sexta-feira, 30 de abril de 2010

31351 até 31600

31561

Negando qualquer fonte ainda que tardia
A vida não permite além do mesmo vão
E quando se concebe aquém de uma ilusão
Do todo que sonhara apenas fantasia
E assim a realidade ainda mais se adia
Mudando com certeza o rumo e a direção
Ainda acreditando em sonhos que virão
Moldar realidade aonde não pudera
Deixando com terror ausente a primavera
E nisto o meu caminho exposto aos temporais
O sonho se mostrando ao menos num momento
Quem sabe com ternura enfim em paz me alento,
Mas sei quanto isto é sonho. A paz? Ah. Nunca mais!

31562

Amor providencia a dor e a luz
E assim dicotomia se percebe
Aonde esta emoção deveras bebe
E ao passo mais diverso nos conduz,
Pudesse caminhar em contraluz
Desvendando os segredos desta sebe,
Mas quando mais se quer, menos recebe
Aquele cujo sonho reproduz
Imagem variável deste sonho
E nele a cada verso que eu componho
Vislumbro estes nuances e se tanto
Bebesse desta glória e me calasse
Talvez não mais teria algum impasse,
Talvez no dia a dia puro encanto.

31563

Se jamais pudesse errar
Quem procura uma esperança
E ao vazio já se lança
Esperando algum lugar
Onde eu possa descansar
Em torrente bem mais mansa
E o vazio que se alcança
Nada deixa vislumbrar
Solidão tomando a cena
Nem a glória me serena
Nem o sonho satisfaz
Se eu tivesse este poder
E do amor já reviver
O que fora outrora em paz.


31564

Ao levar dentro desta alma
Alegrias e tristezas
Encontrando as incertezas
Nem a dor decerto acalma
E pudesse palma a palma
Entender estas vilezas
Bem diversas das grandezas
Transformando o sonho em trauma
A funesta realidade
Ao trazer quem desagrade
Dita a minha solidão
E pudesse ser diverso
Noutro rumo este universo,
Novos dias desde então.


31565

Se talvez me transformasse
Em quem tanto quis um dia
Ao viver tal fantasia
Se mostrando face a face
Não restando mais impasse
Nem tampouco uma ironia
Quando amor, amor recria
Novo tempo, mesmo enlace.
Resistindo a quem devora
Com terrores desde agora
Eu percebo mais feliz
O meu passo rumo ao quanto
Com prazer então eu canto
Nem a vida contradiz.


31566

Ao seguir tão maltratado
Por quem tanto amor eu dei
Ao sentir eu mergulhei
Nas entranhas do passado
E sabendo ter herdado
Ilusões eu quis ser rei
E se tanto assim errei
Nada existe em meu reinado
Tão somente a fantasia
Invadindo assim a torre
E sem nada que socorre
Esperança já se adia
E morrendo a cada instante,
Meramente um vil farsante.

31567

Quando estamos assim sós
Eu procuro te encontrar
E pudesse em céu e mar
Ter quem ouça ainda a voz
De quem sabe ser feroz
Solidão e quer mudar
O caminho e demonstrar
Novamente raros nós,
E se fosse sempre assim,
Ao te ter perto de mim.
Eu encontro segurança,
Mas a vida se negando
Todo amor já sonegando
Ao vazio ela me lança.

31568


Cada passo outro atentado
Minha vida se repete
E deveras me compete
Ter o rumo transformado.
Mas se tenho delicado
Coração que assim reflete
O mergulho que se vete
Não traduz o combinado,
Vivencio esta incerteza
No que tanto quis leveza
E decerto agora eu sigo
Solitário caminheiro
Quis um dia jardineiro,
Mas morrendo sem abrigo.


31569


Já não quero me ausentar
De teus dias nem dos nossos
E se ainda dos destroços
Procurando outro lugar
Encontrando num luar
Muito além de meros ossos
Dos momentos em que poços
Aprendi a perfurar
Com palavra a lavra trama
A verdade mais audaz,
E se ainda satisfaz
O que fora plena chama,
Fogaréu que me incendeia
Dita a lua agora cheia.


31570

Onde tanto quis cuidado
Nada tive senão isto
E se ainda não desisto
Com certeza sigo errado
Caminheiro do passado
No que fora inda resisto,
Tantas vezes eu persisto
Em cenário desolado,
Ao beber da fantasia
Farta luz que me inebria
Já não traça uma resposta
A minha alma se transcende
E deveras só depende
Desta sorte, decomposta...


31571


Refém de uma ilusão pura de amor
Vivendo cada instante sem pensar
No quanto poderia maltratar
Cevando a cada dia este louvor
Viver a fantasia sem me opor
E ter num só momento inferno e altar
O quanto se recebe por amar
Recende mais à espinho do que à flor
E tento perceber somente os bons,
Pudesse ter enfim tais raros dons
E não sentir a dor que agora invade.
Mas quando te aproximas e te vejo
Renasce com fulgor cada desejo,
Bonança justifica a tempestade.

31572

Miragem deste pobre sonhador
Que tanto desejara um só momento
Aonde em tal ternura me apascento,
Mas logo me embebendo em tanta dor,
Pudesse noutro instante recompor
Deixando para trás o desalento,
E sei quanto é doído, mas eu tento,
Viver esta emoção seja o que for.
E quando me percebo realmente
Sozinho, sem ninguém, de tudo ausente
Eu vejo quão inútil ser assim.
E volto ao dia a dia em medo e mágoa.
A fonte que pensara abençoada,
Voltando a conhecer o mesmo nada,
Apenas no vazio ora deságua.

31573

Do amor que imaginei; Imagem passa,
E nada após o tanto que eu queria,
Apenas me tomando a fantasia
E o desencanto agora, a vida traça,
Do quanto mais quisera, mera traça
E tudo se puindo não teria
Sequer algum alento ou alegria,
Realidade segue, ausente graça.
Encontro vez em quando algum vestígio,
Mas logo esta verdade em vão litígio
Traduz o que meus olhos já não vêm.
Seguindo em solidão, pouco me resta,
Aonde imaginara gozo e festa,
Acordo e de manhã: não há ninguém!

31574

Parece que se encontram bem defronte
Dos olhos de quem tanto ou mais quisera
Além da solidão, temível fera,
O amor que se perdera no horizonte,
Caminho sem ter nada que me aponte
E sigo a solidão que destempera,
E quando cada sonho degenera
Apenas tanta bruma no horizonte.
Resisto o mais que posso, e até procuro
Vencer em paz um dia a dia escuro
Num céu que tão grisalho já desdiz
O sonho de poder felicidade
E quando a vida assim tanto degrade,
Como é que eu poderia ser feliz?

31575

Ao ver uma cortina de fumaça
Tampando o que seria uma visão
E quando me percebo em solidão,
A vida como o tempo se esfumaça,
Realço esta vontade, mas escassa
A luz que me ilumina, e só virão
As dores percebidas desde então
Num solitário rumo de alma lassa.
Vencido pelo quanto imaginara
E a vida que bem sei não ser tão clara,
Apenas poderia num momento
Traçar uma ilusão; ao menos isto,
Mas como nada vem, logo desisto,
E a cada instante mais eu me atormento.

31576

Minha alma já vai perdida
Neste desencanto aonde
Toda a sorte ora se esconde
E se trama assim a vida,
Ao não ver sequer saída,
Outro tempo em nova fronde
Por mais terras que inda sonde
Só encontro a despedida,
Dos meus sonhos, nada trago,
E se tanto sem afago
Como posso acreditar
Num momento mais feliz
Se o meu mundo contradiz,
E não tenho onde aportar...

31577

No segredo dessa vida
Que procuro desvendar
A tristeza a mergulhar
Não permite decidida
Uma história que duvida
Deste tanto imaginar,
Nesta ausência de lugar
A verdade sempre agrida
Quem por vezes fez do sonho
Um caminho mais risonho
E não tendo nem resposta,
Procurara inutilmente,
Tanta dor que se aparente
Minha face ao vento exposta.

31578

Perdão, não custa pedir
Eu bem sei quão dolorido
O caminho percorrido
Procurando um bom porvir
E sabendo desistir
Deixo a sorte em ledo olvido,
Morro e tento, distraído
Novo encanto hei de seguir,
Onde houvera alguma luz,
Passo a passo ao não conduz
E deveras sigo assim,
Como fosse a primavera
Bem distante do que espera,
Na aridez deste jardim.

31579

Sei que a vida vai sofrida,
E por vezes tanto tento
Outro dia, ou novo intento,
Mas a história noutra urdida
Traduzindo a despedida
Onde quis algum alento
E se vejo o sofrimento,
Expressando a minha lida,
Quero apenas um segundo
De alegria e me aprofundo
Nestas teias da ilusão,
Mal sabendo que deveras,
Tendo mortas primaveras,
Não terei sequer verão...

31580


Foi tudo o que eu consegui,
Embotar cada momento
Em terrível sofrimento,
Quando estava junto a ti,
Acredito que perdi,
Mas se algum caminho invento
Perco o rumo e o desalento,
Novamente o que colhi.
Sendo assim, o que fazer?
Bem distante do querer
Só consigo o desvario,
Mas insano caminheiro,
Mesmo quando em espinheiro,
Com as rosas fantasio...

31581

Nem precisa repetir,
Esta história eu já conheço
Não mudando de endereço
Refletindo o meu porvir,
Duro mar sempre a bramir
Nesta ausência, e até mereço
Qualquer dor, qualquer tropeço,
Reconheço o que há de vir.
Mergulhara em sonhos vãos,
E se tanto ouvira os nãos,
Não procuro mais o sim.
Resistindo tão somente,
A mortalha se pressente,
Pouco a pouco eu teço o fim.

31582

Nem me chamar de safado;
Muito menos visionário
O sonhar é necessário,
Mesmo quando em rumo errado,
O rosário desfiado
Em tormentas, mas corsário
Coração é temerário
E revive o já passado
Num momento em que me vejo
Sou refém deste desejo,
Nada aquém ou nada mais,
O meu barco sem ter porto,
O meu sonho semimorto
Sempre exposto aos temporais...

31583

Não precisa cataclismo
Pra que eu possa perceber
Quanto a vida em desprazer
Beira sempre ao mesmo abismo,
E se tanto ainda cismo
Na procura de um querer
Onde nada pude ver,
Nada impede o pessimismo,
Procurando soluções
Quando a verdade me expões
Eu percebo que sou nada,
Vejo assim já retratado
No futuro o meu passado,
Mesma história decorada...

31584

Bem sei quanto estou errado,
Ao seguir em pleno escuro,
Mas se amor é o que procuro
Solidão, duro legado,
Caminhando sem ao lado
Ter alguém eu me amarguro
E se ainda em solo duro
De que vale o meu roçado?
Muitas vezes poderia
Ter além da noite fria,
Em que a lua se escondeu,
O vazio refletindo
Nesta noite o medo infindo
Traduzindo o que sou eu.

31585

Pequei, já não tenho cisma
Dos meus tantos desenganos
E nos dias mais profanos
O vazio noutro prisma
Vai mudando e quando abisma
O meu passo noutros planos,
Muitas vezes mais enganos,
Mas errática inda cisma,
E galgando o que pudera
Ser além desta quimera
Conhecida há tanto tempo,
Onde outrora quis remanso,
Novamente nada alcanço
A não ser mais contratempo.

31586


Eu sei, confesso o pecado
De tentar felicidade
E se tanto esta saudade
Pouco a pouco dá recado,
Nada resta e em tanto enfado
Desencanto é realidade,
Tendo a dor que desagrade
Novo amor? Já malfadado.
Caminheiro do vazio
Onde mesmo eu me recrio,
Volto a ter em passos falsos
Os engodos repetidos,
Os enganos dos sentidos
E deveras tais percalços.

31587

Por real ou por vintém,
Cada tempo novo preço,
Mas deveras obedeço
O que o coração contém
E sabendo do desdém
Quanto amor eu ofereço,
E volvendo ao meu começo
Outra história e o mesmo bem.
Poderia ser diverso
Do que tanto procurara,
Mas a vida não aclara
Continua escuso o verso
E se tento navegar,
Mais distante vejo o mar...

31588
Tanta morte por contrato,
Tanta dor disseminada
Ao sentir a mesma estada
Onde agora eu me retrato,
Nada tendo em novo fato,
Dor que sinto encaminhada
Ao mostrar em caminhada
Onde ainda me maltrato,
Eu persisto, mas bem sei
Do vazio desta lei
Onde o tempo já não conta,
A saudade em mim desfilo
Novo passo outro vacilo
Tantos que perdi a conta...

31589

Nunca respeitei ninguém,
E também jamais pensara
No que tanto desabara
Onde amor nada contém,
Se pudesse novo bem,
Mas a vida desampara
E se torna mais amara
Mal importa o que ela tem,
Resistindo ao que pudesse
Ser talvez uma benesse,
Mas no fundo é temporal,
Tento um rito bem diverso
E se ainda teimo e verso
O vazio é meu final.

31590

Eu fiz de sangue, um regato
E bebendo gota a gota
Minha vida agora é rota
Cada engodo em vão constato,
Se eu pudesse, desacato,
Onde o todo já se esgota
Caminhando em nova rota,
Eu veria um novo fato,
Mas se tento dirimir
O que tanto no porvir
Mostrará em desengano
Nem que eu tente alguma fuga,
A verdade não se aluga,
Já se fez imenso o dano...

31591

Sei o quanto errei também,
Ao tentar ser mais feliz
O que em vida se desdiz
A saudade não convém
E mergulho em outro bem
Onde quer ao menos quis
E se ainda um aprendiz
Persistindo muito aquém
Do que tanto poderia,
Mas a noite quando é fria
A vontade mais aumenta,
E se ainda não pudera
Ter em mim a primavera,
Entranhando esta tormenta.

31592

Pois perdão; peço de fato,
Se ao tentar trazer as luzes
Semeando velhas urzes
E secando algum regato,
O que ainda desacato
Com terror tu reproduzes
Quando trazes tuas cruzes,
O meu passo é tão ingrato,
Já não tendo outro segredo
Dos meus sonhos, mero e ledo,
Nada resta do que possa,
A palavra trama o fim,
Tanto espinho no jardim,
Ilusão somente nossa...

31593

Desse reinado sem rei
Deste mundo sem limites
Mesmo quando inda acredites
Eu bem sinto quanto errei
E se em nada mergulhei,
Nada tendo não permites
Ou talvez já delimites
Os caminhos desta grei,
Desafio em voz serena
O que tanto fora pena
Hoje apenas calmaria,
Sendo assim, agora invento
Muito além do sofrimento,
Muito aquém da poesia.

31594

A não ser essa esporada,
Onde a vida tanto ensina
Solidão jamais foi sina,
Noutro tempo, descartada,
Quando agora traça o nada,
E também já não fascina,
A saudade determina
Novo rumo ou nova estrada;
Mergulhando no vazio
Quantas vezes desafio
O que um dia fora sonho,
Nada resta neste intento
A não ser o sofrimento
Vez por outra, mas medonho...

31595
Nada da vida levei,
Tantas vezes procurara
Outro tempo sem escara
Outra sorte noutra grei,
E se em nada mergulhei,
Nada tendo, nada pára
Nada resta e nada ampara
Eis assim da vida a lei,
E se eu sei dos descaminhos
Os meus dias são sozinhos
E os meus ermos sempre expostos,
Os olhares não encontram
Quando os sonhos desencontram
Nunca mais serão repostos.

31596

Dessa vida levo nada,
Tanto quanto recebi,
O que tive lá e aqui
Representa a malfadada
Caminhada nesta estrada
Onde nada percebi
Do que outrora concebi,
Sem saber de uma guinada,
Passo a passo o descompasso
Mesmo quando o sonho eu traço,
Vejo apenas esta ausência,
Poderia pelo menos
Noutros dias mais serenos
Dos teus olhos, a clemência...

31597

Não sei mais quantos matei,
Dos meus sonhos mais felizes
E se tanto em cicatrizes
O caminho em que trilhei,
A saudade dita a lei,
E se ainda contradizes
Novos sonhos, aprendizes
Dos que tanto desvendei
Poderia num momento,
Mas se tanto eu me atormento
Nada trago dentro em mim,
Servidão já não conheço
Cada tempo tem seu preço,
Mas ausente algum jardim.

31598

Matei muitos, de emboscada,
Nas angústias da tocaia,
Quando a vida assim espraia
Outro tempo diz do nada,
Quanto amor em outra alçada,
Nada vendo nem a praia,
Cada dia que se esvaia
Outra história desolada,
Risco o nome do futuro,
E se ainda assim perduro
Neste tanto que inda tento,
Ao saber do que não vem,
Continuo muito aquém
Do que um dia quis alento.

31599

Todo ser sobrevivente,
Que encarara os temporais
Ao sentir o nunca mais
Onde o tempo se apresente
Sem ter nada onde apascente
Onde outrora foi demais
Traduzindo no jamais
O que ainda cisma e sente,
Não saber do todo, o nada
E seguir diversa estrada,
Mas ao nada enfim chegar,
Repetindo a mesma história
Procurando uma vitória
Só não sei em que lugar.

31600

Bebi medo de serpente,
Tive sonhos mais diversos
E perdendo o rumo, os versos
Tudo traça num repente
Cada dia em que se invente
Muito além dos mais perversos
Outros rumos e universos,
Noutro encanto que se tente,
Posso ver amanhecendo
Com olhar claro estupendo
De quem sabe o que procura,
Mas que faço se esta vida
Novamente tanto agrida
E persista sempre escura...



31551

No quanto suporte
Viver por esporte
Sem ter que conforte
Negando este aporte
A vida diz morte
Se nunca comporte
Viver ledo porte,
Aprofundo o corte
O todo se aborte
Aonde fui forte
Que tudo se entorte
E morro sem norte
Assisto ao transporte
E pouco me importe
-O amor que se exporte-

31552

Negando este fato
Aonde não posso
Falar do que é nosso
E o nada retrato
Quisera um regato
E assim não endosso
O mero destroço
Rasgando o contrato
Percebo no fim
O quanto podia
Tanta fantasia
Porém no jardim
A roseira morta,
O sonho se aborta...

31553


Vencido por quem
Meu sonho trouxera
Audaz primavera
Já nada contém
E assim sem ninguém
O que me tempera
A doce pantera
Dos sonhos além
Reside e resiste
Embora tão triste
Seja meu legado,
O amor que inda trago
Traduz este afago
Há tanto sonhado.

31554

No rastro do sonho
Cometo o pecado
De estar sempre errado
E tanto tristonho
Às vezes proponho
Além do riscado
E o quanto enfadado,
Mesquinho eu me oponho
Ao passo voraz
Que tanto se faz
Na noite mais rude,
Viver poesia
E ter alegria
Bem mais do que eu pude...


31555

Sobeja esperança
Aonde meu passo
Embora tão lasso
Ainda se lança
Sonhada aliança
Marcando o compasso
E nele este traço
Dita temperança
Mergulho no quando
E ver me tomando
A glória de quem
Soubera cerzir
Com paz seu porvir
Imenso este bem.

31556

A voz não se cala
Em falsa promessa
Amor se processa
Tomando esta sala
A vida é vassala
De quem tendo pressa
Jamais se confessa
E quando não fala
Marcando com zero
O todo que espero
E diz retrocesso,
Assim na palavra
Do amor que se lavra
Sonho e recomeço.


31557

Pereço se o todo
Aonde eu me dera
A sorte não gera
Além deste lodo
E quando me podo
Resisto à pantera
Bebendo da espera
Diverso seu modo,
Espelho a vontade
De ter claridade
Aonde inda insisto,
Traçando o que sinto
Mesmo quando extinto
Amo, logo existo.

31558

Vital sentimento
Que traz a alegria
Enquanto podia
Ser só sofrimento
A cada momento
O todo porfia
E gera a vazia
Palavra que ao vento
Jogada sem nexo,
Apenas reflexo
Do que não mais sinto
E vendo o futuro
Se tanto amarguro,
Pros sonhos extinto...

31559

Esboço de vida
Assim eu pensava
Na vida que entrava
E nega a saída
A quem não duvida
Da fúria da lava
A maré mais brava
Gestando a ferida,
O barco, o naufrágio
A cobrança em ágio
A sorte maldita,
Assim decomposto
Pagando este imposto
Quem pensa e medita.

31560

Nestas redondilhas
Que faço em soneto
Se engano cometo
Também falsos trilhas
Das tais armadilhas
Amor não prometo
E sendo discreto
Do amor quero pilhas
O meu travesseiro
Em luas já feito
Tomando o meu leito
E quando me inteiro
Do doce marulho
No amor eu mergulho...



31541

Soneto, um coitado
Sem sorte na vida
Aonde fingida
Mostrando este fado
Por onde é traçado
Toda despedida
A sorte surgida
Não deixa legado,
Assim se percebe
Diversa esta sebe
Aonde se mata
Camões não merece
Tampouco se esquece
Quem tanto maltrata...

31542

Falando de sorte
Não tenho outro rumo
Se eu bebo este sumo
Preparo este corte,
E tanto fui forte
Agora eu assumo,
O mundo consumo
Do jeito que aporte,
Aborta esperança
Enquanto se lança
Palavra em vazio,
Refeita a surpresa
Ao por esta mesa,
Jamais me sacio.

31543


Chorando esta sina
Assim desvalida
E tanto sofrida
Em que desatina
A morte domina
O que fora vida
E agora duvida
Secando esta mina,
Retrocesso eu traço
E sei quanto o passo
Pudera diverso,
Vencido por ter
Na vida o prazer
Sobejo de um verso.


31544

Guardando o rebanho
Nas ânsias do ser,
Matando o prazer
Seguindo o que estranho
Vencido e sem ganho
Labuta a perder
E nada a colher
Num solo tamanho,
Palavra lavrada
Com todo cuidado,
Não vale o recado
E sinto esta estada
No não que se fez
Mera insensatez.

31545

Pecados eu trago
E sei do perdão,
Mas quanto senão
Tormenta num lago,
E se o bem afago
Em outra versão
Total solidão,
Do medo me alago;
Resulto do quanto
Ainda e portanto
Não vejo outra luz
Somente a que agora
Aos poucos decora
Liberto da cruz.

31546

Aprendo o caminho
Sem urzes suave
Na voz que se agrave
Preciso ir sozinho,
Não quero este ninho
Se é feito da trave
E dele sem nave
Atroz o carinho
Ou mesmo se ausenta
Gerando a tormenta
Aonde um amor
Reinara sem tréguas
Distando mil léguas
Deste Redentor.


31547
Percebo em vivência
O quanto se traz
No amor feito em paz
Sagrada inocência
E tendo a clemência
Verdade se audaz
Permite e é capaz
De tanta potência.
Amar e sentir
Sobejo elixir
E nele entranhar
Sabendo do brilho
Aonde polvilho
Raios de luar.

31548

Urgente é viver
E ter a certeza
Do amor que se preza
Estendendo o ser
Além do poder
Além da incerteza
Se eu creio em beleza
Mereço saber
Da glória que tanto
Cobrira alvo manto
Daquele que é Pai
E vivo em perdão,
Também meu irmão,
No amor que não trai.

31549

Colhendo, cultivo
E sei do que posso,
O amor sendo nosso
Dele não me privo
E somente vivo
O sonho em que endosso
Além do destroço
O ser mais altivo,
Riscando este céu
Grande fogaréu
Imensa riqueza
E nele decerto
O amor não deserto,
Sobeja nobreza.



31550

Pudesse meu verso
Falar da alegria
E rir da agonia
De um mundo perverso
Se tanto inda verso
No quando podia
Calar fantasia
Ou mesmo disperso,
Mas nada mais cala
Uma alma avassala
O amor à verdade
Guiando meu sonho
Se em verso componho
Deidade me invade.




31531

Amor diz talento
E quando procuro
O canto eu te juro
Alegria alento
E busco um momento
Ainda que escuro
Vislumbro o futuro
Mato o sofrimento
Amigo, compadre
A sorte é confrade
De quem a merece,
Assim caminhando
Em solo nefando,
No amor rara messe.

31532

Ouvindo do mar
Lamúrias diversas
As horas perversas
Não posso contar
Reinado solar
As luzes imersas
Mudando as conversas
Fazendo sonhar,
Mergulho em marulho
E assim já me orgulho
De ser sonhador,
Vivendo a ternura
Que a vida procura
Nas ânsias do amor.

31533

Tampouco se esquece
Quem tanto porfia
E traz na alegria
Espécie de prece,
Ao ver o que tece
Rara fantasia
Santa alegoria
Amor já merece,
Não quero calado
Mantendo o passado
Quem bebe o futuro,
O solo se arando
Num tempo mais brando
Abranda se é duro.

31534
Ao menos se vê
O quando ou talvez
Quando a lucidez
Ditando um por que
E nela se crê
Sabendo da tez
Morena em que fez
Amor já revê,
O passo bem dado
Caminho traçado
Nas tramas de quem
Somente deseja
O quanto é sobeja
No amor que contém.

31535

Ao menos pudesse
Falar noutro canto
Do quanto me encanto
Na voz em que tece
O amor tal benesse
E tão raro manto
Matando o quebranto
E nele comece
O dia em tal face
Que nada mais grasse
Somente a alegria
Podendo saber
Do quando o prazer
Amor fantasia.

31536

Cidade pequena
Morena menina
O verso me nina
A sorte serena
Também envenena
E assim me domina
Dobrando esta esquina
A saudade é plena
A lua deserta
Bebendo da incerta
Ternura que um dia
Vivera amiúde
Sem ter juventude
Resta a poesia...

31537

Em torno da vida
Pergunta e resposta
Assim cada aposta
Há tanto perdida
Sem ter nem saída
A porta é composta
Da dor, fina crosta
Aos poucos urdida
Nas tramas do amor
Nas tramas do sonho
E assim me proponho
Sabendo o valor
De quem já batalha
E enfrenta a navalha.


31538

Levando comigo
Além do que peço,
Aonde o tropeço
Ditando o perigo
Se tanto consigo
E nada mereço
Às vezes começo
Traduz desabrigo,
Resisto às metralhas
Enquanto batalhas
Não vês o que eu sinto,
Amor que pudera
Agora se é fera
Sem luz segue extinto.

31539

Silenciosamente
O passo que dou
Do quanto restou
O pouco já mente
E se sou descrente
Também se hoje eu vou
Transcendo ao que sou
No quanto se tente
Vencer com palavra
A dor que já lavra
E doma o cenário,
Amor eu bem sei
Se a dor dita a lei
Quanto é necessário.


31540

Resisto às tempestas
E tento algum cais
Em tais temporais
Abrindo estas frestas
Aonde tu gestas
Dias magistrais
Andejos astrais
Dos sonhos as festas
Arestas aparo
Amor sendo raro
Merece um alento
E assim não receio
E mesmo se alheio
Eu bebo este vento.


31521

Pudesse sonhar
O sonho feliz
Que tanto já quis
Não posso contar
Estrelas no mar
A vida desdiz
E tanto condiz
Com quem quer brilhar
Saber deste encanto
Aonde se canto
Procuro estribilho
Viver esta instante
Real deslumbrante
Que agora eu palmilho.

31522

O quanto se sele
Amor noutro amor
E trama em louvor
E assim já se atrele
Enquanto compele
Saber redentor
E nele esta flor
Tocando esta pele
Produz arrepio
E tudo eu recrio
Num mote se há luz
Amar é saber
E ter o poder
Que manso seduz...

31523

Enquanto já passa
A vida e não vejo
Cumprido o desejo
E sei quão escassa
E cedo esfumaça
Apenas lampejo
E nele prevejo
O que não se traça
Nem mesmo pudera
Se alimento a fera
Que existindo em mim,
Não deixa que veja
A glória sobeja
Pela qual eu vim.

31524

Ao ser o ninguém
Que tanto evitava
Somente esta clava
Ainda contém
A fúria que vem
E quando esta lava
Numa alma adentrava
Traçando o desdém,
O vento sem rumo,
O quanto eu me aprumo
E a queda remete
Ao todo que tento
E sei sofrimento,
Mas tento o confete...




31525
Andando perdido
Sem rumo na vida
Assim despedida
Num passo remido
No canto sofrido
A sorte perdida,
E tudo se acida,
Tortura o sentido,
Refém deste vago
Procuro um afago
Ao menos que possa
Calar a tristeza
Servir noutra mesa,
A glória que é nossa...

31526

Se crucificada
A sorte que tanto
Pudesse em encanto
Mudar esta estrada
Dura caminhada
E nela levanto
A voz e me espanto
Ao ver sempre o nada,
Tivesse nas mãos
Além destes nãos
Um dia tranquilo,
Mas sei do vazio
Aonde recrio
O que não desfilo.

31527

A vida sem nexo
Medonha faceta
E nela cometa
A mais do que sexo
O quanto eu me anexo
No imenso cometa
E sendo completa
Mesmo se perplexo
Percebo alvorada
E tudo se alçando
Num passo tão brando
Velando esta estada
No quanto pudera,
Sem dor e sincera.

31528

Terror, retrocesso
Caminhos de dor,
Guardando o rancor
Negando o progresso
E tanto me expresso
Falando de amor
E até sem pudor,
De novo eu começo.
Mas sei do vazio
E ninguém responde
Aonde se esconde
Quem já fantasio
Bebendo esta sorte
Resulto na morte.

31529


Do peso da vida
Da vida entranhada
A sorte selada
Já não vê saída,
E sem despedida
A morte traçada
E quando diz nada
Pudesse esquecida.
Resisto em coragem
E tento a viagem
Que tanto queria
Vencer o meu medo
Saber do segredo
Beber poesia.

31530

Peçonhas à parte
A vida não nega
E nunca sossega
Nem mesmo o descarte
Prepara com arte
A senda sonega
A morte que é cega
E tanto reparte
Os louros da glória
Viver é vitória
Apenas completa
No ciclo fatal
Raro ritual,
Paisagem concreta.


31511

Se eu vejo em sua face decomposta
A trágica verdade de uma lida
Ausente de esperança e já perdida
No quanto em nada feita e assim deposta,
O peso do viver adentra a costa
E molda a cada não a despedida,
Enquanto se pensara até ungida
A morte que decerto agora tosta
O passo sendo assim imperceptível
E nele qualquer um se é corruptível
Tentando subornar a realidade,
Fugir do que é real não adianta,
Apenas vou tecendo o luto e a manta
Que a cada novo dia mais invade...

31512

O amor por ser senhor quando é vassalo
Domando este cenário aonde possa
Além de qualquer queda abismo ou fossa
Ouvir quando em silêncio mesmo eu falo,
No toque sensual algum estalo,
E quando a minha vida disso endossa
O fato de poder ser e se apossa
Permite, cada sonho, executá-lo.
Vestir a fantasia que me resta
E ter mesmo se for alguma fresta
Ao menos redenção da própria luz
Na qual eu acredito e me proclamo
Ao ser o teu escravo se eu sou amo
Contradição sobeja nos seduz.

31513

A morte que se esconde em cada esquina
E dita com desdita a nossa sorte,
Porquanto ao sonegar do sonho o aporte
Ao mesmo tempo doma e até fascina
Enquanto vez por outra me alucina
E sei que a profundeza deste corte
Gerando no abissal o fatal norte
E dela a própria vida molda a mina.
Resido após o nada de onde vim,
Quem sabe noutro tempo outro jardim
Ou mesmo no vazio, ninguém trama
Resposta convincente, mas a fé
Garante por si só e se assim é
Não sou tão meramente simples chama.

31514

Aperto o passo ao procurar resposta
Que possa dar quem sabe algum alento
Quando vazio eu percebi provento
A mesa estava eu te garanto posta
E tanto vejo o que talvez exposta
Em face vária não cabendo o intento
Podendo mesmo perceber o vento
Tocando forte esta vazia costa
E ao adentrar a poesia dita
A sorte leda e quem se fez maldita
Podendo ao menos conceber um pouco
Do todo ou nada em que tentou verdade
E quando enfim ao rebentar a grade
Talvez eu possa parecer-te louco.

31515


Quem tanto andara neste mundo ao léu
Ao perceber quanto já fora atroz
O mundo aonde escutaria a voz
Deste vazio caminhar cruel
Tentando ao menos receber do céu
A sombra audaz de quem se fez feroz
E concebendo tão inúteis nós
Reverte o tempo ao contemplar o véu
Por onde tanto acreditou num dia
Em que vencendo este terror se adia,
E nada além do que se pode crer
Traria aos olhos um porvir diverso
Daquele agora que expressei num verso
Matando a senda onde busquei prazer.

31516

Quem dera em vida eu percebesse um norte
Depois de tanto procurar em vão
E sendo assim ao mergulhar num grão
Percebo a vida em seu total aporte,
E vejo mesmo o que pudesse em corte
Trazer a glória e me fazer irmão
Daquele em quem ao conceber perdão
Percebo a vida muito além da morte,
Sedento sonho em que talvez eu possa
Saber infinda a caminhada nossa
E ter nos olhos a certeza enfim
Do Amor que tanto procurei em paz
E agora em luz esta palavra traz
Moldando em mim, monumental Jardim.


31517

Irmão do sonho o concebido amor
Aonde posso ao caminhar saber
Da imensidade do eternal prazer
Que no perdão eu aprendi compor.
E vejo claro esta divina flor
E nela creio ao me entregar, viver
Momento mágico onde eu posso ver
A dimensão deste sutil sabor
E nele a vida banqueteia a paz
Urdida face bem maior e audaz
Certezas tantas de momentos bons
E neles tendo a dimensão dos dons
Percebo enfim do que já sou capaz
De ouvir de estrelas os sobejos sons...

31518


Destino amargo ao se traçar vazio
Encontra a fúria e não conhece a glória
Não quero sempre assim a mesma história
E em canto alegre este terror desfio,
Soubesse a sorte e não saber do frio,
A dor jamais ao penetrar memória
Faria da alma esta sutil escória
Nem mesmo o sonho se mostrara um fio.
E tanto posso ao caminhar feliz
Vencer e ter esta certeza em paz,
Do quanto posso e me mostrei capaz
Procuro agora o que este encanto diz
E sendo a vida a majestade em luz,
Somente amor ao conhecer conduz.

31519

Se brutalmente o meu viver se fez
Vazia noite percorrendo o nada,
Jamais eu pude conhecer a estrada
E dela ausente ou muito além não vês
O que pudesse te trazer talvez
O encanto raro e se saber amada
Enquanto a vida pelo amor alçada
Traduz em todas emoções porquês.
Não resistindo ao que ora trama o andor
Dos círios tantos e das luzes raras
Ao menos posso sem saber escaras
Viver enfim o tão maior amor
E nele ser bem mais que mero sonho,
Podendo ter o quanto em luz proponho.


32520

Incompreendido e muitas vezes quieto
Calando a fúria de quem sabe vão
A vida feita sem saber perdão
E nela amarga este sabor dileto
Do encantamento do maior afeto,
E quando posso na aridez do chão
Cevar a sorte e mergulhar o grão
Meu ciclo aqui já perceber completo.
Viver assim esta divina senda
Que tão somente o grande amor desvenda
E ser semente de um momento em glória
Mudando ao menos o caminho aonde
A estrela guia mais feliz se esconde
Traçando em mim ao renascer vitória.



31501

No calo de uma mão trabalhadora
No olhar de uma esperança de outros dias
A cada marretada, poesias
A vida desta forma sempre fora,
E nela se encontrando a promissora
Manhã feita em sobejas alegrias,
E quanto mais felizes fantasias
Maior a força nela propulsora,
E assim nos operários corações
Promessas de quem sabe bons verões
Colheita em festa e glória diz futuro,
No intenso caminhar cada lavoura
Aonde Deus se vê e tanto doura
Caminho redentor, mesmo se duro.

31502


Por quanto a vida traz dor e ternura
E assim ao se mostrar diversa face
Enquanto muitas vezes não mais trace
Senão tanto terror em que amargura
A senda que pensara em tese pura,
Porém o dia a dia já desgrace
Gestando invés de sonho algum impasse
Gerando qualquer dor, leda loucura.
Mananciais trazendo em seus aportes
Às vezes soluções em outras cortes
E assim ao se tentar perceber quanto
A vida se mostrasse mais suave,
Enquanto a realidade tanto agrave,
Traçando outro caminho em desencanto...

31503

Ao redimir meus erros se traduz
A dor que noutra face poderia
Ainda me trazer pós agonia
Um resto, pelo menos, desta luz,
Mas sei quando o vazio reproduz
Invés de sorte a morte da alegria
E tanto quanto ainda bendizia
Uma esperança tola em contraluz,
Resisto às variantes desta vida,
E teimo contra tudo e contra todos
Porquanto reconheço enfim os lodos
E tento em pleno charco uma saída,
Embora labiríntica loucura
Sonegue em tom feroz, esta procura...

31504


Saber da poesia que entorpece
E tanto pode ser maravilhosa
Enquanto a solução por vezes glosa
Traçando como em bela e doce prece,
E quando noutra senda se esvaece
Ainda mesmo assim é majestosa
A imagem de um espinho e de uma rosa
No quanto à fantasia ela obedece,
Poeta tem nas mãos este buril,
E nele muito além do que se viu
Ou mesmo se sentiu em noite vaga,
Assim à tal deidade recendendo,
Porquanto novo tempo irá tecendo,
As sombras do futuro; assim afaga.

31505


A vida libertina de quem tenta
Sagrar com poesia o que ora sangra,
Encontra neste mundo cais nesta angra
Por vezes pós a fúria da tormenta,
Audaciosamente a voz profana
Ditando com palavras o que tanto
Pudesse traduzir e já me espanto
No quanto a própria vida nos engana.
Cigano sentimento, amor em medo,
Sabendo discernir dor e alegria
Fazendo ou ao conter uma sangria,
No todo ou parte dele eu me concedo,
E neste enredo dito em voz diversa,
O sonho em cada frase assim se versa.

31506


Por vezes entre sonhos já cismava
Quem tanto decidira acreditar
Nas tantas heresias do lutar
E nele cada corte diz da trava,
E sendo a vida assim, ou gelo ou lava
Diversa poesia a se mostrar,
No quanto poderia sonegar
O passo em que vazio já se dava,
Montanhas ou nos grandes abissais,
Momentos dolorosos, triunfais,
A vida não permite previsões,
E quando se percebe este non sense
Do quanto possa ser não se convence
Jamais aprenderemos tais lições...


31507

Aos poucos apodreço em plena vida
E sei que se perdendo qualquer rumo
Do quanto poderia em mero sumo,
A sorte noutra sorte em despedida,
Assim a minha paz jamais urdida
Traçando cada engodo e não me aprumo,
E quando com terror imenso assumo
Ao ver esta vereda enfim perdida,
Não resta do que fui sequer a sombra,
A vida nua e crua tanto assombra
E nada se permite, nem a glória
O fato de existir e de pensar,
Por vezes preferível se negar
Sabendo ser a sorte tão inglória...

31508


Aonde se fazia tão presente
Apenas o vazio e nada mais,
O quanto sejam noites magistrais
E delas a manhã rara pressente,
Mas quando dos meus dias tenho ausente
Ainda acreditando em tais banais
Mentiras onde um dia em tons venais
O fardo do viver meu corpo sente.
Modestamente busco alguma chance,
E vejo esta esperança em que se lance
Meu verso, mesmo sendo tão cruel,
Quem bebe desta fonte inusitada
Sabendo da improvável alvorada
Jamais esquecerá sabor do fel.

31509

Seguindo em procissão dor sem remédio
Assisto ao que pudesse ser diverso,
E tanto se mostrando assim perverso
O que faz ao vazio o seu assédio,
Negando da estrutura qualquer prédio
Aonde o meu futuro siga imerso,
Porquanto tantas vezes desconverso,
Sabendo do viver em frio e tédio.
De tantas cordoalhas nem sequer
A sombra de uma só hoje se vê,
E a vida se mostrando desde que
O tempo não trouxesse o que se quer,
Fartando-se do nada, sou apenas,
Quem tanto com sorrisos envenenas.

31510

A noite com sombrio e torpe manto
Deitando sobre nós, ausente lua,
Minha alma contra tudo já cultua
A sorte de viver, mesmo em quebranto,
E quando na verdade não me espanto
Ao ver a tosca imagem, leda e nua
Deixando para trás cidade e rua,
Ficando em mera espreita nalgum canto.
Resisto desta forma e silencio
Enquanto bebo o tom tolo e sombrio
Das brumas que adivinham o granizo,
Meu passo não condiz com pensamentos,
E sei que no final os desalentos
Gerando invés de glória o prejuízo.



31491

A saudade diz desdita
Esperança dita o rumo,
Mas eu sendo um eremita
No vazio eu me consumo
Procurasse uma alma aflita
Neste pouco em que me aprumo,
Outra vez a sorte grita,
Mas meu erro sempre assumo,
Caminhando nas manhãs
Alegrias meus afãs
Sonhos dizem do futuro,
Nada resta do passado,
O meu mundo é vislumbrado
Neste tanto que procuro.

31492


Já não teria enfim os meus passos
Se eu pudesse andar sem os receios
Viver é consumir em devaneios
Os dias entre dores e cansaços,
O quanto poderiam novos traços
E neles com certeza raros veios
E tanto nos meus olhos os anseios
De dias menos duros, menos lassos,
Pudesse ter a sorte em que se vê
O tanto aonde quando e até por que
A sorte redimindo um andarilho
Permita qualquer luz e já traduza
A vida mesmo quando vã, confusa
No amor que em paz agora ora palmilho.

31493

Cerzindo cada passo como quem
Soubera do que tanto ou nada traz
A sorte quando feita em ar mordaz
E nela cada sonho se detém
Assim ao caminhar sem o desdém
Deveras sou bem mais até audaz
Do que quem no vazio satisfaz
Uma alma que somente o mal contém,
Pudesse ser assim a terra inteira,
A vida não seria essa guerreira
Aonde se porfia inutilmente,
E ser feliz é mais do que eu pudera
Ao sonegar visível primavera,
No quanto algum carinho ainda eu tente...

31494

No momento do desastre
Capotando o coração
Tanta dor que já se alastre
Transtornando a direção.
Sem ter nada que me castre
Procurando a solução

Noutro rumo ou noutra senda
Retirante do vazio,
E se tanto já se atenda
Este sonho que ora crio,
Na verdade amor é lenda
Eu sou mero desafio

E pudesse ser diverso
Já seria útil meu verso.

31495

Meu amor somente cisma
No que possa ser superno,
E se tanto ainda hiberno
Não procuro ter carisma,
Outra sorte dita o prisma
E se posso ser mais terno,
Quando ausente deste inverno
O meu canto nunca abisma
E tampouco posso crer
Neste mundo sem prazer
Mesmo que não seja hedônico,
É preciso ter em mente
Que deveras se apresente
Bem melhor se for harmônico.

31496

Sendo forte a ventania
Sendo assim melhor conforto
Tanto sonho sempre cria
Quem tem no amor o seu porto,
Pois quem ama a poesia
Nunca mais estará morto,
Tendo assim esta certeza
Do que tanto quero em paz,
Só sentir esta beleza
Com ternura satisfaz
Quem vencendo a correnteza
Noutro canto mais audaz,
Já permite esta alvorada
Pelo amor abençoada.

31497

Quando pude ser feliz
Todo mundo nem pensava
Na saudade dura lava
Que decerto nunca quis
O que encanto já prediz
Mesmo uma onda sendo brava,
Neste cais sonho ancorava
E jamais foi por um triz,
Mas se tenho a desventura
De viver sem ter ternura
Nada resta senão frio
E o meu passo a cada instante
Num cenário degradante,
Tantas vezes eu desfio...

31498

Nunca pude ver enfim,
O que tanto procurei
Num caminho aonde o fim
Já traduz vazia grei,
Não queria este jardim
Onde tanto cultivei
E colhendo tão somente
A temível solidão,
O vazio esta semente
O temor dorido grão,
Nada tendo se pressente
Sempre agreste então tal chão,
E se fosse tão diverso
Bem melhor seria o verso...

31499

Quantas vezes tinha em mente
Do terror feito em vazio
E se tanto desafio
Desafeto tolamente
O caminho se pressente
Noutro tanto quando crio
O que outrora fora frio
Bem melhor já se apresente
Transformando o duro inverno
Num momento bem mais terno
Onde eu possa ser feliz,
E se a vida foi cruel,
Ao amor todo o laurel,
Pois foi nele que eu me fiz.

31500


Quero ter a luz
Onde possa ver
O vital prazer
E também reluz
Se jamais me opus
Eu consigo crer
Num humano ser
Já desfeito o pus
Sorte decidida
Noutra bela vida
Pena que somente
Seja imaginário
O que é temerário
Vazia semente...




31481

Na verdade sendo prático
Não suporto o sofrimento
Posso mesmo ser lunático
Mas no amor eu me apascento.
Quantas vezes sintomático
Este sonho em que ora alento
E se posso em passo tático
Perceber o sentimento
Nada além do que mais quero
E se falo sou sincero
Bebo a sorte noutra aragem,
Meu amor não quer a regra
E deveras sempre integra
Com brandura esta paisagem.


31482


Onde houvera alguma espera
Novo tempo já se dá
Ao saber da primavera
Quero aqui e desde já.
O meu sol ora tempera
O que tanto brilhará
Sem pensar vida é sincera
Quantas vezes moldará,
Rumo claro em noite escura
Rumo escuro em dia claro
E se tanto me preparo
A saudade já não cura
Quem deveras tem seu mote
Na esperança que desbote...

31483

Quando tanto busco a vida
Noutro tempo em novo sonho
A saudade é despedida,
Nela o barco eu nunca ponho.
Esperança já perdida
Nada resta do medonho
Caminhar onde duvida
Quem se faz sempre tristonho.
Percorrendo a minha estrada
Nada deixo pra depois
Quando a noite enluarada
Lembro logo de nós dois
Solidão demais é triste
Onde amor ainda existe...

31484

Não mais quero a solidão
Nem tampouco esta tristeza
Minha vida num verão
Alegria é sobremesa,
Caminhando com destreza
Nunca um passo dado em vão
Vou vencendo a correnteza
Vou cevando em paz meu chão...
Nada tenho de segredo
Só não posso ir mais sozinho,
O meu mundo sendo ledo
Nele tento um manso ninho,
Seja assim felicidade
Sem temor, em liberdade...

31485

Vou buscando neste sol
A possível que traga
Toda sorte, pois farol
Este encanto sempre afaga,
Quem domina este arrebol
Traz no olhar navalha e adaga
Trabalhando agora em prol
Esperança em paz me alaga,
Bebo o tempo de sonhar
E decerto poderia
Quando a noite é de luar,
Encharcando em poesia,
Coração esperançoso
Neste sonho, um raro gozo...

31486

Da alegria sei o rito
E não canso de tentar
Encontrar lugar bonito
Cada raio do luar
Vou tentando em paz cantar
Emoção diz do infinito,
Onde posso mergulhar
Com ternura eu não evito.
Vou traçando a cada verso
O que tanto desejei,
Pois é todo este universo
Da esperança a minha grei.
Tanto posso caminheiro
Se do amor eu já me inteiro...


31487

Nada resta sobre a terra
Tão somente esta vontade
E por tanto quando brade
No teu canto já se encerra
Alegria ou paz ou guerra,
Mas amor à liberdade
Dite o tom quando a verdade
Tanta força e jamais erra,
Percorrendo mansamente
Cada ponto é de partida
Renovando a nossa vida,
Novo tempo que se tente,
E se tanto posso ainda,
Esta paz em mim deslinda...

31488

Sinto a glória do porvir
Num momento fascinante
E somente por sentir
Vou seguindo sempre avante,
Nada deixo me impedir
De seguir quando este instante
Pode mesmo traduzir
Outro tanto deslumbrante,
Ao saber felicidade
Nada deixo para trás
Tanto amor que sempre agrade
Novo amor a vida traz,
E se posso ser assim,
Bem melhor o meu jardim...

31489

Quando outrora foi colosso
Este agora que não traz
Nem sequer olhar mordaz,
Resta apenas quieto este osso,
E se tanto diz destroço
O que fora mais audaz
Tão somente a vida em paz
Dita o mundo que ora esboço,
Tantas vezes prometida
Esperança que redime,
Muito além do mero crime,
Muito além da própria vida
Fantasia nos permite
O viver sem ter limite.


31490

Ao abrir esta cortina
Vejo a cena previsível
O meu passo mais temível
Noutro passo se fascina
E refaz a eterna mina
Sendo a voz imperecível
O caminho divisível
Noutro tanto já termina
E se pode ser assim
Esta história não tem fim,
Eterniza-se a vontade,
Mesmo quando em vil granizo
Ou num passo se impreciso,
Não há nada que degrade...



31471

Coração porteira aberta
Permitindo a fantasia
Sem defesas sem alerta
Toda a noite se recria
Bebo a sorte que deserta
E por ela esta alegria
Muitas vezes encoberta
Navegando cada dia
E se tanto posso ou tento
Dos meus sonhos o provento
Onde encontro alento e luz,
Poesia maltratando
Quem sonhara desde quando
Novo passo reproduz...

31472


Caminhando e não me canso
De buscar a minha praia
Onde a sorte já desmaia
Onde o mundo diz remanso,
Eu pudesse enquanto tranço
Passo à frente, e não se esvaia
Na saudade já não caia
O meu canto em que esperanço.
Resistindo ao que pudera
Ser além de simples fera
Transcendendo à própria vida,
Novo tempo, nova sorte,
E quem tanto diz aporte
Também trama a despedida...

31473

No trabalho de quem sonha
Com palavras, poesia
Vejo a cena que recria
Vez por outra em tez risonha
Ou quem sabe se medonha
Face exposta da agonia
E se tanto poderia
O caminho em que se enfronha
A verdade de quem tenta
Enfrentar cada tormenta
Com suave mansidão
Operário e lavrador
Quando a lavra dita amor
Do Senhor uma expressão...


31474

Cada povo diverge em seu caminho
Assim como se pensa em cada tribo
Aonde na verdade sem estribo
O mundo com ternura em paz alinho,
Só não suportaria andar sozinho,
Enquanto a solidão eu já proíbo
A vida vai trazendo o seu recibo
No canto aonde agora em paz me aninho,
Vencer os meus propósitos e crer
No novo e nele mesmo me envolver
Gerindo cada passo com ternura,
Assim ao renovar cada esperança
O quando com o todo sempre avança
E o renovar do sonho enfim perdura...

31475

Enquanto se pudesse neste ofício
Aonde a poesia dita a norma
E a cada novo instante se transforma
Por vezes com terror ou mesmo auspicio
Não tendo esta certeza, o precipício
E nele cada encanto toma a forma
Do amor suave mesmo em que se informa
O pantanal dos sonhos, nosso vício.
Assim em movediça tez eu vejo
As sendas do que tanto diz desejo
E tendo esta certeza vejo a luz
Por onde em sombras faço a caminhada
Bebendo desta glória ora traçada
Ao quanto o verso às vezes nos conduz.

31476

Neste encanto em que procures
Novos dias promissores
Seja aqui, ou bem alhures
O jardim transcende às flores,
Só preciso que me cures
Destas dores dos amores,
E se tanto ainda jures,
Com certeza em tais horrores
A incerteza dita a regra
Rega a dor que desintegra
E de fato nada cria,
Tão somente o que me alenta
Na verdade em tal tormenta
Bela e nobre poesia...


31477

Tantas vezes poderia
Ter no olhar diversa sorte,
Mas se tenho a poesia
Redenção para este corte,
Sendo amor de fino porte
E portanto em fantasia
Cada vez rumando ao norte
Outro tanto encantaria
Quem se fez poete e busca
Contra a força amarga e brusca
Esta calma realidade
Tendo em mim esta certeza
Não mais temo a correnteza
Mesmo quando em fúria invade.

31478

Pudesse sonegar o que não creio
E tendo nos meus dias novo templo
Diverso do que ainda em vão contemplo
Tentando estar distante do receio,
E quando a sorte dita este recreio,
Moldando com terror um novo exemplo,
Nas sendas mais suaves eu me exemplo
E busco solução, mas nada veio.
Apenas pó poeira e nada mais
Estrada traça em rumos desiguais
Caminhos que procuro com brandura,
Mas quando se percebe a violência
E nela esta terrível virulência,
Uma alma com terror já se amargura...

31479

No que possam as grandezas
E se tento acreditar
Noutro dia de luar
E deveras as levezas
Onde tanto sem surpresas
Eu pudesse caminhar
Tendo assim ao meu olhar
Muito além de meras presas,
A certeza deste instante
Mesmo em vida torturante
Alentando cada passo,
E se faço ou se não faço
E se ganho ou se inda perco
A saudade aperta o cerco
Dominando em fúria o laço...


31480

Tento às vezes pressentir
O que possa o sentimento
E se tanto me atormento
Com temores do porvir
Sorvo a glória este elixir
Que domina o pensamento
E deveras sofrimento
Já não posso mais sentir,
Mergulhando no futuro
Mesmo quando triste escuro,
Penso apenas no que venha
Esperança acende a frágua
E se em mim sempre deságua
Desta vida viva lenha...



31461


Aonde a solidão deveras toma
A cena e derramando sobre a praia
A sorte que decerto em vão se espraia
Negando ainda assim, o que era soma,
O coração jamais o sonho doma,
Nem mesmo que esperança já se esvaia,
O tempo dominando toda a laia
Raiando com terror de tudo assoma,
Vertendo em poesia o sentimento
Ainda mesmo assim por certo tento
Vencer os dissabores que coleto,
E nada do que vive em fúria em mim
Pudesse ser da morte um estopim,
Tampouco retornar ao velho feto.

31462

Imenso mar azul tomando a cena
Mergulho entre corais imaginários
E tantas vezes vejo estes corsários
Ainda que esta vida seja amena,
O pensamento enquanto concatena
Abrindo do que somos os armários
Ao ver em passos rotos, temerários
A vida não será decerto plena,
Realidade assombra e é formidável
E mesmo quando o mundo é intragável
O todo se transforma e nos desbota,
Pudesse ter no olhar outro caminho,
Talvez já não seguisse tão sozinho
Teria na esperança alguma rota...

31463

A vida se mostrando em destemor
Ao velho caminheiro sem espaço
Trazendo a cada novo o mesmo passo
E tendo neste intento o recompor
Moldando muitas vezes o terror
No qual a cada instante amargo eu grasso,
E sendo assim venal verso que faço,
Sonego ledo amor e sem pudor.
Risonha tarde ainda trama a noite
E nela não se vê algum açoite
E até num ledo outono um clima bom,
Mas como posso ser feliz enquanto
A sorte sonegar o que ora canto
Falsificada lua de neon...



31464

Aonde houver trabalho há redenção
Por vezes imagino quão diverso
Assim este fantástico universo
E nele se porfia com tesão,
O tempo de viver, a direção
A força que domina cada verso,
E tanto quando vejo o mundo imerso
No muro de total lamentação,
Apenas em frangalhos a esperança
A qual o desemprego ao fogo lança
Enquanto um operário ainda houver
O mundo ao fim do túnel terá luz
Nas mãos de quem labuta se produz
Cigarra co’a formiga em nobre affaire...


31465


Legados da emoção, velhos poemas
Transcendem ao próprio tempo e se eternais
Traduzem dias claros magistrais
Rompendo com ternura tais algemas,
E quando destes sonhos raras gemas
São feitos diamantes sem iguais,
A poesia dita em triunfais
Momentos em que nada mesmo temas,
Os temas variados, mas deveras
Ao libertar assim as nossas feras
Sabemos ou queremos que quem ouça
Perceba o que talvez nós nunca fomos,
Porém na conjunção, diversos gomos,
Em porcelana nobre cada louça...

31466


O pensamento é como fosse a espuma
Das ondas sobre a força de um penedo
E quando no pensar eu me concedo,
A sorte mais diversa teima e ruma,
Enquanto eternamente não se apruma,
Não sei e nem desvendo algum segredo
Mutável fantasia dita o enredo,
E assim a nossa história não se esfuma,
Retorna à mesma praia vez em quando
E mesmo em tom feroz, suave ou brando
Renova-se a verdade a cada dia,
Escrevo e penso enquanto ainda existe
Uma alma transparente alegre ou triste,
E nela a realidade fantasia...

31467

Além deste horizonte que tu vês
O mundo sem final existe há tanto
E nobre com certeza o imenso manto
E nele seus motivos e porquês,
E quando cada sonho se desfez
Criando novo sonho ou vão quebranto
Ainda amortalhado rio e canto
Bebendo da total insensatez
Na qual a própria vida se resume,
E tanto quanto mude algum costume,
A vida dita etérea solução,
E nela este vital mosaico vejo
Caleidoscópio molda o meu desejo,
A cada instante, eterna mutação.

31468


Ao longe se desnuda no horizonte
A deusa lua entregue aos meus anseios
E sigo em pensamento raros veios
Bebendo desta luz que ora desponte,
E nela cada verso agora aponte,
No sôfrego carinho em nobres seios
Meus olhos muitas vezes vão alheios,
Mas quando em lua cheia, nova fonte
Do tanto que pergunto e sem respostas
As horas se traçando em tais propostas
Expostas com a face de quem sonha,
Quem sou? Por que; pra quando, quanto tento?
Se tudo já refaz e sem invento
Por que não ser a vida tão risonha?


31469

Rasgando a imensa bruma, vejo o sol
Domínio eterno sobre todo o ser
Razão para que possa enfim viver
Tomando com furor todo arrebol,
Assim ao se mostrar claro farol,
Permite a cada instante o renascer
Do quanto noutro tempo vi morrer,
Da fonte inesgotável, girassol
E neste fato sendo assim quem gera
Mantendo mesmo contra a dura fera
Humana a realidade assim urdida
Essência do que seja a natureza
Na imensa claridade esta grandeza
Início meio e fim da própria vida.

31470


Um ramo qualquer ramo do arvoredo
Permite se tenha esta existência,
A sorte ao se manter em providência
Enquanto faço parte deste enredo
Recebo e na medida em que concedo
Eu creio na provável permanência
E gero outro viver com coerência
Não tendo do futuro um maior medo,
Porém ao destroçar a nossa herança
Matando o que restara em esperança
Que somos? Sem respostas abro o peito,
E mesmo insatisfeito não desisto,
Por ser e tão somente ainda existo
E nunca me darei por satisfeito.



31451

A voz de quem canta
Trazendo a promessa
E assim recomeça
Labuta que é tanta
O amor se levanta
A glória se expressa
Enquanto confessa
E a vida se encanta,
Mas quando é vazio
O rumo desfio
E traço outro nada,
Vereda florida
Há tanto perdida,
Cena decorada...

31452

O quanto descrente
Do mundo que vejo
Aonde o desejo
É proeminente
Angustiadamente
Matando o verdejo
O sonho eu negrejo,
E nada contente
Quem tanto se fez
Buscando talvez
A tal poesia,
Mas sendo sincero
O todo que espero
A vida esvazia...

31453


Um pássaro voa
E traz liberdade
Enquanto esta grade
Ainda ressoa
Negando a canoa
Vital claridade,
Porquanto se brade,
O quanto me doa
Viver o fastio
E ter cada fio
Do enorme novelo,
Há tempos puído
Do Amor um ruído,
Final: pesadelo!

31454

O quanto se quer
E nada se tem
Viver o desdém
Sabendo qualquer
Por onde puder
Sem ter nem vintém
A morte convém
A quem a quiser,
Assim o segredo
Guardado em vazios
São meus desafios
Os dias que cedo
Buscando somente
Quem tanto me alente...


31455


A vida sem nome
O mundo sem nexo
O amor sem o sexo
O quanto consome,
E tudo já some
E tanto é complexo
O rumo que anexo
Além desta fome
Vital caminhada
Em busca do nada
Aonde a esperança
Aos poucos deforma
O que fora norma
E agora só cansa...

31456


Assim com o estigma
De ser quem pudera
A vida em enigma
Gerando outra fera
Qualquer paradigma
O nada tempera
Tentando ser sigma
Quem jamais alfa era
Atento ao desvio
Adentrando o rio
Porquanto pudesse
Sentir o lampejo
Do amor que desejo,
Mas nega esta messe...


31457

Distantes litígios
Caminhos dispersos
De tais universos
Sequer os vestígios
Pudesse em prodígios
Vencer os diversos
Momentos imersos
Sem ter mais prestígios
Rasgando este céu
Cometa que ao léu
Vencera a distância
E nela se sabe
O quanto desabe
Dos sonhos a estância...

31458

O mundo em terror
Faceta perversa
E quando a conversa
Mudando de cor
Prenuncio de dor
E nela se versa
A sorte se imersa
Ausente calor,
Negada a fartura
O quanto perdura
Eterno este inverno,
Vivendo do não
Meus olhos verão
Apenas o inferno...

31459

Procuro o recibo
E vejo o vazio
E nele porfio
Tentando em estribo,
As vozes da tribo
Escuto em sombrio
Momento em que eu crio
O não que coíbo
Assim sendo a vida
Em dores urdida
Negando o que vem
Aborto da sorte
Gestando outra morte
Que o corte contém.

31460

As sortes vizinhas
Das mortes venais
E tanto sem cais
Verdades só minhas,
Enquanto daninhas
Trazendo o jamais,
Nos pós marginais
Tu sempre te aninhas.
E arrisco a cabeça
Aonde eu mereça
Apenas sossego,
Não pode um encanto
Se é turvo o que canto
E não peço arrego.



31441

A vida em capricho
Ditando o que tanto
Pudesse em encanto
Traçar novo nicho,
Mas quando este bicho
Amor em seu canto
Destroça este manto,
Resulta em tal lixo
Do qual me concebo
E tanto me embebo
Nas tramas doídas
Assim tu percebes
As trevas das sebes
Em mim traduzidas...

31442

Aonde estas matas
Pudessem trazer
À vista o prazer
Que agora arrebatas
E tanto maltratas
Assim cada ser
E tudo a perder
Em sendas ingratas,
Os cortes machados
Os nadas legados
Sem ter outra chance
E quando em vazio
O mundo eu desfio
E ao fim verso lance...

31443


Não sei da extensão
Do quanto podia
Viver dia a dia
De cada estação
Momentos virão
Aonde alegria
Matando a agonia
Reviva o verão,
Mas quando no inverno
Em trevas me interno
Não tendo outra luz,
O quanto se é festa
Do pouco que resta
Ao nada conduz...


31444


Caminhos tão rudes
Entranhas em pus,
Ao tanto conduz
As tais juventudes
Mortalha onde escudes
O que não reluz
E tanto esta cruz
No quanto não mudes,
A soma do vago
Enquanto eu afago
Vital esperança
A sorte se esvai
E tudo já trai
Enquanto ao não lança.

31445

As noites severas
Aonde não tenho
Sequer este empenho
Por onde puderas
Mudar estas feras
Que sempre eu contenho
E causas o lenho
Se em vão vociferas,
Negar esta face
Que tanto se grasse
Tomando o cenário
É como talvez
Negar própria tez
Medonho corsário.

31446

Sedento tal sonho
Aonde vibrasse
Além deste impasse
Momento risonho,
Mas quando me ponho
Mostrando esta face
A sorte desgrace
E o tempo é medonho,
Riscando do mapa
A sorte se encapa
E nada se vê,
Assim sigo ao léu
Neste carrossel
Sem ter nem por que.

31447

Do quanto se é glória
Ou mesmo banal
Assim cada astral
Ditando esta história
Traçando a memória
Sempre desigual,
Por vezes venal
Mesmo merencória,
E pude te ver
Caminho em prazer
Mergulhando em vão,
Enquanto este mar
Em óleo nadar
Terrores virão...

31448

A sorte tardia
Resulta do nada
Aonde alvorada
Há muito eu não via,
Do quanto a alegria
Pudesse traçada
Porém nesta estrada
Apenas surgia,
A face nefanda
Do amor que desanda
E tudo se acaba
Na fonte sedenta,
A fúria sustenta,
E o sonho desaba...

31449

Incita-se a guerra
Aonde pudesse
Saber desta messe
Do amor que se encerra
No peito descerra
O bem que se esquece
Enquanto padece
Quem tenta e mais erra,
Negar a verdade
Contra a correnteza
Gerando incerteza
Por vezes agrade,
Porém rompo a grade
Não quero ser presa...

31450


Os dias percorro
Entre vendavais
E desejo mais
Enquanto não morro,
Assim cada morro
Levando aos astrais
Caminhos venais
Dos quais me socorro
Nos braços de quem
Amor tanto tem
E mesmo se não,
Apenas por ser
Quem tanto eu quis ter
Muda a direção...



31431

A vida diz tanto
Enquanto desaba
Da sorte da taba
Castelo outro encanto
E tento em meu canto
O quando se acaba
Na senda numa aba
Ou mesmo no pranto,
Assim se trazendo
A perda ou o adendo
No todo que somos,
Metades diversas
Por vezes dispersas
Unindo tais gomos.

31432

Em tantos verdores
Ou tantas promessas
Nas dores confessas
Espinhos e flores
Por onde tu fores
Verás assim essas
Verdades expressas
Nos risos e horrores,
Vencendo o que possa,
A sorte se é nossa
Futuro assegura,
Mas quando o tropeço
Em mim reconheço,
Em seara escura...

31433

A vida em tais ramas
Dispersos caminhos
No quanto sozinhos
Por vezes tu clamas
Das sortes as chamas
Dos pássaros, ninhos
Dos sonhos vizinhos,
Verdades e dramas,
Cercados por luzes
Aonde produzes
Palavras e versos,
Meus dias nos teus,
Sem querer adeus
Estão sempre imersos...

31434


Pudesse em tais flores
Farta primavera
A vida se esmera
Em risos e dores,
Se são sedutores
Ou mesmo se é fera
O quanto te espera
Por onde não fores
Verás o retrato
No espelho do quarto
De um ser nunca farto,
E seco o regato
A vida não traz
Momento de paz...

31435

Dos sonhos seus tetos
Caminhos em chamas
E quando reclamas
Dos teus desafetos,
Ainda sem fetos
E neles os dramas
As sortes das tramas,
Momentos discretos.
Cadência no passo,
No quanto desfaço
O quase feliz,
O fogo consome
Aonde se some
E em quanto desfiz.


31436

A sorte se altiva
Alívios traçando
E assim desde quando
O amor já nos priva
Da glória e se criva
Em ar tão nefando
O rumo mudando
Seara que esquiva
Se vê no vazio
E tanto porfio
E nada consigo,
Assim deste nada
A vida moldada
Sonega um abrigo.


31437

Um ânimo eu tento
Após cada queda
A sorte se veda
Negando o provento
E em tal sentimento,
Pagando a moeda
Aonde envereda
Somente o lamento,
O pântano vejo
Trazendo em lampejo
O que sempre fui,
E tudo se esvai
Enquanto se trai,
O mundo já rui.

31438

Aonde se é guerra
O quanto da paz
Pudesse mordaz
Traçar outra terra,
Mas nada descerra
Quem nada me traz
E assim vejo atrás
A possível serra
Nos fardos e pesos,
Os dias obesos,
Os sonhos terríveis
Navego no quanto
Trazendo o quebranto
Em todos os níveis....


31439

Aonde se oponha
A vida e este fado
Medonho passado
Manhã mais risonha
E nada se enfronha
No quanto alegado
E tendo alagado
Seara componha
Vital charqueada
Há tanto traçada
Gerando este todo
No quanto pudera
Aberta a cratera
E nela tal lodo...

31440


As noites tão densas
Em medos e cortes
Assim nossos nortes
Já não mais convenças
E quando tu pensas
Nas luzes e aportes,
Pudessem mais fortes
As sortes intensas,
Vencido o temor
Ainda em amor
Pudesse traçar
O quanto não trago
Do sonho em afago
Matando o luar...


31421

Sou filho do medo
Irmão do vazio
Se tanto desfio
Deveras segredo
Assim me concedo
Enquanto recrio
Das águas o rio
A queda e o penedo
Abismos gerados
Em dias passados
E agora revistos,
O tempo de agora
No futuro aflora
Trajando imprevistos.


31422

Meu canto se ouvindo
Aonde não pude
Por ser mesmo rude
Ou tanto se infindo
O mundo eu deslindo
Velha juventude
Por mais que inda mude
Do antigo saindo
A voz do que eu fora
Por vezes sonhadora
Agora se cala
Uma alma se guia
Nas mãos fantasia,
Mas nunca é vassala!


31423

O mundo é guerreiro
Bem sei desta sina
A mão assassina
O tempo é ligeiro
E se ainda inteiro
No quanto fascina
O medo domina
E bebo ligeiro
O quanto pudesse
Ainda ser prece
Ou mesmo desdém
Vivendo o que outrora
Ainda se aflora,
Passado contém...


31424


O amor pai e filho
A sorte se vê
No quanto em por que
O quase inda trilho
E tanto polvilho
Do farto cadê
Que a sorte revê
Vencendo empecilho,
E sei do caminho
Vivendo o passado
Futuro recado
Aonde avizinho
O mutável ser
Que vi renascer.


31425

No quanto cresci
Ouvindo baladas
As sortes traçadas
E desde que vi
Ali traça aqui
As mesmas guinadas
Volvendo alvoradas
Que há tempos senti,
Ao recomeçar
Diverso luar
Dispersa vontade,
Mas tanto se crê
No quanto não vê
Quem tanto me agrade...

31426

Descendo do nada
E quando podia
Viver fantasia
A sorte mudada,
Aonde lançada
Total ventania
O corte se adia
A vida é podada,
Não pude ser quem
E ainda convém
Ninguém mesmo ser,
Assim se mutável
O solo que arável
Condena ao prazer.


31427



Pujança em batalhas
Sorriso ironia
O medo se cria
Trazendo em navalhas
O quanto diz gralhas
Aonde podia
Haver alegria,
E a morte amealhas,
Risonho porvir?
Não quando sentir
A fonte esgotando
E peso vergando
Quem tanto tentara
A sorte mascara...


31428

Errante tropel
Amor entre sendas
Ainda que atendas
Distante este céu,
Cometas ao léu
Veredas e lendas,
Enquanto desvendas
O mundo é cruel,
Rasgando esta face
Ainda desgrace
A sorte de outrora,
Não tendo onde possa
Palácio ou palhoça,
A morte se ancora...


31429


Por ser inconstante
A vida seduz
E traça em tal luz
A treva adiante,
No quanto agigante
No quanto me opus
Imagem de cruz
No peito elegante,
Mortalha diversa
A vida só versa
Aonde deseja,
Ninguém doma o Fado
Caminho ou legado
Que enfim assim seja...


31430

O quanto se é bravo
Ou mesmo cruel
Em fardos de fel,
Delírios de cravo,
Com pés ora cavo
O mundo, meu céu
E sendo o papel
Das letras escravo,
Risonho ou medonho
O que ainda sonho
Produz ou destrói,
A vida não nega
O quanto traz cega
E tanto me dói...



31411

Roda a vida, gira sol
Tempo passa praças ruas
E belezas seminuas
Dominando este arrebol,
Praia vento caracol
Conchas águas ondas nuas
E sereias quando atuas
És faroleiro e farol,
Com teus raios tanta areia
Praias mares e incendeia
O delírio tropical,
Doura a pele traça a vida
Noutra vida ressurgida
Num eterno ritual.

31412

De um cenário em multicores
Alvoradas no sertão
Do viver a redenção
Raios teus agricultores
E se trazes jardins flores
Noutra sorte a direção
Garantindo a floração
Onde quer por onde fores
Da certeza em água e luz
Outra vida se produz
Aleitando a Terra em flor
E se tanto se fez deus
Quando à tarde num adeus
Na beleza de um sol-pôr.

31413

Água fonte cristalina
Água deusa em vida e glória
Água dita a nossa história
Água sempre feminina
Água mãe, água menina
Água da vida a vitória
Água morta merencória
Água podre desatina
Poluída e desvalida
Numa ausência de água e vida
Água viva em fontes rios
Traz a força inundação,
Traz a sorte em redenção,
Não existem desafios...

31414

Vento forte vendaval
Vento diz do sol, da terra
Vento quanto vento encerra
Vento imenso triunfal,
Vento leva grão, astral,
Vento a vida já descerra
Vento vence qualquer serra
Vento intenso atemporal,
Vento em brisa algum alento
Vento em fúria vão tormento
Vento em moinhos sem tino,
Vento traça em energia
Vendo assim a ventania
Cataventos de um menino...

31415

Prometeu que num penedo
Vai cumprindo o seu legado
Fogo em fogo transformado
Tanto fogo em que concedo
Fogo intenso diz degredo
Fogo em fúria devassado,
Fogo em ânsias desolado,
Fogo trama dor e medo,
Mas o fogo faz a vida
Mas do fogo, a sorte e a messe
Quando em fogo já se aquece
Esperança em voz urdida.
Fogaréu fráguas fogueira
Da história maior bandeira...


31416

A vida se refaz a cada vida
E no ar, no mar, na terra em toda parte
Aquilo que se pensa ser descarte
Renova em construção, não se duvida
Mutáveis criaturas sorte urdida
No quanto cada instante volta e parte
A morte não existe e se reparte
O todo em tanta parte dividida.
E quando se percebe este milagre
No todo que em Deidade se consagre
Certezas de nós sermos imortais
Gerados pela vida em plena morte
E assim ao se tornar incrível sorte
Percebe-se o Senhor nos rituais.

31417

Recebo a cada instante um novo vento
E nele vejo o dia se traçando
Aonde vez em quando torpe ou brando
Nos traços que ele deixa já me assento,
Rescindo qualquer fonte e me alimento
Do quanto muitas vezes semeando
Ou mesmo noutra vida se gerando,
Trazendo para tantos o provento.
Resíduos deste vento em ares tantos
Mudando a direção gera quebrantos
Ou mesmo algum alento eu brisas feito,
Do poderoso ou frágil, repartido
Caminho que entre ventos; construído
Transcende à própria vida em cada leito.

31418

A vida sem corte
Sem tramas ou dores
Aonde tu fores
Verás tanta morte
E assim dita a sorte
E nela tais flores
Reféns dos albores
Encontram o norte
Vivendo deveras
Desafia feras
Quem tanto porfia
E assim se traçando
O dia atroz brando
Refaz novo dia.

31419


Peçonhas e risos,
Momentos diversos
E tanto meus versos
Por vezes concisos
Onde há prejuízos
Em mundos imersos,
Ou mesmo dispersos
Caminhos sem sisos
Restando a quem luta
A força que é bruta
O medo que é tanto,
E sendo sincero
Nem tudo que eu quero
Traduz qualquer canto.

31420

Mutável caminho
Mostrando esta face
Por onde inda grasse
O quanto sozinho,
Vencendo um espinho
Gerando um impasse
O tempo que passe
Refaz cada ninho,
A nova estação
Da velha bebendo
Traçando este eterno
Verão tem no inverno
Contraste estupendo.




31401

Lua prata sertaneja
Lua rubra em céu imenso
Se na lua tanto penso
Quando a vida não alveja
Tanto sonho se deseja
E na lua o brilho intenso
Plenilúnio e me convenço
Do luar que nos proteja
O caminho para a lua
Dos lunáticos poetas
Entre sendas rotas metas
E a beleza seminua
Desta deusa que cigana,
Tanto agrada quanto engana...

31402


Vejo as fráguas nas campinas
Entre sons, guitarras, danças
Luas novas esperanças
Luas nuas femininas
E se lua me fascinas
O teu brilho enquanto avanças
Lutam ditam temperanças
Dos poetas, fontes minas
E prateia toda a mata
Rubra lua me arrebata
Entre as fráguas, deusa e diva,
Transbordando em tons brilhantes
Os tambores provocantes
De magias, noite criva...

31403

Um menino bebe a lua
Entre violas e ponteios
Dos meus rumos campos veios
No horizonte ora flutua
Dos corcéis imaginários
Galopando em pleno céu
Dominando com seu véu
Em momentos solitários
E o menino no luar
Entre os dedos prata face
Noutra lua a vida trace
Novo sonho a dominar
Mesmo quando em fase tanta
Dança ao léu enquanto encanta.

31404

A lua domina
Espaços segredos
E tantos degredos
Dona cristalina
De encantos a mina
De lendas os medos,
Na ponta dos dedos
Desnuda ilumina,
Lunático ser
Amar é poder
Perder estribeira
A lua deitando
Seu brilho ora brando
Lua seresteira.

31405


Pudesse um momento
De paz neste instante
Luar delirante
Aonde apresento
O canto e o lamento
O sonho adiante
Domina brilhante
Entrega-se ao vento,
E assim lua mansa
Ditando esperança
Aonde se enfurna
A deusa redime
Do amor e do crime
Deidade noturna.

31406

Campina lunar
O mundo rodando
O tempo passando
Nem tento notar,
E quando a entregar
O sonho se dando,
Encantos em bando
O quanto a cevar
Nas tramas no brilho
Da lua um polvilho
Cigana beleza
Tropéis à distância
A sorte, outra estância
Gentil realeza...

31407


Cadencio o passo
Galopes ausentes
E quando pressentes
A lua no espaço
Caminho onde traço
Momentos urgentes
E neles presentes
Encanto de um laço
Onde ventania
A lua vadia
Pranteia e prateia
Plangente serena
Minha alma é pequena
Na lua, tão cheia...

31408

Alcanço momento
De paz quando vejo
Diurno azulejo,
Maior monumento,
Mas quando um alento
Domando o desejo
A noite eu prevejo
Maior pensamento
Deitando na lua
Vontades e sonhos,
Porquanto medonhos
Minha alma que é tua
Prateia esta estrada
Em lua tomada.

31409

Jardins desta lua
Corujas falenas
Adentrando as cenas
A deusa que atua
E assim bela e nua
As almas amenas
Vontades são plenas
A sorte flutua
Nascente ou minguante
A vida um instante
Estações diversas
Confesso os enganos
Na lua meus planos
Palavras imersas.

31410


Cantiga lunar
Cancioneiro em paz
A fonte se traz
Em tanto brilhar
O verso a cantar
Por quanto este audaz
Caminho mordaz
Nas brumas, no mar,
Mas quando é inteira
Dos céus estradeira
Ganhando os espaços
Entrego-me ao brilho
Enquanto em ti trilho,
Lunares, meus passos...



31391

Quero ter a sorte
Que talvez não possa
Quando a dor endossa
Sem quem mais comporte
Não encontro o norte
Sempre a mesma fossa
E se ainda a troça
Enfrentando o corte,
Vejo a caminhada
Rumo ao mesmo nada
E conforme sabes
Nada me convém
Vivo sem ninguém,
Nem tu mesmo cabes.

31392

Caminhando assim
Rumo ao mesmo nada
Onde outrora estrada
E de tanta vim
Procurando em mim
Cena abençoada
Hoje degradada
Desbotada enfim,
Ao negar o rumo,
Eu já não me aprumo
E consumo o não,
Percorrendo o vago,
Procurando afago,
Cadê direção?

31393

Pecador incauto
Ansiosamente
Ansioso mente
E sempre em ressalto
Cada sobressalto
Na verdade a mente
Feita a de um demente,
Lama, barro, asfalto,
Assaltando o quando
E se tanto fora
Alma sonhadora,
Noutra mergulhando
Revés que coleto,
Prato predileto?

31394

Redondilhas faço
Procurando quem
Tanto segue além
E se já não traço
Ao cansar do passo,
Somente contém
O vazio e o bem
Com terror desfaço,
Perguntando ao léu,
Percorrendo o céu
Entre estrela e lua,
A verdade vejo
Mesmo num lampejo,
Em beleza nua.

31395


Ao secar a fonte
Desejada enquanto
O terror espanto
Em belo horizonte,
E se assim desponte
Novo desencanto
Ao tecer o manto,
Esquecendo a ponte,
Mergulhando em vão
Neste rio imenso
Sempre me convenço
Da aridez do chão
E pudesse enfim,
Rebrotar em mim.

31396

Nada além do cais
Nada aquém do quando
Outro transformando
Degenera mais
Ledos temporais
Sempre que enfrentando
Tempo outro brando
Responde jamais,
E nevasca após
Aços, passos sós
Sóis que já não vejo
Sem faróis prossigo,
Num medonho abrigo,
Guardo o meu desejo.


31397

Sabiá sabia
Do que não mais sei
E sempre terei
Uma alma vazia
E se a noite é fria
Congelando a grei
Sem saber errei
Tola fantasia,
Ao negar o rumo
Onde mesmo esfumo,
Nada mais se vê
E somente em nada
Vida transforma
Procuro e cadê?

31398

Bebo enquanto tento
Encontrar a paz
Que já não se faz
Em venal tormento,
E se me apascento,
Tanto quanto traz
Logo já desfaz
Inconstante vento,
Sigo sempre em busca
Mesmo em cena brusca
Riscos tantos quanto
Geram o vazio
E se desafio,
Beijo o desencanto.


31399

Farpas entre cortes
Semeando ao vento
A palavra eu tento
Revivendo os nortes
Onde outrora as sortes
Puro provimento,
Mas se me alimento
Destas minhas mortes,
No final quem sou?
Nada saberia
Ao deter sangria
Ao que me restou,
Mergulhando abismo,
Sem sentido cismo...

31400

Perco enquanto alheio
Ao caminho atroz
E sem ter nem voz
Semear receio
Por terrível veio
Veio em falsos nós
Corrente feroz,
Envolvendo o meio,
E pudesse ter
Qualquer coisa e ver
O luar em mim,
Mas se nada resta
Nem sequer a fresta
Festa chega ao fim...



31381

Passando pelo mundo simplesmente
Percebo a cada página que a vida
Não deixa além da eterna despedida
Sinais do quando fomos a semente
E tanto se transforma quando tente
Em pleno labirinto outra saída
A sorte tantas vezes desvalida,
Invalidando o sonho em que se sente
A porta se entreabrindo e já percebes
O nada que virá ou mesmo o fato
Do quanto este viver se faz ingrato
Negando a quem precisa em sonhos sebes.

31382


O quanto é necessário mesmo um zelo
A quem em precisão quer o futuro,
E quando o mundo vejo amargo escuro,
O sonho não consigo mais revê-lo
E tendo tão somente o pesadelo,
Pudesse ser diverso, e me amarguro,
Sabendo do final, nada procuro
Somente algum momento e sem retê-lo.
Assim ao se perder a direção
O passo se transforma em negação
E a morte sonda quem deveras tenta
Vencer com calmaria a tempestade,
Porquanto cada ausência mais degrade
A vida se transforma em tal tormenta...


31383

Os dias em que sonhos torturados
Transcendem às razões e domam tudo,
Aonde se pudesse em paz, contudo,
Os ermos dos meus dias destroçados,
Mergulho nas angústias, ledos fados,
Mas sei que na verdade eu não me iludo
E tanto que tivesse ainda mudo,
Os dias em caminhos decorados,
A senda aonde outrora a florescência
Domara com ternura e com ciência
O passo de quem busca alguma sorte,
Mas quando a poda vem e nada resta,
A face que se vê nalguma fresta
Não deixa que esta face se conforte...


31384

Assim ao penetrar ansiedades
Vagando pelos nãos onde desfio
O mundo como fora um turvo rio
Morrendo quando em podridão degrades
E não se vê sequer além das grades,
Correndo contra a força, um desafio,
Alheio ao que virá sonego o estio,
E ainda assim procuro claridades...
Nefasta face afasta um andarilho,
E quando pelo nada ainda trilho
O ritmo se percebe bem mais lento,
Rimando solidão busco o remanso,
Mas quando sempre em vão eu não alcanço
O que resta de tudo é desalento...


31385

Das sombras do passado, nada vejo
Sequer o que pensara resistir
E tendo este vazio no porvir
Aonde posso ainda em meu desejo?
Do sonho em esmeraldas eu cravejo
A luz de uma esperança, mas sentir
O peso do viver e dividir,
É tudo o que deveras inda almejo.
Negando a caminhada quem há de
Viver imensidade e da saudade
Beber em largos goles toda a sanha,
A morte se adivinha após a curva
A vida se mostrara sempre turva
Partida hoje em derrota e outrora ganha...

31386

Das névoas meras brumas nada mais
E assisto às derrocadas mais freqüentes
E quando algum momento ainda sentes
Diversos destes tolos, sempre iguais,
Recebo com afeto os temporais,
E nada do que ainda mesmo ausentes
Traçando esta verdade em que tu tentes
Seguir dos rastros tantos, magistrais,
Cristais entre luares, neves, ritos,
Incomparáveis dias mais bonitos
E tudo se mostrando agora em vão,
Negando a cada dia o meu outono,
Ainda vejo em mim tanto abandono
Não posso sonegar cada estação.


31387

Arrasto estas correntes do passado
E bebo em cada gole deste fel,
Aonde a sorte surge em tom cruel,
Apenas se verá torpor e enfado,
Ouvindo do vazio o seu recado,
Ausência de esperança traz ao léu
O quanto se pensara noutro céu,
E agora o que se vê tão desolado.
Esgoto cada dia após o dia
Aonde outra seara se veria
E sirvo de alimária para quem
Sabendo do que tanto desejara
Ao ver a vida assim escura e amara,
Em si o que não tenho já contém.

31388

Trazendo junto a mim o que talvez
Pudesse transformar o quanto quero
E nada do que fora mais sincero
Agora noutro dia já se fez,
Assim coleto apenas o que vês
E tendo o dia a dia mais austero,
O olhar de quem amei se faz mais fero,
E nada além de mera estupidez
Aonde em cupidez quisera a vida,
Aguardo ainda uma última partida
Sabendo desde já seu resultado,
O pântano se adentra de minha alma,
Encharca a poesia e nada acalma,
O desencanto nunca saciado...

31389


Os olhos rasos d’água de quem tanto
Quisera pelo menos a certeza
De ter ao fim da vida esta nobreza
Mortalha se tecendo em podre manto,
Do todo que eu vivera até me espanto
Ao ver no fim da tarde esta vileza,
E tendo em mim funérea natureza
Vedando cada passo, o desencanto,
A pútrida faceta da verdade,
No quanto gera dor e ansiedade
Não deixa qualquer chance e morro só,
A vida se traçando e em cada nó
Vazio com terror torpe mistura,
Nem mesmo uma esperança me procura...


31390


Repleto de ilusões e nada além,
O peito deste espúrio caminheiro
Agora se transforma em espinheiro
São tantas estas urzes que contém,
A vida se mostrara em tal desdém
Do gozo e da ventura nem o cheiro
E quando pelas trevas eu me esgueiro,
A sorrateira face de outro alguém
Em ironia dita o meu futuro,
E assim entre estes párias eu procuro
Sinal de que inda possa resistir,
Mas nada se apresenta à minha face
E ainda que em terror minha alma grasse
Vazio ou mesmo atroz qualquer porvir...



31371

Em vós, Senhora, o sonho em vos servir
Sentindo enfim enérgica vontade
Aonde com ternura a divindade
Do Amor garanta enfim, nobre porvir,
E tanto poderia se sentir
A senda onde a luz sobeja invade
Porquanto a vida em tal felicidade
Soubesse desta glória em elixir,
Servir-vos quão seria em mim a aurora
Conquanto se pudesse adivinhar
Searas onde aos raios de um luar
Minha’lma em tais brilhantes se decora,
E sendo Amor deveras mensageiro
Do quanto tanto sonho é verdadeiro.

31372

Eu sonho ser em ti a violeta
Aonde em raros brilhos vejo a vida,
E tendo em tuas mãos minha saída,
Aonde a fantasia se arremeta,
Pudesse, mas somente sou cometa,
E tantas vezes vejo em vão perdida
Seara que pensara dividida,
E agora a tal vazio se prometa,
Negar a própria sorte e ver o quanto
A vida se transforma em desencanto
E canto, inutilmente, mas persiste
Minha alma noutro norte em tom tão gris
A realidade amarga contradiz,
Deixando o coração apenas triste...

31373

Etéreas luzes ares siderais
E neles veludosas ventanias
Na qual ainda em brilhos tu porfias
Enlanguescidas cenas, vendavais...
Invisto o pensamento em ares tais
E neles entre espaços fantasias,
Iridescentes formas onde vias
Ascendo em ti às honras dos cristais,
Calcino o coração com as promessas
Aonde em fartas cores recomeças
No trilho que nos leve ao antegozo
De tantas festas, sonhos são bacantes
E vejo entre cenários deslumbrantes
O amor por sobre a cena, majestoso!

31374

Ainda se pudesse ser assim
Apodrecida cena em torpe face
Porquanto esta carcaça ainda grasse
Envilecido impasse em que o chupim
Esgota minha força, e vejo ao fim,
O quanto em podridão já se negasse
O rumo que talvez ainda trace
Inútil sonho em fúnebre jardim.
Ingratidão, quimera que acompanha
Aonde no passado este champanha
Domara com ternura a cena e agora,
Mortalha se tecendo em tez sombria,
A morte se aproxima e esta agonia
Famélica figura me devora...


31375

Num toque sensual, desnuda e bela
Expondo-se deveras sob a lua,
A fome me domina e se cultua
Seara onde o gozo ora revela,
Meu corpo no teu porto já se atrela
E assim a nossa senda continua
Enquanto se devora inteira nua
Meu barco singra em ti, aberta a vela.
Assim ao penetrar por insondáveis
Caminhos com delírio imagináveis
Esgoto-me em prazeres incessantes,
E sorvo cada gota deste mel,
E nele sigo ardente, em pleno céu,
Momentos tão sobejos, delirantes...


31376

Qual ninfa se banhando em clara fonte,
Deliciosamente a vejo agora,
E assim ao dominar a fauna e a flora
Beleza se desnuda no horizonte,
E quanto mais ainda já se aponte
O amor que noutro amor eu sinto aflora
A Musa com ternuras se decora,
E vejo claramente em seu olhar,
O quanto pude enfim já desvendar
Das sendas entre bosques, flores, chamas,
Olímpica deidade aonde eu sinto
O que pensara outrora ainda extinto
E acende-se em fulgor quando me chamas...


31377


Percebo quanto o amor em se tratando
Do vértice de um sonho aonde expus
Meu mundo noutro tanto em contraluz
Aos poucos se transforma, o tom mais brando
Ditando este caminho onde e quando
Pudera ser diverso se eu me opus
Esboça-se a verdade e ausente cruz
Um novo sol em paz já se moldando.
Pudesse acreditar nesta promessa
Que é feita mal a noite recomeça
Trazendo em lua imensa a claridade.
Estrelas mergulhando sobre o mar
E nelas vejo o sonho iluminar
O rumo aonde a glória enfim invade...

31378

Alabastrina e pálida beleza
Em leves transparências, sonho farto,
Adentro em ilusões, penetro o quarto
Do amor agora sou a mera presa,
E tanto se entornando tal surpresa,
Enquanto em pensamentos não me aparto,
O mundo e perdendo, já descarto
Do amor imaginário, uma tristeza.
Pudesse ter comigo, em minhas mãos,
As horas mais felizes, mas são vãos
Os sonhos cristalinos, nada resta.
E quantas vezes cri ser diferente,
Amar e ter no olhar o que se sente
A lua adentra o sonho em cada fresta.

31379

Dotô essa caboca amorenada
Deitano como um raio de luá
Tomando cada sonho divagá
Quar fora a noite sempe inluarada
Viola com carinho ponteada,
Trazeno para mim num craro oiá
A rosa mais bunita e o roserá
Mostrano cada cô dessa frorada.
Percuro arguma frô dento do peito,
Um passarim voano sarstisfeito
Cantano quár canáro tanto ansim,
E a lua se mostrano pur intera
Paxão vai me guiano verdadera
Briano com a lua no jardim.

31380


Amar e ser feliz, isto me basta!
Não quero mais enredos tristes não,
E sendo variável a estação,
A sorte dos meus olhos já se afasta,
E tendo a solidão, venal vergasta,
Quem sabe nos teus braços, solução,
Entregue à tal poder de sedução,
Uma alma enamorada sempre é casta.
Acende-se o desejo, qual lanterna
E assim a minha vida em ti eterna
Ternura salpicando cada passo,
E quando em sonhos bebo estes segundo
O amor atravessando tempos, mundos,
Com versos mais diversos quero e traço.



31361

Se a vida se propõe a ser diversa
Do quanto poderia e não existe
O quando se apontando e sendo em riste
Aonde nada além aquém já versa
O pensamento muda de conversa
E quando de teimoso ainda insiste
A morte não se afasta e não desiste
E nela a poesia segue imersa,
Negar o que talvez pareça fato
E tento desfiar e me retrato
No vago de um momento mais profundo,
E quantas vezes sei do que jamais
Pudesse transformar os sempre iguais
Caminhos num que caiba todo o mundo.


31362

Inflamas os desejos e sonegas
Depois arrefecendo qualquer passo
Do tanto ou nada mesmo que ora traço
Andando sem caminho sempre às cegas,
A sorte se negando onde navegas
E bebes o vazio ou mesmo escasso,
Risonho este andarilho quando grasso
Vencidas pedras, ocas, locas, pregas.
Arcar com desafetos dissabores
Restar entre os espinhos sendo as flores
Dispersas num jardim imerso em nada,
A porca torce o rabo e sabe bem
Que ainda do vazio se contém
A senda noutra senda desolada...

31363

Ardendo sem conforto expondo a farsa,
A porta não se abrindo a fechadura
Trocada pelas ânsias da ventura
E nela cada senda sendo esparsa,
Assim ao perceber longínqua garça
A sorte nalgum corvo se amargura,
E o medo do sonhar tanto tortura,
Enquanto a realidade nos esgarça;
Acordo de manhã, pão e café
Acordo e vejo logo a minha fé
Vendida por tostões, abro o jornal,
E sendo sempre assim no dia a dia,
À noite o sonho pinta hipocrisia
E penso numa vida magistral...

31364

Apenas uma sombra se esvaece
Jorrando pelos cantos desta casa,
A morte bate à porta e não se atrasa,
Não vale para tanto reza ou prece,
E sendo o que talvez o que se esquece
Jogado nalgum canto agora embasa
O quanto em fogaréu apenas brasa,
Mas mesmo assim aos poucos nos aquece.
O amor sendo mortalha de si próprio,
Recobre-o tal membrana e em ar impróprio
Desaproprio o quanto fosse alheio,
E assim ao se mostra igual em tudo,
No mundo de nós dois eu não me iludo
Sinceramente estou de saco cheio!


31365


Reflito o que refletes num espelho
E sendo inexorável o final
Inoxidavelmente bem ou mal
A vida não merece algum conselho,
E sei que tanto faz azul vermelho,
Importa é na verdade o ritual
Que sendo corriqueiro e sempre igual,
Já não cabe sequer meter bedelho.
Fedelhos pela casa, sogra à vista
E não tendo sequer quem mais resista
Aviso aos navegantes, caio fora,
O peso do viver se dividido,
Talvez acordo assim sendo cumprido,
Mas quando a gente vê o amor devora...

31366

Apenas agonizo enquanto ris
E tantas vezes vejo a mesma cena
Será que na verdade vale à pena
Tentar humanamente ser feliz?
Se nada do que tanto quero ou quis
Bebendo com ternura mais serena
Ainda se a vereda me envenena
O prado vai gerando a cicatriz,
Somenos importância o tal do amor,
Que quando se faz vil compositor
Do quanto fora belo nem vestígios,
Assim entrincheirados, barricadas
As mortes desejadas e veladas
Condenam dois palhaços aos litígios.

31367

O quadro que pintaste no passado
Sofrível, na verdade (eu te menti)
Ainda na parede lá e aqui
Mostrando o nosso mundo retratado
Em farsa caricata, este borrado
Parece o que conheço agora em ti
E vendo o que deveras sempre vi,
O fardo com terror se fez pesado.
Bem antes que decidas por veneno
Ou tiro à queima a roupa, deixo agora
Herança que carrego? A minha pele
E basta! Corpo a corpo se repele,
E a fera numa espreita me devora...

31368

Aonde se mostrasse sepultura
Qual fora algum altar, ledo velório,
O amor se mostra agora um escritório
E nele esta rotina não se apura,
A sorte se perdendo na amargura,
O quanto no começo um ilusório
Caminho diz futuro sempre inglório,
Trocando assim a porta e a fechadura,
Deixando para trás o que não presta
Do todo genial, a gota resta
E assisto ao meu jornal e ao futebol,
Da camisola bela e transparente,
A sorte em derrocada se aparente
Pensar que esta fagulha fora um sol!


31369

As ilusões tomando já de assalto
Aquela bela dama do passado,
E agora com o tempo ultrapassado,
O que era imenso vira um só ressalto
A besta no sofá em sobressalto,
O almoço novamente preparado
Jantar com mesma cara requentado,
Cachaça batizada e o sujeito alto.
Roncando feito um porco este bisonho
Aonde ainda a espera teimo e ponho,
Jazendo neste sábado ou domingo,
Prefiro uma biriba com amigas
Do que esta realidade em que me obrigas,
Ainda bem que existe o tal do bingo!

31370

Quebrado o coração findando o acordo,
Partindo para a casa dos meus tantos
E sendo poluído em desencantos
O casamento vive em desacordo,
E sempre que pudesse quando acordo
Sujeiras emboloram em quebrantos
Uma alma que pensara outrora em cantos,
E agora não restando nada a bordo,
Pecado é prosseguir, viva o divórcio
O casamento feito em tal consórcio
Contempla tão somente um advogado,
Começa no meu bem agora em bens
Assim nossos amores e convéns
Um preço que é mal pago ou mal cobrado...



31351

Quando o vento traz a ardente
Sensação de fúria e gozo
Num cenário prazeroso
Outro tanto em que tente
Mesmo quando descontente
Vendo o céu mais majestoso
Gosto fino ou caprichoso,
Toma a cena de repente,
Bebo à farta da emoção
E se nada ou direção
A grinalda em himeneu
O que tanto mais quisera
Noutro tanto diz quimera
Céu imerso em pleno breu.

31352


Semeando as esmeraldas
Entre tanta senda vejo
O negar deste lampejo
Quando o sonho tu desfraldas
E também eu sinto esbaldas
Nas angústias do desejo
E sorvendo do azulejo
Doces bons em nobres caldas,
Mas se a sorte é de vingança
Quanto mais ao bem se lança
Mais me alcança a solidão,
Jogo feito sobre a mesa,
Vou tentando a correnteza,
Naufragada embarcação...

31353

Lua rubra toma o céu
Entre tons diversos sei
O disperso desta grei
Onde alheio o meu corcel
Percorrera sorte ao léu
E no quanto eu mergulhei
Nada disto desvendei,
Volto sempre em carrossel,
Gira mundo, o tempo gira
E a verdade dita a mira
Sobre tantas vãs hipóteses
Os meus pés apodrecidos,
Velhas cenas, novas próteses
Mas os dias esquecidos...

31354

Soluçante caminheiro
Coração ganhando o espaço
Quando tanto já desfaço
Não seria mais inteiro
A medalha, o lisonjeiro
Mergulhar seguindo o passo
Novo canto se inda traço
Do passado nem o cheiro,
Rindo quando poderia
Ser a vida uma alegria
Outro tempo se formando,
Mas a sorte sendo ingrata
Nada resta lua ou mata,
Num cenário tão infando.

31355

Entre os álamos o sonho
Carreteira esta esperança
Tanta estrada enquanto avança
Uma foz até proponho,
Mas se quando a tal me oponho
Penetrando a fina lança
No cenário de vingança
Teu sorriso é mais medonho,
Quando enfronho esta incerteza
Na verdade sou a presa
Preso ao quanto não podia
Se sincera também fosse,
Mas deveras agridoce,
Onde resta a fantasia?

31356


Sendo amor antes que tarde
Sendo a vida nova lua
A saudade quando atua
Mesmo amor se for bem tarde
Coerência sem alarde
A palavra dita nua
Sabe quando em vão atua
O que ainda nos retarde,
Vida mansa alcança a paz
O carinho satisfaz
Mesmo quando em falso brilho,
No luar a minha face
Refletindo cada impasse
Noutro rumo se eu palmilho.

31357

O meu conto quando canto
Cotas tantas ultrapasso,
E não tendo mais espaço
Do que sobra já me espanto
Vida cobra com seu traço
O que ainda quero ou faço
Nada vale qualquer canto
Maculara a minha pele
Com a fúria que compele
E também já satisfaz,
Mas alheia ao que virá,
O que busco desde já
Traduzindo apenas paz.

31358

Coração girando à toa
Vem à tona o que vivi,
E se ainda existe em ti
A saudade em que revoa
Água clara, morna e boa
Do desejo que senti,
Outro tanto vi aqui
Neste canto quando ecoa
Satisfaço esta vontade
E se ainda vejo a grade
Não me agrada nova senda,
Sendo assim o peso aumenta
Quando bebo esta tormenta
E o não ser amor desvenda...

31359


Do que fora cetim seda
Sendo agora outro quinhão,
Bebo assim satisfação
Que decerto a sorte veda
E pagando com moeda
Nem melhor que algum tostão,
Ouço a voz desta estação,
Na ventura em que se arreda
Passo a passo, traço eu tento
E se ainda sem provento
Aproveito algum instante
Perco o rumo quando alheio
E se ainda o sonho veio
Não será mais degradante...


31360

Meu olhar agora é franco
O caminho não polui
Mesmo quando ainda influi
Na verdade atinge o flanco,
Queda vejo do barranco
Feito sonho que se rui,
E a saudade tanto pui
O que outrora não desanco,
Vou arisco e arrisco à toa
Se nefasta ainda voa
A minha alma não mais tenta
Nova fuga, ruga antiga,
E se ainda desabriga
Não se obriga à vã tormenta...

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