quarta-feira, 21 de abril de 2010

HISTÓRIAS DE UM REPENTISTA VOLUME 11

1553
Será que essa menina se esqueceu
De tudo que tivemos no passado,
Sabendo que o que resta não sou eu,
Acordo todo dia desolado...
Mas sonho com amor que já tivemos,
Nas noites que sem medo, nos amamos,
Nas horas mais vadias, nos perdemos...
Sem rumo, te pergunto, pr’onde vamos?
Não vejo mais teus olhos, adivinho...
Não sinto tua boca, não me esqueço.
Te quero, não vou mais seguir sozinho,
Amor se não quiser, mudo endereço...
Não posso mais viver só te esperando,
A fila, companheira, vai andando...
X
1554
Por tanto amor que tive em minha vida
Vivendo uma emoção desconhecida.
Recebo teu carinho enfim querida
Com sensação de paz, já esquecida...
E trago, nos meus versos, emoção
De quem viveu, por certo uma ilusão
Que sempre coroou meu coração
Na busca desta incrível sensação...
Eu quero teu amor, de puro encanto,
Trazendo, para a vida, um novo canto.
Vivendo sem ter medo, sem espanto.
Cobrindo essa saudade, belo manto...
Eu quero essa alegria de sonhar,
Na doce fantasia de te amar!
X
1555
Argênteas doçuras, branca neve,
Nestas trevas noturnas, um oásis...
Aos poucos com carinho leve e breve
Mudando sua face em tantas fases.
Dessas névoas, coberta, fino véu...
Vagando solitária num deserto.
Rainha maviosa do meu céu.
Em seus braços futuro vai incerto...
Eu amo suas rendas, seu cetim.
Em brancas, alvas luzes, me inundando.
O bom de todo amor que existe em mim,
Nas horas mais tardias, transmudando.
Beleza que me encanta, toda nua...
Deitada em minha cama, amada lua...
X
1556
Em nossa noite, a lua se apaixona
E trama no luar, seu forte brilho.
Trazendo nosso amor, enfim, à tona,
Nos rastros deste lume, maravilho.
Me esperanço de ter um novo dia,
Escapando por fim, deste marasmo.
Ao sentir essa doce melodia,
Mirando teu olhar, fico mais pasmo...
Eu quero nos meus versos, veros mares,
Furtivos, meus desejos são insanos.
Colhendo, nestes céus, os teus olhares,
Vencendo toda forma de abandonos...
Reflexos irisados sobre os rios;
Em meio a tantas luzes, olhos, fios...
X
1557
Danças, saltos, mergulhos sem parar,
Nossos sonhos envoltos em prazer.
Prazer que nos invade sem parar,
Dançando sem vontade de descer...
Mergulhos, tantos saltos sobre a chama,
Vida que se incendeia e nos fustiga,
Aplaca nossos sonhos, não reclama,
Na cama que rolamos, trama amiga...
Nossa alma é uma nave sem destino,
Vagando pelo espaço sem paragem.
Se temos ou não somos, nem atino,
Apenas te convido pr’a viagem...
Que tramo nestes saltos e nas danças,
Rumando para amor, Roma, esperança...
X
1558
Qual anjo que fustiga tantos sóis,
Imenso e delicado, nosso amor.
Da forma que tu queres já destróis,
A um só tempo frágil; salvador.
Desprende tantos nós que já nos atam,
Em várias magnitudes, minha estrela.
Não sabe dos temores que se abatam
Desfilas teus pendores, és tão bela.
Eu te quero do jeito que tu fores,
Em plena tempestade e no repouso.
Perfumas e me espinhas, como flores,
Tu és a decolagem e meu pouso.
Amada como é bom te ter aqui,
Ao mesmo tempo, penso: te perdi!
X
1559
Minha vida transcorre como um rio
Que caminha em silêncio para o mar.
Perdendo da meada, rota e fio,
Esqueço tantas vezes de sonhar...
Tolices, nada mais... Mediocridade...
Falar dos meus amores, sentimentos...
Caprichos sem sentido, iniqüidade,
Palavras carregadas pelos ventos...
Falar do que passei nesta procura,
Sem ao menos dizer quanto te espero...
Amar não é bradar nem ter bravura.
Também é perceber um bom tempero.
Eu peço, por favor, meus olhos; laves.
Já que do coração, achaste as chaves...
X
1560
Deitado no colchão, macias plumas
Espumas e sensíveis sedas, rendas...
Meus versos em delírios tudo esfumas
Nos risos e nos gozos, oferendas...
De tantos espetáculos vestígios
Deixados nesta cama sem cuidado...
Amores que se foram já prodígios
Aos poucos vai ficando mais calado.
Mas sinto teu amor, sempre singelo
Em torno dos meus sonhos, seus contornos.
Refletem nosso caso, vivo e belo,
Mas órfão, precisando mais adornos...
E sinto que também pensas assim,
Queremos novas danças, mais festim...
X
1561
Minha amiga, por mais que não pareça,
Saiba querida: adoro o teu cantar.
Vida traz tantas dores... Mas esqueça;
O caminho do rio é sempre o mar.
Assim como, em meus versos, eu te peço
O carinho que sei que podes dar,
Tantas vezes, pedindo, te aborreço,
Mas sei que em ti, eu posso confiar...
Nas escadas diversas, mil degraus,
Nas horas mais difíceis, teu abraço.
É luz que me ilumina em pleno caos,
É força que me impele, sem cansaço...
Teu canto é meu sustento de alegria.
Nele, toda esperança em harmonia...
X
1562
Não quero essa saudade, nem tristeza;
Não quero que tu vás. Ó meu amor.
Em minha alma um amor em correnteza
Espelha, como um lago; bela flor...
Tu levas as sementes no teu peito
De esperanças; poder, enfim, amar.
Qual rio que extravasa do seu leito,
Meu peito não se cansa de vazar
Em versos, em desejos e delírios;
Na lua de beleza estonteante,
Pureza destes alvos, belos lírios
Ternura que se encontra num instante..
Não deixe que esta flor se morra, triste...
Paixão que sempre rega, em mim, existe...
X
1563
Eu não tenho medo: sei que noite vem...
Amar não tem segredo, sinto que virás.
Tramar um novo enredo, te quero, meu bem...
Nunca é tarde ou cedo, te quero demais...
Amor que quero tanto. Saiba que te adoro,
Não temo mais pranto, vivendo esse amor.
Em teu manso encanto, cores que decoro,
Versos que te canto, perfumes de flor...
Ondas de ternura recebo em teu braço.
Tanto amor me cura da dor que trazia
Sentindo a brandura, nosso firme laço;
Lume em noite escura, vem no novo dia...
Tanto amor eu sinto que jamais acabe
Nas cores que pinto, tanto amor se sabe!
X
1564
Se tanto amor dedico a quem me quer,
Distingo no horizonte, a branca lua
Vestida neste brilho de mulher
Que sempre resplandece, bela e nua...
Vencido pelo gozo das manhãs
Que, em manhas, sempre assanhas e me dás;
Do gosto e do frescor dos hortelãs,
Cascatas tão orgásticas, me traz...
Eu quero ser completo e convergente
Nos cantos mais recônditos, na busca...
Sabendo que este amor tão envolvente
Não deixa que esta noite seja brusca.
Te quero lambuzar; ternura e mel,
E navegar teu corpo, prazer, céu...
X
1565
Eu sempre hei de adorar doce melado
Que é feito da garapa que adocica...
Deste aguardente todo me embriago
E bebo nosso amor, profuso em bica...
Suores nos salgando, no calor
Desta batalha imensa que não finda.
Vivendo a plenitude deste amor
Na tarde apaixonante de tão linda...
Lambuzo deste mel, meu paraíso;
Da abelha desejada, seu zangão,
Tu pensas que prazer; economizo?
Tu sabes meu amor; resposta: não!
Na louca fantasia que vicia
Te bebo e me embriago de alegria!
X
1566
Não deixe que este sonho, devagar;
Se escorra cruelmente pelos dedos...
É sempre tão difícil se encontrar
Amor que não se poupa nem dos medos...
Não deixe que este caso traga ocaso
A todas esperanças que nós temos.
Se; louco, nos teus braços eu me abraso,
Eu quero, sem temor, que nos amemos...
Se tenho tal vontade de te ter,
Se tenho essa esperança renovada;
Te peço, meu amor, vamos viver,
Seguirmos toda a noite, a mesma estrada
Em rumo à claridade, fogo e chama,
Que sempre encontraremos nessa cama...
X
1567
Eu quero me encontrar perdido em ti
Eu quero me perder em teus carinhos.
Na doce sensação que em ti senti
De bocas, línguas, dentes, sanhas, ninhos...
Eu quero me encontrar dentro de ti
Pensando em ti, vivendo inteiro em ti.
No mergulho mais louco que vivi,
Do raio da manhã que te pedi.
Na orquestra divina, tresloucada,
Sentindo o coração bater sem nexo.
Sentindo esse poder da alucinada
Divisão de prazer sem ser complexo...
Fantasia liberta sem conceitos
Vivendo em nosso amor, sem preconceitos...
X
1568
Amor que nos ligou, solar destino.
Vestindo esta beleza, ser feliz.
Atino que, se um dia, fui menino,
Menino que sonhava cores gris.
Ao ver este solar resplandecente
Qual fora um helianto te buscou.
E vive neste amor mais envolvente
O rastro destes raios que sonhou...
E vaga mal começa uma alvorada,
E sonha com carícias e ternura.
Sabendo que virá a madrugada,
Eterna sensação que seja pura.
Que tenha a eternidade do momento
Mas saiba dar a voz ao sentimento!
X
1569
Onde estava o amor? Por quanto tempo...
Procurava nas noites mais sombrias,
Passando por gigantes contratempos
Sabendo destas noites, vagas, frias...
Estendo-te meus braços, não percebo
Teus olhos escondidos nestes breus...
Nos flocos de esperança não concebo
Saudades doloridas, tanto adeus...
Banhado nesta argêntea, clara lua,
Amor se transformou em pesadelo.
Mas sinto que tu vens, bela e nua.
Amor, como é difícil percebê-lo!
E deito no teu colo, minha amada,
Sabendo que virás na madrugada...
X
1570
Não quero a sensação de ser teu dono
Nem posso definhar de tanto amor.
Não vivo essa emoção, esse abandono,
Transbordo em tentação, louco fervor...
Em cada novo dia, renascer,
Em cada novo canto, me encantar.
Vivendo em plenitude de prazer,
Sorvendo cada gota deste amar...
Sentindo teu perfume, tantas flores,
Desejos maviosos, sensuais,
Sem ter sequer as travas dos pudores
Em noites de prazer, sensacionais...
Nos teus beijos, loucuras de ilusão,
Rebentam na explosão d’uma paixão...
X
1571
Bendito seja o sonho que tivemos
Em meio a tantas luas e promessas
De tanto amor que, loucos, já fizemos,
Desejos vêm aos montes, em remessas...
Benditos os teus olhos radiosos,
Solares e repletos de desejos.
Teus lábios carmesins, deliciosos,
Carnudos tão propícios aos meus beijos...
Roçando tua pele em minha pele
Rolando teu prazer com meu prazer,
Aos versos mais sublimes já compele
Vontade tão teimosa de te ter.
E quero-te entranhada sem ter nexo
De cheiros emanados, amor, sexo...
X
1572
Folheando teu livro da existência
Encontro tantas páginas em branco.
Bem sei que não é simples coincidência
Tais páginas; do meu, também arranco...
São folhas de saudade e de tristeza,
Jogadas desde há muito na lixeira.
Amor que nos redime, fortaleza,
Paixão que nos devora, verdadeira...
Eu quero cada toque dos teus lábios
Eu quero a profusão de uma loucura,
Carinhos mais audazes e tão sábios,
Ternura recheada de torturas...
Tua boca beijar, tão flamejante,
Vivendo nosso amor, irradiante...
X
1573
Liberta em mansidão, uma amizade
Composta de desejos mais felizes.
Sabendo que viver em liberdade
Precisa ter eternos aprendizes...
No dom de ser amigo; uma esperança,
Forrada por carinho e por respeito.
Nos elos tão cerrados da aliança,
Os versos que te faço, satisfeito...
Amigo pressupõe uma coragem
De sempre ser fiel e verdadeiro,
Seguirmos, braços dados, a viagem
Que me colocará desnudo, inteiro...
Nas curvas desgraçadas do caminho,
Eu sou teu vero amigo, com carinho...
X
1574
Da primavera em flores, o meu peito
Vivendo vicejante, transtornado.
Lutando pelo amor, que é seu direito,
Querendo ser de amor também amado...
Estendo os braços meus e te procuro,
Em meio a tais jardins do bem querer.
De luas estrelares, brilho puro,
Que faz o nosso céu resplandecer.
Eu sigo te pedindo essa ventura
De ter o teu carinho, minha amada.
Amor tão forte, intenso, se perdura,
Após o doce beijo da alvorada...
Da primavera, quero a primazia,
De te inundar de flores, de alegria...
X
1575
Brincando no quintal de nossa infância,
Sabendo dos canteiros e jardins.
A vida foi moldada em discrepância,
Vingando em tantos sóis, astros afins...
Mas temos nossos lumes, fantasias.
Mas tenho teus perfumes, mansa rosa.
Mas temo tantas vezes, alegrias,
Ao termos melodia glamourosa...
Na tarde eclipsaremos nosso amor
De raios misturados e potentes,
Vivendo sem temer espinho e flor,
Sabemos que nos temos envolventes...
Aos céus nós subiremos no prazer,
Dos braços enlaçados do querer!
X
1576
Quando falo contigo, minha amada,
Parece que este lume me consome.
Viver é quase sempre uma cilada,
Amor por tantas vezes, simples nome...
Eu ouso muitas vezes murmurar
Falando desta febre que me queima.
Te busco neste raio de luar
Tentando te encontrar, coração teima...
E sinto no meu peito delirante
A febre de te amar que me alucina.
Eu quero um grande amor belo e constante.
Que trague teu sorriso de menina....
Não trague meu amor tanto martírio.
Só quero em nossa vida esse delírio!
X
1577
Formosos olhos buscam outros olhos
Que em sonhos se permitem espelhar,
Impedem que tragamos nos antolhos
Limites que me impeçam de te olhar...
Te vendo, nunca esqueço de dizer
Que o brilho destes olhos me domina.
Olhando o teu caminho posso ver
A luz que me irradia e me ilumina...
Nas cores que este céu já me irradia,
O véu das cachoeiras se rebrilha,
Descendo em cristalina sintonia,
Aos olhos representam maravilha...
Assim como teus olhos, meu amor,
Beleza irradiante, refletor...
X
1578
Buscando nos cristais a claridade
Que possa traduzir meu claro amor.
Não soube deste dom nem qualidade
Capaz de superar tanto esplendor.
Cristais se derreteram num segundo,
Sem luminosidades definidas.
Amor, em tanto brilho, mais profundo,
Supera as tristes pedras, derretidas...
Em outras pedras, tantas; procurei,
Mas nada de encontrar uma rival
Ao fogo deste amor, que é lema e lei,
Nem mesmo na dureza do cristal...
Apenas uma pedra é tão brilhante,
Quanto amor que te tenho, o diamante!
X
1579
Por quantas vezes sigo meus instintos,
Acertos, erros, faço em profusão.
Os sentimentos tortos ‘stão extintos,
Às vezes não encontro solução...
Quero sentir teu cheiro em meu olfato,
Quero sentir teu gosto, paladar,
Quero sentir teu toque, todo o tato
Quero sentir prazer só por te amar...
Quero te ver passando ensolarada,
Quero te ouvir cantar teu doce canto.
Quero te ter comigo, minha amada,
Sabendo que em teus dias, meu encanto...
Por quantas vezes sigo meus sentidos,
Buscando em nosso amor, tempos perdidos...
X
1580
Num sonho mais sagrado, em manso amor,
Amada tão distante nunca vinha.
Vencendo esta distância sem temor,
Trazendo uma esperança toda minha.
Do mimo que este amor já me inundou,
Estimo nossas noites maviosas,
E todo meu jardim se perfumou
Das várias, diferentes, tantas rosas...
Amor se não der jeito não se forma,
Amor sem ter direitos não vigora.
De tudo quanto amor, amor informa,
Te quero meu amor, mas venha agora...
Nos planos mais diversos que possuo,
Amor que nos faz uno, sendo duo...
X
1581
Amor, bem sabes tudo o que receio,
Mas tantas emoções, amor apura.
Deitado em languidez sobre teu seio,
Encontro, para o amor, uma armadura...
Proteges, com carinho e com ventura,
Das lutas que mais temo e mais anseio.
Amor é desvendar numa aventura
Mistérios que me enlevam, em que creio...
Ao poderoso dono do destino,
Que sabe conquistar e me domina.
Futuro tão incerto descortino
Nos braços de quem amo e me alucina...
Não vejo desafios mais constantes
Que aqueles que nos tornam em amantes...
X
1582
Jazendo neste canto, sem juízo,
Amor que me entranhara, enfim, suspira.
Acende tanta luz do paraíso
E queima eternidade numa pira...
Dos reinos encantados que viera,
Amor se enamorou de quem pensava
Que amor fosse distinto por ser fera,
Porém amor a todos dominava.
Eu, vítima das garras do carrasco,
Sem medo, rebelei-me, num segundo.
Invade meu navio, rompe o casco,
Em meio a seus desígnos, eu me afundo...
E submergido morro prazeroso,
Entregue a tais delícias deste gozo...
X
1583
Arvoras a ser deus querido amigo,
Não sabes da potência deste canto.
Não vives puramente por perigo
Não tramas da esperança seu encanto...
Não sabes entender esta explosão
De cores e de formas mais sutis,
Que chamam simplesmente de paixão,
Que mata e que me faz triste e feliz...
Emprestas tal desejo ao nada sabes
Não cabes nem no gosto e nem no gozo.
Amigo, eu já te peço, não acabes,
Nas ruas como fosse um andrajoso...
Amor, se tu resistes; nada sobra,
Da forma que te dá, também te cobra...
X
1584
Em desencanto pleno e sem mortalhas
Vestido de ilusão por ti, querida.
As horas se jorrando; qual navalhas,
Formavam a grinalda dolorida...
Os céus resplandecendo parcas tramas
Em tantas tramas loucas me dizia
Das farpas e dar marcas das escamas
De serpentes marinhas que trazia...
Sem nexo ou talvez sem ser possível,
Amor me derrocava sem ter penas.
Sobrara tão somente a dor incrível,
Entranha em minha pele, morro, apenas...
Mas eis que superar calamidade
Somente necessita da amizade!
X
1585
Quem pensa que o amor é tirania
Se perde sem amor por toda a vida.
Amor não se traduz em vilania,
Em luz se reproduz e dá guarida...
Eu sinto nosso acaso como um caso
Que foi abençoado por um deus.
Não temo nem tremores nem ocaso,
Meus olhos não permitem teu adeus...
Por mais que sempre fomos inconstantes,
Diante deste amor somos concretos.
Sabemos que invejaram; delirantes,
Por isso estamos sendo mais discretos.
Mas veja que assim mesmo vamos fundo,
No grito deste amor, maior do mundo!
X
1586
Amor que se sustenta das entranhas
Daquele a quem devora, sem perdão.
Por mais que minhas dores são tamanhas
Juízo, nunca toma um coração!
Ditoso de quem ama, não discuto,
Embora tanto amor me cause dor,
Nos versos que te faço, tanto luto
Por certo meu caminho é sem temor..
Assim que me encantava, amor chegou,
E veio com macias esperanças.
De tanto que este amor me maltratou,
Vivendo tão profundo nas lembranças...
Agora que te tenho, minha amada,
Lutar contra esse amor, não deu em nada...
X
1587
Amor que me impediu temer a morte
De sorte que não posso mais temer
Nem urzes e nem cruzes, forma forte
O canto que te possa remeter...
E mostro neste canto tal potência
Que mesmo nas desgraças me contém.
Amor vai me ensinando a ter clemência
Com quem passa essa vida sem ninguém.
Coroa um sentimento sem saudade,
Sem dores e sem males, sem tormentas,
Amor que me ensinou a liberdade
Nas asas em que voa, me fomentas...
Minha alma na tua alma, amor nos una,
Formando um forte laço, uma fortuna...
X
1588
Campos mineiros, belos arvoredos,
Luas mineiras, cheiro de café...
Nos sóis mineiros, tantos os enredos.
Nos domingos mineiros, tanta fé...
Silvestres morros, límpida esperança.
Da dança que se entranha neste povo.
Da liberdade, um sonho que se avança,
De ver, desta janela, amor mais novo...
Nos braços encantados da morena,
Que o sol enamorado já bronzeia.
A noite enluarada sempre acena
Com doce tentação de lua cheia.
Tão bela que parece ser um queijo
Desnuda se entregando ao solar beijo...
X
1589
Amor, meu contraponto da existência
Meu verso predileto e mais loquaz.
Amar não é somente coincidência
É mais do que provar-se ser capaz...
A força que se emana deste fogo
Não deixa mais um resto sem abalo.
Amar não é somente um louco jogo
É sonho que me invade, onde me calo...
Amor sem ter juízo já me perde,
Insano me desfaço sem razão;
Aos poucos sanidade vai e cede
Espaço pros delírios da paixão...
É tanto que não posso mais falar
Somente se conhece amando amar...
X
1590
Amor; mesmo esperanças já perdidas
Prometem novos cantos se quiseres.
As horas que vivemos destruídas
Renovam-se nos sonhos que puderes.
Eu sinto que não vale mais a pena
Sentir essa tristeza que se apressa.
Mudemos de sentido a velha cena
Teremos novo amor, assim depressa.
Disperso o sentimento como pólen
Esparso pelo vento, sem destino.
Talvez se algumas flores o recolhem
O dia nascerá tão cristalino...
Não temo a primavera nem outono,
Não quero combinar com abandono!
X
1591
Tanta tristeza guardas no teu peito
Imerso em velhas cruzes do passado..
São cruzes que se acham no direito
Trazerem duro mal, já redobrado...
Na certa uma miragem te enganou
Te dando a sensação de liberdade.
Vestígio deste sonho terminou
Volvendo com tristezas e saudade...
Não fora bom saber das cicatrizes
Que talham em profundas tatuagens.
Mil vezes encontrarmos aprendizes
Que mestres nos encantos, nas viagens.
Mas saiba, companheira de caminho.
Teu mundo, nunca mais vai ser sozinho...
X
1592
Subindo pelas serras, cordilheiras,
No sonho libertário de Simon,
Eu quero fantasias verdadeiras
Ouvindo destas serras, eco e som...
Eu quero a liberdade do condor
Voando pelos céus americanos,
Achando nas montanhas este amor
Liberte-me dos frios, abandonos...
Por terras que percorras, por montanhas,
Por mais distantes mundos que desandes
Não sabes destas dores mais tamanhas,
Encontro meu amor em magos Andes,
Na força e serventia destas lhamas,
Amor que tanto queima quanto chamas...
1593
Incrível como os raios deste sol
Invadem a minha alma totalmente.
Lutando tantas vezes, sigo em prol
No rol de seus caprichos vou demente.
E sinto, enamorado, em cada raio;
A força e a potência desta estrela.
Me prende, não consigo, nunca saio,
Da simples emoção de querer vê-la.
No toque carinhoso matinal,
O sol do seu olhar, cedo me invade,
Na praia dos desejos, sol e sal,
Não posso mais lutar contra, quem há-de?
E quero que me beije com furor
Entregue a seus carinhos, meu amor...
X
1594
Nas mansas águas claras onde embarco,
Meus marcos são teus olhos, os meus guias;
Em cada novo sonho, um novo marco,
Em cada novo marco, a fantasia.
Se marcas e tatuas cada canto,
Abarcas cada encanto com carinho.
Não deixo de sorver e quero tanto,
Bebendo loucamente do teu vinho...
Desnudo meu segredo, solto ao vento,
Inundo sem ter medo, morro solto.
Mascaro com sorriso, o sofrimento,
E deixo o pensamento mais revolto.
Banhando-me em teus rios, mansas águas,
Decerto esquecerei das tantas mágoas...
X
1595
Depois de ter passado tanto tempo,
Vestido de ilusão não mais me mostro.
Não quero ser teu simples passatempo,
Sorver da vida a força de um colostro.
Que faço desses versos, te pergunto;
Que faço dessa vida sem meus versos?
Não vejo mais leveza neste assunto,
Seguindo por caminhos mais diversos.
De versos, diversões, tuas versões
São várias as verdades que inventaste.
Vencido sem saber mais de verões
Não quero que me trates como traste.
Eu amo, simplesmente, nada mais;
Por isso meu amor, até jamais...
X
1596
Sem hora de ser tudo assim, senhora,
Dos dons que te traduzem, sou o resto.
Minha alma na tua alma pede escora,
Mas sinto que sem rumo, nada presto.
Idéio novo canto pra te dar
Em versos mais singelos e serenos.
Não gostas do meu parco versejar;
Nem queres que te mostre meus venenos.
Nas conchas escondidas no oceano,
Amores formam perlas maviosas.
Das dores, sentimento de abandono,
No fundo são espinhos dessas rosas.
Mas quero me espinhar nos teus delírios...
Prazeres escondidos nos martírios...
XXX
1597
Amiga, nestes versos que te faço
Não traço nem caminho nem desdita
Se passo tanto tempo e me esfumaço
Talvez seja por sorte tão maldita.
Se aflita te encontrei sem ter ninguém
Se vem essa vontade de chorar
Se imploras pela vinda deste alguém
Que teima e não se cansa de chamar.
Amiga, o meu destino é sempre a esmo,
Se mesmo de te amar não bastaria,
Se alegre ou se estou triste, sou o mesmo,
Na dor meu coração já te sorria.
Amiga, contarás sempre comigo,
Eu sou, tenha a certeza, teu amigo!
XXX
1598
Aos poucos te conheço e reconheço
Acertos e vantagens em te ter.
Se queres tanto amor, eu te obedeço,
E busco meu amor satisfazer.
Verdade, por pior que sempre doa,
Trazendo lealdade, sempre traz;
Firmeza no que pensas da pessoa
Que sempre verdadeira, amor te faz.
Não posso conviver com tais disfarces
Que, fáceis, muitas vezes nos destroem,
Nos beijos mentirosos, noutras faces,
Não fazem quase nada e nos destroem.
Não deixo me enganar, experiência,
Por tramas que me roubam consciência...
XXX
1599
Eu quero a sensação da liberdade
Do vôo deste canto que te fiz.
Bem sabes navegar eternidade
Por mundos que procuras, mais feliz...
Amor-hemorragia, nunca estanco;
Não deixa de sangrar por cada poro.
Em toda esta esperança me alavanca,
Num sonho em fantasia me evaporo.
E sinto teus desejos satisfeitos
Nos gozos mais profanos e benditos.
Lençóis e travesseiros vão desfeitos
Nos toques mais profundos e bonitos.
Amada, delirantes nossos vícios,
Mergulhos neste mar, nos precipícios...
XXX
1600
Encontro, nos teus olhos, o segredo
Que tanto procurei, sem ter sucesso.
Os raios deste sol que nasce cedo
Concedem aos desejos, réu confesso...
Amar, serenidade, com ternura,
Que invade toda a tarde e toda a noite
Mergulho, insaciado na ranhura
Da boca e também do doce açoite.
E quero a cicatriz em carne viva
Do amor que me inundou, mel e garapa.
Rompante luz solar, luz radioativa
Ao teu calor, a lua, nunca escapa.
E deixa-se entregar intensamente,
Aos raios deste amor, deveras quente...
XXX
1601
Quanto mais repartires sentimentos
Mais forte, com certeza, tu serás.
A força com que lanças pelos ventos
A voz com que se mostra tanta paz.
É sempre a que tu guardas no teu ser.
Eu sinto que não temes mais a morte,
Na sorte maviosa de viver.
Que faz de todo mundo bem mais forte!
Amiga, não permita que a loucura
Invada a sensatez que é tua amiga.
Perceba como é clara uma água pura,
Assim no teu caminho vá, prossiga.
A senda de quem segue é mais estreita
Conforme a tirania a que sujeita...
XXX
1602
Como curar, de amor, a tal ferida;
Que invade terebrante e não me deixa.
Se sinto se esvaindo a própria vida,
Amor quando demais, traz sempre queixa.
Não posso contra amor, sem resistência,
Nem posso com a dor que amor me traz.
Deveras é preciso paciência,
Lutar contra esse amor não sou capaz.
Entregue na batalha, sem defesa,
Entregue nos teus braços, fogo ardente.
Eu sinto que te quero com certeza,
Vencendo que de amor era descrente.
Querida; todo amor que vale a pena,
De penas e de luzes, pinta a cena...
XXX
1603
De manhã acordando tão feliz
O mundo que sonhei achei aqui.
Depois de tanta coisa que sofri
Destino agora trouxe o que já quis
Bem sei que não terei sequer mais bis
O rumo desta estrada que perdi
Me trouxe sem saber do que pedi
O céu que não me cobre qual matiz?
O fim de todos erros desenganos
Os sonhos mais difíceis e profanos.
O chato é que essa cama é meio dura.
Não tem televisão nem celular
Mas também para quem eu vou ligar
Aqui de dentro desta sepultura?
XXX
1604
Nas grandes esperanças que trazia
Dos tempos mais felizes que perdi.
Recebo tal notícia de alegria,
Espero por teus olhos bem aqui.
E cuido dos meus erros, meus enganos,
Procuro consertar os meus caminhos.
Vivendo tantos ermos, abandonos,
Quem fora solitário, sonha ninhos...
Dispersos; os meus gritos são vazios,
Espreito um novo dia, amanhecer...
Meus cantos sem sentido, sós, vadios,
Aguardam novos tempos de viver.
Amor de intensidade tão crescente,
Aos poucos, me tomando novamente...
XXX
1605
Vivendo essa aventura com afinco
Sabendo que me perco e não reparto;
Debaixo do telhado, o mesmo zinco,
Saudade do que fui, cedo descarto.
Não tenho nem ternura e nem afeto,
Sou brusco como nunca imaginei.
Depois de tanto tempo um esqueleto
Agora mais direto, escancarei.
Em toda essa certeza, a timidez,
Que sempre foi voraz uma adversária
Tentando disfarçar essa nudez
Numa agressividade temerária.
Amor foi tão difícil declarar,
Que sempre me escondi, morri no mar...
XXX
1606
Desperto, e de repente nada vejo.
Minha visão turvada por temor,
Sabendo que não sabes do desejo
Que temo traduzir por novo amor.
Meu peito qual algoz sabe a desfeita
Que sempre todo amor, no fundo traz.
De tanta virulência a tez refeita
Procura por um novo capataz?
Não vejo mais saída ó coração,
Tu gostas de sentir-se amordaçado.
Embarco na armadilha da ilusão,
Embora creia esteja vacinado.
Nas sombras desta noite em que caí,
A sorte é que no fim, sobrevivi....
XXX
1607
De tanto mergulhar no nosso mar
Em busca do que penso ser saída,
Por vezes me permito imaginar
Como é profunda e bela nossa vida...
São versos que te faço, companheira,
Palavras que soltei num vento amigo.
Eu quero ser feliz a vida inteira
Levando teu amor sempre comigo.
A noite empalidece com a lua
Esfuma uma esperança nos meus versos,
O canto que te fiz, se perpetua,
Singrando qual cometa , os universos.
Deitado neste intenso pratear,
Eu sinto nosso amor, pleno voltar...
XXX
1608
Quem luta contra amor, nunca resiste.
Amor não se permite uma objeção.
Lutar contra um amor é viver triste,
Viver assim contendo uma explosão.
Não posso compreender hostilidade
Se somos dele eternos prisioneiros.
Eu falo com total honestidade,
Amores, nas batalhas, os primeiros.
Amor se encontra lutas sempre ganha,
Não posso contra amor, num abandono.
A força deste amor é tão tamanha,
Que amor assim, parece-se tirano...
Não tenha meu amor, esta ousadia,
Senão a dor te impede a fantasia.
E assim, por certo, toda uma alegria...
XXX
1609
Amor que me tramara novo canto
Se espanta com teu brilho, mulher-sol.
E vive se explodindo num encanto,
Na mágica atração por teu farol.
Das Minas mais douradas do meu sonho,
As pedras preciosas, diamantes.
Te quero, minha rosa, te proponho,
Os dias mais amantes e brilhantes.
Conquanto nosso amor é néctar puro,
É sol que se embrenhando traz a lua.
No mármore esculpi nosso futuro,
E a vida, transformada, continua...
E sinto que faremos novos filhos,
Nos raios tão sedentos, nossos trilhos...
XXX
1610
De tanto que este amor, amor emana,
De tanto que esta luz implica fogo;
A força que me traga, é tão tirana,
Que sempre irei perder, no fim, o jogo.
É fonte de ilusão mais cristalina,
É fonte dos desejos e dos sonhos.
Amor é ponte louca que domina,
Entre dois portos rudes e risonhos...
Nos cacos que tivemos em junção,
Erguemos um castelo de esperança.
Unindo dois num só, revolução,
Coração-coração, uma aliança.
Eu misturo meu sangue com o teu,
Todo o teu misturado com o meu...
XXX
1611
Não quero inimizade de ninguém,
Meus versos te procuram, cara amiga.
A noite que por certo sempre vem,
Sem ter uma amizade se periga.
Eternamente logro meu destino,
Fugindo deste amor como o diabo.
Exprimo no meu canto sem ter tino,
Em noites mais dolentes eu me acabo.
São rudes os meus versos, disso eu sei,
São pobre minhas rimas, sem sentido.
Amor que me fizera pensar rei,
Por mais que nada fora, decidido...
Estampo um sentimento verdadeiro
Coloco teu retrato num letreiro...
XXX
1612
Te faço a confissão do meu delírio
Em forma de desejo e tanto amor.
A vida adoração que é meu martírio
Em versos que tentei pr’a ti compor...
Tu estás aqui dentro, do meu peito,
Tormenta e maravilha que me sugam.
As lágrimas demonstram satisfeito
Desejo dos meus olhos que se enrugam...
Escrevo com temor quase gelado
Os versos inauditos, miseráveis.
Que falam deste amor que foi jogado
Nos ventos mais difíceis, intratáveis...
Mas tenho teu amo, isso me basta,
E toda a insensatez, amor afasta...
XXX
1613
Levando minha vida pelo mar,
Marés e tempestades, maresias...
Abraços entre lua, sol, amar,
Marulhos de prazeres, alegrias...
Quem dera timoneiro, pensamentos.
Quem dera solidez em novo cais.
Perdendo, nunca mais rosa dos ventos,
Espero pelos mares, mas, jamais...
Não quero perceber, do mar, a trilha,
Nem quero navegar sem sentimento.
Não me deixe sozinho, não sou ilha,
Eu quero teu amor, cada momento...
Levando minha vida; solto a vela,
Amor que tanto quis, já se revela...
XXX
1614
Nos teus encantos perco todo o rumo...
Amada que pensei jamais voltasse.
O canto que te peço, novo prumo
É como enfim viver sem ter disfarce.
Não sinto mais o fogo que queimava
Mas tenho em teu amor suave cais.
A noite que por vezes não chegava
Em versos que te faço, trama a paz...
Um anjo adormecido, bela imagem,
Na pele da morena que queria.
Sentindo em pensamento tal aragem
Que traz no teu sorriso um novo dia...
Minha alma se renova em cada trama,
Revive e te encontrando, logo chama...
XXX
1615
Não quero a noite eterna sem te ter;
Talvez fosse promessa que fizemos.
Se não consigo mais sobreviver
Meus versos; em carinho, concebemos...
Na noite que virá, sem outro dia,
Espero que me encontres. Dê um jeito.
Não deixe esmaecer a fantasia,
Morrer fazendo amor: Isso é perfeito!
Num ato carinhoso de lazer,
Deitado nos teus braços, cavalgado,
Numa agonia intensa do prazer,
Num gesto assim divino, abençoado..~
A certeza absoluta que preciso,
Entrar pelos portais do paraíso!
XXX
1616
A vida que se sangra em cada porto,
Vertendo em hemorrágicas saudades.
Não vale o que se leva tão absorto,
Esquece de brindar realidades.
Eu dou meu testemunho se quiseres,
Eu sou o que seria se não fosse
Amor da forma louca que vieres;
Amor de qualquer jeito, me remoce!
E faça do outonal, primaveril.
E fale com firmeza e com ternura.
Mudando meu destino, amor sutil,
Que emana e se alimenta em fonte pura.
Vislumbro melhor tempo de chegada,
Depois destas procelas, minha amada...
XXX
1617
Deitando calmamente no teu colo,
Depois desta batalha sem ter fim.
Forjando nova vida deste solo,
Plantando tanta luz de amor em mim..
Granulo uma esperança formidável
Nos versos irmanados, tu e eu.
Ouvindo teu carinho, tão amável,
O medo de morrer, enfim, morreu...
E quero ser semente que engravida
A vida sem temores que propomos;
Tristeza nada faz, morre esquecida,
E como da alegria, tantos gomos.
E quero lambuzar-me neste sumo
Perder, no teu quintal, meu senso e rumo...
XXX
1618
Nós somos filhos desta encruzilhada
Que a vida, de tocaia, preparou.
Herdeiros do vazio, somos nada,
Apenas o que ocaso desenhou...
Da terra malfadada; pedra, espinho.
Do tempo que esquecido, já se foi.
Marcados pelas dores do caminho,
Sangrando neste arado, pé de boi.
Nós somos divisão duma esperança
Jogados nestes córgos, sem futuro.
Traçamos desde sempre essa aliança
Tramada neste chão que é seco e duro...
Mas amo cada palmo desta vida,
Arando meu desejo em ti, querida...
XXX
1619
Ousando ter amor por quem temia,
Sabendo ser feliz quem não se engana.
Da noite que promete ser mais fria,
Eu quero essa doçura, mel e cana...
Bastiões e fortalezas me protejam
Das ondas destes mares mais atrozes.
Amores e saudades se pelejam
Escuto, neste escuro, loucas vozes...
E tento me esconder deste tormento
Que invento, sentimento mais perfeito.
Não quero tomar tento, sofrimento,
Meu peito, deste jeito, satisfeito...
Meus olhos se entregando ao sol, perdidos,
Jamais se encontrarão arrependidos...
XXX
1620
Dos mares tão mineiros que tramamos
Mergulhos nas montanhas das Gerais,
Macios nossos sonhos decoramos
Com mares que mineiros mostram mais.
Os ares das montanhas e das montes
Das fontes que jorramos nesta cama,
Das tramas que fizemos, do horizonte,
Dos versos verdadeiros, veras chamas...
Eu quero versejar e navegar
Os mares que me deste, por empenho.
Vencido pelas minas deste amar,
Das minas e montanhas cedo venho.
E cedo em teu carinho tal ternura
Que vejo em teu amor, a nossa cura...
XXX
1621
Se trago tantos erros, quero acerto.
Se tramo tantos rumos, quero um cais.
Se quero ter oásis num deserto,
Amor que sempre quis, quero demais...
Ceifadas pelas dores, esperanças,
Lavradas com suor, sangue e tristeza.
Não quero o prato frio da vingança,
Apenas que me leve a correnteza...
Quem sabe tanto amor, por certo sonha.
Quem sabe tanta luz, não quer mais breus.
Amar demais, jamais, não me envergonha,
Meu medo se resume num adeus...
Por isso estou aqui de peito exposto,
Sonhando com amor, seu jeito e gosto...
XXX
1622
Não quero o sofrimento como lema,
Tampouco a solidão como estandarte.
Amar é repetido e doce tema,
Por isso é que pretendo sempre amar-te...
Não deixo que se perca o pensamento
Em meio a tantas dores que vivi.
Nas curas que pretendo, bom ungüento,
No mundo sem amores, me perdi...
Cobiço teu carinho em meu carinho,
Anseio pelos seios maviosos.
Amor que louco sinto, é como o vinho,
Inebria em milhares, tontos gozos...
Não quero o sofrimento nem o medo.
P’ra ser feliz, amor, é meu segredo...
XXX
1623
Amiga, tantos versos dediquei
Aos nossos sentimentos mais fiéis.
Sabendo que viver é dura lei,
Nem sempre das abelhas, doces méis...
Mudanças que bem sei em nossos rumos,
São coisas que encontramos no caminho.
Bebendo desta dor,amargos sumos,
No colo desta amiga, meu carinho...
É porto que imagino mais seguro,
É barco que me ajuda a navegar.
É lume que clareia mar escuro,
É sonho tão gostoso de sonhar...
Amiga, te agradeço de verdade,
Bendito teu amor, tua amizade!
XXX
1624
Flechado pelas setas de Cupido,
Envolto na esperança mais sutil.
De tanto que sofrera, já me olvido,
Te sinto novamente, tão gentil...
Eu sei que degeneras numa fera
Se tantas regas nunca forem dadas,
Padeces das complexas quimeras,
As asas, muitas vezes, amputadas...
Mas quero me embrenhar nos teus cabelos,
Vivendo novamente tuas matas.
Talvez inda me venham pesadelos,
Com mãos suaves, sempre me arrebatas...
E morro, novamente em teu destino,
Amor que me domina, sou menino...
XXX
1625
Quem dera ser lascivo passarinho
Que canta conquistando sua fêmea;
Assim com a viola e com meu pinho
Eu busco, no sereno, uma alma gêmea...
Distantes dos meus cantos não me escuta,
Sonhando com seu príncipe encantado.
De músculos bem feitos, força bruta,
Que pena que estará desencantado...
Princesa, me desculpe tal franqueza,
Não falo por inveja nem me escapo.
O dono de tal força e de beleza,
Aos poucos, virará terrível sapo...
Mas deixo que o futuro se apresente,
Apenas não te quero penitente...
XXX
1626
Das cruzes que carrego, em sentimento;
As trevas do que fui inda me pesam.
Não bastam tempestades, chuva e vento,
Olhares incisivos me desprezam...
Não quero que este canto seja isento
Dos erros que perfazem meu caminho.
Mas, juro, minha amiga, sempre tento,
Fazer com mansidão, recanto e ninho...
Instintos que se tornam mais domados,
Indômitos geraram tantas dores.
Agora nestes dias esgotados,
Aprendo a semear algumas flores...
Assim como a amizade real é pura,
Meu canto busca encantos na natura...
XXX
1627
A luz de uma amizade se acendia
Em meio a tantas nuvens carregadas,
Traduzo teu carinho em alegria,
Ajuda nessas dores mal curadas...
Tomando toda a vida como base,
Amigos encontrei, decerto, poucos...
Curando essa ferida, põe a gaze
Impede que meus dias sigam loucos...
Melhor saber que existes, meu amigo.
Dá forças pr’a seguir a dura estrada.
Percebo, em cada curva, outro perigo,
A mão que me sustenta, abençoada...
Por mais que este caminho seja duro,
Nos passos co-relatos, me asseguro...
XXX
1628
Que bom saber que estás dentro de mim,
Embora me escondeste tolamente.
Amor quando em amor se faz sem fim,
Não deixa que isso ocorra, de repente.
Mas sei o quanto quero o teu querer.
Mas sei que te desejo em cada dia;
Entranhas tua vida no meu ser,
Embora eu, meramente fantasia...
Espero; uma ousadia da esperança,
Que venhas desfrutar desta ternura,
Mais forte do que pensas, a aliança,
É feita deste amor, em amor cura.
Não quero ser somente aborto em grão,
Preciso desfrutar nossa paixão!
XXX
1629
Quem dera ser criança novamente,
Brincar em seus jardins, em seus canteiros.
Correndo pela casa livremente.
Meus dias mais felizes, verdadeiros...
Da fruta que roubava no quintal;
Da roupa que quarava sob o sol...
De cores, minha vida, um festival.
No rio, uma esperança feita anzol...
Agora que te vejo assim, meu filho,
Noutros jardins, as mesmas brincadeiras;
Brilhando como o sol, me maravilho,
E vejo renovarem-se tais bandeiras
Do amor que me mostrou como é possível
Ser feliz. Renovar um sonho incrível...
XXX
1630
Doces lembranças guardo do passado,
Dum tempo tão feliz em plena glória.
Sentindo-me, por ti, tão bem amado,
Jogado nos arquivos da memória...
Trazendo em largos dias, tanta paz.
Vivendo o que queria ser vivido.
O quadro na parede, o sonho traz,
Sabendo que jamais vai esquecido...
Erguendo, das saudades, uma taça;
Num brinde de esperança pro futuro.
Não deixe, meu amor, bolor e traça;
Reacenda esse quadro tão escuro...
E vamos renascer, nosso presente,
Amor que sempre fora mais contente...
XXX
1631
Deitada na verdura do arvoredo,
Desnuda sob o sol, desfalecida...
Espera por carinho desde cedo,
Aguarda uma esperança adormecida.
Eu sinto que tu queres tanto amor
Que não posso te dar, nem receber.
Teus braços que sei plenos de calor,
Abraçam essa vontade de viver...
Mas amo teu amor e teu desejo,
Desejo teu amor bem junto ao meu.
Meus lábios aguardando por teu beijo,
Teu beijo que em lábios se perdeu...
E chamo calmamente por teu nome,
Entre as estrelas, nua, a lua some...
XXX
1632
Quando em teus desejos percebia,
A fonte luminosa dos prazeres;
A noite se esfalfando em alegria,
Vivemos nossas tramas dos quereres.
E sinto a natureza deste amor,
Reluz especular olhos nos olhos.
Não falo mais em medos ou pudor,
Apenas vou morrer sem ter abrolhos.
Nos favos onde sorvo o teu bom mel,
Polinizas meu mundo com teu gosto.
Ascendo, sem ter asas, no teu céu,
E vivo loucamente, vou exposto.
E mostro cada parte do meu ser,
Entregue na ventura de te ter...
1633
Amigo, não permita que a distância
Destroce um sentimento tão feliz...
Espero que tu tenhas tolerância
E saiba que amizade sempre quis.
Nos trôpegos caminhos pela vida,
Por vezes estaremos mais sozinhos.
Assim uma presença tão querida
Liberta das tristezas, os caminhos...
A vida vem em ondas e maltrata,
Espero teu amparo tão sincero.
Uma amizade nunca se desata,
Num sentimento triste, duro, fero...
Eu quero encantamento que me traz,
Nosso companheirismo, sempre em paz...
XXX
1634
Recebo de teus braços, fogo ardente
Que teima em me queimar sem piedade.
Declino-me em teu colo, vou contente,
Sabendo que encontrei felicidade...
Não quero mais engodos nem enganos,
Meus medos esquecidos no passado.
A vida permitiu ter novos planos,
Agora eu quero estar sempre ao teu lado.
Não faço mais discursos sem ter nexo.
Meus versos d’ora em diante têm sentido.
Deitando no teu corpo, nosso sexo,
Agora meu prazer jamais contido...
De amores hedonistas, não me farto,
Nenhum novo desejo, em nós, descarto...
XXX
1635
Ilustre teu caminho, minha bela.
Eu sei que irei te amar a vida inteira.
Amor assim demais, amor revela,
Amar passou a ser nossa bandeira...
Desprezo tais ciúmes de quem pensa
Que amor é como guerra e quer batalha.
Amor não preconiza recompensa,
Também não nos permite qualquer falha.
Revolta-me saber que bem distante
Dos olhos de quem ama, a solidão,
Vagueia procurando a cada instante,
Um jeito de matar essa emoção...
E quero ter teu corpo sempre assim,
Vibrando meu desejo sem ter fim...
XXX
1636
Meu coração buscando uma resposta
Em vagos turbilhões quase se afoga.
A mesa dos amores já foi posta
Meu peito enamorado, tanto roga.
Eu quero uma ilusão para viver,
Não cabe mais o medo da derrota.
Amor é seduzir, e poder ter,
Da vida, uma alegria além da cota...
Eu, vendo teu sorriso mais tranqüilo,
Não deixo de sonhar felicidade.
Amando teu perfume e teu estilo,
Não deixo-me levar pela saudade.
Meu coração buscando manso cais,
Percebe como é bom te amar demais...
XXX
1637
Bêbado da garapa desta boca
Que tanto lambuzei com beijos meus.
Vontade de gritar, a voz mais rouca,
Meus olhos nos teus olhos, mais ateus..
Enquadro o belo rosto nos meus olhos,
E vejo em tal beleza um espetáculo.
São flores, primaveras, tantos molhos,
Predisse ser feliz, um bom oráculo.
Se já tive improfícuas agonias
Agora me sustento em teu amor.
Nascemos de perfeitas harmonias,
Em cada novo verso que compor.
Beijando tua boca mansamente,
Ensolarando a vida, de repente...
XXX
1638
Os olhos mais formosos que já vi
Pertencem a você, minha querida.
Se dentro dos seus olhos me perdi,
Neles encontrei a minha vida...
Eu sinto que jamais a perderei,
Enxergo com seus olhos, minha amada.
No mundo tão bonito que sonhei,
Sem seus carinhos, juro, não sou nada...
Eu quero vasculhar o meu desejo
Nas ruas, nas estradas, nos espaços.
Olhando, por seus olhos azulejo
O mundo tão perfeito dos seus passos...
Levando meu olhar junto co’o seu.
Vou cego, nada além é negro breu...
XXX
1639
Do néctar deste amor que sorvo inteiro,
Deitando em tua cama, meu prazer.
Eu quero usufruir do verdadeiro
Maná que irá dar forças p’ra viver...
Beber cada gotícula dispersa,
Lamber cada centímetro que trazes.
Não ocupar a boca com conversas,
Mudando de cenários, camas, fases...
Eu quero emudecer enamorado,
Não ver o tempo nunca, nem pensar...
Saber que te encontrei; e, sem pecado,
Nos teus vales profundos, mergulhar..
Tornando ilimitados, nossos versos,
E navegar, contigo, os universos...
XXX
1640
O sol que me transtorna e me enlouquece
Bronzeia, com seus raios, a minha alma...
Ao deus de Nefertite rogo em prece,
Que traga tanto amor que, sei, me acalma...
Eu quero desvendar cada segredo
Que escondes nos seus raios fulgurantes.
Mereço, por acaso, desde cedo,
Deitar-me nos teus braços deslumbrantes...
Mergulhas sobre a terra matizando
As flores, os regatos, as cascatas.
Aos poucos, cada vez mais vou te amando,
A mando dos meus sonhos que arrebatas...
Semeias tantos lumes, emoções...
Vibrando sem temer, os corações...
XXX
1641
No mar tempestuoso da emoção
Eu busco em meu amor, uma paragem.
Por tanta vez imerso na ilusão
De ter a companhia pra viagem...
Vou esmo sem sentido e sem destino.
Mas tenho uma esperança cobiçosa.
De um dia, terminar o desatino
E ter em nova vida, tua rosa.
Envolta nesta capa de prazer
Loucuras maviosas, sensações,
Eu quero mergulhar em teu viver
E devorar extensas amplidões...
Quem sabe um novo canto mais sutil,
Do gozo mais sublime e mais gentil.
XXX
1642
Sem dúvidas não vale mais a pena.
O vale onde moravas se inundou.
Não há quem não se cale, mude a cena;
Caminhos encontravas, terminou...
Quem sabe na montanha sem temores,
O rumo que procuras, teu carinho,
Saudade, assim tamanha dos amores,
Também promete curas, santo vinho...
Eu vivo de esperar tua presença
Nas horas mais felizes, tal promessa.
Amor é gigantesca recompensa,
De quem amou demais e te confessa.
Agora quero o gozo de viver,
Sem dúvidas, morrendo de prazer...
XXX
1643
Me pego perguntando aonde vais
Bem sei que não possuo esse direito.
De tanto que tentei um novo cais,
Inquieto, em tempestade, insatisfeito...
As noites que escapava, na surdina,
Tramando uma esperança que não vinha...
Rompendo a madrugada, dura sina.
A sorte se mostrava má vizinha.
Marcado pelo medo da saudade,
Em volta com a dura solidão.
O medo de perder a liberdade,
Envolto na penumbra da paixão...
Só resta no meu peito esta certeza,
Saber que tanto amei a ti, princesa...
XXX
1644
Se falsos foram passos que já dei,
Em cadafalsos turvos fui trancado.
De tantas discussões participei
Ações sem emoções, o meu recado.
Escapo destas vastas amplitudes
Imensas as escarpas e falésias...
Amores revigoram juventudes,
Melhor? Passar por férias polinésias...
Eu sinto que virás, cedo ou mais tarde,
Aqui terá repouso, amor, guarida...
Amor que nunca faz sequer alarde,
Revigorando os passos desta vida...
E, mesmo que pareça passo falso,
Amor já me livrou do cadafalso...
XXX
1645
Eu quero teu desejo em meu desejo
Em múltiplas sessões de insanidade.
Vencendo cada ponto, te prevejo
Deitando no meu colo, sem vaidade...
A rosa se espinhando é mais gostosa,
Trazendo em tal vigor, um sonho ardente.
Eu quero te saber deliciosa,
Queimando devagar e loucamente.
Teu néctar, o teu mel e teu orvalho,
Eu quero, colibri, matar a sede.
Deitar o teu desejo no assoalho
Depois ir namorar, balançar rede...
Eu quero conhecer jardim inteiro,
E mergulhar sem nexo, teu canteiro...
XXX
1646
Flutua um sentimento em plena bruma,
Vagando pelas noites astro raro.
Nos mares se explodindo em branca espuma
Viver estando aberto ao céu mais claro.
Nesta evaporação dos fumos leves
Nas místicas lembranças doutras vidas.
Amores revividos morrem breves
Encontro minhas dores esquecidas.
Não posso mais pensar nas inclemências
Que portam as quimeras mais cruéis
Amar não é somar coincidências
Nem menos ver a vida de viés...
Eu sinto tanta urgência em te querer
Poder revigorar amor, prazer...
XXX
1647
Na flor que trouxe espinhos, a distância.
Não quero me ferir nem magoar.
Amor não se permite em discrepância
Fazendo do carinho seu penar...
Eu sinto que te quero a cada dia,
Espero que não queiras mais batalhas.
Vivendo nosso amor em poesia,
Não quero estar no fio da navalha.
Vivendo celebrando o nosso canto,
Que, espanto, nunca foi de maltratar.
Assim talvez encontres tal encanto
Que sempre me impeliu, tanto, a te amar...
Não quero ter ternura que conforte,
Eu quero teu amor, até a morte!
XXX
1648
Para a glória do amor, canto meus versos;
Embora tantas vezes maltratado.
Em todos os caminhos mais adversos
De facas e navalhas, vou talhado.
A cega morbidez que me enlevara
Na neve forte e brusca deste inverno.
Em cântaros jamais sequer chorara,
Fazendo deste mundo um novo inferno.
Tratando sem querer qualquer afago
Vertendo em solidão, um sentimento.
Aos poucos o que resta, cedo apago.
Não deixo de pensar um só momento.
Como é duro saber do que preciso
Se quiser te levar ao paraíso...
XXX
1649
Doces recordações do que passei,
Nos braços de quem fora minha amada.
Se temo meu futuro, hoje bem sei,
Que quase não sobrou, deveras, nada...
Amiga, em ti confio essa missão,
Te peço que me leve essa esperança.
Assim libertarei meu coração,
Distante, meu olhar, não mais alcança...
Os olhos de quem fora minha vida,
Noutros olhares perde seu caminho.
A noite me olvidou, adormecida,
Me sinto, a cada dia, mais sozinho...
Por isso, minha amiga verdadeira,
Afaste do meu rosto esta bandeira...
XXX
1650
As velhas esperanças arquivadas,
Não cabem na memória que carrego.
Saudades também foram deletadas,
Não fale deste amor, depressa eu nego.
Roubamos tantas cenas, sem querer,
Apenas escutamos nossa voz...
Quem tenta emoldurar o próprio ser,
Desaba e nunca atinge mar e foz.
Cortejos embalaram nossos dias,
Um jogo sem derrota e sem vitória.
Desperdiçamos belas melodias,
Jogamos, sem piedade, nossa história.
Mas saiba que este amor mesmo que assim,
Ainda me fascina. Vem p’ra mim!
XXX
1651
Nesta alma tão gentil, por certo em sonho,
Tão cedo se torturam meus desejos...
Vivendo num sutil campo risonho
Despida se invadindo de azulejos.
Esta alma segue etérea pro futuro,
Desvenda cada passo que encontrou.
Procura por amor profano e puro,
Angélica moldura se pintou...
E rastros destas manhas pueris
Espalha pelos campos dos prazeres,
Minha alma se traveste em louca atriz
E invade esses domínios do quereres.
Encontra a tua alma sertaneja
E louca, transtornada, te deseja!
XXX
1652
Eu sei que irei te amar eternamente,
E nada mais pergunto nem afirmo,
O mundo que te quero, totalmente
Imerso em tal verdade, que confirmo...
De tudo me defende, nosso amor,
De todas as besteiras que já fiz.
O sonho do desejo sem pudor
Deitando em nossa cama se prediz.
Não te quero pudica nem esquiva,
Eu quero cada gota de prazer.
A noite que vivemos, sempre viva,
Coberta da vontade de te ter.
Não sabes, mas eu quero a tua sorte,
Ser teu até chegar a nossa morte.
XXX
1653
Um gesto mais ousado te proponho,
Voarmos pelo encanto de um prazer.
Sangrarmos neste espaço nosso sonho,
Singrarmos pelo mar que vamos ter.
Um gosto meio amargo e meio doce
Mistura de esperança com saudade.
Fazendo nosso amor como se fosse
Um grito procurando liberdade...
Eu quero teus desejos saciados,
Eu quero o gesto amigo sem pecado,
Não tenho mais os pés tão machucados
Cortados pelos medos do passado.
As asas que criei são para nós,
Atados na delícia destes nós...
XXX
1654
Não te esqueças de mim, nem um segundo,
Não me esqueço de ti, meu grande amor...
Se vivo uma certeza neste mundo
Viver a fantasia sem temor...
Não te esqueças de mim, não me destruas,
Eu quero ser feliz ao lado teu.
Assim maravilhosa, continuas,
Brilhando onde meu sol já se perdeu...
Não te esqueças de mim se tu me queres,
Eu te quero somente, eternidade...
Para mim a mais bela entre as mulheres
Trazendo uma total felicidade...
Não te esqueças de mim, minha querida.
Em teus braços deixei a minha vida...
XXX
1655
Tu és a bela flor que em meu deserto
Nasceu contrariando as previsões.
Resplendes este céu tão claro, aberto,
Realças teus matizes em amplidões..
Tu tens tanto perfume que inebria
Trazendo uma delícia maviosa.
Traduzes nosso amor em poesia,
De todas essas flores, minha rosa...
Deserto coração, tal qual já fora
O meu, sempre esperando por um bem...
Vencido por rainha desta flora,
Agora te deseja amada: vem!
A flor que no deserto de minha alma
Nascendo, meu futuro todo acalma..
XXX
1656
Desejo ter um pouco de sossego
Deitado no teu colo, sem ter pressa.
De tanto que esperei pelo aconchego
Eu temo que te canse mais depressa...
Não deixe que eu me perca nos ciúmes
Não deixe que eu me esqueça destas datas.
Escute; paciente, os meus queixumes,
Não deixe que eu me perca em tuas matas...
Sou parvo, tantas vezes sou obtuso,
Mas quero teu amor, como o desejo!
Tu sabes, meu passado foi recluso,
Vivendo em plenitude, enfim, me vejo...
Permita, meu amor, essa alegria,
Que trouxe, em minha vida, a fantasia...
XXX
1657
Recebo teu carinho sem tocaia,
Sem medo, sem vergonha e sem ciúmes.
O vento que levanta a tua saia
Encharca minha vida de perfumes...
E sinto teu carinho novamente,
Semente que plantei e sempre rego.
Não sinto nem veneno nem serpente
Apenas, mansamente, te navego.
Em cada tentação, novo tentáculo,
Em cada sentimento, um outro enredo.
Teu corpo deslumbrante, um espetáculo
Onde eu quero ingressar-me, desde cedo.
Na doce sinfonia deste amor,
Vivendo em harmonia, luz e cor...
XXX
1658
Amiga e companheira, como é duro.
Saber que nada mais nos faz contentes...
O mundo nos criou um torpe muro
Mostrando tantos rumos diferentes...
Mas sei que sempre estás comigo, irmã.
Não temo essas passadas mais ousadas.
Embora nossa ponte pr’o amanhã
Muitas vezes, tem bases abaladas...
Viemos dos temores, inseguros,
Viemos do passado mais cruel
Passando por caminhos mais escuros,
Aos poucos vislumbramos lindo céu...
Por mais que negra a noite, meu amor,
Nossa amizade encara, sem temor...
XXX
1659
Cabelos tão dourados quanto os teus
Roubando deste sol, a claridade.
Não posso permitir, de novo, adeus,
Nem quero mais saber de uma saudade...
Bem sei que o sol te vendo não nunca esquece
Dos raios que roubaste na manhã.
O deus enamorado se enlouquece
Se esconde em tantas nuvens, triste afã...
Bem sei que quando andavas pelas praias,
O vento em teus cabelos, mil carinhos...
Beijava tuas pernas, coxas, saias...
Buscava sem juízo, doces ninhos...
Inveja que causamos á natura,
Fazendo em pleno dia, noite escura...
XXX
1660
Lembranças deste tempo onde não fomos
Senão um precipício de loucuras.
Roubando dos prazeres tantos gomos,
Bebendo em nossos corpos amarguras.
Vadias tempestades em torturas,
Carinhos delicados e ternuras,
As matas embrenhadas, mais escuras,
Delícias mais profanas como impuras...
Champagne derramada nos teus seios,
Nos rumos se perderam os juízos...
Emigro em nossas luas sem receio.
Sinônimos divinos, paraísos.
Não víamos sequer romper o dia,
Na vida tão orgástica, alegria...
XXX
1661
Amiga; não precisas deste nada.
O vão que nunca veio nem virá;
A vida que vivemos foi passada
Agora nova vida viverá.
Vestidos esquecidos nos armários
Jogados, viram colchas de retalhos.
E sabes, nada servem, rasgos vários,
Remendos não esquecem velhos talhos...
Amiga, não precisas do que fora,
Se fora não te serve mais, esqueça.
A vida recomeça sempre agora,
Não há eternidade que padeça...
Deixemos nossos ontens para trás.
Apenas o virão nos satisfaz...
XXX
1662
Em pleno paraíso me encontrei
Ao ver tua nudez por sobre a cama.
Sentindo a maravilha de ser rei,
Voltando a reviver perdida chama.
Tocando levemente cada ponto
Do corpo escultural que estava ali.
Sem senso, me inebrio, fico tonto,
E sinto como é bom tudo o que vi.
Não pude me esquecer deste momento
Guardado nas paredes da memória.
O tempo vai passando como o vento,
Mas tenho essa divina, imensa glória.
Depois de tanto tempo se passando,
Tua nudez persiste iluminando...
XXX
1663
Se sinto os desenganos mais cruéis
De tempos que não mais cultivarei,
Na busca sem limites, seus corcéis
Vagando pelo céu que não terei.
Amiga, se não vejo mais enganos
Eu sinto que não posso mais voar.
Amor estando fora dos meus planos
Talvez não possa mais recuperar...
Revendo nossos sonhos de criança
Eu vejo quão feliz é tua vida.
Percebo que inda tenho uma esperança
De ter a minha história resolvida...
E peço: não me deixe abandonado,
Estive, tantas vezes, do teu lado..
XXX
1664
Revolvo toda a terra e todo o mar
Em busca de quem foi e não voltou.
Às vezes eu me canso de esperar;
Bem sei que tanto tempo já passou...
Amar assim, demais, não vale a pena.
Eu sei que esses meus versos são esparsos.
Saudade, de repente vem e acena
E grito, por seu nome, nos espaços...
Amiga, como é bom saber que existe
Alguém que sempre está junto comigo.
Não deixe que essa vida, sendo triste,
Acabe em tanto mal e desabrigo...
Eu peço, te implorando, minha amiga.
Impeça que esta busca vã prossiga...
XXX
1665
Não deixe que a tristeza te consume.
Assuma uma atitude mais sadia.
Mudando deste jeito de costume
A vida te trará uma alegria...
Não deixe que te vejam abatida,
Sorria, confiante na vitória.
Pois mesmo na derrota em nossa vida
Na luta é que se encontra a tua glória...
Erguendo o teu olhar neste horizonte
Por cima dos espinhos e dos cardos...
Se espelhe na beleza desta fonte
Assim te ficarão mais leves fardos...
Amiga, não demonstres teus receios
A vida dá os fins e mostra os meios.
XXX
1666
Amar é transgredir as várias normas
Impostas pela tal serenidade.
Eu quero ter amor de tantas formas,
Vivendo em absoluta liberdade...
Não posso desprezar tua fiança
Nem posso discutir mais meu futuro.
Amando teu amor, aventurança,
Que faz iluminar meu mundo escuro...
Escuto tua voz solta no vento,
Chamando para a festa mais insana.
Mergulho sem temer ressentimento,
A noite em teus carinhos, já me ufana...
E sinto como é bom ser tão amado,
É como ser por Deus, condecorado!
XXX
1667
Amiga, tu jamais estará só.
Não sinta que o abandono te persegue.
Viemos e voltamos neste pó
Quem luta, muitas vezes já consegue...
Não deixe que a saudade te perturbe
Não veja a solidão que não existe.
Por mais que a tempestade te conturbe
Por mais que tua vida esteja triste...
Amiga, nunca estás assim sozinha,
Por certo sempre alguém contigo vai.
Nós somos nesta vida, uma andorinha
E temos com certeza nosso Pai.
Receba meu sorriso minha amada,
Decerto não estás abandonada!
XXX
1668
Amor que se produz dum outro amor,
É lume que incandesce em luz composta.
Trazendo inda resquícios e temor
Perguntas que te faço sem resposta.
Te quero mas não queres meu querer,
Da forma que queria se pudesse.
Envolta noutros tempos de viver,
O tempo que passou, já não esquece.
Mas quero o teu amor, assim, contudo,
Me inundo de esperanças de que venhas
Eu penso, tantas vezes, que me iludo,
Pois sinto que caminhas outras brenhas.
Mas teimo em insistir que te terei,
Por todo meu viver, esperarei...
XXX
1669
Nos desejos carnais que tanto afetam
As noites que passei mais sozinho.
Metades que se buscam, se completam,
Enchendo de desejo o nosso ninho...
E sonho com a volta dessa amada
Que a noite leva sempre e quedo só.
Na noite tão vazia e constelada
Eu sinto essa saudade dar um nó
Em pleno turbilhão, meus sentimentos
Se dilaceram. Outra noite vem,
Novamente sentir prazer, momentos...
Depois adormecer sem mais ninguém...
Desejos que te buscam nessa cama,
Acendem, iluminam, morrem chama...
XXX
1670
Não sinto os desenganos da partida
Pois sei que bem mais cedo voltarás;
Por isso não te falo em despedida,
Apenas te direi: vem logo mais...
Se traço meu destino com o teu
Se vejo minha vida em novos planos,
Se sei que meu destino se perdeu
Nos braços mais divinos, soberanos...
A glória de saber tua existência
Não deixa-me saber de mais tristezas.
A vida não sugere penitência,
Transformo minhas dúvidas; certezas...
E sonho, finalmente, em livre ter
A força que me ensinas, de viver...
XXX
1671
Eu quero nosso amor, em poesia,
Curando essas feridas que trazemos.
Sangrando em emoções, hemorragia,
Prazeres e loucuras; mostraremos...
Eu quero percorrer cada segundo,
Centímetro a centímetro, nada escapa.
Saber te conhecer bem mais profundo
Abrindo mansamente a tua capa...
Eu quero nosso amor, sofreguidão,
Eu quero nosso sonho, sem limites.
Eu quero um palpitar, pura emoção,
Amada, te suplico, não me evites...
E cure toda dor que a vida trouxe,
E sorva deste amor, um mel mais doce...
XXX
1622
E deste teu amor, com liberdade,
Bem sei que nada disso foi segredo;
Quem sabe te encontrei, felicidade,
A vida não mais cabe tanto medo...
Eu quero desfrutar de ti,querida,
E conhecer teu corpo, sem pecados.
Eu vejo uma esperança dividida
De ser feliz em meio a tantos fardos...
Recebo teus carinhos, como um vento
Que sopra em meus cabelos, mansamente.
Amor que não me sai do pensamento
Amor que me domina totalmente...
Eu quero dedicar meu canto a ti,
O sonho mais bonito que vivi

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