
Associada à vida uma alegria traz
Enquanto vejo e não sossego a voz,
Pudesse enfim, ao mergulhar em nós
Sentir o medo e perceber mordaz
O quanto o sonho nunca satisfaz
E trama apenas mergulhar na foz,
De um rio imenso em tempestades feito
E quando solitário inda me deito,
Delitos tantos cometidos antes
Gerando em mim o mais terrível medo
No amor que invade a luz que ora concedo,
E nela o rumo em que feliz tu cantes...

31084


E sendo o sol deste viver inglório
Tu foste tudo o que pudesse crer
Quem ao buscar o mais feliz prazer
Conhece a vida este terror, o empório.
Pudesse o meu sonhar satisfatório
As ondas mais diversas conceber
E tendo assim afigurado o ser
Aonde outrora eu fora merencório,
Sem sortilégios o viver seria,
Apenas calmo e bem melhor o dia
No qual meu sonho revelando a voz
Que tanto pode e se mostrasse bem
Viver o riso e perceber que vem
Um mundo claro e bem melhor após...

31085


Muito mais eu poderia
Se eu tivesse esta certeza
De vencer a correnteza
Mesmo amarga em água fria,
E deveras já se cria
Com amor tanta leveza
Quem caminha com destreza
Encontrando a fantasia
Sabe bem do que já falo
E se tanto o sonho escalo
Vendo as luzes do porvir,
Meu encanto se mostrara
Em teus olhos jóia clara
Farta luz sempre a luzir.


31086


Nesta aurora, minha vida
Feita em tantas luzes, farta
Toda a dor, amor descarta
Pelas ânsias, envolvida
Posso ver sempre a saída
Mesmo quando se reparta
Sobre as mesas cada carta
Sorte nunca mais perdida,
Nas searas deste encanto
Se deveras tanto canto
Merecendo cada acorde,
Nosso sonho feito em glória
Traduzindo esta vitória
Com a qual sonho concorde...


31087


Navegante coração
Busca o porto mais distante
E se tenta o deslumbrante
Caminhar sem direção
Logo perde a embarcação
E se vendo neste instante
Poderia e se agigante
Ao vencer qualquer tufão,
Sorte imensa traduzindo
Um caminho aonde em lindo
Sol se veja a claridade,
Não escuto este tormento,
Neste amor eu me apascento
Nele vivo a liberdade...
31078

Apenas uma sombra do que fomos
Restando em cada cena do passado,
E tanto poderia estar errado,
Mas logo entre vários tolos tomos,
O tempo se esfumando inda persiste
E nada se fará enquanto eu viva,
A sorte poderia sendo altiva
Gerar outro momento menos triste,
Negando este caminho rumo ao nada,
E tento usufruir a mesma messe
E quando a fantasia se esvaece
Deixando alguma mágoa tatuada,
Persisto embora saiba ser tolice,
Enquanto a própria sina eu não cumprisse.


31079


O quanto ainda em mim agonizava
A face feita em caminhares tantos,
Os dias entre dores e quebrantos,
A cada noite se expressando em trava
O pantanal aonde amor se dava
E falsas luzes servirão de mantos,
Pudera ouvir os mais distintos cantos
Neste vulcão em que me entranho; a lava.
E tentarei um novo dia enfim,
Podando a dor que se mostrara em mim
Residualmente ao enfrentar as feras
E assim se vendo o que talvez esperas
Resisto firme e não me entrego quando
O mundo num instante transtornando..


31080


Morrendo e percebendo em sepultura
Um derradeiro leito atroz e insano,
Brumosa noite ao açodar o engano
Gerando o medo e atemporal tortura;
E quanto mesmo intensamente a agrura
Domina e jaz o caminhar profano,
Porquanto eu posso e coletando o dano
A própria sorte ao se mostrar não cura
E o fim dos sonhos tempestades tantas
E nelas; lúbrica mundana, encantas
Ao denegrir o que pudesse outrora
Fazer do canto o delirar intenso
E quando em ti se porventura eu penso,
A morte chega e com terror se ancora...

31081


As frias noites em que tento alguma
Beleza aonde eu não pudesse ter
Sequer a messe de mesmo saber
Para onde sigo, para onde alma ruma
E tanto quero e com temor se esfuma
Seara clara onde não pude ver
Senão a dor e sem saber prazer
O mundo foge e a saudade esfuma,
Risonha paz, nesta distante senda,
Sem ter sequer uma ilusão que atenda
Os meus caminhos enfrentando a dor
E nada quando poderia então
Viver a glória e transformar o pão
Traçando enfim um mundo sonhador...

31082

Pudesse então ao encontrar saudade
Viver a luz e talvez crer possíveis
Momentos claros entre sonhos criveis
Enquanto a dor atormentando invade,
Felicidade? Quem me dera; os níveis
Diversos mostram-se sutis, temíveis,
Gerando enfim ao caminheiro a grade,
E quando agrade a quem se fez feroz
Ainda ao longe escutarás a voz
De quem tentou inutilmente a luz,
E tanto posso acreditar ou não,
Aonde quis um mais feliz verão,
Apenas vejo ao terminar, o pus...

31073


É livre o coração de quem anseia
A luz que possa enfim guiar à paz,
E quantas vezes sinto esta tenaz
A Vontade invadindo praia e areia
Dos sonhos na maré que mesmo cheia
O imenso mar à terra sempre traz
E quanto mais feroz, intenso e audaz
Desejo bem mais forte me incendeia.
Vencer os meus temores e seguir,
Rumando enfim incólume ao porvir
Sem nem olhar pra trás, um passo à frente
A caminhada feita em empecilho,
E mesmo assim na luta teimo e brilho,
Vivendo cada luz que se apresente.


31074


Os nossos pensamentos gigantescos
Vencendo as mais terríveis das procelas
Usando das razões quais fossem velas,
Caminhos percorridos são dantescos,
E mesmo em tais momentos quixotescos
Em liberdade o coração tu selas
E sabes muito bem quando revelas
Mesmo contra inimigos nababescos,
A fúria não se aplaca co’a vitória
E assim ao se fazer a nossa história
Traçada com terríveis ilusões
Enquanto se pudesse bem diverso,
O mundo não se dita em mero verso,
Tampouco no que agora ainda expões...


31075

A brisa quando atinge brandamente
Quem tanto poderia estar imerso
Nas ondas tão terríveis de um disperso
Caminho que se mostre plenamente,
E tanto se pudesse, mas a mente
Vivenciando a força de um perverso
Canteiro de emoções negando o verso,
Trouxesse nova senda, mas só mente
E quando me concebo em liberdade
Vencendo os dissabores dia a dia,
Somente uma certeza enfim me guia,
Aquela que tampouco ainda agrade,
Mas vem com a pureza de quem ama,
Mantendo com vigor a etérea chama...


31076


Por tanta inspiração que a vida tece
No nosso dia a dia, algum poema
Aonde a nossa sorte já se algema
Caminho que liberte ora obedece
Quem tanto de si mesmo desconhece
E nada do que sonhe ainda tema,
Vencido pela angústia quando trema
A terra sob os pés, tormenta e prece.
Percebo quanto inválido pudera
Ser desta forma a vida qual quimera
Gerando noutra face o velho espelho,
Aonde com total deformidade,
Apenas o terror que me degrade
No qual, por ser tão mórbido, aconselho...


31077


Inflama-me ao saber de quão espúria
A senda que se dá quando se vê
O tempo se mostrando sem por que
E nele com terror, farta lamúria
A dor se molda e tanto em vã penúria
Pudesse merecer, mas nada crê
No todo onde meu passo se revê,
Marcado pelo anseio, vil incúria.
Perjuros entre tanta hipocrisia
A morte a cada não jamais se adia
E tento vislumbrar algum momento,
Aonde pelo menos eu vestisse
O sonho que a verdade contradisse,
Ao menos novo rumo assim eu tento...


31068

Intensa turbulência dita o mar
E nele me perdendo a cada ausência
Diverge dos meus sonhos a inocência
E tanta incoerência a se mostrar,
Moldasse nova cena e procurar
Ainda que distante uma clemência,
Mas quando não vê tal providencia
A essência se transcorre em vago olhar,
Perpetuando em mim o medo imenso
E tanto quanto posso me convenço
Da inexistência mesmo de algum porto,
Sem bússolas, navego sem sentido,
E quando se escutando este alarido,
Eu vejo o meu retrato agora morto...

31069


Por sobre as ondas tento a direção
E nada me acalenta, a calmaria
Distante do que tanto preferia
Ausência dominando a direção,
E tanto sinto falta de um timão,
A morte se aproxima e não adia
A sorte destroçada a cada dia,
Mortalha se tecendo na amplidão
Brumosa tarde indica outra tempesta
E quando uma esperança não atesta
O quanto poderia ser diverso,
Medonha face expondo a realidade,
E quando este terror tomando invade,
Meu mundo se perdeu noutro universo...


31070


Os pensamentos tentam nova fuga
Por onde poderiam ter a paz,
Mas quando nada mesmo satisfaz,
A cada novo engodo mais se enruga
Cordoalha se rompe e a dor aluga
Em fúria mais terrível e mordaz,
O quanto sou ainda mais tenaz
A sorte desairosa, então refuga.
E o pântano gerado após a chuva,
A morte se transcorre a cada não,
Cabia cada sonho feito luva
E nada do que pude é solução,
Das tramas demoníacas, a sombra
Ainda reina enquanto o mundo assombra...


31071


Pudesse ter a mente em liberdade
E sendo libertário nada mais
Gerasse mais sutis e atemporais
Momentos em que a vida se degrade,
Sem gládio navegando em tempestade,
Orgânicos fantasmas matam cais,
E assim entre tormentas, vendavais,
O passo rumo ao nada gesta a grade,
E tanto acorrentado Prometeu,
Vasculho em penedias este mar,
Que um dia imaginara fosse meu
E vejo tão distante dos meus olhos
Assim fica impossível navegar,
Semeio invés de luzes mais abrolhos...


31072


Expira cada sorte em cais ausente
E o quadro se tecendo em morbidez
Do quanto em ilusões tudo desfez
Apenas a mortalha se pressente,
E quando dos meus olhos mais premente
Vontade de volver, a insensatez
Mergulha no meu eu e quando vês
Apenas face escusa de um demente.
Assíduo companheiro no timão,
O sonho não concebe qualquer norte,
E nada que deveras nos conforte
Causando inevitável distorção,
Apenas esta morte redimindo
Atroz delírio amargo, agora infindo...


31063



A morte se aproxima e já não deixa
Sequer a menor sombra do que um dia
Vivera com ternura e fantasia
Ausente dos meus dias qualquer queixa.
A fúria da verdade destroçando
O que pudesse ser novo caminho
E vendo-me decerto inda sozinho,
O dia pouco a pouco mais nefando.
O risco de viver se torna imenso
E nada restará do que eu já fora,
Uma alma tão inútil sofredora,
Nem mesmo no futuro ainda penso,
E extenso mar separa de algum cais,
Ao longe a voz repete: nunca mais...


31064


Apodrecido sonho é o que inda resta
De quem se fez outrora um sonhador,
E a morte se aproxima qual louvor,
Retrata a vida amarga e até funesta,
E quando ao se perder a sorte empresta
Matando o que pensara redentor,
Aonde se cevara alguma flor,
O cheiro da verdade tudo empesta.
E não caminho além do que pudera,
Delírio quando às vezes diz quimera
Resume a realidade em tez sombria,
Negando qualquer luz, risível troça,
A sorte a cada ausência mais destroça
E a solução deveras não se adia...


31065


Ourives da palavra? Inutilmente,
Ninguém escutaria a minha voz,
E sendo de mim mesmo mero algoz
A morte se apresenta mais premente,
E toma cada canto em minha mente,
E atando com firmeza laços, nós,
Do todo que pensara ser os pós
Gerando do vazio a vã semente,
Arisco passageiro do passado,
Agora nada tendo por legado
Somente o nome escuso de quem tenta
Vencer com a bonança esta tempesta
E tudo o que em verdade ainda resta,
Apenas a face escusa da tormenta...


31066


O quanto pude mesmo acreditar
Na vida que teria após o nada,
E vendo sonegada esta alvorada,
Caminho se perdendo a me frustrar,
Resisto navegante em turvo mar,
Mas sei que já não é de minha alçada
A lua derramada na calçada,
O medo a cada instante a me tomar,
Venenos costumeiros, dose imensa,
E quando nem amor mais me convença
O quanto me perdi não deixa rastros,
E assim ao naufragar incontinenti,
O inferno com seu tosco contingente
Espoliando assim os velhos lastros...


31067


Joguete tão somente e nada mais,
Assisto aos meus momentos tão doridos,
E quando a dor invade meus sentidos,
Não tenho outra esperança, e nem jamais
Pudesse caminhar entre os mortais
Venenos entre tantos revolvidos,
Matando o que pudessem ser olvidos
Ressurgem cenas torpes e venais,
E assim finalizando a minha história
Do quanto poderia sou escória
E resto sobre a terra simplesmente,
Medonha face trama este vazio,
E quando alguma desafio,
Derrota se demonstra mais premente...



31058

Putrefato lutador
Mergulhando em água imunda
A seara se aprofunda
E ditando o desamor,
Esmoler a se propor
Alma pária e vagabunda,
O que resta e já me inunda,
Tão somente este torpor
Na fumaça do cigarro,
Na vontade em que me agarro,
Sobrevida pelo menos.
Mas negando a realidade,
Fantasia não agrade
Quem sonhara dias plenos...


31059


Partindo deste princípio
De que a vida merecia
Pelo menos a alegria
Outro tanto particípio
Reservando o que jamais
Fora outrora ainda meu,
O que tanto se escondeu
Não permite os magistrais
E terríveis caminhares
Entre luas e promessas,
E se tanto recomeças
Bem depois de já cansares,
Não me resta uma esperança
E a mortalha então se trança...

31060

Lavo os olhos na promessa
De quem tanto quis um dia,
E se agora se esvazia
Nossa vida já se apressa
Solução, pois recomeça
Nova senda e se é sombria
A que tanto poderia
A medalha em que se expressa
Tantos louros da vitória,
Mas se resta mera escória
Este escombro do passado,
Solidão ditando a sorte,
Só restando então a morte,
Sonho tanto desejado...

31061


Poderia ser feliz.
Creio nisto e até pensara
Numa aposta, mas a clara
Noite em trevas não mais quis,
Pandemônio em que refiz
O que tanto procurara,
A verdade se declara
Sendo assim mera aprendiz,
O mergulho no passado,
Retirando alguns destroços
No futuro nem os ossos
Tu terás como legado
Sendo assim se nada eu sou,
Nada enfim aqui restou.


31062


Isolado neste canto,
Nada tenho senão isto,
E se tanto não desisto,
É que trago o desencanto
Aflorando em cada espanto
E terrível ser insisto,
Se deveras inda existo,
Não passando de quebranto
O que pude adivinhar
Nesta vida sem proveito,
Cada noite em que me deito
Solitário sem ninguém,
Vejo assim o meu retrato,
E se um dia fui de fato,
Hoje a morte me convém...




31053

Eu deveras estou morto
E não tenho outra saída
Há tanto ausente desta vida,
Já não resta qualquer porto.
Da esperança mero aborto,
Preparada a despedida
Labirinto sem saída,
Caminhando tão absorto,
Jogo assim minha toalha
E perdendo esta batalha
Esta guerra chega ao fim,
Perambulo solitário
Se eu fui mal tão necessário
Nem adubo o teu jardim.

31054


Já não vês o quanto sinto
Nem tampouco me percebes
E se andasse em outras sebes
Ou se mesmo fosse extinto,
Nada além do que inda tinto
E deveras não concebes,
Quanto alheia água tu bebes
Sobrevivo por instinto
E se tanto pude crer
Num sobejo amanhecer,
Outra tarde se aproxima,
Onde resta alguma luz
Se o meu carma se fez cruz,
Esperança já não prima...


31055


Ledo adeus ouvindo agora
E se tanto pude um dia
Pelo menos poesia
Inda aos poucos tenta e ancora
O que cedo me devora
E deveras não devia,
O meu passo se desvia,
Só me restando ir embora,
Levo apenas a mortalha
Que teceste com fineza,
E sabendo a correnteza,
A verdade se amealha
E semeia a podridão,
Onde outrora quis verão...


31056


Um soneto em redondilha
Uma frase solta ao vento
O que teima é o sofrimento
E deveras a armadilha
Onde a sorte já não trilha,
Onde é vivo o desalento,
Se por vezes teimo e tento,
A tortura se palmilha
E negando melhor sorte,
O que resta é minha morte,
Poda mesmo assim precoce,
E se um dia acreditei
Noutro mundo mergulhei
A tristeza é o que me acosse...

31057


Já não tens sequer o olhar
De quem tanto me quisera,
Adeus digo à primavera
Este outono a mergulhar
Indigente a procurar,
Um espaço, uma tapera,
Abrigar-se desta fera,
Num inútil decifrar
Sem anseios ou remédios,
Restam medos, frios tédios
E o que fora um grande amor,
Nada tendo senão isto,
E deveras já desisto,
Tão cansado lutador...
31048


Cabem tantas tempestades
Num soberbo coração
E se tento a direção
Os amores ditam grades
E quando tu me degrades
Novos dias mostrarão
Quanta dor e ingratidão
Mergulhando nas saudades
Onde busco outro caminho
E se tenho algum carinho
Mais sozinho não concebo
Navegando em mar imenso
Neste amor que tanto penso,
Cada gota agora eu bebo.


31049

Se eu pudesse ter a sorte
De vencer os meus temores,
Com certeza os teus favores
Poderiam dar suporte,
Mas sem ter sequer um norte
O meu céu perdendo as cores,
Meu jardim morre sem flores
O meu barco perde o norte,
E de tanto procurar
A bonança eu me perdi,
E distante estou de ti,
Noutra senda em outro mar,
E pudesse ter enfim,
Teu amor bem junto a mim...

31050


Lavo os olhos na saudade
Lacrimeja o coração
Onde quis o teu perdão,
Solidão diz a verdade
E o que tanto desagrade
Volta à mesma direção,
E se tens tanta aversão,
O que tens é falsidade,
Diamantinas esperanças
Onde agora já não lanças
As palavras mais gentis,
Tanto quis e não sabia
Que deveras é sombria
A seara que eu bem quis.


31051


Jogo as cartas sobre a mesa
A derrota eu sei é certa
Quando a sorte nos deserta
Não se vê qualquer surpresa
Na verdade mera presa,
Minha porta estando aberta,
A saudade é sempre incerta
E terrível correnteza
E se estou acorrentado
Nas algemas do passado
O que resta é não pensar,
E se tanto pude um dia
Já não creio em fantasia
Sinto ausente o céu e o mar...


31052


A verdade dita a sorte
De quem tanto já sonhou,
O meu mundo desabou
Sem amor, sem ter suporte,
E se nada me conforte,
O que agora me restou,
Sombra amarga do que sou,
Preparando assim o corte,
Ameaças, dores tantas
E se ainda tu te espantas
Sacripantas meus caminhos
Os meus erros costumeiros
Os meus dias derradeiro
São decerto os mais daninhos...
31043

Do lirismo à flor da pele
Companheiro da esperança
Minha voz agora alcança
O caminho em que se sele
Sorte grande onde revele
Do carinho que me amansa,
A verdade feita em dança,
E portanto me compele
Navegando em mar tranqüilo
Coração em paz desfilo,
Nada além da calmaria,
E se tanto sou assim,
Dos terrores de onde vim,
Trago viva a fantasia...


31044


Participo desta festa
Onde a luz seja perfeita,
E minha alma se deleita
Adentrando cada fresta,
E o caminho que me resta,
Quando a sorte é satisfeita
Encontrar quando se deita
A palavra em que se atesta
A plena felicidade
Que deveras já me invade
E permite novo sol,
Onde outrora fora triste,
Coração teima e persiste
Helianto ou girassol...


31045


A palavra que bendiga
O meu mundo desde agora
Quando a luz que me decora
Mostra a face mais amiga,
Bem diversa desta antiga
Onde a dor se faz e ancora,
A saudade que devora,
E decerto desabriga
Ao saber desta alegria
Noutro rumo se esvaia
Não sobrando dela nada,
O meu mundo se vestindo
Deste manto claro e lindo,
Prometendo uma alvorada...


31046


Nada vejo senão isto
O caminho em luzes feito,
E gestando este perfeito
Desvendar já não desisto
E se tanto assim insisto,
Coração fazendo o pleito
Mergulhando no meu leito
Tanto amor que eu sinto; existo,
Do passado sem ninguém
Do vazio que contém
Alma amarga e tão sombria
Ao se ver a claridade
Que deveras já me invade,
Refazendo em paz o dia...


31047


O meu verso benfazejo
Espalhando a luz serena,
A minha alma estando amena
Entregando-se ao desejo,
Novo tempo em paz prevejo,
Novo rumo, bela cena,
E a vontade agora acena,
Modifica este negrejo
Onde tanto fora atroz
E se ouvindo a minha voz,
Correnteza enfrentara
Sem amarras meu saveiro
Enfrentando o mar inteiro,
Em cais manso se aportara....


30127

Prú piedade cumpanhero
Das bataia dia a dia
Aonde ouvindoa cantoria
Deste passo, o mesagero
De um amô mais verdadero
Que a verdade me escondia,
Noite em lua mesmo fria
Enfeitano o meu cantero,
Um poeta populá
Trovadô, um repentista
Que jamais quis ser artista
Sob as bênça do luá
Sertanejo coração
Vê no canto a salvação...

31028


Já num quero mais falá
Dessas dô que tanto vejo
E se fosse meu desejo,
Tanto aqui quanto acolá
Eu pudia disfiá
Num desenho sertanejo
Se não tenho nada e almejo
Tão somente o que virá
Nesta noite encoriscada
Nas promessa de outra dança
Vou lavrando ume esperança
E se encontro o mesmo nada,
A minha alma agradecida
Por viver somente a vida...

31029


Diz o dito populá
Que quem cansa da bataia
Tanta dô somente espaia
Onde um dia quis brilhá,
Coração sabendo já
Do que tanto em atrapaia
A casinha se é de paia,
Dá vontade de cantá,
Ponteando esta viola
Vou cantando na varanda
Lua cheia sempe manda
As estrela na sacola
No borná uma esperança
A alma livre não se cansa...


31030

Das injusta vida vejo
Caminhando em meu roçado,
Cada pé já distroçado
Por vergonha e percevejo,
O silêncio de um desejo
Noutro canto demonstrado
Fala as coisa do passado,
Da morena e do seu beijo,
Mas agora a fome alastra
No sertão no agreste em fogo,
Tanto vale qualquer rogo,
Mas a vida vem e castra
Não dexano um só momento
Sem a dor e o sofrimento...

31031


Da miséra constuido
O palaço dos dotô
Onde quis tê tanto amor,
Da esperança nem gemido,
O meu mundo destruido
Nas magia de um lovô
Peço a Cristo o redentô
Pelo amô já pissuido
Um momento mais feliz,
Onde o canto ainda diz
Desta sorte tão ingrata
A quemada destroçando
Prantação e assim mostrando
O que tanto me martrata...

31032

Tanta inguinorança eu sei
Pode memo te assustá
Mais se eu tenho este luá
E conheço Deus e lei,
No que tanto em paiz sonhei
Posso o canto percurá
E se tento até cantá
Novo sonho mesmo fei
E tamanha inguinorança
Dos ricaço a sua herança
Espaiando fome e guerra.
Fui jagunço hoje cristao,
Ao abri meu coração
Bêjo em pais a minha terra...

31033

Nem tudo pode falá
Quem conhece a dô de quem
Trabaiano para arguém
Nunca pôde libertá
As estrela e o luá
Toda noite quando evem
Trais lembrença do meu bem,
Qui ficô notro lugá,
Coração de um sertanejo
Quano vê tantu desejo
Vórta a sê o di um minino
E sozinho na tapera
Na paioça sempe espera
Um encontro mais divino...

31034


Quano a térra há de cumê
Os meus sonho, notro dia,
Cada nova miludia
Cada encanto cumo o quê
Cum meus óio pude vê
Sertanejo im noite fria
Vai lembrano a puisia
E pércura só vancê
Cumpanhera dus meu sonho,
Tanto amô qui ti proponho
Tanta luiz desse luá,
Minha vida num se cansa
Na labuta da ispirança
Podê sempe ansim te amá...

31035


Nos premêro verso quano
Eu prindia a puntiá
A viola divagá
Coração num quis engano,
Do luá divino pano
A cubri todi lugá
Isperança a me tocá,
É di Deus divino prano,
Canturia sertaneja
Tantas veis já se deseja
E faiz bem ao coração,
Mas a dô di uma sôdade
Quano veim e nus invade,
Chora as córda u violão...

31036

Dus meu sonho fui robádo
Pru quem tanto desejei,
Se das bala mi isquivei
Tanto amô virô pecado,
Se é de Deus algum recado,
Esse sonho que sonhei,
Na sôdade merguiei
Foi aí que fui errado,
Num si deve imaginá
Passarinho coração
Nas hóra de ribação
Nunca fica num lugá,
Abre as asa e vai-se imbora
I quem fica sempe chóra...

31037

Péço a deus a proteção
Prás viage que hoje faço
Vô ganhano cada ispaço
Com as asa coração,
E si tenho a direção
Percorreno cada traço
Vou abrino sempe os braço
Pércurano a proteção
Dos meus anjinho da guarda
A morena qui me aguarda
Isperano um bêjo meu
Tanta dô se fez presente
Quano a gente andano ausente,
Mais amô nunca isqueceu.


31038

Tudo aquilo que se preza
Trago em mim e não me canso
E se tanto me esperanço
Luto contra a correnteza,
Mas da vida esta destreza
Da labuta sem descanso
Quando a paz decerto alcanço
Deixo além qualquer tristeza
Fonte aonde eu me sacio,
Onde outrora fui vazio
Muito embora sonhador,
Os meus versos vão às cegas
E se tanto enfim navegas
Novo porto a te propor...

31039


Já não posso ter comigo
O que tanto desejei,
No vazio eu mergulhei
E encontrei farto perigo,
O caminho em que prossigo
Se traduz no que não sei,
E se tanto eu já errei,
Insistindo, pois nem ligo,
Lido com a desventura
E se tenho esta candura
É que resta uma esperança
Onde o tempo me açoitara
Eu me preparando para
Novo tempo em que se lança...

31040


Dos amores que carrego,
Tantas vezes negação
Outra tanta indecisão,
Passo atroz, audaz e cego,
O meu mundo quando emprego
Do passado uma lição
Vencendo enfim a amplidão
Traz seara onde sossego,
Caminheiro do vazio,
Se deveras desafio
O meu canto não se cansa,
E se pude adivinhar
Onde existe algum lutar
Lá reside uma esperança.


31041


Barco sempre se à deriva
Preparando uma ancoragem
É preciso ter coragem,
E manter a fronte altiva
Se deveras sobreviva
Enfrentando outra viagem,
Minha vida é sem barragem,
Água boa é sempre viva
E o caminho para o cais
O que tanto me redime,
Solidão é como um crime
Que em temível punição
Desdenhando qualquer sorte
Traz em si a dor e a morte,
Naufragando a embarcação...

31042

Já não tenho mais os medos
Que deveras conheci
Ao te ver encontro em ti,
Das verdades seus segredos,
E refaço dos degredos
Tanto tempo que perdi,
E se agora tenho aqui
Mesmo em dias duros, ledos
Os enredos de outra trama,
A minha alma agora chama
E convida para a festa,
Solitário navegante
Pelo menos neste instante
Tanta sorte enfim se empresta

Nenhum comentário: