terça-feira, 20 de abril de 2010

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31171

Meu verso quantas vezes procurara
Palavra que pudesse traduzir
Momento mais tranqüilo no porvir
Diante de uma vida dura e amara,
Fugindo das amarras esperara
Um gozo mais audaz e ao impedir
A fúria que freqüento a se bramir
Enquanto a nova vida se prepara,
Sentir esta emoção domando a fúria
E nela sem tormenta e sem lamúria
Beber a tempestade corriqueira,
Assim ao se fazer mais libertário
Eternidade doma o calendário
Quando o sonhar se torna uma bandeira.


31172


Demônios que carrego há tantos anos
E deles não consigo mais calar
A voz ao impedir a luz solar
Compraz-se com temores, desenganos.
A vida se fazendo em novos planos
Os erros que cometo são humanos,
E nada impediria de lutar
Sabendo como é duro navegar
Enfrentando borrascas, velhos danos
E neste mar imenso, ondas tantas
E quando vendo as fúrias tu te espantas
A ventania intensa se desanda
E assim ao trazer tanta tormenta
Apenas o carinho te apascenta
E a lua polvilhando esta varanda...


31173


Imagem refletida espelhos d’alma
Eu pude discernir entre as vontades
Apenas sombreados, claridades,
O quanto se mostrara não acalma
E tendo a cada passo novo trauma
Portanto insuportáveis velhas grades,
Ainda que tentasse novidades,
Conhecido minha vida, palma a palma.
Saveiros de um passado mais atroz
Discernem portos onde possam ter
Ancoradouro mesmo em desprazer,
E a incúria vez em quanto toma a voz,
Do quanto ser feliz já não me afasto,
Um mote dito amor surrado e gasto...


31174


Ao se rir a ironia aflora e dita
A vida de quem tanto quis um dia
Aonde a nova história se faria,
E sei quanto verdade se é maldita,
Ao tanto se perder noite infinita
Não vendo qualquer luz que poderia
Luzir em lua cheia, e a poesia
A cada amanhecer tomando grita,
Não posso caminhar por sobre os astros
Tampouco reconheço passos, rastros,
Adentro esta emoção que tu geraste,
Amar e ser feliz a cada instante
Um sonho tantas vezes delirante,
Na lua com o sol belo contraste...


31175

Pois tu virás comigo embora eu veja
A tempestade ao fim de cada dia,
Jornadas onde a deusa poesia
Tomando cada cena mais viceja
E tudo o que se quer, uma alma almeja
É ser feliz e nesta fantasia
Marcada pela sorte se irradia
E torna esta seara mais sobeja,
Vestindo uma ilusão quem tanto busca
A vida sem terror, não sendo brusca
Permite ao navegante sem procelas
Viagem pela vida mais tranqüila
E quando a noite estrelas já desfila
Traduz a claridade que revelas...


31176


Constelação de luzes mais diversas
Mosaico colorido em noite imensa,
Do quanto ser feliz quem me convença
Ditando toda a sorte aonde versas
Falando destas sendas que dispersas
Uniste como rara recompensa,
Ao quanto poderia em sorte tensa
E tanto com prazer tu desconversas,
Vencido pela doce sensação
Dos dias mais suaves que virão
Traçando no horizonte claridade,
E tendo com ternura cada passo,
O amor ocupa enfim um vasto espaço
E dita com candura a liberdade...


31177


Na chaga que eu herdara a cicatriz
Tomando cada espaço não permite
Que ainda a dor passada volva e grite,
O mundo quando em luzes já não diz
Do quanto se mostrara este infeliz
Vivendo muito aquém do que acredite,
A vida discernindo o seu limite,
Ensina ao coração tolo aprendiz,
Vencendo estas venais vicissitudes
E a cada novo dia que tu mudes
Verás com mais ternura o amanhecer,
Assim sabendo a sorte caprichosa,
Herdando este canteiro, em toda rosa
A primavera enfim vai renascer...


31178


Os erros que cometo dia a dia,
Enganos de quem tenta ser feliz,
Assim ao se mostrar um aprendiz
A sorte desejada já se adia,
E nada do que tanto em paz queria
Contrariamente a vida por um triz
Errando bar em bar, este infeliz,
Já não conhece mais a luz do dia,
Sarjetas, botequins... o meu passado
E ao ver novo caminho em paz traçado
Resisto aos meus demônios e prossigo,
Agora na certeza de outra luz,
O passo que deveras me conduz
Traçando sem temor um bom abrigo.




31179

Fantasmas que enfrentei por toda a vida
Demônios entre fúrias e terrores,
E quando procurara pelas flores
A sorte se prepara em despedida,
Não pude acreditar, e sei perdida
A fonte destes versos sonhadores
Morrendo entre mortalhas, dissabores,
Enquanto a realidade sempre agrida,
Vestindo a mesma roupa em rotas cenas,
As noites que buscara mais serenas
Apenas tempestades, temporais.
O amor quando se fez incandescente
No fundo não sabia quanto a gente
Precisa vez em quando de algum cais...


31180


A cada gargalhar da vida insana
Esboço reações, mas nada faço
A dor tomando espaço após espaço
Aos poucos novamente tanto engana,
O corte mais profundo, a voz profana
Amor que reconheço, cada traço,
E quando se pensasse noutro laço
A morte com temor já desengana,
Festejos do passado e no presente
Silêncio em bares, luas e cometas,
Enquanto nada trazes ou prometas,
Uma alma solitária, esta demente
Adentra tão somente nas tabernas
E assim entre vazios tu me internas...


31181


Sem ter caramanchões nem alamedas
As ruas que polvilho com saudade
Falando das entranhas da cidade
Aonde com ternura me concedas
Momentos mais felizes, tardes ledas
E delas cada sombra que me invade
Mostrando cada fria realidade
E quando mal percebo; tu te enredas
Tomando de partida este cenário
Sabendo ser amor bem necessário
E tanto se traduz em riso e pranto,
Mas quanto mais audaz a minha voz,
Eu sinto bem mais forte o duro algoz,
E mesmo assim, dorido ainda canto.



31182


Sem ter sequer jardim aonde eu possa
Colher nem mesmo as flores que cevara
No velho coração, torpe seara,
Aonde a dor adorna e já se apossa,
Sem ter a poesia que remoça
Sem ter a noite em paz que se declara
Em lua maviosa bela e rara,
Sabendo que a ternura não é nossa,
Errático procuro em paz um canto
Aonde mergulhando sem quebranto
Quimeras que vislumbro me assombrando
Sem ter qualquer alento, sigo assim,
Um simples espantalho sem jardim,
A própria natureza se negando...

31183


Rastejo imerso em sóis e tento ver
A claridade imensa que não via
E dela se fiasse a fantasia
Traçando ao me negrume o amanhecer,
Em tantas turbulências pude crer
Apenas no que a sorte ainda guia,
E morto em vida bebo esta agonia
Gerada pelo anseio em desprazer.
Arguto? Muitas vezes ou sutil,
Nefasto, enamorado ou tolo engodo
Um pouco deste quase ou mesmo todo
E quando a realidade se sentiu,
Poeta abrindo as asas no horizonte
Aonde o que imagina reina e aponte...


31184


Fugaz e numa ausência mais cruel
Terrivelmente imerso no meu ser,
Alvissareiro canto eu passo a ter
E dele se adivinha qualquer céu,
Aonde este cometa em carrossel
Vagando em noite imensa posso ver
E quando se dourando amanhecer,
Azulejado enfim, suave véu.
Mas nada do que tanto desejara
Amor ou mesmo um braço mais amigo,
E quando solitário e em vão prossigo,
Silente em vida fria, tola e amara,
Voltando do escritório, fim de tarde,
Que o dia novamente não retarde...


31185


Por já não ser quem fora no passado
Os dias renascendo em cores várias
Essencialmente sei tão necessárias
Palavras que me tragam o recado
Do quanto poderia e sem enfado
Depois das noites frias, tolas, párias
As sendas mais sublimes, luminárias.
E tudo se transforma noutro prado
Aonde vicejasse esta esperança.
E quando a realidade agora alcança
Poeta sonhador se vê desnudo,
E tanto poderia, mais não tive,
Revejo cada cena e nunca estive
Um mundo tão gigante, mas miúdo...


31186


Do pouco que inda resta tento ver
Momento aonde o dia renascesse
E tendo esta certeza, nego a prece
E sinto o meu passado revolver,
Residualmente encontro o desprazer
E nele cada corte me obedece
A vida noutra vida não se esquece
E busca o que pensara já perder.
Restando ao coração luta sombria
E desta realidade não fugia
Quem sabe e reconhece algum tropeço,
Vestindo a fantasia de bufão
Poeta sem caminho ou direção
Recolho cada engodo que eu mereço.


30187

Morrendo sem qualquer chance de luta
Eu vejo o meu retrato a cada esquina,
A sorte que deveras me fascina
Porquanto entregue à força imensa e bruta
O quanto poderia ser astuta
Não tendo nova luz, enfrenta a sina
E tanto quanto pode se ilumina
Usando da palavra, não reluta.
E tenta disfarçar em versos frágeis
Ao dias que pensara serem ágeis
Em ágios tão diversos já cobrados.
Os ritos costumeiros não mais trago,
E tento desairoso algum afago
Aonde os dias foram desolados...



30188


Se a despedida nega qualquer brilho
Encontro não refaz o que perdemos,
E quando se procuram pelos remos
O barco naufragando em falso trilho,
E quando novo rumo ora palmilho
Diverso do que tanto merecemos,
Não pude desvendar o que perdemos
Nem mesmo o coração tolo andarilho.
Resisto aos mais complexos dissabores,
Esgoto a minha força nesta luta,
E tanto se pudesse quem me escuta
Ainda revolver jardins e flores,
Marcando a ferro e fogo cada verso,
Vazio após o nada este universo.


30189


O corte do arvoredo nesta rua
Aonde nós sonhamos quando infantes
Os dias que se foram, deslumbrantes
Imagem se mostrando amarga e nua.
E quando a mesma história continua
Deixando para trás dias brilhantes,
O quanto poderia por instantes
E apenas solidão, domando, atua.
No gole de cerveja, bares, festa,
Sabendo desde nada que ora resta
Resíduos de um momento mais feliz.
Ao se ver arvoredo destruído
É como se podasse e sem olvido
Futuro desde agora se desdiz...


30190


Daquele temporal comum há tanto
Não resta sequer brisa, a vida passa,
E tudo tensionando, esta fumaça
Demonstra o que cevei em desencanto.
O parto sonegado, a morte, o pranto,
Arbusto da esperança nesta praça
E o gole mais amargo da cachaça,
No fundo ao me rever, calado, espanto.
Um dia imaginara ter nas mãos
Além deste futuro em belos grãos
A força incomparável. Juventude.
Mas nada do que fora se persiste,
Retrato que vislumbro amargo e triste,
Porém no coração. Mesma atitude...


30191

Granizos e nevascas, duro inverno
O tempo preconiza o meu final,
E quando poderia triunfal,
Nos ermos do não ser assim me interno
Tentando algum momento bem mais terno
E nele ter um rito magistral,
Aonde se perdera sempre igual
Momento doloroso, torpe inferno,
Assisto à derrocada deste sonho
E quando um novo dia em vão proponho
Resiste-se ao meu canto a realidade,
E tendo como fonte de ilusão
Apenas este amor a ingratidão
Herdeira do não ser tomando, invade.


30192


Nada mais poderia contra quem
Por vezes espalhara em voz sombria
Realidade tola em que se via
O mundo que vazio não contém
Sequer a menor sombra deste alguém
Que há tanto sem perguntas já partia
Tornando bem atroz a noite e o dia,
Medonha fantasia, sonho aquém.
Resisto quando tento desvendar
As causas desta insana despedida,
Porém ao caminheiro sem saída
No imenso labirinto já sem voz,
A morte se tornando um quase alento
Se a cada novo engodo me atormento,
O mundo que me sobra, o mais feroz...


30193


O rosto quase estúpido daquela
Que tanto se fez minha e não queria
A sorte renovada dia a dia
E apenas falsidade me revela,
O quanto do passado a vida sela
E traz em novo tom esta heresia
Mortalha que ilusão tosca tecia
Prepara tão somente agora a cela,
E vejo sem futuro a caminhada,
Audácia não permite qualquer luz,
E tanto quanto ao nada me conduz,
Gerando turbulência em madrugada.
Risonho passageiro do passado,
Agora em tempo sórdido e nublado...


30194


Uma amizade opaca e sem ventura
A fonte da ternura se desfez
E quando se mostrara insensatez
Diversa do que tanto se procura,
A vida novamente me amargura
Ainda que deveras já não vês
O peso desta espúria gelidez
Inverna o que pensara em noite pura.
Agora carregando simplesmente
Mortalha do que fomos só prevejo
O fim do belo sonho aonde um dia
A sorte noutra luz se mostraria,
Porém da imensidade, só lampejo.


30195

Nesta luta incessante pela vida
Vencido e vencedor unidos vamos
E quando se percebem outros ramos
A sorte demonstrada mais unida
Permite que se veja uma saída
E nela quando em gozo desvendamos
Caminhos pelos quais nós entranhamos
A sorte não trará mais despedida,
Assim se concebendo da união
Insofismável força se acredita
Na senda mais audaz, pois infinita
Traçando novos tempos que verão
Um bem comum, embora esta utopia
Expresse tão somente a fantasia.



30196


Canalhas são algozes do futuro
Reféns de uma horda pútrida e voraz
O quanto se demonstra mais capaz
Gerando a cada dia imenso muro,
Se quando inutilmente inda procuro
Qualquer caminho e nada satisfaz
Quem tem no seu olhar força tenaz,
Enfrenta qualquer tempo, mesmo escuro.
Brumosa realidade em tez sombria,
Num turbilhão imenso vida e corte,
Quem sabe se propondo novo norte
A vida não refaz a alegoria
Aonde ser feliz é mais plausível
E não somente assim, quase impossível.


30197

A sorte em despedida nega o fato
Aonde um brilho tome este cenário,
No canto mais suave de um canário
Por vezes ilusão inda retrato,
O amor que tanto quis por ser ingrato
Mudando em solidão o itinerário
Traduz este senão desnecessário
Rasgando da esperança algum contrato,
Resisto muitas vezes ao que penso
Ser quase mais um tempo a devorar
As ânsias de quem tanto quis amar,
E quando noutro encanto me compenso
Expresso a negação feita em terror,
Matando pouco a pouco algum amor...

30198


Ausência do que fosse uma amizade
Ternura mais alheia a quem se deu
O tanto que pensara ser só meu
E o dia a dia amargo já degrade,
Porquanto uma ilusão me desagrade
Espalha com terror realidade,
E o peso do viver sempre pendeu
Enquanto a sorte alheia se escondeu,
Jogada nalgum canto, atrás da grade.
Agraciado às vezes pela sorte,
Não posso ter somente o sofrimento
E quando noutros braços me apascento,
Encontro com ternura um manso norte
E assim sem ter sequer medo eu prossigo,
Fazendo de mim mesmo um grande amigo.



30199

Tropical coração procura a paz
Embora tempestades sejam tantas
E nelas quantas vezes tu quebrantas
Porquanto o passo seja mais audaz,
E quando não pudesse em contumaz
Caminho entre quimeras; agigantas
Deixando para trás e quanto cantas
A tua voz aplaca a dor mordaz.
Anseio por momentos onde eu possa
Viver a fantasia tua e nossa
Sabendo ser feliz, ao menos isso,
Arcando com os dias mais doridos,
As sortes entre sonhos esquecidos,
Singrando novos prados, eu me viço.


30200

A lâmina fatal, o corte fundo,
O risco de viver não me abandona
E quando a realidade vem à tona
O quanto de prazer ainda inundo,
Sabendo o coração mais vagabundo
Do nada ou mesmo pouco se inda adona
Esquece a fantasia e já ressona
Vivendo o paraíso mais fecundo.
Residualmente trago dentro em mim
As dores e os tormentos costumeiros,
Mas quando se percebem os canteiros
E neles perfumoso e bom jasmim
Eu creio ser possível nova senda,
Aonde uma alegria já se atenda.



30201

A luta já vencida contra o medo
Permite que se creia na manhã
Aonde não se vendo em luz tão vã
O sol que enamorado eu te concedo,
A coerência dita este segredo
E nele confirmando o meu afã
Sabendo que terei novo amanhã
Refaço a cada passo o mesmo enredo
Incontrolável canto aonde eu tento
Tomando com ternura o pensamento
Vencer os dissabores dia a dia,
E tanto se fez meu o que eu buscava
Esta alma que jamais se fez escrava
Conhece deste sempre uma alforria.


30202


Meu canto se tornara mais feliz
No pouco que talvez ainda diga
Do quanto a sorte em paz se faz amiga
E toda esta tristeza já desdiz.
Resisto aos meus momentos, pois feliz
E nada do que tanto desabriga
Enquanto a própria luz promove a liga
Unindo o que deveras bem mais quis.
Alhures vejo a sombra do que fomos,
E tudo se desfaz em toscos gomos,
Realidade mata a fantasia,
E não podendo ter esta colheita,
Apenas no vazio se deleita
Quem tanto procurou e não sabia...



30203

Destas rosas distantes; sombra eu vejo
E apenas os espinhos e as daninhas
E quando no passado foram minhas
Tomando com ternura meu desejo
Sabendo do vazio não prevejo
Sequer outros momentos, noutras linhas
As flores das espículas vizinhas
O amor se demonstrara em pranto e pejo.
Resisto ao que pudesse ainda dar
Momento de alegria, mas ausente,
Apenas o tormento se pressente
E nele não se pode cultivar,
Estradas tão floridas? Nunca mais,
Perfumes hoje são residuais...


30204


Em que profundidade eu poderia
Saber onde escondeste nosso amor?
E tento mesmo quando em dissabor
Viver a paz em rara fantasia.
Mergulho no passado e o que me guia
Apenas o terror e ao me propor
Num tempo feito em glória e sem calor
A vida se tornara em agonia.
Agônico caminho para quem
Vencendo os seus temores pode ver
Ainda que tardio o amanhecer
E quando a bela aurora toma e vem,
O olhar se perde além neste horizonte
E busca um sol divino que se aponte...


30205


Esperança em terrores demonstrada
A fome não permite novo encanto,
E quando se mostrara em tosco manto
A vida preparando uma emboscada,
Açoda-me o temor de nova estrada
O peso me vergando em farto espanto,
E tento em desalento, e quando canto,
A voz sem ter razões segue embargada.
Eu tanto acreditara no futuro
Eu tanto imaginara um dia bom,
Mas quando a realidade dita o tom,
A cada novo não se me amarguro
Percebo ser assim inutilmente
O amor que sempre vejo mais ausente...


30206


Amor nos engrandece, mas bem sei
Dos seus momentos frágeis e se tento
Buscar alguma luz, o pensamento
Desvia o que deveras procurei,
Riscando do futuro o que sonhei
Se quando vejo apenas desalento
O quadro se demonstra em sofrimento,
E tudo destroçando a velha lei
Ditada pelo sonho adolescente
Do encanto que deveras se apresente
Dourando a minha vida tão sombria.
E quando me permito acreditar
Ausente dos meus olhos o luar,
Como seria então um novo dia?

30207

A vida que se faz em dor e riso
Expressa maravilhas e terrores
Assim ao perceber por onde fores
O quanto cada sonho é tão preciso
Embora se acumule o prejuízo
E nele se perfaçam tantas dores,
Não posso desvendar os teus pendores
E ao mesmo tempo crer em algum siso,
Sisuda companheira de desdita,
No quanto se propõe enquanto excita
Sonega uma ventura mais ousada,
E assim entre o viver e o nada ter,
Pendulo muitas vezes sem saber
O quanto poderia ou mesmo nada...

30208


As horas onde nunca pude ter
Sequer algum momento de alegria
Enquanto a realidade desafia
O tempo se transcorre sem se ver,
Ausente caminhada em desprazer
E todo o meu viver já se porfia
Envolto nesta espúria fantasia
Tentando adivinhar o que há de ser.
Resido no vazio e nada trago
Senão esta impressão de dor e estrago
Riscando cada linha desta agenda,
Não pude conhecer qualquer ternura
E tanto quanto a vida me tortura
Sem ter sequer prazer que ainda atenda...


30209


Ao teu lado podia desvendar
Caminho que talvez trouxesse paz,
Mas quanto mais feroz, duro e falaz
O tempo não se deixa transformar
E o corte a cada não sinto tomar
O peso do viver não satisfaz
E o encanto que buscara ausente paz,
Não deixa qualquer sombra de luar.
Existo e talvez creia ser bastante
Por mais que na verdade se adiante
A vida não me traz felicidade.
Mergulho nesta insana caminhada
E tendo sempre o não como alvorada
O tédio, simplesmente assim me invade.


30210


Vontade de saber por onde andaste
Depois de tantos anos, solidão,
E quantas novidades mostrarão
Causando cada dia outro desgaste,
E tanto poderia em tal contraste
Saber das tempestades de verão
E mesmo novos dias mostrarão
O amor que pelo amor já não notaste.
Assim ao se fazer mais necessário
O mundo se transforma e em tal cenário
Assisto a minha face deformada.
E tento qualquer forma de otimismo
Sabendo no final imenso abismo
Da vida em vida amarga, desolada.

30211

Excedem forças tantas heresias
Aonde se pudessem mais benesses
O quanto do vazio ainda teces
E nele tantas vezes tu recrias
Momentos onde dores e agonias
Gestando tão somente as velhas preces
Porquanto na verdade não mereces
Além das mesmas noites vagas, frias.
Estive muito aquém do que talvez
Amor não mais gerasse insensatez
E tudo o que não vês inda mostrando
Caminho bem diverso do que agora
Ao tanto que não vi e se demora
Transcende ao se jamais se fez nefando.

30212


Amor em suas trilhas poderia
Traçar novo momento mais suave
Enquanto a realidade sempre agrave
Matando o que talvez fosse alegria,
E tendo a realidade dia a dia
E nela uma esperança seja a nave
E tanto se pudesse ser uma ave
Em brando delirar a fantasia
Alçando a liberdade mais audaz
Sabendo o que em verdade satisfaz
Quem tenta inutilmente ser feliz
A morte me açodando a cada instante
Portanto que deveras se adiante,
Refaz o que este sonho já não quis.


30213


Entrega-se ao perfume mais ferrenho
O peso desta insânia que consome
Ainda vejo olhar e nele a fome
Mudando o caminhar e não mais venho
Buscando o que deveras já contenho
E quando a fantasia ao longe some,
O peso do viver sequer se dome
Matando o que sonhara e não retenho.
Assiduamente busco um horizonte
E dele se percebe cada fonte
Minando em águas turvas, poesia.
O quanto ser feliz não é mais crível
E assim amar se fez quase impossível,
E tudo o que busquei não conhecia...


30214


O quanto do meu sonho foi cruel
E tudo não se fez senão destarte
E a sorte se mostrando sempre à parte
Cobrindo a minha vida em tosco véu,
Eu sinto ainda assim amargo fel
E tento, mas sincero sou descarte
E nada do que pude ao sonegar-te
Geraste a tempestade em torpe céu.
Corsário da ilusão amor não deixa
Sequer que se perceba qualquer queixa
E alheio aos meus caminhos não mais vê
A vida se tornando assim vazia
A porta da esperança não se abria
E o mundo se mostrando sem por que...



30215

A cada canto vejo outro cenário
E nestes mesmos tantos que se vê
O peso do passado diz por que
O amor não mais seria necessário.
E não percebo apenas no adversário
O quanto em desmazelo a vida crê
Tampouco me entranhando se revê
A cena que restou qual relicário.
Expondo esta verdade mesmo quando
O tempo se mostrasse em novo ardil,
A vida na verdade não previu
Sequer o que pudesse transtornando
E vejo retratado este vazio
E nele sem sucesso e em vão porfio.


30216



Quem nos quer governar se inda pudesse
Saber além do nada que apresenta
Mudasse esta razão tão violenta
Fazendo muito mais que a simples prece,
Cordeiro quando grita, sabe e tece
Que a vida em servidão não apascenta
E mesmo enclausurado ainda tenta
Saber se a liberdade dita messe.
Risível camarada do passado
Agora este bufão mal disfarçado
Explora a dor alheia e não tem pejo.
Um dia após a velha tempestade
Aonde a calmaria venha, agrade
É tudo o que deveras mais desejo.


30217


Não sabe controlar sequer seu rumo
Quem tenta comandar a nossa vida,
E tendo desta forma mal urdida
A história se perdendo em tolo fumo,
E quando novamente eu já me aprumo
Preparo a cada verso uma saída
E tendo já de cor a despedida,
Deveras com terror não me acostumo.
Exumo-me dos erros do que outrora
Mostrara a face imunda onde devora
Atocaiada presa, mas não quero
Saber desta figura tão nefasta
Minha alma pouco a pouco já se afasta
Deste sorriso espúrio amargo e fero.


30218


A cada porta vejo retratado
A face deste estúpido falsário
E sei que na verdade tal cenário
Traduz a vida feita em vão enfado,
Riscando já de agora do passado
A sombra deste ser tão temerário
Mudando com certeza meu fadário,
O peso não suporto, desolado.
Resisto aos meus anseios, nada levo
E tendo este caminho mais longevo
Não posso permitir a recaída,
Retrato na parede? Amarelado,
O gosto deste sonho malfadado
Jamais permitiria o bom da vida...

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