quarta-feira, 21 de abril de 2010

HISTÓRIAS DE UM REPENTISTA VOLUME 13

1720
Se encantas tanto quanto encanto tem
Aquela que me canta em noite clara,
Meu pranto vou secando em tanto bem
Que entranho em nosso amor, que é jóia rara.
Expondo e pondo logo a minha cara
Não vejo mais desejo de quem vem
Se a pedra que me atiras já prepara
Amparo a vida, amaro e sem ninguém.
Mas tenho a lenha e o feixe que me deste
Com gestos e carinhos feitos lenhas,
Por isso é que o cortiço sente a peste
E o viço sem vigor morrendo lento.
Eu peço e não impeço que tu venhas
Nem que seja somente num momento...
1721
Forjada em tal riqueza, finas pratas,
Quem sabe de seus passos demonstrava
Prazeres de quem sabe serenatas,
E em plenitude intensa decorava,
Embora a placidez gere cascatas,
A força que ela sempre emoldurava
Sanava as sensações duras ingratas
Ao abortar vulcões, secando a lava.
Sabendo de seus laços, vida em ondas
Perfaz com segurança tantas rondas,
Atada com firmeza, uma amizade
Permite que se faça com afeto
O mundo mais sensato e assim dileto
Prenunciando então felicidade...
1722
Eu quero te sentir... Te ter inteira,
Naufrago no teu corpo, barco e cais.
Da forma mais profusa e verdadeira
Que a gente nunca esqueça, amor, jamais!
Eu quero que tu venhas sem ter medos,
Em nossos corpos juntos e confusos
Aos poucos devorando esses segredos
Os sonhos mais ousados, mais escusos...
Não quero mais escudos que nos tirem
A força desse amor louco, insensato.
Os olhos prazerosos que revirem
Sem termo e sem juízo o nosso trato...
Eu quero ser e estar sempre contigo,
Fazendo do teu corpo o meu abrigo...
1723
Em ventos convulsivos que se agitam
Um sentimento duro, mais altivo;
Distantes, ermos, mundos quando fitam
Não deixam, na verdade, nada vivo.
Os medos tão insanos já palpitam
E deles, minha amiga, quando esquivo
Percebo que doridos sempre gritam
Aqueles dos quais, fujo e assim me privo.
Dilacerantes ventos da maldade,
Atando humanidade qual rebanho.
Trazendo em gesto opaco, ledo, estranho
A morte do que sonho, liberdade.
Porém valor mais forte em que me entranho
É feito com firmeza em amizade...
1724
Eu quero em nosso amor, cumplicidade;
Que traga uma alegria sem igual.
Também que se permita, na verdade
Ser algo mais que um sonho sensual...
Amor que nunca cede às desventuras
Nem mesmo quando a dor bater mais forte.
Entregue em mil carinhos e ternuras,
Maior que a solidão. Do amor, a morte...
Amor que seja imenso no prazer
Na entrega tão voraz quando alucina,
Em versos; meu amor; venho dizer
Que o sentimento assoma e me domina...
Contigo quero estar, cada momento,
Mesmo que venha a dor. O sofrimento...
1725
Na mesma mão, andores, rezas, círios,
Enquanto em arma oculta se esbraveja.
Num ácido veneno, seus colírios,
Matando pouco a pouco, inda deseja.
O sangue se imiscui, lentos martírios
Embora uma esperança se preveja.
Na morte se confundem risos, lírios
E goles de conhaque e de cerveja.
De resto carregando para o túmulo,
A mão que acaricia e me maltrata.
Talvez a sensação, chegar ao cúmulo
De total lucidez, insanidade...
A fome que escarrando já retrata
Sucumbe à placidez de uma amizade...
1726
Amar-te além do cais em porto manso,
Viperinas palavras que trocamos
Ao mesmo tempo finjo que te alcanço
Entrementes mentimos se negamos
Que em meio a tantos passos não avanço
Ou mesmo que a verdade sufocamos.
As chaves que me entregas, corte e ranço,
Do cofre em que se lacram; servos, amos...
Amar, uma finita imensidão
Que é feita em intempéries, calmarias.
É sim que se desnuda num senão,
É não que se afirmando nos confunde.
O quanto não me trazes nem farias,
Parede que com zéfiro se funde..
1727
Ao mesmo tempo beijas e me afagas
E quase que me afogas em loucuras.
Nos mares dos prazeres... Tantas vagas
Revoltas com torturas em ternuras,
Depois sem ter motivos, me desdenhas,
E ris desse meu jeito de te amar.
Mil faces em disfarces; já desenhas
A dor que tanto gostas de sangrar.
Bebendo do teu mel, eu não concebo
Por que me trazes fel e me envenenas...
De todo esse carinho que recebo
O que sobra senão as duras penas?
Mas quero o teu amor, minha centelha
Assim como uma flor deseja a abelha...
1728
Quem veio deste mundo delirante
Embrenha-se na senda dolorosa
Que mata uma ilusão, em duro instante,
Secando fonte rara e fabulosa.
Por mais que uma emoção seja constante,
Por mais que se perfume, maviosa
A vida traz espinhos mais que rosa
Em lança pontiaguda e penetrante.
Num circo que se mostram tais horrores
Profundos e terríveis pesadelos,
É triste, minha amiga, concebê-los
E ver morrer à míngua belas flores,
Por falta de cuidado e claridade,
Distante do farol de uma amizade...
1729
Qual Ninfa que, surgida de um secreto
E belo sentimento em que me guio.
Rondando ao acender vela e pavio
Deixando o coração mais manso e quieto.
Nas mãos uma oferenda em tanto afeto
Apascentando um mar deveras frio,
Semeia luz num mundo tão sombrio
Mudando de repente o duro aspecto
Invade meu jardim, floresce rosas,
Adoça minha boca em cana e mel.
As noites vão ficando vaporosas,
Os mares se acalmando sob a lua,
Olhando extasiada, ganha o céu
Ao ver a Ninfa, bela, Musa nua...
1730
Astros em que debruças sem mortalhas
Acima dos meandros das neblinas
Tecendo em sedas, rendas, luzes finas.
No gozo de tais prendas amealhas
Com toda a precisão, cortes, navalhas,
Na cátedra dos sonhos tu me ensinas
A ver em outras sendas, fados, sinas,
Ascendo então a mundo onde as batalhas
São feitas aspergindo paz e canto,
E em ritos mais tranqüilos já floresce
Impávido canteiro onde este encanto
Decerto em lume intenso resplandece
Tendo por jardineira, uma amizade,
Raiando de perfume, a liberdade...
1731
Dançavas em nudez quase completa
Fazendo sensuais, loucos volteios.
No breve movimento de teus seios,
Promessa de uma noite mais repleta.
Ardente e tentadora, uma ninfeta
Que tesa em movimentos, bamboleios,
Ao experimentar rudes anseios,
Banquete nesta insânia, predileta...
Entreabertas pernas permitiam
Visão profana e santa deste cálice.
Pedindo que depressa, logo; escale-se
Delícias que meus olhos percebiam.
E assim, total deslumbre, intensa fúria,
Ardentes convulsões, gozo e luxúria....
1732
Quem dera se pudéssemos perfumes
Espalharmos, amiga, em nosso abrigo.
Decerto atingiríamos tais cumes
Num esplendor divino, pois amigo.
Andando sem temor, sempre contigo,
Desdenho quaisquer formas de ciúmes.
Adivinhando a curva em seu perigo,
Desfruto da amizade, nossos lumes.
Na extensa vastidão destes desertos,
Não quero tal resignação de ascetas,
Nem forro de ilusões as minhas metas,
Apenas quero passos, firmes certos.
Quem tem de uma amizade; os arcos, setas,
Encontra seus caminhos mais abertos...
1733
Matéria humana, pérola mais fina
Que deve ser imersa em bons carinhos
Cultivo em que; quem ama, assim domina
Com paciência cria raros vinhos.
Ao que esta jóia bela se destina
Dependo do frescor de antigos ninhos
Decerto com pureza cristalina
Se tem por direção, ricos caminhos.
Deslumbramento feito em riso e gozo
De toda a soberana placidez,
Jamais deixado ao léu, qual andrajoso
Resíduo de matéria sem cuidados.
Na força da amizade, a lucidez
De passos com firmeza, sempre dados...
1734
A lua refletida sobre o mar
Chorando suas lágrimas, orvalho...
Percebe que a distância a flutuar
Encontra com amor, um grande atalho
E lança-se, sem medo sobre as águas
Invade o manso mar com seus desejos.
Rasgando este universo sobre as fráguas
Mergulha delirante em mil lampejos...
O mar se extasiando com a luz
Se entrega sem temor aos seus carinhos;
A lua não percebe, mas seduz;
Entregando-se às ondas faz os ninhos
De cores e delícias mais incríveis,
Realizando amores impossíveis...
1735
Na praia ao ver o sol, calor intenso...
Sentindo a voz do vento me chamando
Adentro pelo mar, gigante, imenso;
Desejos incontidos me tomando...
Depois destas braçadas vejo uma ilha
Perdida no oceano, tão distante.
Na areia uma riqueza em maravilha,
Os seios tão bonitos... Delirante!
Percebo num sorriso o seu convite:
Amar e se entregar, sem ter mais medo.
Sentindo o teu perfume, vem o palpite
Que ajuda a desvendar todo o segredo:
Esta mulher divina que se vê
Deitada nos meus braços: é você!
1736
Amigo em nossos passos que os loureiros
Espalhem-se na glória de assim sermos,
Amigos e comparsas, bons guerreiros,
Sem medo de encararmos mesmo os ermos.
O canto da amizade, alvissareiro,
Conhece na verdade, tratos, termos
Que servem como amparo e assim entrego
A sorte de saber a liberdade;
Por isso meu preclaro, eu nunca nego
Que tendo este poder de uma amizade,
A vida facilmente, enfim carrego
Alçando com meu canto, eternidade,
Sacrário que nos trouxe este bom Deus,
Meus êxitos, querido, também teus...
1737
Nas fluorescências, fascinantes noites,
As sensações agrestes, contundentes,
As bocas se procuram como açoites,
Dormências necessárias tão urgentes...
Nas umidades tépidas, trepidam,
Inundam todas fontes portentosas
Desejos que se tocam e lapidam,
Olores que roubamos destas rosas...
Marmóreas, tais belezas esculpidas,
Deflagram emoções, luminescências
Misturam-se com sonhos nossas vidas,
Profanas e soturnas inocências...
Recebo o teu amor em flóreas sendas,
Os meus mistérios todos, já desvendas...
1738
O amor quando chegou me deixou tonto,
Perdido sem saber o que fazer.
Meu mundo parecia quase pronto,
Já tinha me esquecido de viver...
Os dias repetidos se passavam,
Sem ter sequer promessas ou vontades
As noites sem prazer se acumulavam;
Morriam simplesmente... Ocas tardes
E manhãs sem qualquer nova esperança.
A vida sem amor não vale nada,
É como se perder sem ter lembrança
Sequer saber se temos uma estrada
Que leve a um momento mais festivo,
De amor nasci, cresci, por amor vivo!
1739
Quando sorris, tão próxima de mim,
Ao sentir o teu hálito, teu cheiro
Gostoso em belo lábio carmesim;
Entrego-me, mergulho por inteiro
E quase te tocando, prendo o ar.
Meus olhos em teus olhos seduzidos...
Aos poucos não consigo segurar;
Dominas; num sorriso, os meus sentidos...
Não sei mais o que falo nem porque,
Apenas o calor de tua boca.
Seguro tuas mãos... Olhar te lê
E sente esta vontade, forte... Louca...
Te beijo com meus olhos, e me entrego...
Num mar de tanto amor. Ah! Eu navego...
1740
A véspera da fome é o degredo;
Por isso não segregue o coração.
Segredes o mais límpido segredo,
Mas nunca se permita a solidão...
Da vida já nem quero novo enredo,
Basta-me ser feliz; que vou fazer?
Nas tramas de teus braços, sempre cedo,
Pois quero, simplesmente; o teu querer...
Espero nova espera mais feliz,
Num tempo que se torne mais amigo;
Anseio caminhar sem cicatriz.
Pressinto o sofrimento, mas nem ligo,
Sabendo que encontrei felicidade
Louvando assim a força da amizade...
1741
Chegando de manhã, trazendo o sol,
Depois de uma balada/madrugada
Entrando por debaixo do lençol,
Sorriso de quem traz carta marcada
E brinca com desejos do arrebol,
Esconde quanto vale o quase nada.
E eu, qual imbecil seu girassol,
Refém de outra mentira mal bolada.
Cigarros espalhados nos cinzeiros,
No quarto, suas fotos e retalhos.
Na beira de um ataque, nada digo.
Apenas sei dos bares e puteiros,
Dos corpos das vadias em frangalhos
E assim no quase sendo, inda prossigo...
1742
Na réstia desta luz amarelada
Que vinha do telhado de outra casa
Andança percorrida nesta estrada
Que finda sem juízo, em louca brasa.
A pele da morena/bronzeada
Aberta uma janela não atrasa
Visão de bela moça desnudada
Faz tempo que é o que resta e que me abrasa.
Transporto meus desejos/solidão
E vejo que jamais andei tão só.
Destino se dizendo sempre não.
Estrada desta vida sem perigo,
Quem dera retornasse ao mesmo pó
Quem sabe encontraria um bom amigo?
1743
Recomeço das cinzas, faço versos
E trago na fumaça do cigarro
Os dias que passamos mais diversos,
E nada da buzina do meu carro
Que quieta não mais fala de universos
Nem deixa que a morena tire um sarro.
Qual avião travando os seus reversos
Fazendo-me voltar de novo ao barro.
Um flamboyant vermelho cor de sangue
Morrendo no quintal sem ter cuidado
Minha alma quando exala puro mangue
Um puro sangue foge. Na verdade,
Começo desta história mal contado,
Ainda bem, amiga, nunca é tarde...
1744
Nos beijos que trocamos, mil mergulhos
Vontade de ficar e não sair.
No mar de nosso amor, tantos marulhos
E os sinos, repicando... Vou pedir
Que Nunca mais ressurjam pedregulhos
Que nada mais irá nos impedir
Nem medos, nem temores nem orgulhos
Feridos, que nos possam distrair
Do rumo deste amor que é meu encanto
Do canto deste amor que é meu aprumo.
Vivendo no prazer de ter teu canto,
Sabendo que jamais te perderei,
Agora novamente acerto o rumo,
E vivo minha vida como um rei.
1745
Eu quero te abraçar, sentir-te inteira,
Bebendo teu carinho gota a gota,
Nesta emoção completa e verdadeira,
Nossa roupa suada e quase rota
Atados pelos nós que somos nós,
Corpos emaranhados, sede tanta...
No mundo; mais ninguém, estamos sós
E toda a solidão já nos encanta...
Marcados pelo fogo, intensa brasa,
Aqueço-me em teu corpo, teu calor...
Desfrutamos de tudo, a vida apraza
Na labareda intensa feita amor...
E somos infinitos num momento,
Corpos, mentes, sabores, pensamento...
1746
Sentindo o suave toque destas mãos,
Roçando minhas costas, meu pescoço...
Findando sofrimentos tolos, vãos,
Meu coração dispara em alvoroço...
Misturas de desejos e de sonhos,
Vontade de te ter e me entregar...
Os lábios tremulantes, mas risonhos,
Em busca dos teus lábios... Devagar...
As nossas peles numa mesma cena,
Confundem-se e se entranham de tão juntas.
A tarde vai caindo... A lua amena
Assiste estas respostas. Sem perguntas.
Sentindo este vigor tão sensual,
Total insensatez: ato final...
1747
Um beijo que roubei; delícia plena;
Do jeito que eu queria, delicado.
Na boca tão gostosa a vida acene
Vou ver e já estou apaixonado...
Me acolhes nos teus braços, sinto o cheiro
E a maciez do colo mais sublime,
Me entrego sem pensar mergulho inteiro,
E peço; meu amor, sempre me estime...
Na luz que me irradia a minha amada,
O rumo de meus sonhos encontrei.
Eu quero te encontrar, minha alvorada,
Da forma mais sutil que imaginei...
Deitada no calor da branca areia,
Te quero ou não te quero? Sim, sereia...
1748
A lua nos decora; prateada...
Beijando-te me entrego aos teus caprichos,
Matando teus desejos todos... Cada...
Amor encontra em nós; abrigos, nichos...
Sorvemos cada gota de prazer
Com fúria e com ternura, mansas, vis...
Me encontro totalmente ao me perder
E sou por ser em ti, bem mais feliz...
O vento, a lua, a noite, tua nudez...
Vontade de que o tempo pare agora.
Depois de tanto amor que a gente fez
A lua se entregando nos devora
E toma nosso corpo em tanto brilho,
E grávida de luz, traz nosso filho...
1749
Sei que sou desatento, me perdoe,
Às vezes eu me esqueço de dizer
O quanto és importante. Que a alma voe
E possa, meu amor, te convencer
Do quanto que te gosto e que te quero;
Te espero em meu caminho, mil perdões.
Por certo distraído, mas venero
O canto em que me mostras emoções...
Vou preso ao teu encanto, e sinto a falta
De tua mansa voz, de teu perfume.
Por vezes se a saudade já me assalta,
Procuro tua luz em vago lume...
Desculpe, meu amor mas que alegria,
Saber que tu estás já traz bom dia...
1750
Desejo de te ter inferno e céu,
Cravando em tua boca meu carinho
Com fome e com ferrões te dou o mel
No látego desejo, de mansinho...
Respiro-te veneno e clorofila,
Sugando todo o doce que amargaste,
Na guerra, em plena luta, vais tranqüila
Do jeito em que na paz me infernizaste...
Somas que dividem, multiplicam,
No prisma genial da sedução,
Contradições fantásticas explicam
O fogo da loucura e da paixão...
Meu bem, na calmaria desta noite,
Te quero mel e fel, num doce açoite...
1751
Não sofras meu amor, irei voltar...
Tal qual as ondas eu retorno, amor.
Às vezes é preciso navegar
Buscar uma esperança, sonhador
Mas sei que no teu porto quando atraco
Depois de tanto tempo assim distante
Chegando tão exausto, manso e fraco
Teus braços sempre estão a todo instante
Abertos para velho marinheiro
Amante das estrelas e do mar.
Só penso em retornar, o tempo inteiro,
Só tenho o teu amor a me guiar
Entre tantas borrascas, tempestades,
Sonhando com teu cais... Tantas saudades...
1752
Vestias transparências de organdi
Em noite sombreada e vaporosa,
Vagava intensamente sobre ti
A mão a vasculhar-me tão sedosa.
A noite prometida, majestosa,
Em rendas, sedas. Logo percebi
A boca me tocando mais fogosa
E em tal sofreguidão eu me perdi.
E fiz de meus ocasos ressurgidos
Num átimo um retorno à juventude,
Tomando de teu corpo qual açude
No assédio do prazer em franco gozo.
Depois, manso cansaço, adormecidos,
O dia ressurgiu maravilhoso...
1753
Eu quero uma quermesse que se foi
Na praça da cidade que não tive,
Correndo qual moleque bumba o boi
Passado sem remédios inda vive.
Triunfos de meninos, tão fugazes
Num trágico momento disfarçado
Nos lábios que se fazem mais audazes,
Carinho recebido e declamado
A todos os que ouviram tal vitória
Da puberdade em êxtase supremo.
No seio mal nascido vive a glória
Só de lembrar eu juro, ainda tremo.
Amor se fez fornalha de ilusão
Assando devagar, dourando o pão...
1754
Andando pelos cais em portos, praias.
Nas praças e nos bares, pobres putas.
Levantam e demonstram sob as saias
Em sensações vazias, tensas lutas.
Viver desta desdita dita amor
Rolar em noites, álcool, cocaína.
Vendida a carne em pútrido vigor
Nos olhos estampado: uma menina.
Resgates necessários, caos, michês,
Travecos, quengas, models, companhia
Envoltas em mistérios e clichês
A faca, o riso, o gozo disfarçado.
Depois, ao gargalhar falsa alegria,
O gosto deste beijo ensangüentado...
1755
Amor em calmaria e tempestade
Trazendo nesse ambíguo sentimento
A força que detém a liberdade
Numa alegria intensa, em sofrimento...
Tantas delícias queimam nossas tramas,
Incêndios abrasando a todo instante,
Incensos acalmando, lentas chamas,
Ternura nas loucuras, inconstante...
Vencidos pelas chamas e batalhas,
Deitando em travesseiros os suores.
Os beijos são delícias e navalhas,
Com lágrimas e risos me decores
E vamos tempestades, calmarias,
Vivendo sem temer as fantasias...
1756
Abarco humanidades entre as mãos
Talvez uma imprudência, mas que faço?
Sonhando sermos todos quais irmãos
Às vezes o meu verso perde o traço
Ingênuo, na verdade, um sonho casto;
Porém que traz em si uma esperança
De um dia não servir só de repasto
A quem em súcias mãos traz aliança.
Fomento com total insanidade,
Aquilo que aprendi; lição antiga,
Que a gente só terá felicidade
Em vida solidária e mais amiga...
Eu sinto ser somente uma utopia
Porém, quem sabe... surja em raro dia...
1757
Não mais seria a séria correnteza
Que marca com tempesta festa e gozo.
A boca escancarada enfrenta a mesa
E nisso meu amor voluptuoso
É maço de cigarro chama acesa
Que embarca noutro mar mais perigoso.
Depois de me fartar em sobremesa,
Soçobro em tua praia caprichoso.
Nadando em braços, rios, mares, lagos,
Preciso de carinhos, teus afagos
Que a lua me atordoa em brilho e prata.
O tempo se transforma em aliado,
E o beijo da morena babujado
Convidando a adentrar delícia em mata...
1758
Quem sabe se eu seria o que tu pensas
Invés de ser somente o que inda sou.
Espero que talvez disto convenças,
Deixando dentro em mim o que restou.
Crateras/solidão são mais imensas
E nelas, com licença, eu não mais vou.
Não quero mais ouvir tuas ofensas,
Quem ofegante, em gozo, me provou.
Provoque os meus sentidos se quiser,
Atice com teu fôlego, mulher
Depois sem dar desquite, então desfrute.
Do quanto posso ser em poço fundo
Vertente de – quem sabe – um novo mundo,
Querida, pense nisso, enfim, me escute...
1759
Os ossos quando expostos em fratura
Parecem com mil dentes gargalhando.
Uma amizade feita com fartura
Não sabe nem pergunta como ou quando.
A mata que deixei por ser escura
Aos poucos de manhã vai clareando.
Um pássaro sozinho; nunca dura,
Agora quero ver andando em bando.
No bico estraçalhando todo inseto,
Assim amor se faz sendo correto
E mostra assim poder em união.
Os ossos em conjunto? Sem adendo.
Os pássaros voando e percorrendo
As milhas em minutos lá se vão...
1760
A bossa do beócio é ter um sócio
Na parte feminina que lhe cabe.
Juntando uma vontade com seu ócio
A pobre cidadã de tudo sabe
Apenas mal percebe que o beócio
Vagando quer demais antes que acabe
Nem que se der vontade, amada force-o,
Senão pobre infeliz, talvez desabe...
Versões de várias vidas diferentes
São quase repetidas como um todo.
Esgotos não se afastam mais do lodo
Nem deixam perfumar mais a cidade.
Desejos que se fazem tão prementes
Jamais retornarão felicidade...
1761
Eu quero te cravar meus raros dentes
Lamber a tua pele, ser teu par.
Desejos que se fazem inclementes
Na busca do quem sabe saiba amar.
Na toca de Maria leites quentes,
Na boca um bom sorriso faz gozar
No rumo desta gruta mil vertentes
Agora é só poder recomeçar
Vagando ganho o mundo, vagamundo,
Vantagens são mentiras floreadas.
As entre-coxas belas e rosadas
Jamais esperarão mais um segundo.
Afogo o meu tesão no teu rosal
E a gente faz amor, SENSACIONAL!
1762
Meu coração batendo qual maluco
Sem ritmo, descompassa num segundo.
Moleque vagabundo, mameluco,
Vagando de repente, quer o mundo.
A fonte do prazer quando eu cutuco
Mergulho, vou sincero e assim me inundo
Morena vem me dar todo o teu suco,
Tantas pernas! Misturas que confundo
Sou velho desdentado e não regulo
Meus olhos com a fome de te ter.
Não tenho mais nem bote e perco o pulo
Mas tenho uma vontade de viver!
Se deixares, amor, eu já te engulo
E mato a tua fome de prazer...
1763
Quem medra é simples merda, sempre mente
Demente, enfrento o vento e não engulo.
Bebendo a tempestade de repente,
Se não sinto firmeza, eu logo pulo.
A dor que me sufoca? Dor de dente.
Jamais me encontrarás, decerto, fulo.
A cobra que dá bote? Se, presente,
Preparo minha amiga, cada pulo.
Varizes de minha alma a sangue frio
Queimadas com reveses e surpresas.
As velhas jararacas perdem presas,
Mordiscam qual carinho, e assim desvio
Não temo cascavel que cega, xinga,
Mas tiro, minha amiga, o da seringa...
1764
Augustos, velhos anjos já morriam
Deixando em cada campa uma ironia
Sem asas, tais velhacos já sabiam
Que a noite prostituta não viria.
Sepulcros e mortalhas se faziam
De rendas e cetins, falsa alegria.
Em cada cusparada devolviam
Tudo que um falso beijo inda trazia.
Solilóquio qual louco eu perfumava
Em podres crisantemos, demos, anjos.
Orgasmos se expeliam como lava
Relentos eram simples companhias
Amores se esbaldavam liras, banjos
Mostrando tanto bem que me querias...
1765
A pútrida lembrança do que fui
Ao esgotar meu tempo, esgoto exposto.
O medo de viver ainda influi
E cospe esta saudade no meu rosto.
Quem não conhece o templo e assim intui
Colhendo do que planta, só desgosto,
Aos poucos cada passo em dores pui
E o fosso vai se abrindo recomposto.
Não meço mais palavras nem me calo,
Já sei aonde aperta um duro calo
E disso faço gozo e galhardia.
Amiga; nada mais trarei pra ti,
Andando sem destino, eu me perdi,
Apenas sobrará u’a campa fria...
1766
Estrela que me guia rumo ao sol,
Deixando na sarjeta uma esperança
Que fez desta aliança um girassol
Jogado pelos cantos. Da criança
Que um dia destruiu cada lençol
Apenas a vontade inda me alcança,
Naufrágios não encontram mais atol
Eu sinto-me resíduo de lembrança
À toa. À tona conchas e cascalhos,
No vértice da vida eu me perdi.
Os atos da velhice, meio falhos
Em cada nova ruga que aparento,
Tampouco uma amizade eu conheci,
E assim no cais do porto, eu me arrebento...
1767
Deitar-me do teu lado e te abraçar
Depois do amor já feito e no cansaço
De leve, adormecer e nem sonhar.
Perdendo esta noção de tempo espaço.
O pensamento solto num vagar
A lua nos servindo de regaço;
Sentimos os carinhos do luar;
Tocando-nos estreitam cada laço.
A mesa dos desejos bem servida
Por todos os prazeres desfrutados.
No ritual divino, a nossa vida
Se faz em mil delícias. Minha amada,
Tu és todos os sonhos realizados,
Nestes bons momentos, todos... Cada...
1768
Teu riso contagia e me alivia
De todas as tensões que porventura
Venham dos problemas; dia-a-dia,
Tornando em alegria; a desventura.
Sorriso que promete a fantasia
E toda a dor da vida, cedo cura,
Abranda o sofrimento em harmonia,
Meu mote preferido, traz brandura...
Diverte-me querida, o riso franco;
Fazendo com que a vida seja leve.
Na beleza do sorriso todo branco,
A paz que procurei da qual preciso,
Neste momento lindo, mesmo breve,
Encantos e delícias de um sorriso.
1769
Entregue à sensação rica e profana
De loucas fantasias realizáveis
Imagem de mulher que assim se ufana
Das noites/perdição, inumeráveis.
Abrindo a Flor perfeita e soberana
Adentro com meus sonhos inflamáveis,
A gruta dos desejos não me engana,
Promete as alegrias adoráveis,
E roubo de teu corpo num minuto
Deserto em escassez verte garoa
Depois de certo tempo, inundação.
Gemidos e sussurros, quando escuto,
Percebo que esta lava que se escoa
Tem como doce origem, teu vulcão...
1770
Deitada em meio a sedas e cetim
Espera ansiosamente pela lua
Que sobe pela escada plena e nua,
E lambe sua boca. Sempre a fim
De todo este prazer que chega enfim
Depois de tanto tempo em vaga rua,
Matando o seu desejo, ela flutua
E entrega-se com fúria. É bom assim.
Saber da companheira mais fogosa,
Fomentos de loucuras e vontade
Sorvendo com delírio em claridade,
A lua junto dela, maviosa,
Lábios abertos mãos em liberdade,
Num ato de loucura, a moça goza...
1771
Vibrando em nosso amor, por noite adentro,
Sem medo de saber-me apaixonado,
O mundo vai girando em novo centro
Em todo o meu prazer vai revelado.
Eu sinto o teu respiro quando arqueja
Roçando meus cabelos, tua língua
Amor quando demais, e se deseja,
Senão vier depressa, morre à mingua.
Por isso venha aqui, fica comigo,
Em meio a tantas fronhas, travesseiros,
Fazendo dessa cama o nosso abrigo,
Queimando-nos na chama por inteiro.
E quero que vibremos de prazer,
Num jeito tão gostoso de viver...
1772
Trazendo em suas mãos uma esperança
Que fez-se do brincar e do sorrir,
Com gosto de brinquedo e de criança,
Aos poucos começou evoluir.
Na força que é tão lúdica da dança
De novo, tanto e sempre repetir,
O mar tão infinito; já se alcança
E nada nos impede a prosseguir.
Amor não é brinquedo... Tem dois gumes,
E corta, machucando com saudade.
Por mais que fantasias sejam lumes,
Por mais que nós tentamos disfarçar,
Amor vai se tomando em realidade,
Quem brinca com o fogo vai queimar...
1773
Feitiço deste amor que me tomou
Tornando-me teu laço e teu anzol,
Não sei mais se talvez seja o que sou,
Reflexo neste mar, roubado ao sol.
No cativeiro sinto que sou teu,
E adoro escravidão que propuseste,
No rumo onde te vejo, o meu perdeu
Não sei se vou ao norte ou para o leste.
Só sei que nada sei nem vou saber
Apenas me transmudo em tuas cores.
Mergulhos tão insanos ganham ser,
Girando em nossas mentes, os amores...
No teu regaço, meu cansaço curo,
Toda noite em mim mesmo, te procuro...
1774
Viajo em teu silêncio e te pergunto
Do amor que tanto sinto e sabes bem.
Poder estar contigo, sempre junto,
Depois e antes de ti, não há ninguém.
Meu canto com teu canto, um só conjunto
De sonhos expressados mar além,
Às vezes, disfarçando; mudo o assunto
Bem sei que isso acontece em ti também.
Vamos hipnotizados; tão unidos,
Por esse sentimento belo e raro
Que traz nossos destinos decididos
Há muito pelos deuses. No torpor
Divino que nos serve de anteparo,
A voz silenciosa deste amor...
1775
A vida vai passando, num janeiro,
O tempo transcorrendo uma agonia...
O vento na janela, a melodia..
Amor que separei, já morre inteiro...
De todos os meus sonhos, o primeiro,
De tantas maravilhas, fantasia...
Na noite que se finda, eu não sabia,
Amor se sacrifica, meu cordeiro...
Nos moldes de insensata natureza,
Amor me trucidando, foi beleza,
Agora imensamente, nega o véu...
Amor, subitamente, trouxe glória,
Revendo a todo tempo, minha história,
Amor que vai morrendo, vou ao léu...
1776
Os peitos tão gostosos, de romã,
Na boca uma cereja delicada,
Nas formas bons pecados de maçã,
A fúria sem limites aplacada.
As mamas generosas da morena
Que faz todo malandro se encantar.
Cabeça sem juízo concatena?
Quem sabe se ela chega devagar
E escorra todo o sumo em minha boca,
Das frutas do pomar matando a fome,
Vontade de te ver, sedenta e louca.
Sussurrando baixinho: Vem e come!
Não deixo pra depois em devaneios
Abarco com meus lábios, róseos seios...
1777
A vida não me deixa nem compressa...
Do vinho da esperança? Só vinagre
A mão que me maltrata já tem pressa,
Não há sequer um sonho que consagre
Felicidade existe? Não conheço.
Quem soube só do mal procura o bem,
E esquece, de repente o seu tropeço.
Não quero ser brinquedo mais de alguém,
Eu sei que tanto errei, mas sendo humano,
A perfeição jamais existirá.
Agora se eu mereço o desengano,
Talvez o sol que sonho, morrerá.
Quem dera se eu tivesse uma amizade,
No fim da negra noite : a claridade...
1778
Querida, como é bom poder te ver
Espelho de minha alma encontro em ti.
Refletes a alegria do meu ser
Em todo este teu brilho, eu me perdi.
Não deixe; amor, jamais de responder
Meu canto, pois me dou inteiro ali
Em cada novo verso quero ter
Amor que; nos teus braços, conheci.
Tu és a fonte desta inspiração
Que faz da vida um mar imenso e claro.
A sorte de te ter tem tradução
Em todos os momentos desta vida;
Caminho a que me entrego; meu amparo,
Por isso sempre chamo-te: QUERIDA!
1779
Encontro o paraíso em tuas mãos
Nos sonhos que vivemos sem ter fim.
Os dias que passamos, todos vãos,
Encontram solução, encanto assim.
Tu és a minha doce fantasia
Do dia que virá sem temer medo.
Dançamos nosso sonho de alegria
Vivemos sem ter pena do degredo,
Apenas por viver nossa esperança
Sabemos que podemos confiar
Os pés tão docemente nesta dança
Que chega, num repente ao céu, ao mar.
Eu te amo simplesmente e nada mais,
Amor sendo infinito, amor me traz.
1780
Esse amor que me toma todo dia
Trazendo uma alegria que é sem par.
Louvando toda a sorte e a fantasia,
Aprendo esta delícia de te amar.
Meu verso te propondo a melodia
Que amor nos ensinou a solfejar
Perfeita nos acordes, na harmonia,
Gostosa de aprender e de cantar.
Tu és a minha graça e redenção,
Tu és o meu sentido e meu rumo.
Vivendo em teu amor esta emoção
A cada novo tempo me ilumino
Ouvindo o teu cantar eu já me aprumo,
E volto no teu colo a ser menino...
1781
Nos jardins floridos da saudade
Procuro aquela flor que está distante.
No amor que dediquei; tanta verdade
E tudo ficou mudo, num instante...
Seguindo desta lua a claridade,
Encontrando os seus rastros; delirante
Reacendendo assi, felicidade.
Relembro-me dos olhos, diamante.
Não temas que um jardim tão bem cuidado
Não deixa vir à rosa o sofrimento.
Um jardineiro intenso, enamorado,
Reconhece importância de regar
As flores com total discernimento,
Pois o fundamental é mesmo amar.
1782
Amada, nem a morte nos separa,
Pois temos os compósitos iguais,
Entenda que a união se fez tão rara,
Que a perda nos fará sermos jamais.
Tua presença amiga me é tão cara
Que sempre representa a minha paz.
Meu sonho nos teus pés já se antepara
Tu fazes o meu canto ser audaz.
Não fale de saudades nem tristezas,
Nos atam tão profundo e grande laço
Que mesmo que nos venham incertezas
O tempo me mostrou que este vigor
Mais forte que a distância, que o espaço
É a pura tradução do nosso amor.
1783
Tantas saudades sinto, minha amada,
Não sabes como é dura a nostalgia.
A noite não promete uma alvorada
O sol de tão distante já se esfria...
Agora que te escuto, enluarada
Trazendo para a vida a fantasia
Escute minha voz enamorada,
Vibrando com calor e alegria.
Eu quero teu cantar por toda a vida,
Distante de teus olhos, não suporto.
Que bom que retornaste enfim, querida
Mostrando que inda posso ser feliz.
Aos dias tão divinos me reporto,
E volto a ver de perto, amor que quis...
1784
Amor fraterno em forma de prazer
E de desejos mútuos de alegria.
Fazendo da esperança o bom viver,
Cantando sem temer, a fantasia.
Alçamos nossos vôos por saber
Que temos nosso canto em harmonia
Sentindo todo o gosto do querer
Que a paz e a igualdade rompam dia.
Amada que aprendi amar demais.
Sem tramas, sem temores, sem medidas
Não deixe que este canto, amor, jamais
Cesse de trazer uma esperança
De que transporte paz para outras vidas,
Irmãs e companheiras nesta dança...
1785
Minha alma envelhecida não percebe
Beleza que se faz amanhecer.
Espinhos espalhados pela sebe
Não deixam mais os sonhos percorrer.
O vento em tempestade que recebe
O corpo que navega sem prazer
Uma alma envelhecida, pária, plebe,
Decerto sem ninguém, deve morrer...
Outrora em fantasias, mocidade
Deixara suas garras benfazejas,
Porém somente resta uma saudade
De luas em mortalhas escondidas.
Àquelas que serenas; sertanejas,
Volvi num labirinto sem saídas...
1786
Quem dera se eu pudesse ter o porte
De um mar em vastidão inalcançável,
Um ser que assim vivesse palatável,
Distante da magia feita em morte.
Talvez assim sanasse cada corte
Em lâmina cruel imaginável,
A vida poderia ser afável,
Mudando o meu caminho em novo norte.
Mas vejo que também chorando assim,
Quem poderia um dia ser alento
Perdida num deserto que sem fim
Não deixa mais sobrar nem fantasia,
Sangrando e destilando em agonia,
A dor que se emoldura em sofrimento...
1787
É duro perceber cada lamento
Que invade e desentoa a minha voz.
Os dias se passando tristes, sós.
Não tenho mais sequer discernimento
A morte se aproxima e com o vento
Resulta num tormento tão atroz,
Amor que já se foi, feito em algoz
Não deixa mais florir meu pensamento.
E tudo se transforma em triste vaga,
A luz de uma esperança já se paga,
Deixando a solidão, feroz herança.
O frio transtornando a noite imensa,
No bafio da fera esta descrença
Somente insensatez plena me alcança...
1788
Ao ver a tua luz, sinto atração
De um jeito que não posso me conter.
Trazendo esta divina sensação
Que logo me retém em teu poder.
Eu sinto que me invade esta emoção
Que aos poucos vai tomando todo o ser,
E me enlouquece em forma de paixão,
Sem ela como irei sobreviver?
Tu és amor maior que desejei,
E vivo o sentimento com doçura,
Depois de desencontros te encontrei,
Com toda uma certeza, sem temores.
Quero me perder nesta ternura
Que forra nossos mágicos amores.
1789
Abaixe então a luz e feche a porta...
Assim ninguém virá nos impedir
Que a sorte já lançada sempre aporta
Naquele que aprendeu a repartir
Prazeres e desejos, gozos, gestos,
Palavras e sussurros, os carinhos.
Não quero ser somente vagos restos
Abandonados, sujos. Descaminhos...
Eu sinto ser possível realizarmos
Os sonhos e vontades que trazemos
Além deste desejo, nos amarmos,
E darmos tanto quanto recebemos.
Abaixe então a luz , venha comigo,
No amor a que me entrego – o nosso abrigo...
1790
Ao ver em sol nascente se mostrando
Um brilho em rara luz mais dadivosa,
Percebo em tal beleza deleitosa
A sombra de uma dama se formando.
E todo este caminho iluminando
Mulher que em mocidade, tão fogosa,
Deitando num dossel, decerto goza
Em mágica e malícia se entregando.
Porém ao perceber minha chegada,
Janela escancarada já se fecha.
E a noite transcorrendo em pensamentos
Recebe da ilusão, doce lufada
Sentindo o seu cabelo em cada mecha,
Meus sonhos mais felizes, em tormentos...
1791
Jogado em algum canto do passado
Deixado apodrecer em duro chão.
Um coração desfeito, enamorado,
Conhece bem o fim de uma paixão.
Eu vejo tua sombra aqui do lado,
E nela mergulhando uma ilusão,
Recebo a ventania qual um fado
Perdido sem destino ou direção.
Amargas sensações vão me tomando,
Não deixam mais espaços para nada.
Meus olhos de tristonhos, ‘stão nevando
Quem dera se encontrasse a liberdade
Que vem em noite imensa, desfraldada
Na flâmula divina da amizade...
1792
O meu desejo expresso e manifesto
De ter comigo sempre os olhos belos
Daquela a quem pretendo assim retê-los
Em cada novo passo ou mesmo gesto
Embora o meu passado desonesto
Impeça, na verdade, de querê-los.
Na maciez da pele, leves velos,
Encontro este querer ao qual me empresto.
Que dera se pudesse, em esperança,
Tocar teu corpo ao menos, uma vez.
A vida assim teria enfim, um senso.
Porém quem traz negrume na lembrança
Não pode cometer a insensatez
De ter em suas mãos, amor imenso...
1793
Às penas em que amor me submeteu
Fugazes esperanças sempre alentam.
Num átimo nem sinto mais ser eu
Aquele a quem os Fados alimentam.
O mar da fantasia feneceu
Nem mesmo as calmarias me apascentam.
O vago que restou já se perdeu
As tempestades, flores não enfrentam.
Preparo em armadilha uma vingança
Em aspereza enceto um pensamento.
Que porte com mortalha, a penitência
Deixando quase ao léu nossa aliança
Tragada pelo Amor em um momento,
Deixando em seu lugar, dura inclemência.
1794
Quero dançar contigo, minha amada,
Por noites e mais noites sem parar.
A vida nos teus braços, encantada,
Amor que nos tocou, a abençoar...
Sentindo tua pele perfumada,
Um cheiro de esperança solto ao ar;
Lá fora não existe, amor; mais nada,
Ah! Não deixe este sonho terminar...
Tu és o que sonhei por toda a vida,
Na maciez dos braços tanto enlevas
Por isso; nessa mágica, querida
Que é feita pela dança e pelo sonho.
É luz que se irradia sobre as trevas,
Tornando o nosso mundo mais risonho...
1795
Não jogue meu cadáver no cinzeiro!
Eu faço por clemência este pedido.
Bem sei que encontro em ti um companheiro,
Cinzeiro na verdade é bem fedido.
Se lembre meu amigo verdadeiro
De todo este caminho tão comprido
Eu tenho uma alergia a este cheiro
Prefiro ser mijado, até cuspido.
Mas deixo por lembrança um maço aberto,
Para a minha mulher, a cigarrilha,
Charuto para amigo predileto
Cachimbo é meu legado à minha filha,
Mas peço; por favor, preste atenção;
Cadáver no cinzeiro? Jogue não...
1796
Maria se fez luz e fantasia
Mas teve que seguir em outro intento,
Além do que João assim previa
Na barca da vontade em louco vento.
Maria, na verdade não sabia
Que a chuva se fazendo em novo invento
Nas coxas da morena, ela lambia
Molhando toda a moça num momento.
A transparência feita em organdi
Deixando essa menina quase nua.
Meu braço pra morena; ofereci,
Quem sabe atravessar estreita rua.
Problema é que João voltou correndo
Assim que percebeu estar chovendo...
1797
Teu cone latejante em minha boca
Trazendo um doce aroma, mais perfeito.
Adentro em confusão, de gruta e toca
Do jeito que tu queres, satisfeito.
Na louca profusão já se desloca
Da loca preferida noutro jeito.
Tu falas: Meu amor! Mas que chapoca!
E assim a pororoca encontra o leito.
A terra reconhece esta minhoca,
Propõe uma festança e eu aceito.
O caso é que não posso mais deixar
De meter minha cara, ou mesmo o peito.
Não quero, meu amor, dormir de touca,
Prometo que não vou mais vacilar...
1798
Somente o amor nos leva à perfeição!
Acima do poder do bem, do mal.
Onde sentir bater teu coração
É lá que existe Deus. Ponto final!
Amor, nossa esperança de vitória
Contra toda tormenta que vier.
É nosso caminho para a glória
Nos braços carinhosos da mulher.
Singrando pelo mar do grande amor
Encontro a fortaleza desejada.
Sentindo, da alegria esse torpor
Minha alma se renova, enamorada.
Amor que é meu cativo e meu feitor,
Mesmo na perdição, meu salvador!
1799
As mãos que te carinham, mais ariscas.
Desenham no teu corpo tatuagens
Esboçam as milhares de vantagens
Que incendeiam teu corpo nas faíscas
Que soltas quando estamos lado a lado...
Te quero minha amada, não discuto.
A voz, quando sozinho, sempre escuto
E tudo se transcorre, amaciado.
E pulsas como pulsa um coração
Cansado mas envolto na paixão
Que corta, que me morde e me abençoa.
Pensamento treslouca-se e te busca.
As mãos que me carinham são mais bruscas
E embora sem ter asas, alma voa...
1800
Não tem com certeza este veneno,
Atrai como se fosse um doce vício
De mel e de aguardente. Desd' início
Queria te sentir com gozo pleno
De amor e de vontade de viver
Na eterna primavera e juventude
Que restitui a força e a saúde
Com toda a plenitude do prazer...
Nas cores deste amor, caleidoscópio
Rodando em minha mente sem parar,
Te provo com desejos sei do ópio
Que forma toda essência do luar
Que toca nossa boca em pleno mel,
Meu sonho de viver-te e ser teu céu...
1801
Amada me perdoe este vazio;
Eu sei que errei demais agindo assim;
Tu sabes quantas vezes, tanto frio
A vida já partindo, perto o fim;
Vieste como um vento em arrepio
Num canto mais suave, para mim.
Sentindo esta distância, um calafrio,
Depressa, novamente, amor; eu vim.
Bem sabes que eu não canso de querer-te
Bem sabes que jamais te deixarei.
Meu passo sem apoio vai inerte,
Vasculha cada grão da fina areia,
Tentando ouvir a voz que imaginei
Da minha namorada... Uma sereia
1802
Encontro no teu sol, praia divina,
O fogo que incendeia minha vida.
Se o canto da sereia me alucina,
Minha alma neste sol, vai aquecida.
Viver este dilema, minha sina,
Que torna bem mais bela e decidida
A sorte maviosa que domina
E nela encontro amor, minha saída.
Eu quero sob o sol na branca areia
Deitar-me calmamente e delirar.
Serei o que em ti sou, solar sereia;
Reflexo de meus olhos buscam céu,
Ensina-me, pra sempre o que é amar,
Na boca deste sol, degusto o mel...
1803
Poder tocar teu corpo e te sentir,
Estar enfeitiçado pelo canto
Que agora, aqui bem perto, posso ouvir
Levando-me à loucura. Teu encanto.
Tocar-te e te beijar... Em ti fugir
De tudo o que passei; tristeza e pranto.
E nada neste mundo há de impedir
O meu desejo imenso. Quero tanto!
Serei o que quiseres; minha amada.
Enlouquecido sigo cada passo
Na areia, nesta praia tão molhada
Por ondas de prazer que nos devoram.
Descubro em teu olhar; paixão e laço:
São os materiais que nos decoram...
1804
Coração aninhado em coração
Distante mas tão perto que me toca,
Aos poucos inebriante paixão
Que bem sabe quem quer e não se estoca
Nem mede conseqüências, passa a noite,
Em louca sedução, em bocas quentes...
Saudade vem chegando, queima, açoite.
Dê-me tantos carinhos! São urgentes.
Não deixe que esta noite vá sozinha,
Meu colo quer cansaço, sem ter tréguas
Minha alma, tu já sabes onde aninha,
Embora esta distância... Tantas léguas...
Amor de tanto mel; quero os enxames,
E peço-te, querida, vem e me ames...
1805
Farsantes, tantos dias que passei
Distantes dos meus sonhos benfazejos
Constantes ilusões eu recriei
Amantes, que se foram sem ter beijos.
Instantes mais felizes desfrutei
Cortantes, as palavras e os desejos
Rompantes em teus braços velejei,
Mas antes de saber de tais ensejos
Venci todos os medos que trouxera
De um tempo em que jamais imaginara
Saber da renascida primavera
Que em cada novo dia transportara
Meus olhos para o longe. Quem me dera
Poder falar de ti, mulher tão rara...
1806
Te encontro toda nua em minha cama,
Acesos os desejos, nos tocamos.
Sedento e acendendo tua chama,
Dos gozos e delícias, nos sugamos.
Fazemos do banquete prometido
O nosso doce sonho de consumo,
No prato bem servido e repetido,
Bebendo do prazer intenso, o sumo.
Sem limites, pudores ou receios
Somamos nossos corpos, viram um.
As mãos vão navegando nos teus seios
Sumindo no teu mundo, perco o zoom
E enlaço esta nudez com tal ternura,
Que a noite assim divina, é nossa cura
1807
Durante tanto tempo eu quis te ver
Entrando pela sala, devagar.
E assim quando vieste conhecer
Aquele que não cansa de sonhar
Vontade tive, até de enlouquecer
Perder-me em cada raio de luar
Num misto quase angústia com prazer
Senti a minha casa iluminar...
Meus braços estendidos te ofertei
Os olhos quase em lágrimas; mostrei.
Porém numa ironia me sorriste
Deixando minha casa, num instante.
E o sonho que eu pensara, triunfante,
Morreu neste segundo, só e triste...
1808
Cincadas que cometo vida afora
Por vezes me transtornam, mesmo assim,
Prefiro te dizer, querida, agora
Que tenho uma esperança dentro em mim
De ter tua amizade, que se aflora
E mostra quanto é bom o mundo. Enfim
Eu te proponho, amiga, que nessa hora
Estejas mais disposta a dizer sim.
Desculpe se eu errei. Isso eu admito,
Não tenho a perfeição sequer por meta,
Cambaleando perco a linha reta
Tropeço e quase caio. Estava escrito
Nos búzios, almanaque, astrologia,
Que a sorte de te ter, viria um dia...
1809
Sou ermo vou a esmo e assim desfaço
O sonho de ser mais do que quisera.
Vivendo nesta vida qual palhaço
Amanso todo dia a mesma fera.
Depois de me perder, não vejo traço
Sequer que me prometa primavera.
O corte em minhas costas, duro laço,
Abrindo no meu peito vil cratera.
Quem sabe poderei no fim de tudo,
Embora eu te garanta; não me iludo
Achar após o túnel, claridade
Que é feita não apenas em amor,
Além do que pensei, a meu dispor,
Os laços mais fraternos da amizade...
1810
Buscando nos teus olhos o reflexo
Dos meus que se perderam e não voltaram,
Misturo nossos lábios num complexo
Desejo. Nossos corpos se tocaram
Fazendo deste amor a nossa meta
Que corta tantos céus; invade o mar,
Tocados pelas mãos e pela seta
Daquele que domina, deus do amar.
Mergulho nos teus olhos, mal disfarço;
Na luz que me alucina e logo cega,
Cedendo ao teu desejo todo o espaço,
Jardins desta esperança, minha alma rega.
E ao ver meus olhos dentro deste olhar,
Percebo o quanto quero e vou te amar...
1811
Há coisas nesta vida que eu não gosto
E penso que ninguém irá gostar.
Amiga, na verdade até aposto
E nisso tenho ganas de ganhar
Que mesmo que pareça mais disposto
A ter esta mulher que possa amar,
No fundo, causaria tal desgosto,
Maior do que as procelas lá do mar...
Eu peço, então que entendas meu destino,
Na flatulência fez-se antigo amor.
Deixando mesmo o peito em desatino.
Mas tenho uma lembrança; amiga flor,
Da qual não me esqueci, e vaticino:
- Amor; não solte pum no elevador!
1812
Amiga, mal chegaste a perceber
As luzes que se emanam do luar.
Quem dera se pudesses conhecer
Os passos que teimoso, cismei dar
Em busca da certeza de saber
Se a vida poderia iluminar
Aquele que jamais viu florescer
A flor do pleno amor. Virá chegar
Decerto um dia feito de esperança
Que possa me trazer simples sorriso
E o toque mais amigo e tão preciso
De quem com toda força, já me apóia.
Um grito, o coração ao éter lança
Na busca da amizade, rara jóia...
1813
Amiga, quantas vezes vi teu nome
Jogado pelas ruas, em conversas.
Mal surge a madrugada, a noite some
E deixa estas palavras tão perversas.
Não posso mais calar sobre este fato,
Pois tanto tenho orgulho de poder
Saber que no teu rosto eu me retrato
E sinto em teu apoio, o meu prazer.
Agora não permito mais que falem
Daquela companheira tão dileta
Que a vida me deixou. Pois que se calem
Senão, ao desferir a dura seta
A todos mostrarei quão, na verdade,
É forte e bem leal nossa amizade...
1814
Boa noite!... E tu dizes – Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não me digas descobrindo o peito,
– Mar de amor onde vagam meus desejos.
Castro Alves
Teus seios: delicada perfeição,
Aonde meus desejos naufragando
Encontram tal poder de sedução
Na cama, com volúpia me esfregando...
Montículos de fogo e de vontades,
Percebo em teu decote mais ousado,
Arfando de quereres, ansiedades
E fico num momento extasiado
Sonhando com meus lábios mais audazes
Rondando cada aréola com vagar,
Do leite que produzem, outros fazes
Em mim, em tal fogueira a se ordenhar
E bebo enquanto bebes doce leite,
Delícia que nos traz todo o deleite...
1815
A moça mostrava a coxa,
a moça mostrava a nádega,
só não mostrava aquilo
– concha, berilo, esmeralda
Carlos D. de Andrade
Ao ver em transparências divinais
Os seios e mamilos da morena.
Desejo de saber e ver bem mais
Até chegar nudez, completa e plena.
Distâncias de centímetros parecem
Quilômetros da mão que te procura.
Tais formas delicadas não se esquecem,
Porém esta visão já me tortura.
Das coxas uma imagem me alucina,
E rendada, salmon, a salvaguarda
Não deixa que eu perceba a concha, a mina,
Que um dia em fantasia, enfim me aguarda.
A moça distraída, num sorriso,
Esconde e quase mostra o paraíso...
1816
Um pequenino grão se fecundado
Transforma-se em gigante. Eis a verdade.
Assim também em cada passo dado,
Percebe-se o destino: liberdade!
A vida não é feita em sina e fado,
Em cada nosso passo, realidade
Moldada pelo canto imaginado
E feito para dar felicidade...
Tornados e procelas enfrentamos
Eu sei que sou um tolo, pois romântico.
Mas não suporto ter carrascos, amos,
Amores – há quem diga – temas ocos,
Porém desde o princípio – até barrocos,
Diziam de um amor em cada cântico...
1817
Nos beijos que passeiam sem juízo,
Vertendo em mil loucuras, o prazer;
As bocas chegarão ao paraíso,
Caminho tão gostoso a percorrer.
Nos arrepios fortes, os gemidos,
Sussurros que não pedem tradução,
Os dedos se misturam, decididos,
Alagam de desejo e de paixão.
Quero te beijar, tão manso, os pés,
E viajar teu corpo sem demora,
Meu mundo se perdendo em teu convés
Toda esta beleza, tenso, explora,
Na noite prometida, sem barreiras,
Sabor destas entradas e bandeiras...
1818
Sejamos levemente pornográficos,
Se bem que numa cama vale tudo.
Esqueça; por favor, planilhas, gráficos
Não use mais pudores como escudo.
Amores delicados, brutos, sáficos,
Jamais os faça – amiga- quieto e mudo,
Que sejam delirantes, mesmo trágicos,
E venham sem talvez, porém, contudo...
Usemos sem limites, palavrões
Desculpe; mas de fraque? Nem pensar...
Prazeres quando vêm, aos borbotões
Permitem qualquer forma de expressar.
Bendita seja em glória, a fantasia
Divina, pois vital, pornografia...
1819
Por vezes, mesmo em peitos mais abertos,
A dor estende forte, os frios braços,
Cerzindo com torturas, cria os laços
Que em seca nos trará tristes desertos.
Os passos se tornando, então, incertos,
Não deixaram sequer, os vagos traços,
E os sentimentos, nobres, sendo escassos,
Trarão os céus nublados, encobertos...
Porém, sabendo disso, amiga, eu peço
A luz que me protege dos martírios
Com profusão intensa, claros círios
Que ajudam a vencer qualquer tropeço.
Não deixo então que aflore nem saudade
Nos braços redentores da amizade...
1820
Vamos, amor, a vida nos espera.
O tédio e o deserto que passamos,
Dando lugar à louca primavera
Dos sonhos que vivemos quando amamos.
Sentindo tuas mãos me percorrendo;
Deitados sobre a relva, em mil carícias
Encantos mais divinos conhecendo
Nos potes do prazer, mel e delícias.
Percorrendo cordilheiras, altos cimos,
Com asas do desejo em sedução,
E depois, novamente, repetimos,
Viagens em ternura e explosão!
No mundo em desencontro que vivemos,
A cada novo encontro; revivemos...
1821
calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa
Paulo Leminsky
É necessário o gozo, com certeza;
Prazeres são vitais, mas há quem negue;
Depois não reclamar, se o carregue
O diabo/solidão. Desfeita a mesa,
Ainda esperará por sobremesa?
Depois uma vida oca, à sorte entregue,
Reclama se uma luz, tão frágil cegue,
Tentando desviar a correnteza.
O vento toca a face, um arrepio,
Palavras sussurradas, ereções;
Se a natureza traz desejos, cios,
Não venha me dizer que isto é pecado
Ou outras- me desculpe – aberrações.
Gozar e ser feliz: somente um Fado...
1822
É transformar o uno; universal,
É não olhar por cima e nem debaixo
Saber que o bem maior, da terra o sal,
E perceber da luz, inteiro; o facho.
É ver no sofredor um seu irmão,
Não suportar calado, uma injustiça.
A todos perdoar, vivo perdão,
Distante da ganância e da cobiça.
É dar tudo de si, sem querer nada,
Estar sempre por perto e consolar.
Não permitir a vida abandonada,
Ainda mesmo assim, para se amar
Ainda falta muito o que fazer.
Precisa; dos desejos, esquecer...
1823
Amor nunca se mede nem se explica.
Não tem forma. Inerente e desmedido
É proteção sem luvas de pelica,
Sentimento que nunca tem sentido.
Quem entender o amor já se perdeu
Distante de seus braços, desamou.
É lume que escurece, vira breu.
É gelo flamejante que queimou.
Amor não se disfarça nem se nega,
Traduz-se simplesmente por amor.
É cruz que com prazer já se carrega
Leveza que nos pesa, insaciável,
Altar dos sacrifícios, sedutor.
Verbete tão pequeno... Imensurável...
1824
Queimando todo o fogo do desejo
Na saraivada intensa, iluminada.
Rastreio cada passo e já te vejo,
Nua na minha cama; enluarada...
Nos cálices bebendo cada beijo,
Banhando tua noite, toda e cada.
Subindo por paredes eu prevejo
A chama que jamais foi apagada...
Morando nos teus olhos, nego a venda,
E quero profanar os teus altares.
A camisola, solta, seda e renda
Testemunhando tudo, nada diz...
No quarto, nas janelas os luares.
A louca sensação de ser feliz!
1825
Deus tarda mas não falta, minha amada...
Espero que tu voltes para mim...
Depois de ter sumido pela estrada,
Cansada. Quase morta, bem no fim..
Minha saudade sempre emoldurada
Plantada em cada flor do meu jardim,
Mostrando que essa vida nunca é nada
Se não te tenho mais, morrer enfim?
Mas ouço deste vento benfazejo
A voz que acalentava meu passado.
Da boca mais gostosa, meu desejo
Já diz que está chegando, minha amada.
O sol vem renascendo iluminado...
Mal abro a porta... vejo... não há nada.
1826
Se, às vezes vou distante, amor não chie.
Apenas cultivando uma saudade.
Não deixo que este amor bem cedo esfrie,
Eu não falseio nunca, eis a verdade...
Que a mão que me entorpece já me guie
Vencendo todo o medo e tempestade.
Remédios necessários se me avie
A cota transtornou feliz cidade.
Se sou pessoa errada ou se vou certo,
Não vejo outro retrato aqui no peito.
Bem antes de viver qualquer deserto
Sou teu e te esperava para eterno.
Vencida a tempestade, satisfeito,
Deitado no teu colo, manso e terno...
1827
Espero o teu amor como a criança
Que sonha com brinquedos no Natal.
Na vívida ilusão de uma esperança
Tão próximo do bem, longe do mal.
Na festa que virá; sorriso e dança
Vontade de voar, correr astral...
A vida em emoção, por certo avança
Transformada em eterno carnaval...
Eu quero o teu amor com fome e sede,
Com fúria e com carinho; mar e sol.
Deitar nosso desejo em uma rede
À sombra de um frondoso jatobá.
Tu és o meu caminho; eu, girassol.
Sonhando com teu beijo... Que virá?
1828
Um beijo ao vento solto, te buscando
Não sei se voltarás, mas te procuro.
Fundindo num tremor te desejando
Num mar de solidão, por certo escuro...
Batendo o coração vou procurando
Fugir do medo estúpido e tão duro.
Tu sabes quanto estou já me entregando
O peito todo entregue, um sonho puro...
A tarde tão chuvosa, esta umidade
Invade meu olhar. Eu mal disfarço...
A lágrima tampando a claridade,
Amar é contratempo? Me pergunto...
Queria simplesmente em teu compasso
Andar tranquilamente, estar bem junto..
1829
Tua nudez desfila pela casa,
anseio te tocar, mas foges logo,
deixando um rastro fogo feito em brasa
chamando para a festa em belo jogo.
Conjugo nossos corpos, sede e fome,
volúpia, insanidade, insensatez.
O medo em solidão, depressa some
e deixa uma luxúria tomar vez.
Meus lábios procurando cada porto
adentram sem fronteiras tuas sendas,
depois de transformado em semi-morto,
deitado sob as sedas, cetins, rendas,
eu sonho colorido, coxa e perna..
carícias e carinhos, vida eterna...
1830
Poder te amar, querida, em noite fria;
No outono deste amor que a vida trouxe.
Não sabe há quanto tempo eu te queria
Num sonho tão fantástico, tão doce...
Amor que foi crescendo dia-a-dia
Distante da tristeza como fosse
Um poço de alegria e fantasia.
As dores já se foram. Acabou-se
O canto mais atroz que me tocara.
Agora estou feliz, além de tudo.
A vida se passando... Coisa rara:
O nosso amor aumenta e, em disfarce,
Não liga pro talvez, porém, contudo.
Não há nada no mundo que o embace...
1831
Reporto à nossa vida, no começo,
vivíamos crianças mais felizes.
Depois de certo tempo, num tropeço;
comum a quase todos aprendizes,
agora, nestes erros, eu confesso,
marcados por profundas cicatrizes,
palco das esperanças, más atrizes,
trazendo estes castigos que mereço...
Agora, ao te encontrar querida amiga,
percebo finalmente quanta sorte,
depois de se curar ferida e corte,
eu agradeço o braço que me abriga
louvando, com total sinceridade,
os laços bem mais firmes da amizade....
1832
Eu quero te dizer querido amigo
do quanto me espelhei em tua vida.
Tão bom poder estar sempre contigo;
jamais permitirei a despedida
e a dura solidão que sei, virá;
castigo pra quem vive em desamor.
Apenas a tristeza restará
fomento para angústia e para a dor.
Na força da amizade eu encontrei
apoio pra seguir o meu caminho.
Desculpe; pois bem sei que vacilei;
negando-te meu braço, companheiro.
Depois de tanto tempo – andei sozinho,
percebo o teu carinho, verdadeiro...
1833
Ah! Como é bom lembrar de nosso amor!
Não foi somente um caso que acabou,
É mais do que um encanto sonhador,
Gosto maravilhoso aqui ficou...
Não deixaste senão este sabor
Delicado lembrando a quem amou
Que a vida se renova com vigor
Mas não deixa prá trás o que sonhou.
Toda a felicidade de saber
Que foste minha amada, e minha sorte,
Vivendo na alegria do prazer
Ter tido o teu amor junto comigo
Tornando uma esperança bem mais forte.
Amor que sobrevive eterno, amigo...
1834
Amor não se cultiva como flor
Nasce sem querer vivo e faminto.
Embora necessite do calor
Vulcão que se mostrara quase extinto
Explode sem motivo e sem temor,
Retrata fielmente o que mais sinto.
Arrasa todo canto sonhador
Dizer que eu o controlo? Não, não minto...
Amor é turbilhão, erva daninha
Que nasce no canteiro ou no jardim,
E toda uma emoção já desalinha
Criando a tempestade voa leve,
Rasgando o que pensara haver em mim,
Insano e sem limite, amor se atreve...
1835
Mal sabes que o descuido traz encanto
Deitada mal coberta num lençol;
Deixando-me antever, por certo, tanto
Quanto brilha na tarde um forte sol.
Eu quero te sentir sem entretanto
Tornada em minha vida, um bom farol,
Bem sei que não terei nenhum espanto
Em te fazer meu rumo e girassol.
Hiperestesiado sinto o vento
Batendo no meu rosto, na promessa
De renovar o manso sentimento
Que dorme nesta cama junto a ti.
Sem medos minha sorte te confessa
Que és tudo o que sonhei e que perdi.
1836
Saudade me consome e não perdoa...
O mundo desabando pouco a pouco,
O grito na garganta quase rouco,
A minha asa, quebrada já não voa...
A voz desta saudade, triste ecoa
E solta nos espaços, fico louco.
E nada me consola nem tampouco
A liberdade que sonhei revoa...
Vivendo do que fomos, vou morrendo.
O manto que me cobre, se perdendo
A vida me maltrata num momento.
Espero tua volta meu amor,
O teu braço será meu redentor.
Alívio para todo sofrimento..
1837
Olhando nos teus olhos, nada falo,
Apenas sinto a força deste amor
Que vive e não permite mais abalo
Nas suas bases sólidas. Do ardor
Que sinto vou fazendo meu regalo
Formado desta forma, encantador
No sentimento imenso, sempre amá-lo;
Amor que é desta vida, o condutor...
Não preciso falar, somente sinto...
Ah! Querida, vivemos; completamos
A tela sensual onde nos tinto
Com toda esta certeza mais dileta.
É certo pois, da forma que esperamos
Amor que nos tomou e nos completa...
1838
Amiga, quando sento-me no banco
Da praça aonde fomos tão felizes,
Permito reviver um sonho branco
Deixado em nosso peito, cicatrizes.
Sorriso de menino é bem mais franco,
Da vida dois pequenos aprendizes,
A dor desta saudade, se inda estanco
É por não mais querer sangrar em crises.
Às vezes outros moços, mesma praça,
Jardins onde vivemos tanto amor.
Pardais nos arvoredos, tempo embaça
E nada do que fomos; nos restou,
Apenas amizade em seu fulgor
Relembra a maravilha que passou...
1839
Eu quero o teu carinho, minha rosa,
Vivendo em teu amor, sonho repleto
De lua e de manhã. Maravilhosa
Delícia de um oásis no deserto.
Querendo o teu sorriso sonhador,
Levar-te aos verdes campos da emoção,
Trasbordo meu desejo em teu amor,
Tocando-te, bem fundo, o coração...
Não deixe o barco naufragar, querida;
Por mais que seja dura a caminhada,
A sorte que, entre nós, vai decidida,
Tem ternura de flor desabrochada
Deitada nos meus braços; olhe o céu,
As nuvens de algodão... No branco véu...
1840
Não quero desvendar noite sombria
Nem ser sequer mais sândalo ou machado.
Em ecos mais diversos cada brado
Fornece em verso triste uma sangria.
Eu quero o riso do anjo mais safado
Que traz decerto um gosto de ironia,
Tampouco quero o místico recado
De quem sempre mentiu com maestria.
Só peço, sem tropeço um passo a mais,
Direcionado ao sonho, porém feito
Com firmeza absoluta e ser capaz
De discernir palavras, gestos, frases,
Que saibam respeitar o meu direito,
Enfim, tendo amizades como bases...
1841
Tantas vezes já vi profusamente
Ergueres tuas mãos em claro apoio
Uma amizade imensa se pressente
Em quem é puro trigo, e mata o joio.
Do coração em franco e forte aboio,
Ressoa a tua voz perfeitamente,
Converte em oceano um vago arroio,
Tornando bem mais forte, intensamente
Ao perdoar, querida, tantos erros
Que um coração insone vai tramando,
Ajuda a desvendar montanhas, cerros,
Ultrapassado os ermos do caminho.
Quem vai, bem junto a ti, se transformando
Não sabe mais nem quer seguir sozinho.
1842
Na dança deste amor sem medo, em glória,
Os versos se tornando bons acordes,
Na vívida impressão desta vitória
Não quero mais dormir, e não me acordes.
Amamos sem juízo; em nossa história,
Com toda uma fineza fossem lordes,
No fundo nossa mesa é bem simplória;
Porém no nosso amor tantos recordes
De beijos, de carinhos sem ter fim,
Do mundo que roubamos para nós.
Do sentimento puro e bom assim
Que nada neste mundo nos supera.
Atados na medula, nossos nós,
São mansos e tão doces como fera...
1843
Na palavra bondosa e sei tão pura,
Tu mostras teu apoio, que acolhido,
Sossega e minimiza a desventura
Deixando o sofrimento para olvido.
Perdoe tantas vezes, a loucura
Da qual eu te garanto até duvido,
Se trago no meu peito esta amargura
Às vezes me relembro que, sofrido,
Causei o sofrimento de quem amo.
Em atos mais insanos, infantis.
Porém eu sei que negas desabrigo,
Por isso tantas vezes eu te chamo,
Palavras que me dizes, tão gentis,
Provando que tu és meu grande amigo...
1844
Mal sabes quando há tempos eu a via
Andando pelas ruas, na calçada,
Aos poucos, devagar eu percebia,
A força que tu tens, irradiada.
Palavra que depois sentia cada
Movimento sublime da alegria
Que trazes em teus olhos, luz dourada
Que há muito- não soubeste- já me guia...
Os laços de amizade cultivados
Em ramos bem mais fortes do arvoredo
Os passos sem segredos, foram dados
Na busca da real felicidade.
E faço, com certeza o meu enredo,
Baseado nos suportes da amizade...
1845
Aos poucos percebendo que amizade
É feita em laços firmes, poderosos,
Deixando perceber que a liberdade
Tem seus caminhos ricos e formosos,
Não posso discutir amenidades,
Apenas sentir braços poderosos
De quem se faz na vida em irmandades
Forrando sonhos, belos, maviosos...
Assim, amiga, vejo mais dourada
A estrada que nos leva ao infinito,
Se cada dia vibra em alvorada,
A força da amizade, em belo rito,
Permite retirar destes caminhos,
As pedras, urzes, trevas, os espinhos...
1846
Meu corpo ardendo em brasa invade o teu
Incêndios provocados, fogo intenso.
A chama em umidade se verteu
No nervo contraído, o corpo tenso.
Bacantes exauridos, no depois,
Aragens e sorrisos, suor tanto.
Vibramos em uníssono, nós dois,
Numa explosão que é feita em raro encanto.
Insensatez e glória, na colheita,
Depois na terra arada, grãos fecundos.
A cama e seus lençóis, toda desfeita
A gota em explosão já convertida;
E mesmo que isto seja por segundos
Bem vale a eternidade de uma vida.
1847
Bem sei que não existe fingimento
No que tu sentes; minha doce amada...
Eu nunca duvidei nenhum momento
E sei que estás comigo. Busco em cada
Estrela o teu olhar; meu sentimento
Jamais esperaria de uma fada
Nem dúvida nem medo e nem tormento,
Por isso nunca sofra. Enamorada
Dos sonhos deste sol que quer a lua,
Da lua que buscando um claro dia,
Nos versos encantados já flutua
O canto que te fez vir para mim.
Por isso não mais tema esta alegria
Sabendo de antemão: te quero sim!
1848
Amor não é barreira. É solução!
Não tema quando o vento te tocar.
É nele que teu rumo e direção
Estão. Deixe este barco te levar
Por mares e por céus, pela amplidão.
Entregue-se sem medo quando amar,
Não tem por que pedir nem dar perdão
Por ter um paraíso a te esperar.
Tu és a maior prova da existência
De um Deus por sobre nós, em pleno amor.
Não há nenhum dilema, nem clemência
Apenas uma força divinal
Que sempre nos tornando sonhador
Liberta o coração de todo mal...
1849
Querida; amor jamais nos manda aviso.
Vem simplesmente e toma o pensamento.
Depois de certo tempo, num sorriso,
Mal notamos, invade um sentimento
Que toma nossa vida. Um impreciso
Toque divinal feito num momento
Que vem nos demonstrar que o paraíso
Existe realmente, sem invento.
Vontade de tocar a boca, os lábios,
Sentir o teu respiro junto ao meu.
Sucumbem ao amor, mesmo os mais sábios
Não sabem e nem podem resistir
Ao te encontrar, meu mundo se perdeu
Dentro do teu. Ninguém vai me impedir!
1850
Sentir a tua boca junto á minha,
Numa ânsia tão voraz e delicada.
Nas mãos esta vontade que acarinha
O gosto de sentir, por mim, tocada...
Sentir teu leve toque tão macio
Desejo de ficar e não partir.
Bem sei quanto não gostas deste frio
Nos corpos, o calor a repartir.
E assim, esqueça o medo. Vem comigo,
Na busca, em nosso amor, da eternidade.
Não tema... Não conheço mais perigo
Que impeça de viver felicidade.
No néctar que sorvi de tua boca
A vida se sucumbe, leve... Louca...
1851
Beijando a boca aberta escancarada
Pronta pro sorriso e pra mentira,
Da língua penetrante à cusparada,
Palavra mansa, ofensa já me atira.
Por mais que me pareça desfraldada
Bandeira vai se ardendo até que a pira
Desfaça a nossa história em simples nada.
O tempo nunca pára e a vida gira.
Mas tenho uma senzala dentro em mim,
Guardada por açoites e carícias.
Sangrando com punhais podres delícias
Sevícias e torturas. Carmesim
A cor dos lábios quentes da morena
Que sangra com volúpia e me envenena...
1852
Vieste com a força da ternura
Da forma mais sutil e generosa,
Tomando com as garras em brandura
Qual fossem os espinhos para a rosa...
Mas nunca me feriste. Me tocaste
Com tanta maciez que me encantei,
Ao ver tua beleza, me tomaste,
Por isso; meu amor, me apaixonei...
E quero em cada canto te dizer
Do quanto eu me encanto, todo dia.
Meus olhos te procuram, passo a ler
Teu canto com os olhos da magia
Do amor que nos tomando nos transporta,
Abrindo o coração; nos cura e corta...
1853
Distante de tão rara formosura,
Meus dias se passavam simplesmente.
Ausência de carinho e de ternura
Tornando esta saudade que, latente,
Professa em duros cortes, amargura
Volvendo sem avisos, de repente,
Causando a sensação de noite escura
Àquele que se perde, tolamente.
Encerro no meu peito uma esperança
De um dia renascer em luz perene
Cometa que se foi há tantos anos.
Assim, a sorte enfim, mostre aliança
Sem mágoas nem desdita que se encene
Mudando, de repente tristes planos...
1854
Loucura é não deixar amor fluir,
Temer as loucas regras do desejo,
Barreira alguma pode me impedir
Quando aquilo que eu quero, perto vejo.
Ninguém pode tentar calar a voz
Sublime do que sentes e que eu sinto.
Não deixe que o ciúme seja algoz;
A sorte benfazeja; já pressinto.
Quando o sentimento vem com força,
Não pense que alguém possa mais conter.
O amor que é sempre frágil como a louça
Precisa de cuidados, proteger.
No laço que nos une brilho e viço,
Ninguém tem; meu amor, nada com isso...
1855
Sentir intumescida esta vontade
De ser e completar-se em gozo e festa.
Atada no teu corpo ansiedade,
Porejando umidade em sacra fresta.
Arfantes namorados, gozo à vista,
Penetrações diversas, mil orgasmos,
Não há, disso eu bem sei, quem já resista
Deixando o gosto inerte de marasmos
Clitóris, montes Vênus, bela tela
Por Deus esculturada, maravilha...
Levando ao paraíso, doce trilha
Que em lúbrica nudez amor revela,
Quadris que em movimentos me enlouquecem
Orgásticos fulgores que entorpecem...
1856
Quem dera, sem ter pátria, simplesmente
Pudesse ser humano. Um solidário
Desejo que entranhando em minha mente
Matando este egoísmo mostra o vário
Caminho que se abrindo nos consente
Um gosto alvissareiro, humanitário
Sabendo que o que sinto também sente
Aquele a quem chamamos adversário...
As torres em Babéis a cada dia,
São construídas, sempre alimentadas
Com pútridos tijolos. Tal agonia
Reflete nas igrejas e países
Distâncias certamente são criadas
Pelos canalhas, podres infelizes...
1857
Teu corpo, minha casa e meu destino,
Desnudo; mais parece um santo altar.
Aonde irei decerto enfim louvar
A doce sensação de um desatino...
Meus lábios te procuram quando inclino
Nas ânsias incontidas de mostrar
O quanto é precioso te adorar,
Românticos desejos de um menino
Aos pés de tua imagem, redentora,
Jogar-me nos teus braços, ser fiel.
Tocando com meu gozo, imenso céu
Ao qual me deparando, enfim esbanjo
Toda a loucura intensa que se aflora
Das pernas, coxas, seios de tal anjo...
1858
Vontade de te sentir aqui por perto,
Cuidando com carinho e atenção
Vivendo em nosso oásis predileto,
Sem medo de viver nossa paixão...
Que teve, em sua vida, tal deserto,
Nas dunas gigantescas, solidão,
Agora que no amor eu me desperto,
De novo, se tu fores, volta o não...
Mas sei que tu me queres... Vento diz,
Sentindo o teu perfume aproximando,
Novamente serei; amor, feliz?
Espero que a resposta venha urgente
Pois sempre eu estarei aqui te amando,
Aguardo que tu chegues, de repente...
1859
Refletem o teu brilho, bela estrela,
As águas deste mar, em calmaria.
Pois sabem que somente por revê-la
As ondas comemoram; alegria...
Milhões de pequeninas florescências,
Gotículas de lágrimas percebem
As saudades, terríveis inclemências
Que as ondas deste mar de ti concebem...
Estrela radiante, perolada,
Penetra bem no fundo do oceano,
Revendo-te, a lembrança bem marcada,
Do lume que traduzes; soberano...
Amiga; com certeza essa emoção,
Já sente ao te rever, meu coração...
1860
Tu és dentre as pessoas que conheço
Estrela destacada, com certeza.
No canto que me mostra não me esqueço
De tentar imaginar em tal beleza
A forma mais gentil que em sonhos teço,
De pintar este quadro com clareza,
Nos passos desta estrela que obedeço
Sentindo em todo o brilho a sutileza...
Ao seguir os teus passos já percebo
O quanto és importante, minha amiga,
Num mar de tanta estrela, te concebo,
Estrela não cadente, mas a guia.
Teu lume me permite que eu prossiga,
Formando este pingente em fantasia....
1861
Distante deste amor, do calor dos teus braços,
O frio me tomando; espero a tua volta.
Eu quero recompor a força destes laços
Minha alma sem carinho, aos poucos se revolta
Reclamo tua boca ausente... Perco os passos;
O pensamento leve; eleva-se e se solta
Voando pelo céu seguindo por espaços
Precisa de teu colo e nele sua escolta.
Amor por onde andaste... Aonde te perdi?
Só sei que a tarde chega eu te procuro e nada...
Vontade de gritar: Meu bem; estou aqui!
Sentado em plena areia, as ondas me tocando,
Sinto no manso vento, a voz de minha amada,
Dizendo: Meu amor... Aguarde... Estou chegando...
1862
Dançando estas estrelas irmanadas
Formando com seus lumes u'a coroa
Estrelas se mostrando consteladas
O pensamento livre busca e voa,
As luzes na ciranda demonstradas
Na dança que se faz assim, à toa,
As noites se passando decoradas
Nesta tiara bela. A vida é boa
Para quem souber quanto é importante
Seguir o seu caminho de irmandade
Sabendo que viver é delirante.
No rastro das estrelas vou buscando
O sentido perfeito da amizade,
Unidos; nossos passos vão brilhando...
1863
Sou tão feliz seguindo o nosso canto
Que encanta e cada vez se faz bem mais,
Eu te amo, minha amada, tanto, tanto..
Que nunca tanto amor será demais...
Rico teto, sapê ou amianto,
Pra quem ama, querida, tanto faz,
Nos teus braços, carinhos agiganto
Enquanto houver o canto, vivo em paz...
Achei nos teus olhar o meu farol,
Achei na tua boca a minha fonte.
Vivendo na procura de teu sol
Teus raios tão suaves e gentis
Trazendo uma esperança no horizonte,
De ser, sempre ao teu lado, mais feliz...
1864
Quão doce é a um firme namorado
um fingido fugir da doce dama,
um dizer que não quer ir para a cama,
um ai que nos ouviram! que é pecado!
um ai que minha Mãe ouviu e chama!
um ai de mim, que perco honra e fama!
um não sejais, senhor, tão porfiado...
D. Tomás de Noronha, ?-1651, Portugal,
Tu finges que não quer, mas quanto queres!
Sentir penetrações e lábios quentes.
Do amor em que vieste, amor geres
Em tramas sem pudores, envolventes...
Por que temer prazer quando me deres
As chamas dos incêndios que pressentes,
Fazendo-te mais bela entre as mulheres.
Rangendo com furor, travando os dentes.
Vem logo me fazer e ser feliz.
No gozo das vontades mais profanas,
As noites destemidas, tão sacanas
Serão de certo modo inesquecíveis.
Tu sabes quanto eu sempre quis
Compartilhar os gozos mais incríveis...
1865
Sentindo o teu desejo, meu prazer,
Viajo por teu corpo a maravilha
De ser o que sonhei pudesse ser
Na pele tão suada que rebrilha.
Explodem em nossas bocas mil cometas,
Perdidos se encontrando sem segredos,
Não temas sofrimentos, só cometas
Loucuras. Nos delírios e folguedos,
Paixão nos violenta sem pedir
Licença. No teu rosto quero ver
As marcas do prazer a te invadir.
As gotas de suor passando a ter
Beleza e claridade, estrela e lua.
Ofegante, deitada, imersa e nua...
1866
Que quem tem vida guaiada
coma vós da vossa sorte,
por vós é cousa provada
que quem tem vida cagada,
cagada há-de ser a morte.
Quando vierdes à corte,
e o cu vos der desmaio,
dai-o ó Demo, Çapaio.
...
Poema de: Gil Vicente
A vida embostalhando dia a dia,
Perfaz às vezes como uma cagada,
Mostrando que se perde uma alegria,
Não sobra na verdade, quase nada...
Uma moçoila tensa e mal amada,
Fudendo sem prazer já me dizia,
Que sem ter ojerizas à trepada,
Raríssimos momentos bendizia.
Porém ao dar guinadas para trás,
Sentiu, até que enfim, ser bem capaz
De ter orgasmos loucos e divinos.
Assim já se esgueirando da má sorte,
Fornica em sodomia, como esporte
E tem em gozos álgicos, destino...
1867
Um verso de amizade e de carinho
Dedico a quem mostrando ser possível
Arar e retirar da flor, espinho,
Mostrando um novo rumo mais plausível.
Amar e dedicar-se ao mesmo ninho
Aonde se percebe paz incrível.
Uma amizade é feita qual um vinho,
O tempo maturando eleva o nível
E toda a qualidade que se espera,
Degustação perfeita já se faz,
Porém mantendo o viço em primavera
Permite que sonhemos com futuro
Em benfazejo gozo, plena paz,
Cevando uma esperança em chão mais duro...
1868
Não fale o coração outra palavra
Senão amor. Eu sinto-te tão perto,
Cuidando com carinho desta lavra
Semeio nosso amor em campo aberto
E vejo em cada grão mil esperanças
De nunca haver ocaso em nossas vidas.
Convido-te querida, para as danças
Das bocas que se querem invadidas.
Roçando cada parte deste todo,
Vibrando em nossos corpos ansiados.
Um sentimento forte e sem engodo
Forjado em corações apaixonados.
Num êxtase sem medos e vergonhas,
Jogados travesseiros perdem fronhas...
1869
Às vezes parecendo o pensamento
Voar além das margens de costume,
Ferindo a claridade, cessa o lume,
Refaz a dor insana de um tormento.
Acaso ao desvendar o sofrimento,
Na sede de viver que se consume,
Além de todo encanto que presume,
Nos braços da saudade toma assento.
Bem mais do que pensara, até pudera,
Reparo o pensamento em vão desejo.
Sentindo dos grilhões duro latejo
Acorrentando um sonho, acalmo a fera,
Além do que pudera e com ternura,
Alvíssaras promessas de ventura...
1870
Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
...........................
ADALGISA NERY
Em todos os aspectos que se forje
Com sensibilidade, amor e encanto,
Carrego dentro da alma como alforje
Uma esperança audaz em riso e canto.
Mesmo depois de alguma tempestade,
Querendo expectativa de bonança,
Fluindo com total imensidade,
A par do que me toca e assim me alcança
Nas lágrimas ferinas e vorazes,
Restituindo um sonho outrora inglório
Embora renegasse luz que trazes,
Sou quase mesmo ingênuo até simplório,
Mas digo e não me farto de sonhar,
Eu te amo, e creio até no teu amar...
1871
Eu perco-me de mim no nosso amor,
Que invade e que me toma por inteiro.
Meu rumo no teu rumo. Seguidor
De cada passo teu. Vou verdadeiro
Vestido de teu corpo, tua pele,
Sabendo o quanto quero ser só teu,
Na luz que nos acende se revele
O quanto nesse amor, amor se deu.
Não sei mais do meu rumo, mas nem quero,
Apenas sinto sempre esta vontade.
De nunca mais ter canto amargo e fero,
Vivendo do teu lado, sem saudade
Do que já fui e sei que não restou,
Entregando aos teus braços o que sou.
1872
Agora aqui;
Longe daquela terra;
A minha terra;
Aquela que me viu nascer;
Apreendi a minha maior;
Essência.
Todos me levam
e ninguém me trás.
Levam tudo sim.
Carne, pele e ossos.
Até meu tutano conseguem sugar
Levam tudo sim.
O melhor que há em mim.
Trazer-me, nunca.
Senão o pior que neles há.
Ana Branco
Poetisa angolana.
Aos pobres esquecidos nas senzalas
Modernas dos prostíbulos e guetos.
Tapetes e molduras ganham salas,
Retratam mamelucos, brancos, pretos
Mostrando em cada face o mesmo medo,
E as marcas das chibatas da injustiça.
Nos quadros mal se esconde este segredo
Que é feito de suor, e de cobiça.
Sugados pelas bocas mais vorazes,
Rasgados, maltrapilhos, fedorentos,
Vertidos nestas telas são capazes
De ter quase um sorriso sem lamentos...
Na sala dos ricaços, estampados,
Em quadros, valem muito... tristes fados...
1873
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
Alda Lara – poetisa angolana.
Eu tento em testamento crer num mundo
Aonde uma esperança venha e traga,
Sanando a tão voraz, faminta draga
Que engole uma alegria em um segundo.
O corte que profana é tão profundo,
Que mesmo a carne tenra já se estraga,
Na cama, lama, a morte como paga,
De um cálice sanguíneo e bem imundo.
Porém silenciando esta criança
Precoce sensação de ser inútil,
Eu creio sendo assim que uma esperança
Moldada sem sequer a liberdade,
É quase uma miragem, leda e fútil,
Que busca salvaguarda na amizade...
1874
Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.
Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.
São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.
Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.
......
Agostinho Neto
Nos ermos das favelas, guetos, vilas,
Andando pelas ruas, sem ter rumo.
Nas praças, nos botecos, ruas, filas,
Entorpecido vivo o pó e o fumo.
Escravo das misérias que destilas,
Negando e proibindo cada aprumo.
Embora queres crer iguais argilas,
Sangrando não me resta nem o sumo.
Eu vivo e coabito com o nada,
Do nada em que cheguei, nada me resta.
A fome escurraçando a liberdade
A podridão que serve como escada,
Aos poucos demonstrando: nada presta,
Senão talvez, um rito de amizade...
1875
Voando em liberdade como as aves
Meu pensamento chega e se revela,
Além deste corcel em noite bela,
Liberto sem prisões e sem entraves.
Os dias que passei, duros e graves
Distantes desta guia feita estrela,
Ao ensejar caminhos sem cautela,
Fechando a minha porta, esconde as chaves.
“ Tolices” uma voz leda murmura,
Pressente que terei cruel agrura,
Mas nada me impediu de ter no vôo
Um sonho mais profícuo, enfim, audaz.
Palavra mais amiga sempre traz
O canto sem temores que eu entôo...
1876
Perdido nos teus olhos. Tua boca
Em minha boca, sede que se mata,
Vontade de te ter, sôfrega, louca;
Suspiros e desejo que arrebata...
Os corpos se tocando noite afora,
Nas ânsias e delírios penetramos,
Formas e peles, meu prazer agora
Do jeito e da maneira que sonhamos.
Meu destino se perde em teu destino,
Somos partes iguais do mesmo sonho.
Vivendo nosso caso em desatino,
E tudo o que quiseres te proponho.
Vagueio por teu corpo, sem pecado,
Em tua languidez; extasiado...
1877
Na noite do meu bem, dálias e rosas,
Perfumes e belezas espalhadas,
As horas mais divinas, caprichosas,
Perfeitas sincronias demonstradas,
Vontades mais febris, voluptuosas,
As sendas mais bonitas, delicadas
Vagando em tais andanças, por estradas
Que traguem suas margens olorosas...
Eu quero que me invada tal ternura
Que espelhe qual farol nos olhos meus,
Inebriadamente vejo os teus
E neles espelhando com brandura
A maciez que encontro em tua tez
Tomando sem pudor, a sensatez...
1878
Que faço com meus olhos, meu amor?
Ao ver bela menina se perdeu.
Na busca deste brilho encantador
Refletem os meus olhos, olhar teu.
Uma alegria imensa e sem juízo
Pedindo este reflexo radiante.
Menina meu olhar no teu sorriso
Aos poucos, se tornando apaixonante.
Menina dos meus olhos na menina
Que me nina e, depressa vai embora.
É dona de uma luz tão cristalina,
Vivendo no meu canto a qualquer hora.
Meus olhos vão pedindo uma clemência
Menina; venha logo! Impaciência?
1879
Querida, quando a noite se fez lua
Imersa em avidez tão sensual,
Erguendo o meu desejo ganho o astral
E vejo-te na cama, deusa nua.
A boca desmedida, não recua
E vai te carinhando por igual,
Teu corpo, extasiante, um pedestal,
Permite que esta senda imensa, flua.
Nos cálices mais belos, sacro vinho,
Descendo pelas coxas, umidades...
Aos poucos te sorvendo de mansinho,
Exposto ao rebentar de uma avalanche,
E em lava maviosa; a boca invades,
E bebo até secar, cada nuance...
1880
Sentindo em tuas coxas, frenesi,
Gozando do prazer em arrepios.
Sorriso diz audácia, eu sinto em ti
Uma explosão refeita em loucos cios.
Aos poucos te tocando eu percebi,
Distante desta noite em ventos frios
Calores, umidades, quais estios,
E nesta fantasia eu me embebi,
No fogo que percorre nossas veias,
Nas carnes tão famintas, no langor
As mãos se enveredando tecem teias,
E encontram nas planícies e montanhas,
A chama maviosa, em estupor.
Partidas bem jogadas, sempre ganhas...
1881
Querida, nunca deixe que este sonho
Acabe sem por que e sem motivos,
A vida em alegria; te proponho,
São tantos os encantos, neles vivo.
Não deixe mais os medos tão medonhos,
Surgirem quais fantasmas redivivos
Por mais que te pareçam mais tristonhos,
São sentimentos lindos, mas altivos.
Não perca este caminho de ternura
Causado por enganos ou temores,
Amor não se mistura em amargura
É feito de loucura e calmaria,
Candura se mostrando nos amores,
Que invada toda a nossa poesia!
1882
Tanta saudade sinto de você,
Rainha deste céu, minha coragem...
Procuro por seus braços, mas cadê?
Decerto já partiu, seguiu viagem...
Não vejo nada mais do que se crê
A sorte de quem teve essa visagem,
Agora que aprendi como se lê
Amor em mansa e bela paisagem
Eu perco todo o rumo, nada faço,
Sem ter o seu carinho, deusa amada.
Meu verso se perdendo, busco o traço
Formando em aquarela este matiz.
Não sobra no meu peito quase nada
Aonde vou achar você? Me diz...
1883
Não quero mais a vida feita em neve,
Idílio dolorido pra quem ama,
Às vezes no final da bela chama
A dor da despedida já se atreve.
Um sonho em maravilha, mesmo breve,
Supera uma tristeza que reclama,
A morte no final, encerra a trama,
Por isso tento ter minha alma leve.
O dia que virá, feio ou bonito,
Trará doces lembranças, mais suaves,
Se todo este universo, um infinito,
Já cabe nos meu peito, minha amiga,
As dores/alegrias, simples aves
Que um peito enamorado, sempre abriga...
1884
Por mais que na alma trague esta tristeza
Que, estúpida, trapaça em agonias,
Ao colocar as mãos, duras e frias,
Deixando em meu caminho as incertezas,
Eu sonho em transformar as correntezas
Alçando bem mais forte as fantasias,
Dourando uma esperança em alegrias,
Tramando, no final, justas belezas.
Assim nas mãos do sonho em que me entrego,
A força da mudança; em mim carrego,
Pois sinto o teu amparo, o teu abrigo,
Marcando cada passo nesta estrada,
Cambiando em solar, esta alvorada
Que trazes em teus braços, meu amigo...
1885
A vida tantas vezes tem mostrado
A dor que me tomando, num repente,
Invade e transtorna totalmente,
Deixando o meu caminho descuidado.
Ao ver-me sem apoio e maltratado,
A mão tão carinhosa, isto pressente
E faz com puro afeto, mais contente
O mundo em que me via desolado.
A vida transformada num momento,
Deixando bem distante a triste dor,
Raiando minha sorte em claridade,
Soprando mansamente o calmo vento
Aonde se permite, encantador,
Sentir todo o valor de uma amizade...
1886
Adoro te sentir colada em mim,
Olhando para as nuvens, sinto o vento...
Roçando tua boca carmesim
A vida se eterniza num momento.
E quase flutuando digo sim
A todos os desejos. Sentimento
Tomando, lentamente até que ao fim
Da tarde, num divino movimento;
Deitados, nos tocando e nos sentindo,
Eu ouça tua voz já me chamando
Num canto tão macio, manso e lindo
Num arrepio intenso, num sorriso,
Suspirando gostoso e me chamando;
Juntos, sem juízo, ao paraíso...
1887
Os dias que virão mais deleitosos
Trazendo a perfeição em jóias finas,
Nos olhos inocentes das meninas,
Os brilhos mais bonitos e formosos.
Distante dos olhares invejosos,
Estrelas poderosas e divinas,
As dores debandadas, peregrinas,
Os homens mais felizes, amorosos..
Assim imaginei tanta ventura
Num mundo em que a justiça prevaleça.
Talvez uma ilusão, traga brandura
Aquele que não sabe o que é sonhar.
Se um dia, na amizade, amor se teça
Quem sabe a vida possa; enfim, mudar...
1888
A mão que engatilhara pega a pena
E mostra num segundo, transformado,
Um mundo diferente do passado,
E a sorte de um futuro bom se acena.
Palavra outrora rude vai amena,
O que é distante, não mais cobiçado,
Um sonho mais feliz sempre cantado
Deixando nossa vida bem serena...
Quem dera se assim fosse, meu amigo.
O mundo não teria mais problemas.
Mudando, de repente em outros lemas,
Trazendo o seu irmão, em forte abrigo.
Seria tudo belo, de verdade,
Se assim reinasse em nós, toda a amizade...
1889
O vento enciumado te mentiu,
Irei amor, decerto te tocar...
Apenas este vento repetiu
Mentiras que ele ouviu do triste mar
Que ao ver que nos meus braços já dormiu
Sereia que Netuno quis amar,
Achando que podia, ele pediu
Ao vento para, louco; te enganar...
Estou aqui bem perto, sinto o cheiro
De teu perfume solto pelo espaço.
Meu verso mais sincero e verdadeiro
Tocando esta janela do teu quarto,
Aguarda calmamente que esse laço
Renasça até que o dia chegue... Farto...
1890
O tempo vai passando pressuroso,
Voando, sem juízo e sem cuidado,
Às vezes sem limites; desperado,
Não deixa que sintamos nem o gozo.
Viver, mesmo que seja mais penoso,
Precisa ter um sonho transformado
Em dia mais feliz, aonde o Fado
Não seja tão cruel e doloroso.
Embora; amiga minha, o dia triste,
A noite poderá mudar o vento.
Precisa acreditar que a sorte existe,
E temos – sim- poder para mudá-la.
Quem sabe comandar seu pensamento,
Por vezes nada diz, somente cala...
1891
Eu quero que tu saibas que este jeito
Com o qual tu aplacas a amargura
Recende a perfeição, real ventura,
Deixando mais alegre e satisfeito,
Trazendo um doce alento para o peito
Que tantas vezes vaga na procura
Do bálsamo onde encontra a sua cura,
Ganhando o meu carinho, o meu respeito.
Às vezes bem mais forte desejais
Mostrando o que tu queres claramente,
Deixando em meu caminho sempre mais
Além do que pensara ou se pressente,
Em meio a tempestades tão banais
Demonstras; minha amiga, amor e paz...
1892
Num labirinto imenso me perdi
Em busca de mim mesmo, nada achei,
Porquanto quase que me convenci
De que nada mais sei e nem serei.
Ao ver-me sem destino foi que vi
A porta semi-aberta que encontrei
Mostrava-te bem perto, logo ali,
Saída transformada em regra e lei.
Amada, não me perco mais do rumo
Levado pelo brilho de teus rastros.
Não sabes, mas em ti, meu bem, aprumo
E percebo que esta sorte já mudou.
Meu céu buscando assim por tantos astros,
Apenas os teus passos encontrou...
1893
Às vezes me pergunto se estou louco
Ouvindo tais histórias que me dizes.
Apenas mal curadas cicatrizes,
O que resta, querida, é muito pouco.
Em meio a tantas quedas e deslizes
Eu te deixo falar. Faço de mouco,
E o peito desmanchando, sem reboco,
Percebe em tua voz, simples atrizes.
Embora eu na verdade em nada creia
Sorrio de teus casos, destas farsas
Que são quase que um vício, minha amiga.
A mente por espaços já passeia
Em frases tão diversas, pois esparsas,
Unidas, no final, em frágil liga...
1894
Sentindo esta vontade de tocar
Teu corpo com doçura e com carinho,
Na boca tantos beijos navegar,
Na glória de viver, achar um ninho
Onde possa sentir teu suspirar
Não tendo mais temor, um passarinho
Deitado nos teus braços descansar
De noite, com loucura ou bem mansinho.
Amor que se explodindo na paixão
Não deixa mais nem pedra sobre pedra,
Fazendo no meu peito uma explosão
De sonhos e delírios vivos, ternos...
Quem ama assim jamais por certo medra
Pois sabe que estes sonhos são eternos...
1895
Atado a teu destino, esqueço o meu
De ser assim cigano e libertário
Meu mundo no teu mundo se escondeu
Do jeito mais sutil e temerário
Se canto neste escuro e ganho o breu
Encontro teu cantar, sou operário
Que busca nos meus braços sempre o teu
Na fábrica dos sonhos, funcionário
Do amor que convidando para a festa
Se mostra bem mais forte a cada canto,
De tudo que passei nada mais resta
Senão essa alegria de contar
Os dias, meses, horas tanto e quanto
Deitado nos teus braços, namorar....
1896
Ao ver o paraíso numa flor
Nascida em verdes campos, primavera,
Percebo quanto Deus fez com amor,
A vida que se vai e regenera.
O mundo no infinito deste grão
Da areia; uma estrela tão gigante,
Pequena frente ao mar, sua amplidão
Percebo eternidade de um momento
Num tempo que transcorre sem parar.
Cabendo em minha mão, aberta em palma
Todo um infinito a se encontrar
Na eterna sensação de paz e calma...
Além desta ternura, grão e flor,
Carrego em minha mão, o Deus AMOR...
1897
Eu vejo quanto o amor tomando espaço
Em formas mais diversas trama a vida.
Não sinto mais o medo do cansaço
De ter uma emoção tão decidida.
É louco, insano canto em que embaraço
As pernas no caminho, na subida,
Caindo certamente no teu braço,
Deixando qualquer dor em despedida...
Meus dias vou passando na ilusão
De ter meus broncos versos a teus pés.
Amar é perseguir a perfeição
E de pronto atender ao seu chamado,
Não vejo mais amor como um viés
É tudo que sonhei. Nunca é pecado!
1898
Saudade me tomando o pensamento
Em sonho quase vão, e sem cuidado,
Deixando um coração despedaçado
Distante de qualquer esquecimento.
Quem tem na vida a sombra de um tormento
Percebe quando amor sacrificado,
Embora já pertença ao seu passado,
Não deixa respirar um só momento.
Antes que cresça a dor, vital perigo,
A sorte benfazeja já me acena,
Deixando mais longínqua quem condena
A vida ao dom cruel do desabrigo,
Mudando totalmente a triste cena
Nos braços benfeitores de um amigo...
1899
Qual pedra em mãos divinas, bem talhada,
Gigante que se forma dia a dia,
Jamais a encontrarás triste e cansada;
Servindo a quem, decerto já servia.
Em oferendas mostra tal magia
Que quem a reconhece ganha a estrada
Sem medo do que chegue, em novo dia
Pois sabe sua rota iluminada.
Na força de seus braços que, benditos,
Permitem cada passo sem temores,
Alçando com vigor os infinitos,
Na placidez sincera dos amores,
Na força da amizade encontro o rito
Que traz tanta esperança em seus pendores...
1900
Às vezes me procuro, mas não vejo
Sequer um rastro meu pelas estrelas.
Voando em tuas asas, meu desejo,
É sempre poder ter e percebê-las,
Luzes de teus olhos que me guiam,
Sendo sempre o meu rumo já traçado
Por certo os meus sonhos se desfiam
Deitados calmamente do teu lado...
Mulher estrela vésper enlanguescente,
Te quero tão profusa e mais intensa,
Meu mundo se perdendo, de repente,
Buscando nos teus seios, recompensa.
Encontro-me deveras sempre em ti,
No mar de tanto amor, eu me perdi...
1901
Estranha juventude sem o fio
Da meada sonhada e verdadeira,
Que mostra bem distante do vazio,
A fruta que se faz tão corriqueira,
Mas morre tanto em sede, num estio,
Quanto afogada em falsa corredeira,
Deixando a sensação de ser sombrio
A quem sempre desdenha a companheira.
Palavras que denotam desventura
São sempre repetidas, já me cansam.
Se toda a solução que se procura
Encontra-se em total facilidade,
E logo que se saiba cedo alcançam
Aqueles que conhecem a amizade...
1902
Mergulho no teu corpo, à flor da pele,
Desejos são meu ponto de partida.
Ao fogo de teu gozo me compele
Vontade de te ter por toda a vida.
Num êxtase sublime perceber
As gotas do rocio que esparramas,
Ardendo a noite inteira em tal prazer,
Rolando entre lençóis em meio às tramas
Tez em brônzeo matiz; audaz mapeio,
Adentro com meus dedos, minha língua
As depressões e os vales- devaneioNão
deixo a seca vir, matar à míngua,
Mergulho nesta enchente caudalosa,
Bebendo a correnteza enquanto goza.
1903
Ah! Tuas mãos... Promessas de carinho
Em viagens divinas por nós dois.
Buscamos desejosos, nossos ninhos,
Nos cálidos abrigos do depois.
Eu quero te sentir mansa e dolente,
As mãos cariciosas percorrendo
Num toque tão sublime, tenramente
Aos nossos desejos, ir cedendo...
Sentindo no fluir desta manhã
O tato perfumado e sendo audaz
Saber que nos queremos com afã
De quem já sabe o quanto que é capaz
De ser amado, amar além, bem mais,
Encontro em tuas mãos, meu barco e cais..
1904
Por vezes amizades, quando as tinha,
Entrando em minha porta, nos batentes,
Com olhos mais tranqüilos logo eu vinha,
A faca bem distante de meus dentes.
Porém algumas vezes, percebia,
Embora não falava quase nada,
Que tudo se mostrava fantasia,
Em louca tempestade soçobrada.
Agora já concebo uma amizade
Em termos bem diversos, companheira.
Não falo tão somente em majestade,
Nem quero que ela venha mais inteira,
Apenas que permita o meu caminho.
Às vezes é preciso andar sozinho...
1905
Semente, sêmen, gozos, plantação...
Granando em tal prazer, total entrega,
Que a planta ao colibri quando se esfrega,
Deixando-se levar em sedução
Ao permitir enfim fecundação
Ao vento dá-se em pólen e navega
Distância sem limite e quando chega
Causando novamente uma explosão
Aonde zil gametas noutra flor
Encontrando seus pares se completam,
Rudimentar formato de um amor
Com resultados claros e perfeitos,
Assim também os corpos quando ejetam
Permitem seus prazeres satisfeitos...
1906
Sussurro em teus ouvidos, mansamente,
Falando bem baixinho deste amor.
Que toma nossa vida num repente,
Transbordando; incessante e sedutor...
Tomaste devagar, a minha mente,
Não tenho outro desejo que não for
Estar contigo; amada. Bem mais quente
O dia em que vivemos. Faz calor
Embora a chuva caia. Primavera
Nascida neste sonho faz fluir
Já todo o sentimento que se espera
Na flor que recém nasce um passarinho
Ouvindo tua voz, mansa a pedir...
Amor; quando falar; fale baixinho...
1907
Amor louco e corpóreo nem discuto,
Apenas já se abraça em bom proveito.
Às vezes delicado outras bem bruto,
No fundo qualquer forma, é seu direito.
Amor é bicho esperto e tão astuto
Que sabe nos deixar insatisfeito,
Mas logo, quando goza do seu jeito,
Um estribilho novo, eu não escuto.
Só sei que uma alma paira em pleno céu,
Amor é terra a terra, boca e gozo.
Depois de se fazer amor gostoso,
Lençóis e colchas soltas, fogaréu.
Uma alma delicada não conhece,
Prefere desandar amor em prece...
1908
Sentindo o teu olhar, farol-estrela
Que guia o meu desejo e minha sina.
É bom poder senti-la, amar e vê-la
Nos céus a tua imagem me domina.
À noite em minha cama recebê-la;
Teus ares e promessas de menina,
Querendo, para sempre, em mim; contê-la,
Mulher de rara luz, tão cristalina...
Unindo nossos corpos, almas, sonhos.
Ao te sugar, me sugues... Neste vôo
Perdidos pelo astral, bem mais risonhos,
Atados para sempre, lua e sol,
Meus olhos nos teus olhos sempre ecôo,
Acendo e sou reflexo do farol...
1909
Ao ver a putaria se instalando
Nas cidades por Ele benfazejas.
Aos poucos em loucura transformando
As hordas mais fiéis antes sobejas.
Pensando em poder ter a solução
Mandou soldados belos do infinito,
Porém o povo em louca comoção,
Ao ver o batalhão raro e bonito,
Em louco desvario, eles vieram
Fazendo uma algazarra sem igual,
E dizem, na verdade que quiseram,
Mostrar aos pobres anjos sexo anal.
Por isso, depois desta putaria,
É que se institui a sodomia...
1910
Andando pelos reinos já faz tempo,
Ao lado de mulher maravilhosa.
Achando no caminho um contratempo,
Ofereceu irmã, bela e formosa,
Ao rei que com perícia, em passatempo,
Desfruta da mulher enquanto goza.
Depois de ter passado mais uns dias,
Em outro reino mostra a mesma sanha
Sabendo que teria em regalias
Outra viagem feita onde só ganha.
Porém um anjo vendo estas folias,
Ao rei anunciou esta artimanha...
Mentira? Não senhor! Meia verdade.
Somente têm igual paternidade...
1911
Um homem que queria ter um filho,
Entregue à cruel sina, sem defesa,
Embora com rainhas em beleza
Paridas da mulher em louco trilho,
Ao ver já repetido este estribilho,
Entregue à bebedeira, com tristeza;
Refém de todo azar da natureza,
Achou em seu caminho, este empecilho.
As duas belas moças, filhas suas,
Ao ver o pai caído nem pensaram,
No fogo do tesão tanto atentaram,
Lascivas, desejosas, lindas, nuas,
Ao velho inebriado, enfim se deram,
Sacros frutos do incesto, agora esperam...
1912
A rosa quando prosa me maltrata
E traz nos seus espinhos um veneno,
Que corta e me invadindo, me arremata
E deixa o coração, triste e pequeno...
Fascínio no sorriso da menina,
Eu sinto e não renego o sentimento.
No brilho deste olhar que me domina,
No cheiro do perfume solto ao vento...
Trazendo uma alegria sem medida,
Um ácido sorriso que me encanta,
Mostrando uma razão à minha vida,
Por isso essa alegria, tanta, tanta...
Menina, não és rosa, disso eu sei;
Porém traduzes tudo o que eu sonhei...
1913
Jamais quis ser sarcástico, querida.
Apenas sou um reles sonhador,
Que qual um trovador passa essa vida
Cantando, simplesmente o meu amor.
Eu quero todo o brilho das estrelas
Entrando na janela do meu quarto.
Quanta alegria encontro em poder vê-las
Depois deitar cansado, de amor farto.
Não sei se é ironia o que destilo
Nos versos que, encantado, já dedico,
Num mar de tanto sonho, mais tranqüilo,
Assim é que eu te canto e sempre explico
Que amor é uma força soberana
Que um peito enamorado sempre emana
1914
Quem dera se engatasse nesta gata
Que mia toda noite no telhado,
Um gato quase um velho, apaixonado,
A plena mocidade já resgata,
Ao ver a precisão com que se engata
Depois de tanto tempo abandonado,
Sabendo que miara no passado,
Porém quando ela mia me maltrata...
Da gata quero engate mais gostoso,
Tocando com felina tentação,
Até que chegue em fúria, o nosso gozo,
Fazendo toda noite uma arruaça
Debaixo da soleira ou no portão,
No meio do quintal, em plena praça...
1915
- A SALVAÇÃO DA VACA, OU QUASE QUE FOI PRO
BREJO
A moça que queria aparecer
Em tantas fantasias se mostrou,
Após gozar com puto do poder
Já diz a todo mundo: não gozou.
Em busca de dinheiro, quero crer,
A foda; presunçosa ela espalhou,
Da porra se fartou, até saber
Que dela outra mulher já desfrutou.
A vítima, coitada, agora quer
Vingança contra aquele que fudeu,
Honrada e tão benquista esta mulher,
Que um erro eu nunca faça nem cometa,
Problema é todo dela, não é meu;
Só sei que ela alugou sua buceta...
1916
No outono que é prenúncio de um inverno,
As folhas vão caindo pelo chão
Nas cores do sol- pôr, um tom mais terno,
Tocando bem de leve, o coração...
As tardes vão caindo como as folhas,
Forrando de saudades meu olhar
Nas lágrimas que peço, não recolhas,
Prenúncio de noturnos vai buscar
Lembrando de um adeus. Nos negros olhos
A vida se esvaiu, quase morri.
Colhendo deste amor, tantos abrolhos,
Só resta uma certeza que me espera
Depois de toda dor que já sofri,
Virá o amor chegar em primavera!
1917
Qual lua bipartida, a bela bunda
Da moça mais gostosa do pedaço.
Redonda formosura quando abunda,
Pros olhos vai virando em imãs/aço
Quando nela vontade se aprofunda,
Apelo de repente e me desfaço
Em dádivas, pedidos. Não redunda
Sempre em vitória, às vezes perco o laço.
Sonhando com a bunda da morena,
Não deixo de sorrir esta esperança
De um dia, nem que seja por vingança
Ao ver cada hemilua, nua e plena,
Embora bem no meio repartida,
Dar,e com toda fome, uma mordida...

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