terça-feira, 20 de abril de 2010

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30219

Nefastos mensageiros do passado
Batendo em minha porta, noite afora,
E quando a poesia não ancora
O barco há tanto tempo naufragado,
Mergulho neste insano mundo errado
E a fonte em sofrimento que se aflora
Matando uma esperança desde agora,
O tempo se mostrando noutro fado.
Restando ao sonhador quem sabe um dia
Aonde com certeza poderia
Viver felicidade, mas aonde
O mundo se transforma e nada diz,
O meu olhar tristonho este infeliz,
Em que lugar diverso, o sonho esconde?

30220

Revoltos os cabelos de quem amo
Tocados pelo vento, em brisa mansa,
A sorte quando a ti, querida alcança
Sabendo do prazer que ora reclamo,
Não deixa qualquer dúvida e se eu chamo
Usando o verdejar de uma esperança
Ainda procurando esta aliança,
Não quero ser deveras servo ou amo,
Apenas companheiro de ventura
E tanto se mostrasse em tal ternura
Caminho desvendado pelo amor,
Seguindo cada passo rumo ao tanto,
Nesta beleza insólita, se eu canto
A vida se proclama num louvor...


30221


No casto olhar sobeja maravilha
E tendo esta emoção nada retém
O passo de quem busca por alguém
Enquanto luas claras a alma trilha
E sendo muitas vezes armadilha
O encanto que decerto já contém
Quem sabe desvendar e muito bem
Porquanto como um sol imenso brilha,
Esgotam-se meus versos na procura
De quem se fez além, doce ventura
E sabe transtornar enquanto acalma,
Assim ao me entregar sem mais defesa
Seguindo os rastros tantos da beleza
Entrego sem pudor; inteira, esta alma.

30222

Na palidez sublime do luar
Tocando a tua pele em noite imensa,
Minha alma a cada passo se convença
Da bela maravilha de te amar.
E tendo esta certeza a me tomar,
Pujante caminhada em recompensa,
Enquanto esta paixão decerto intensa
Não deixa sobrar nada em seu luar
Eu tenho esta feliz e rara messe,
E quando cada noite recomece
Contigo me entregando sem saber
Do quanto poderia em dor talvez
Gerando assim completa insensatez,
Mergulho sem defesas no prazer...

30223


Vermelhos olhos dizem do que tanto
Em dores perfilei os vários dias
E neles emoções são heresias
Coleto a cada não um novo pranto
Por vezes solitário eu me adianto
E tento disfarçar em poesias,
Ainda que deveras sejam frias
Palavras na verdade são meu manto.
E posso até tentar vencer o inverno
Eterno que domina a minha vida,
Mas quando se percebe sem saída
O quanto poderia ser mais terno
Jamais reconhecendo o meu final,
Teimoso; ainda tento em ritual...


30224


Nestes teus lábios quentes meu sossego,
Aonde poderia pelo menos
Viver dias mais claros e serenos
E neles com ternura novo apego,
Mas sei que na verdade sigo cego
Vencido pelos medos e venenos,
Seriam mais tranqüilos quando amenos,
Mas como se o vazio ainda nego?
Rescinde-se deveras o contrato
E quando mais ausente me maltrato
Regato em aridez nega a torrente,
E tendo tão somente um verso em mãos,
Os dias serão sempre assim tão vãos
Por mais que uma esperança se apresente.


30225


Das sensuais carícias porventura
Não posso mais negar algum resquício
E quando mergulhara em precipício
A vida sem ternura se amargura,
E tanto quanto posso em noite escura
Fazer de uma esperança velho ofício,
O mundo sem caminho, etéreo vício
Enquanto este terror doma e perdura.
Ferrenhos caminheiros noite afora,
Amor quando em amor já não decora
O tempo de sonhar vejo no fim.
E tudo o que pensara destruído,
Caminho totalmente sem sentido,
Renega mesmo o sonho de onde vim...


30226


Sanguíneas cores ditam meu futuro,
E tendo disfarçar tantos espinhos,
Aonde os dias fossem mais sozinhos,
Apenas encontrando ao fim o escuro.
E cismo contra a força, e me torturo
Ausentes dos meus olhos colos, ninhos,
E tento mesmo sendo em desalinhos
Momentos em que insano me aventuro.
Resisto vez em quando, mas não vejo
Sequer a menor sombra do desejo
Domando o que seria alguma luz.
E tendo o desvario como guia
Aonde se pudesse a poesia,
Somente esta mortalha me conduz...

30227


A foto amarelada na gaveta
O tempo não perdoa mesmo quando
O olhar em novo dia se tomando
Ao quanto foi feliz já me arremeta,
Quem dera a vida fosse algum cometa
E assim novo momento clareando,
Jazendo no meu peito este nefando
Caminho sem sequer desejo e meta,
Perdido em noite escusa, sem ninguém
Somente a solidão ainda vem
E torna insustentável minha vida,
A sorte que pensara fosse minha,
Há tanto se perdera e hoje daninha
Não sabe e nem procura mais saída...

30228

Torturas ditam prantos neste que
Durante tanto tempo imaginava
Que a vida fosse mansa, mas a lava
Domina o dia a dia e nada vê
Somente este vazio e ainda crê
Na sorte que deveras se escapava,
Enquanto a poesia for escrava
E o mundo se perder; amor cadê?
Nem sombra do que fora no passado
Apenas um momento que adorado
Previa melhor sorte no futuro.
Resíduo do que fora fantasia,
A morte se aproxima e propicia
Cenário amargo e torpe, sempre escuro...


30229

Aonde houvesse a rubra maravilha
Em fráguas mais constantes, nada veio
Somente a cada passo outro receio
Enquanto a solidão, fera armadilha,
Demonstra o passo a passo e não mais brilha
A sorte que deveras num anseio
Pudesse transbordar, mas nunca cheio
O copo da esperança agora humilha
Uma alma que palmilha em vão espaço
E a cada amanhecer logo desfaço
O todo que este sonho permitira,
Ainda que pudesse acreditar
Ser meu o raio imenso do luar,
Porém a terra roda e eterna, gira...


30230


Amando estes florais, jardins e cores,
Não pude discernir as falsas luzes
Aonde com terror tu me conduzes
Seguindo o teu amor por onde fores,
Medonha face expondo tais horrores
E neles tão somente vejo as urzes,
E quando poderia, reproduzes
A cada novo dia mais rancores,
Arrasto-me deveras e não vejo
Sequer o que talvez fosse ternura,
A vida sem razão tanto amargura
E nela algum sorriso, vão lampejo,
Não pode traduzir felicidade,
Enquanto este temor domina e invade...


30231

Amor por ser tão lindo e perigoso
Gerando a cada instante dor e glória
Enquanto face amarga e merencória
Por outro lado, riso pleno e gozo,
Assim este que é sempre majestoso,
Mudando o rumo inteiro de uma história
Por mais que se perdendo diz vitória
Por mais que tantas vezes caprichoso,
É nele onde me vejo mais alegre
E quando a minha vida mesmo integre
Persiste após tempestas, sendo assim
Eterno enquanto vivo num momento,
Delírio onde em tortura me apascento,
Início de um sobejo ou triste fim.


30232

Por ser de tantas flores, preferida
A rosa se mostrando em tanto espinho
Traduz a bela fêmea em seu carinho
E nela com ternura tanto agrida.
Mergulho nesta insânia e minha vida
Sabendo tão dorido o raro ninho,
E quando em teu perfume enfim me aninho
O corte preparado, outra ferida.
Assim ao me mostrar no amor inteiro,
Cuidando com afinco do canteiro
O tempo transcorrendo em água e sol.
Dourando com suprema maravilha,
Ao mesmo tempo dita esta armadilha,
Cegando e me guiando, qual farol...

30233


Repousa no seu leito a bela dama
E deixa que se veja seminua
Beleza assim exposta em plena lua,
Ternura que deveras quer e clama,
Acende a cada instante a fúria e a chama,
Minha alma neste instante já flutua
E vendo aquela deusa, assim cultua
Envolta por delírio em rara trama,
Assiduamente tento da janela
Vencer a timidez que se revela
E prisioneiro mesmo desta que
Ao se mostrar inteira não percebe
Quanto ilumina assim a imensa sebe
E embora assim exposta; nem me vê.

30234


Beleza se prateia em clara cena
E tudo o que pudesse ser assim
Tocando com ternura dentro em mim,
Minha alma ao ver teu corpo se serena.
E quando amor domina e me envenena
Reinando sobre todo este jardim,
O peso do passado de onde vim,
O sonho de um futuro concatena.
E creio ser possível ter no olhar
Além desta beleza a se mostrar
Sinceras luzes feitas deste amor.
E tanto me entreguei que neste instante
Ao ver este cenário deslumbrante
Em pleno inverno e eu morto de calor...


30235

Gorjeia o coração e ao longe escutas
Clamares de quem tanto te deseja
E a sorte desta forma sempre seja
Diversa da que outrora em tolas lutas
Dizia desta insânia, mas relutas
E quando toda a glória se é sobeja
O amor neste momento enfim viceja
Vencendo estas tormentas, toscas, brutas.
Assim ao se mostrar inevitável
O mundo molda em cor suave a amável
O dia mais feliz que porventura
Virá e me tornando bem mais forte,
Contendo toda a luz que nos conforte
Calando este vazio que amargura...


30236


Qual fora em plena noite um passarinho
Vagando em noite escura sem destino,
O coração audaz deste menino,
Procura por alguém qual fosse um ninho,
E tantas vezes segue em vão, sozinho,
Porquanto noutro encanto me fascino,
O amor sendo demais e cristalino,
Moldando novo encanto onde me alinho.
Recebo cada gole desta lua
E bêbado de luz nada contém
O canto enamorado deste a quem
A vida se mostrara enquanto atua
Gerando novo sonho a cada instante,
Um pássaro liberto e radiante...


30237


Quão delicada e amarga a vida quando
É feita em desventura ou esperança,
E quando o nada além do sonho alcança
O mundo pouco a pouco transformando
O que pensara belo num nefando
Momento aonde a fúria da lembrança
Aos poucos destruindo a temperança
Demonstra outro cenário se moldando
Do quanto poderia, mas não fora,
E esta alma tantas vezes sonhadora
Perdida em farta angústia, sem por que.
Assim ao me encontrar em noite fria,
Ausente dos meus olhos poesia,
Procuro qualquer luz, porém cadê?


30238


Sentindo o teu perfume inebriante
Qual fora de uma rosa, a mais bonita
A sorte se mostrando enfim bendita
Mudando toda a vida num instante,
Mergulho neste encanto deslumbrante
Uma alma sonhadora ora acredita
Na senda mais sublime e assim edita
A cada novo passo um diamante.
Porém realidade volta à tona
E toda esta ternura me abandona,
Restando para mim a solidão,
Silente noite em busca de horizonte
E nada nem a sombra já me aponte
Do amor e da esperança a direção.


30339

Alvura toma conta desta noite
Em plenilúnio vejo este cenário,
O amor quando demais, um relicário
E nele cada sonho que pernoite,
Embora a solidão sempre em acoite
Eu tento perceber qual visionário
Momento mais feliz, porém é vário
O sonho tão saudoso, vil açoite
E quando esta vergasta me entranhando
Rasgando a minha pele expondo os ossos,
Das velhas ilusões, meros destroços
E o que pensara outrora bem mais brando
Agora se percebe em dor imensa,
Mas mesmo assim amar sempre compensa.


30340

A boca carmesim de minha amada
Tocando com ternura lábios, pele
E a tanta maravilha me compele
Avança sem pudor a madrugada,
Agora nos seus braços caminhada
Enquanto em tal delírio já se sele
O amor que tantas vezes me compele
Tornando mais suave esta jornada,
Vencer os meus temores, ser só seu
Há tanto noutro mar sonho perdeu
A rota e do timão sequer sinal,
Mas quando me encontrei consigo eu pude
Rever a tão longínqua juventude
E amor se transformou fenomenal!


30341


Teu rosto gera em mim sonho diverso
E tento decifrar caminhos onde
Amor com tanta glória não se esconde
Usando em tradução somente o verso,
Pudesse enfim conter este universo
E nele toda a glória. A luz responde
E nesta maravilha enquanto sonde
Estrelas encontrando encanto imerso
Nos brilhos mais sutis daquela a quem
Eu dedicando a vida, já contém
Licores de raríssimo sabor.
Vivendo cada instante sem perguntas
As almas quando andando sempre juntas
Transcendem ao que fosse mesmo amor.


30342

Um astro navegando em céu imenso
Cometa que persigo a cada sonho,
E quando novamente me proponho
Viver amor por certo eu me convenço
Do passo pelo qual já recompenso
O dia mais atroz, duro e medonho,
Agora o meu caminho é mais risonho,
E sei do sentimento mais intenso,
Vencer os meus antigos desalentos
Bebendo com prazer dos vários ventos
Aberto o coração nada segura
Quem tanto se entregou e sem defesas
Seguindo com ternura as correntezas
De um belo amanhecer com tal brandura...


30343

Ao repousar decerto no teu colo
Depois de tantas noites solitárias
Enfrentando quimeras, procelárias
Encontro a maciez de um raro solo,
E quando me encontrando sem o dolo
Das duras tempestades, alimárias
E nelas alegrias temporárias,
O quanto de ternura em paz assolo,
Resisto aos meus tormentos e persisto
Lutando contra a força das marés,
E sei do quanto amor que tens, pois és
A deusa que buscara a cada instante,
E assim em tanto amor sabendo disto
O mundo se mostrara deslumbrante.

30344


A frialdade toma a primavera
Matando qualquer flor que ainda houvesse
E tendo este terror aonde a messe
Sublime a cada instante mais se espera,
O amor ao se mostrar temível fera
Gerando com horror a dor que tece
E toma cada instante eu tento em prece,
Somente este vazio degenera
O quanto fui feliz e não sabia,
Assíduo passageiro da alegria
Agora solitário nada tenho,
O amor que tanto quis, belo e ferrenho
Renega algum porvir e sendo assim,
Preparo a cada dia, o amargo fim...


30345


Sentindo em teu olhar a lividez
De quem imaginara novo sonho
E tendo este momento tão bisonho,
No qual com toda a dor já nem me vês.
Residualmente ainda tens na tez
O brilho solitário, mas tristonho,
E quando novo dia até proponho,
Passado neste instante já desfez
O que pudesse ser bem mais tranqüilo
Apenas o rancor ora desfilo
E beijo as tuas sombras, nada mais,
Agora o que se pensa é noutro porto,
Amor há tanto tempo semimorto
Já não resiste mais aos vendavais


30346

A noite me inundando de saudades
Trazendo esta lembrança mais atroz
E nada nem ninguém ouvindo a voz
Apenas se vislumbram tristes grades,
E quando novamente tu me invades
Qual fosse de teus rios tosca foz,
O amor que sempre fora vivo em nós
Agora não resiste às tempestades.
Medonha face vejo neste espelho
E quando vez por outra me aconselho
Resposta repetida: negação.
As aves que se foram noutro bando,
O medo em terror se transformando,
Sem retornar jamais a arribação.

30347


Enquanto se banhando em frio e neve
A vida não permite ao sonhador
Qualquer momento feito em tanto amor
E mesmo ao nada ser o sonho atreve,
Sem ter sequer quem possa ou mesmo leve
Aos mais sublimes mundos, tanto horror
Gerado pelo imenso dissabor
Uma alma que pensara ser mais leve
Agora não consegue se livrar
Das dores que carrega desde então,
Aonde imaginara algum verão
Somente neve e frio a me tocar,
Ausente de teus braços, o que faço?
O mundo se perdendo em ledo espaço...


30348

O fogo se espalhando em noites vãs
Transforma os meus momentos e percebo
Que amor não se mostrara só placebo
Traçando em alegrias amanhãs
E quando se delira em tais afãs
O encanto que me dás sobejo, eu bebo
E tanta maravilha enfim concebo,
Deixando para trás noites malsãs...
Pudesse ser assim, talvez um dia
O mundo novamente poderia
Traçar aurora clara em tal matiz
Gerando dentro em mim a primavera,
Mas quando a solidão doma e tempera,
O quanto desejei já se desdiz...

30349


A indiferença mata qualquer luz
E torna mais sombria a minha vida,
No quanto poderia, mas duvida
A mão que tantas vezes me conduz.
Risonho caminhar em contraluz
Espalha a cada verso a despedida,
E aonde se pensara mais ungida
Nefasta tempestade reproduz.
Cenário tão mesquinho do passado,
Agora novamente relembrado
Calado coração já não escuta
Sequer algum bafejo da esperança
E quando ao nada ter amor me lança
Afasto-me deveras desta luta...


30350


No gélido caminho envolto em medo,
Arrisco vez em quando algum alento,
Mas quanto mais procuro e me atormento,
Deveras poesia não concedo,
E sei já desde sempre o tolo enredo,
Urdindo dentro em mim o sofrimento,
Buscara ter somente um manso vento,
Mas quando em tempestade desde cedo
O mundo se transforma e nada tendo,
Somente este terror sem dividendo,
Resíduos de uma vida mais feliz.
A porta já cerrada agora impede
E todo o caminhar não mais procede
A vida a cada instante contradiz...


30351


A lava que se oculta em meus vulcões
Guardada sob a face de quem tenta
Seguir a vida em paz, mas violenta
Loucura se explodindo em expressões
Diversas quando a fúria tu me expões
E nem mesmo a ternura me apascenta
Assim nesta procura uma alma atenta
Sabendo da caçada e dos arpões
Não deixa que se faça em erupção
O dia mais terrível desde então
Gerado pela insânia de um vazio,
E quando me percebo solitário,
O amor ausente, e tanto necessário
Furor se afasta logo e assim me esfrio.

30352


Quando eu te falo em plena mansidão,
Usando desta calma que aparenta
Diversa realidade se apresenta
Tocando com tal brisa este verão,
Mal sabes da possível explosão
E nela a tez temível, violenta,
Porquanto uma alma insana não se ausenta
Apenas se calando, negação.
Vestindo a fantasia que inda resta,
Por mais que talvez seja tão funesta
A festa se negando desde quando
O amor que imaginei nunca existiu
E o coração que pensas ser gentil,
Aos poucos em tal fera transformando...


300353

Uma voz impassível disfarçando
A furiosa mente de quem tanto
Vencera com terror o desencanto
E mostra nova face, em tom mais brando,
O mundo que criara desabando
Cobrindo a minha pele escuso manto
E tudo se perdendo em tal quebranto,
A sorte noutra dor se transmudando,
Pudesse ser feliz, talvez um dia,
Quem sabe novo sonho moldaria
Tirando esta carcaça que recobre
Uma alma muitas vezes mais venal
Deixando ver a face mais banal,
E até quem sabe uma alma pura e nobre.


30354

Paixão que em frenesi domina uma alma
Daninha face exposta do prazer,
E quanto mais medonho posso ver
O quanto com terror, negara a calma
Nem mesmo a poesia que me acalma
Pudesse contra a fúria do saber
Ausente dos meus olhos o poder
De ter bem mais distante qualquer trauma,
E assim ao me sentir abandonado,
Nefasta realidade, amargo enfado,
Risonha tempestade no horizonte
Em brumas e neblinas tons grisalhos,
Procuro pelo menos por atalhos
Que volvam a sorver da rara fonte.


30355


O sol ardente toma este cenário
Num horizonte azul, brilhar intenso
Mas quando no que fomos inda penso,
O dia se transforma e sinto o vário
Terror moldando em dor o itinerário
Do quanto poderia menos tenso,
E assim ao me entregar, não me convenço
Sequer de um novo dia solidário.
A solidão é dura e quando enfrenta
As ânsias de uma luz gera a sangrenta
Batalha por momento mais gentil,
E tudo se perdendo num instante
O mundo que eu sonhara fascinante,
Somente o desespero então se viu.

30356


Ondeia sobre os vastos milharais
O vento transformando em áurea luz
Beleza que à beleza me conduz
Tornando tão sublime os mais iguais
Momentos onde em tons tão magistrais
Dourada face expressa e então seduz,
Neste horizonte aonde o olhar eu pus
Delírios em imagens divinais,
O teu cabelo espesso, a minha pele,
Loucura de um desejo me compele
A navegar caminhos belos, raros
E tendo em flavos sonhos a visão
Do amor gerando assim nova explosão,
Os pelos que me tocam; louros, claros...

30357


Docemente belo teu sorriso,
Enquanto me fascina e me provoca,
Amor não se contendo já se aloca
E bebe deste imenso paraíso,
Não deixa que se tenha algum juízo,
E sem aviso adentro rara loca
E quando minha boca a tua toca
Jamais é necessário algum aviso,
Vibrando na emoção de um beijo teu
Meu mundo no teu mundo se verteu
Um afluente apenas, nada mais,
E quando me percebo junto a ti,
Vivendo o que deveras mais senti,
Os dias se transformam, magistrais...


30358

Roseiras sangrentas num canteiro
Aonde poderia acreditar
Na bela compleição a se mostrar
Cuidada por um tenro jardineiro,
E quando desta cena já me inteiro
Não posso num instante desvendar
Segredos que se escondem ao luar
E da mortalha vejo o mensageiro.
Sanguíneas emoções a vida traz
A quem se deu além do que pudera,
A vida se transforma e quando a fera
A cada noite vibra mais audaz,
A morte se aproxima do jardim,
Reflexo do que ocorre dentro em mim...



30359


Andando pelos ares, poesia
Girando em carrosséis loucos, insanos,
E quando se pudessem mais humanos
Diversa desta imensa hipocrisia
O sonho noutro encanto se faria,
E quando fossem outros, soberanos,
Momentos muito além dos desenganos
A noite não seria assim tão fria.
Resisto ao perceber que ainda posso
Viver um doce alento teu e nosso,
Mas sinto ser apenas lenitivo
E ausente do que seja claridade,
Apenas fantasia me degrade
E mesmo contra tosos, sobrevivo...


30360


Noites desabrochadas em luar
Na prata que domina o meu quintal
Aonde poderia em triunfal
Momento sem temores tanto amar,
Não posso e nem devia caminhar
Sabendo desta insânia que fatal
Transcende ao grande amor e bem ou mal,
Resume o que não pude imaginar.
Imagens do passado no presente,
Angústia se tornando mais feroz,
E quando ainda escuto a tua voz,
O sonho mais feliz, ledo, pressente,
E tendo em minhas mãos, velhos sinais,
As dores que me deste, sempre iguais...


30361


Por entre este dourado em verdes campos
Resiste meu olhar e te procura,
O amor quando se mostra em tal ternura
Sublimes maravilhas, pirilampos
E tanto poderia ser assim
Quem sabe no final a imensa glória,
Porém a vida sendo merencória
Jamais traria paz ao meu jardim,
Jazigo da esperança, nada levo
Somente este fantasma de um amor,
Que a cada novo dia a decompor
Pensara mesmo fútil ser longevo,
E quando se expressando no vazio,
Ainda em ilusão um sonho eu crio...


30362

Teu perfil delicado mostra o quanto
Amor se faz maior quando se quer,
A divindade em forma de mulher
Espalha a cada passo seu encanto,
E saibas que te quero tanto e tanto,
Não sendo o meu amor comum, qualquer
Havendo nesta vida o que vier
Contigo sempre estou, e não me espanto
Sequer com as manias que tu tens,
E quando dos meus dias mais aléns
Dos vários sentimentos que possuo,
Em ti a cada instante e sempre mais,
O amor em sendas raras, magistrais
Deveras com ternura então flutuo...


30363


O amor que tranqüiliza quem caminha
Buscando pela paz tão necessária
Não tendo em sua frente a procelária
Sabendo ser a sorte inteira minha,
E quando na emoção ele se aninha,
A vida noutra vida em luminária
Transcorre tão serena aonde um pária
Vivera a sensação de alma sozinha.
Retendo o meu olhar em teu olhar,
Percebo a divindade que ora exalas
Palavras deste encanto são vassalas
Nas salas e nos quartos, farto gozo,
E assim ao me entregar sem ter limites,
Deveras tantas luzes que ora emites
Tornando o meu caminho majestoso...


30364


Percebo na paisagem mais bonita
O quanto no horizonte amor rebrilha
E quando se percorre a doce trilha
Uma alma mais feliz tanto palpita
E assim a cada passo em paz já fita
O céu em cores raras, maravilha,
E quando a fantasia em paz palmilha
Seara tão sublime, a mais bendita.
Risonha vida traça o dia a dia,
Apaixonadamente sigo em ti,
E vivo cada instante em que senti
O mundo noutro tom, e a poesia
Domando cada verso em paz e glória
Refaz o que pensara em tosca história.


30365


Quem poderia então traçar tal rosto
Senão um Deus sublime em perfeição,
E quando em teu olhar clara feição
O amor se mostra a nu, assim exposto,
O tanto que se quer suave gosto
Moldando novos dias que virão,
Traçando dos meus sonhos direção,
Gerando a paz imensa sem desgosto,
Viver esta ilusão e ter em mente
Que todo o grande amor quando se sente
Domina cada instante e me escraviza,
Assim da tempestade que ora vejo,
Aos poucos aplacando o meu desejo
Espero no final, suave brisa...


30366

Quem será se um artista em seu buril
Pudesse transformar a pedra em vida,
Assim tanta beleza em ti contida
Seria eternizada em tom sutil,
O quanto desta forma não se viu,
E nela o tempo mostra a despedida,
Mas quando feita eterna, não duvida
Quem nunca percebera ou pressentiu.
E quando a natureza em tom divino
Gerando tanta luz eu me fascino
E bêbado da glória de te ter
Emaranhando em teias mais perfeitas
Enquanto aqui desnuda, amada deitas,
Num Deus incomparável passo a crer.


30367


Não pude imaginar um ser mais belo
Tampouco poderia sendo assim
O amor que tanto invade e toma em mim,
Arando uma esperança em bom rastelo,
E quando tanto encanto aqui revelo,
Sabendo cada toque, chego enfim
A toda a maravilha e se hoje eu vim
Adentrar a ilusão em seu castelo,
Qual fora um cavaleiro de outras eras
Vivendo as mais sublimes primaveras
Tocado pela luz da lua cheia,
Minha alma extasiada em tanto brilho,
Outrora quase um pária, um andarilho
Ao ver tanta beleza se incendeia...


30368


Não há forma mais bela e delicada
Nem mesmo em silhuetas mais diversas
E quando tanta luz em mim tu versas
A sorte se mostrando iluminada
Qual fora um pleno sol na madrugada
Deixando no passado as mais perversas
Doridas expressões, sendas dispersas
Agora no teu corpo, emoldurada
A glória de um instante cristalino
E quando me percebo e me fascino,
Entranho paraísos nesta vida,
Quem sabe noutros dias poderei
Viver a plenitude sendo o rei
E tendo-te desnuda, adormecida...

30369


Sentindo este perfume que inebria
Ouvindo a voz macia de quem clama
Ao perceber eterna a rara chama
A vida não traduz só fantasia,
E vendo tão sobeja esta alegria
Que ao grande amor deveras sempre chama
Meu corpo neste instante te reclama
Enquanto escuto a voz da poesia,
Levando-me ao momento mais feliz,
Na fonte eternamente cristalina,
A voz inebriante da menina
Traçando na verdade o que mais quis
Resulta num momento inesquecível
E amor não se calando, inconfundível...

30370

No tranqüilo cenário em que te vejo
Andando mansamente em lua imensa,
E quando deste encanto mais convença
O mundo neste instante, num lampejo
Tomado pelas ânsias do desejo,
E nele de uma ausência outrora tensa
A sorte se transforma e mais intensa
A vida que deveras mais almejo,
Por vezes caminheiro do vazio,
Aonde quis a sorte nada vinha,
E tanto poderia, mas não minha
A glória onde às vezes eu me aninho,
Reside dentro em nós esta esperança
Que a cada novo dia mais avança...

30371


Perpassa sobre as curvas do caminho
O brilho deste olhar, raro horizonte,
E quando se percebe que desponte
O tempo clareando em raro alinho,
O quanto no passado fui mesquinho,
Até que conhecendo a bela fonte
Do amor que me decora e traça a ponte
Tomada com ternura em teu carinho,
Bebendo desta mina inesgotável
A vida noutro nível se apresenta,
E ausente dos meus olhos a tormenta,
O mundo finalmente mais amável,
Bebendo cada gota deste tanto
Em sonho inebriado, agora eu canto...


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Seguindo cada sombra desta que
Deveras ao guiar já me transtorna,
O amor que na verdade assim se entorna
Trazendo tanta glória em que se vê
Beleza sem igual na qual deslindo
Um belo alvorecer em raio claro
E tanto amor deveras te declaro
Sabendo deste encanto agora infindo.
Resumo meu sonhar em cada instante
Aonde possa ter além do todo,
Passara minha vida em charco e lodo,
Agora o meu caminho é deslumbrante,
Viceja dentro em mim a primavera
Amor quando demais amor tempera...


30373


Pareados seguimos vida afora,
Não tendo mais temores, nem segredos,
Aonde se esconderam velhos medos,
Somente a poesia agora aflora,
E o quanto deste sonho nos decora
Mudando com certeza tais enredos,
Os dias que vivera, toscos, ledos,
Nem mesmo a solidão volve e devora,
Resisto aos mais terríveis descaminhos,
E sinto em minhas mãos os novos ninhos
E deles perfazendo esta esperança
A vida não permite mais a queda
Caminho para o abismo o sonho veda
E sobre as cordilheiras já nos lança.

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