quarta-feira, 21 de abril de 2010

HISTÓRIAS DE UM REPENTISTA VOLUME 15

2213
Amigo em sertaneja e rara fonte,
Embriaguez de sonhos, água fresca,
Por mais que tenha a vida romanesca,
Jamais verás belíssimo horizonte
Na argêntea maravilha, nívea lua,
Que inteira se mostrando em pleno céu,
Caminha mansamente e continua
Nos sonhos de um caboclo em seu corcel.
Amigo, em sua glória a dama imensa,
Deitando na cacimba um raio belo,
Terás ao vê-la, inteira, a recompensa
De um pobre lavrador com seu rastelo
Que longe de um castelo imaginário
Estende-se ao luar, seu relicário...
2214
Poeta, companheiro em teu tinteiro
Expressas maravilhas em soneto.
Porém outra beleza eu te prometo
Se queres ter um sonho verdadeiro
Que é feito deste amor tão corriqueiro,
Nos braços de um delírio que cometo,
Ao mundo mais divino eu me arremeto,
E mostro um horizonte por inteiro
Deitando em bela lua, seus detalhes,
Garanto que o buril em tais entalhes
Trará alexandrinos; mais perfeitos.
Licores que se bebem no sertão,
Do amor que feito em lua, na amplidão,
Nas mãos de um trovador, os versos feitos...
2215
Poder sentir inteiro o teu perfume,
Em cada novo dia, me entregar,
Bem mais da forme de costume,
Teu corpo no meu corpo naufragar...
Subindo estas montanhas, vales, cume...
Naturalmente inteira, te tocar.
Cravando em teu cerne, todo o lume
Que um dia das estrelas quis roubar.
As duras madrugadas que, tão frias,
Maltratam quem dormia assim mais só,
Fazendo deste sonho as fantasias
De uma dia ser feliz, não sofrer mais.
Renasço nos teus braços deste pó,
Solidão que não quero ter jamais...
2216
Quisera ser ignaro sertanejo
Que canta em improviso à bela lua,
Moldando em raros sonhos o desejo
De ter tua beleza, clara e nua,
Mostrando toda a sorte que enfim vejo
E que em doce ternura, já flutua.
Ao ver uma cabocla em dança e festa
Morena Vênus bela, esculturada
Um canto, o coração, solene gesta
E tem uma esperança demonstrada
De ter perfeitamente o que me resta
Sabendo depois disto: não há nada.
Quem dera ser um simples trovador
Louvando em rimas pobres, rico amor...
2217
Poeta, por favor, feche os ouvidos,
Meu canto de lamento, um desafio,
Ferindo e penetrando os seus sentidos,
Dará u’a sensação de mar bravio.
Os versos em que amores destruídos
São gritos que se perdem num vazio...
Meu canto qual aboio, eu te garanto,
Contendo assim total rusticidade,
Misturas de gemidos com um pranto
Pedindo paciência e caridade,
Talvez ao te causar qualquer espanto
Açoite em que rebenta a tempestade,
Não trazem nem riqueza nem beleza,
São feitos de um amor em pobre mesa...
2218
Quem dera se poeta, um dia eu fosse
Poder cantar a lua do sertão,
Na maravilha rara que amor trouxe,
Emoldurando em sonho, uma paixão,
Falar de uma alegria que se esboce
Vibrando bem mais forte o coração
Quem dera se pudesse em poesia,
Falar desta morena sertaneja
Que trama no seu rosto a fantasia,
À qual meu canto enfim, tanto deseja,
Da terra quase seca, uma magia,
Mostrada em tal beleza que sobeja.
Num canto tão airoso e mais gentil
Riquezas destes solos, do Brasil..
2219
Eu quero o teu querer e não dispenso
Sequer um só minuto, não disfarço
E passo a minha vida em cada passo
Na busca do querer onde compenso
O tempo em que eu andara só e tenso,
Disperso, sem ter rumo, e do cansaço
De uma procura insana o laço traço
Com ânsia de te amar, amor imenso.
Abarco mil palavras, e componho
Com elas a verdade deste sonho,
Que traga tão somente uma alegria,
De ser o que bem quis quanto eu queria
Agindo sem temores cada dia,
Num mundo que divino, é tão risonho...
2220
Imperceptivelmente chegarei
E tocarei teu corpo, mansamente...
De tudo que na vida procurei;
Teu toque devagar, mais envolvente;
O melhor com certeza, que encontrei
Ao som deste teu canto, de repente
Fazendo deste amor a minha lei,
Amor que é redenção e faz contente.
Ao sentires um sopro da manhã
Entrando no teu quarto; um arrepio
Percorrerá teu corpo, amada minha.
A vida que parece ser tão vã
O dia que surgiu; antes vazio,
Trouxe-me e nunca mais serás sozinha...
2221
Eu vejo a tua sombra na janela
Aberta da ilusão em filigrana,
Precedem minha dor cotidiana
Limpando uma poeira na flanela
Do tempo que se mostra e me revela.
Ao mesmo tempo, sonsa, ela me engana,
E neste paladar a vida atrela
O resto que não foi, dor soberana...
Dançando mil imagens: sombras, luzes,
Recebo o teu olhar qual foice e faca.
Dizer o quanto eu te amo não aplaca,
Apenas ameniza as duras cruzes
Que do outro lado vejo em lusco fusco,
O amor que da janela, quieto, busco...
2222
Vencer as artimanhas, nas encostas,
Saber da faca oculta em cada mão,
E mesmo que ferido, com perdão
Expor a cicatriz em suas costas.
Se nisso, amigo vão suas apostas
Eu creio que encontrei a solução
Da dor sem ter limites, vivo não,
Recebo com o vento tais respostas.
Amar é ser sublime; nunca nego,
É quase ser perfeito, qual um anjo
Que faz de cada sonho o seu arranjo
No sonho de esperança que carrego,
Portando no seu bojo a liberdade
Expressa neste canto de amizade...
2223
Eu não te amo qual pérola, esmeralda,
Tampouco por ser fogo, ardente chama,
Se às vezes a leda alma te reclama,
O sonho de te ter não se desfralda,
Aguardo-te somente em cada curva,
Não vejo uma esperança como guia,
Ascendo num momento à fantasia
E a vista vai quedando, quase turva.
Não te amo por saber de tua história,
Nem mesmo por seguir um doce instinto,
Se camaleônico, eu me tinto
Persisto neste amor, mesmo que a glória
De amar-te seja só por ter amor
Ao belo amor que amor já vem propor...
2224
Amor que não precisa nem de juras
Pois é já de per si um juramento
Lavrado com sorrisos e ternuras
Sem dar satisfação ao sofrimento.
As almas que se tocam, voam puras
Em torno desta luz do sentimento,
Matando o que houvera em amarguras
Libertas, soltas, voam com o vento.
Num enlevo fantástico e tão terno
Os gestos de carinho são constantes.
O bom de ser assim, pra sempre, eterno
É ter a liberdade de cantar
Saber que sempre irão tão radiantes
As asas que aprenderam a voar..
2225
Amigo; na verdade uma verdade
Já morre na inverdade de assim ser.
À parte do que sei se a dor não arde,
Não vale a pena, mesmo assim sofrer.
O caos em que semeia iniqüidade
É feito do talvez ou sem querer,
O passo sem compasso na amizade
Condena o que não temos a perder.
E sigo num vazio feito em vão,
Na busca do quem dera, mas morreu,
Aos poucos vai se abrindo imenso chão
E o que eu pensara ter; jamais foi meu.
Ausência do não houve em desencanto,
Apronta e desnorteia qualquer canto...
2226
Quem teve outrora um sonho assim diverso
Daquele em que se perde, todo dia,
Fazendo do meu canto, a fantasia
Recebo com carinho cada verso,
E verso sobre o tema, vou disperso,
Alimentando aos poucos primazia
De ter nos braços teus; o que eu queria,
Deixando já de lado o que é perverso.
Na dádiva divina que diviso
No corpo desejado, sem fronteiras,
Tendo em felicidade, tantas graças
Louvando a maravilha em paraíso,
Espero que no fundo inda me queiras
Mesmo que tantas vezes já disfarças...
2227
Sentindo o teu perfume, minha amada,
A noite vem trazendo o teu desejo
Contido na tua alma desnudada
Tanto prazer-paixão; assim, prevejo.
Buscando meu caminho no teu porto
Deitando nos teus braços meu cansaço,
Depois de tanto amor, já quase morto,
Sentir esta delícia em teu regaço...
Alucinadamente nos amamos,
O gosto do prazer nos alucina.
Que bom que nos sabemos, encontramos
Na busca da alegria, a nossa mina
Repleta dos tesouros mais profanos
No céu destes desejos soberanos...
2228
Querendo te tocar a cada instante
Sonhando com teus beijos, não resisto,
O mundo se transforma delirante;
É bom saber que em ti, enfim existo.
Queimar-me no teu corpo, flamejante,
Vivendo, meu amor; somente disto,
Desta esperança, assim tão transbordante
De ter amor sincero, eu não desisto!
Tu és minha alegria, sonho e valsa,
Na dança que nos torna mais felizes;
A lua nos teus olhos se realça
Brilhando bem mais forte... Quase um sol...
Arranco do meu peito as cicatrizes,
Te busco, sou eterno girassol!
2229
Às vezes a cangalha tanto pesa
Que o corpo macilento não agüenta;
A marcha quase pára e vai tão lenta
Que a perna machucada, fica tesa.
Assim amor me fez qual fosse presa,
Da fúria do querer que, violenta,
Viola os meus sentidos, me atormenta,
Não deixa mais restar sequer defesa.
Mas gosto do chicote, deste açoite
Que estala em minhas costas, corta fundo.
Carrego se preciso ao fim do mundo,
E corro, sem destino, dia e noite.
Amor já preparou doce tocaia
No vento que levanta a tua saia...
2230
Quem dera se tivesse inda o deleite
Que tive há tanto tempo em belo dia.
A sombra da esperança; fugidia,
Esgueira-se legando como enfeite
O manto da tristeza em que se deite
Amor que fora pleno de alegria,
Agora se liberta em alforria,
Sem sorte ou novidade que se espreite.
As urzes de um amor abandonado,
Roçando o meu caminho de viés,
Amor que se fez luto em triste Fado,
Tortura quem sonhara com a glória,
Apenas as correntes nos meus pés
Resquícios que carrego desta história...
2231
Navalha e canivete na cintura
Bornal trazendo um resto de esperança,
A faca penetrando esta amargura
À margem do riacho da lembrança.
Tomando no boteco se depura
A dor de ser refém desde criança
De um medo que ancestral vira amargura,
E sempre que ele pensa vem e alcança.
Nas manhas do moleque já crescido,
Manhãs adormecidas na saudade,
Restou talvez, quem sabe, uma amizade,
Do tempo que se fora, transcorrido
Nas léguas dos caminhos não trilhados,
Dos sonhos que mal teve, abandonados...
2232
Contorno com meus lábios teu perfil,
E deito-te em meu colo mansamente.
Meu mundo... O coração quando se abriu;
Entraste devagar. Mas, de repente
Senti que não teria escapatória;
Tua presença amiga e tão constante
Vem mudando o rumo de uma história
De forma tão sutil quanto elegante...
Beijar as tuas mãos, dedos e palma,
Morder-te levemente, o indicador.
Mostrando este carinho que me acalma;
Sussurro em teu ouvido; canto amor...
Sinto, neste arrepio em tua pele,
Desejo... Embora o negue e não revele...
2233
Mosaico de emoções em corpo lasso
De tantas tempestades, neste instante
Buscando bem mais firme cada passo,
Seguindo mesmo assim, prossegue avante
Procuro disfarçar enquanto eu traço
Numa esperança um sonho radiante.
Assomando terrível ,dura fera
Enquanto a mansidão já se perdia,
A solidão algoz, que eu não quisera
Raiando, o caminhar não permitia,
Nas garras tão cruéis desta pantera
Jamais imaginei um novo dia.
Porém; por amizade, abençoado,
Renasço bem mais forte, do passado...
2234
Aos poucos cego amor vai me tomando
Minha alma neste instante tão inquieta
De luzes e de trevas se banhando,
Respalda toda a dor deste planeta
Por rumos mais diversos me guiando,
A sorte em pleno azar, logo arquiteta.
Do templo em calmaria se fez lava,
Meu dia a dia torna-se medroso,
Aonde louco amor se emaranhava,
Os frutos das tristezas e do gozo,
Por vezes alma insana inda lutava
Temendo por futuro tenebroso.
Porém amor ditoso em tal batalha,
Avança e em duro corte me retalha...
2235
Alçando em minha vida tal jornada
Que possa permitir mais fabulosa,
A sorte que pensara desolada,
Ao mesmo tempo emerge gloriosa,
Decerto se fará maravilhosa,
Ao recolher do amor, divina rosa,
Distante dos espinhos, na verdade,
Pois nela tenho sempre reparado
A vida em que brotou felicidade,
Deixando o medo enfim abandonado,
Futuro se moldando em liberdade,
As dores esquecidas no passado.
Amor que meus sentidos já tomara,
Da paz feita esperança me cercara...
2236
A mágoa em soberana e triste idéia
Compele tanta vez ao sofrimento.
Quem pensa ser amor a panacéia
Engana-se decerto, e num momento
Em diferente senda, uma platéia
Transmuda a mágoa em dor, vivo lamento.
Porém já contraposta, uma amizade,
Trazendo para os rios ricas fozes,
Permite alçar a plena liberdade
Realça na alegria nossas vozes,
Portando no seu bojo a claridade
Matando os sofrimentos mais atrozes.
Do acérrimo lamento faz o riso,
Propõe um passo certo, enfim, preciso...
2237
Quisera ter poder de invadir praia
Mudando os ventos torno-me o primeiro
A poder descobrir, sob esta saia
O rumo que persigo, por inteiro,
Não deixe que o pudor, querida, traia
Supremo paladar alvissareiro.
A mão tão delicada, pois suprema,
Distante do rancor, amenizando,
Não vendo no prazer qualquer problema
Apenas, tão somente se entregando,
Achando natural a piracema,
Ao gozo compelida, sem ter quando.
Percalços do caminho, já supera,
Da Musa, amor intenso em primavera....
2238
Amiga, não percebes quanto quero
Poder te dar a mão e dividirmos,
Bem antes que a tortura e o desespero
Nos tome, e não deixe prosseguirmos
O caminho que escolhemos nesta vida,
Em busca do farol/felicidade.
Por isso eu te proponho, enfim, querida
Que o laço que nos une, essa amizade
Nos sirva de um apoio bem mais forte
Para que nós possamos prosseguir,
Por mais que já desande nossa sorte,
Em busca de um futuro, de um porvir
Que seja mais feliz e sem segredos,
Deixemos para trás os nossos medos...
2239
Beijar teus seios doces delicados,
Roçando o meu desejo... pele nua.
Verter-te este prazer extasiado,
Vivendo tal loucura; alma flutua...
Nesta suavidade, toda tua,
Amor se fez caminho, vida e fado.
A noite em mil vertentes continua,
Tanto assim como havias esperado.
Só quero ser feliz, mulher amada,
Meu sonho é ter teu corpo junto ao meu,
Vencendo toda a noite, a madrugada...
Na insensatez profusa e merecida
De quem ao se encontrar já se perdeu
Neste amor que bem vale toda a vida
2240
Poder saber de todos os caminhos
Que levam para a fonte do desejo.
Cumprindo meu destino em belos ninhos,
Na umidade sedenta de teu beijo.
Na festa de luxúrias, tantos vinhos,
Bacantes tempestades, eu prevejo.
Nesta lubricidade, mil carinhos
Em formas variadas relampejo.
Nos rumos, rotas, grutas, minas boas.
Afogo-me nos lagos da paixão.
Comigo, asas abertas, também voas
Na múltipla e uníssona explosão
Que faz de nossos corpos; alagados,
Depois desta viagem, tão suados...
2241
Amada, faz um ano... Lembro bem,
Que a gente começou a namorar.
Durante tanto tempo sem ninguém
Sozinho, sem ninguém para encontrar!
Alguns dias depois, quase brigamos,
Ciúmes de quem fora teu amor.
Por mares tão difíceis navegamos,
Em busca deste cais encantador
Um ano de namoro e muita história,
Felizes, somos dois apaixonados.
Amar é se render a toda glória
É prova de que existe um Deus no Céu,
Muito obrigado e que sejam nossos fados,
Eterna seja assim, lua de mel!
2242
Sonhar com teus castelos, u'a rainha...
Guardada por mistérios e segredos.
A noite que virá, se tua e minha,
Depende do que dizem nossos medos..
A vida que se mostra e se avizinha
Deixando para trás temores ledos,
Tu sabes do desejo que se alinha
E tecem tão amados, bons enredos..
Nas redes e nas tramas bocas, nexos...
Poder estar inteiro sem demoras,
Os passos preferidos tão conexos,
Nos levarão sem dúvida ao nirvana,
Vontade nos invade, nela afloras,
Rainha dos desejos, soberana...
2243
Sentir o teu perfume desejado
Beber desenfreado todo o mel,
Vivendo nosso amor, apaixonado,
Roubando a bela lua lá do céu..
Sou teu e o que me importa todo o resto?
Empresto o meu prazer ao teu prazer.
Vibrar nossa alegria em cada gesto,
Nas brenhas de teu corpo me perder...
No paraíso imenso prometido,
Rondar cada pedaço desta fonte
Do toque mais fogoso e desmedido,
Abrindo em nossa cama este horizonte
De pétalas e flores olorosas,
Deitando sobre ti, milhões de rosas...
2244
Abraçado contigo minha amada,
Passando pelos astros por estrelas.
Caminho sem temer as tempestades
Vivendo sem nenhum medo maior.
Decoro meus desejos nos teus olhos,
Luzeiros deslumbrantes, vida e sorte.
Douradas essas sendas que percorro,
Adentro os bons portais do meu desejo.
Querida não se esqueça um só segundo
De todo grande amor que nos nasceu.
Desvendo teus mistérios, pouco a pouco.
E vibro por poder ser teu amante
Nos olhos da esperança pude ver
O brilho dos teus olhos refletidos...
2245
Amor bateu na porta, de mansinho
Em forma de palavras e de sonhos...
Depois, sentindo a força do carinho
Nos trouxe novos dias, tão risonhos...
Eu quero em nosso amor, puro encantado,
Trilhar cada momento, passo a passo,
Agora que por ti sou bem amado,
O mundo vai se abrindo, ganho espaço
E sinto a maciez de tua boca,
Beijando calmamente meu desejo.
A vida que antes triste, surge louca
Sofreguidão intensa a cada beijo...
Tu és a namorada que sonhei,
Viver só ao teu lado, a nova lei...
2246
Colher-te, bela rosa do jardim
Que cultivei em plena mansidão.
Regado por amor que não tem fim,
Adubo tão gostoso da paixão...
Perfume desta rosa sinto assim,
Carinho com total sofreguidão
Desejo nesta rosa carmesim,
Abrir e te beijar, cada botão...
No deleite de ter-te aqui comigo,
E perfumadamente me entregar
Aos teus encantos. Já nem ligo,
Desfolho cada pétala da flor,
Deitada no jardim, nua ao luar
Entregue totalmente, ao bom do amor...
2247
A chuva que, caindo esfria tudo,
Alaga de saudade o coração.
Distante de teus olhos, fico mudo.
Tomado pela dor da solidão...
Porém uma esperança vem, contudo,
Em forma de desejo e de ilusão...
Que sabe se contigo, amor eu mudo
E as enxurradas sejam de verão...
Poder tocar depois da tempestade
Teu corpo, uma bonança sem receios...
Nos devaneios; vôos de verdade
Chegando no teu quarto de mansinho,
Deitar minha cabeça nos teus seios,
Aquecendo esta tarde com carinho...
2248
Poder saber que existe tanto amor
No coração sereno e tão bonito
É crer que para o mundo há solução,
Na voz que corre solta no infinito.
O peito bate forte e sonhador,
Na força tão eterna deste grito
Percorrendo todo espaço, com ardor,
Promessa de chegar num novo rito
O dia em que alegria vencerá
As dores tão profusas que nos tomam.
No olhar que com tal força brilhará,
Espero te encontrar, tanta alegria...
Amores que pra sempre já se somam,
Tornando realidade, a fantasia...
2249
Uma amizade feita na garupa
Dos sonhos que irmanaram nossa vida,
Presença solidária e tão querida
Jamais permitirá que qualquer culpa
Desfira um duro golpe neste laço,
Que é feito de sanfona e de viola,
Amigo, venha logo, em teu abraço,
A dor que eu pressentia, se consola.
Não deixe se amainar tal sentimento,
Que assim traduzo em força, em amizade,
Nem deixe que se afaste o pensamento,
Perdido qual refém de uma saudade.
A vida mesmo em garras, em fereza,
Permite na amizade uma firmeza...
2250
A noite já se avança, o frio vem
E traz esta vontade de te ver.
Distante dos teus olhos, sem ninguém,
Espero o teu carinho em meu querer.
Nossos desejos morrem sem prazer
Saudade vem tomando todo o bem
Preciso mais depressa te rever
Como é difícil a noite sem alguém.
Eu quero, estes desejos, partilhar
Contigo, minha amada, meu abrigo...
É duro tanto tempo a te esperar,
Por isso, volte logo para mim...
Pois todo o bem da vida está contigo,
Espero que a saudade chegue ao fim...
2251
Quem dera se eu pudesse ser poeta
Cantar amor sincero e verdadeiro,
Tocando o coração em linha reta,
Nas mãos a pena imersa no tinteiro,
Traçando a fantasia como meta
E ser, além de tudo, mais inteiro.
Deixando o coração numa avenida
Unindo o meu sertão à capital,
A sorte de encontrar desprevenida
Morena mais sestrosa e sensual,
Mulher que Deus deixou em minha vida,
Levando todo amor num embornal.
Quem dera ser, talvez um trovador,
Cantando emocionado o nosso amor...
2252
Estás aqui no peito bem guardada,
Aninho meu amor sempre a teu lado,
As mãos que sempre acenam são de fada,
Meu coração por ti, apaixonado...
Estrela languescente cravejada
De puro diamante, és o meu fado.
Te canto na manhã ensolarada,
Teu brilho que é por Deus direcionado
Atinge o coração desse mineiro,
Entranhado na dor da solidão.
Com olhos e perícia, garimpeiro
Que encontra esta pepita bela e rara.
Meu verso transbordando em emoção,
Catar teu nome, amada nunca pára...
2253
Te conhecer inteira, simplesmente,
Poder sentir perfume inebriante
Que logo vai tomando totalmente,
Adentra a minha vida a cada instante.
Sentir o gosto doce desta boca,
Que roça minha boca em nosso beijo,
Trazendo esta vontade quase louca
De entregar-me a todo o teu desejo.
Olhar tua beleza que é tão rara,
E ver tua nudez, perto de mim...
Ouvindo a tua voz, o mundo pára
Somente para ouvir o teu cantar...
Sentido em cada toque teu, enfim,
O meu amor imenso transbordar...
2254
O meu amor imenso busca o mar
De amor que encontrará somente em ti,
Procuro em tuas braças navegar,
Nos teus braços amor eu me perdi.
Qual rio que procura desaguar,
Sorrio tão feliz se estás aqui,
Vazante deste amor a te buscar
Por teu amor semente que escolhi
Semeando em palavras e desejos,
Aguando com carinho tão dileto.
A cada novo tempo mil festejos
E o gosto deste mel que sempre vem,
Amar é se sentir bem mais completo
A outra metade inteira de um alguém...
2255
A solidão que sinto nos teus versos
Em busca deste amor que tu sonhaste,
Soltando teu lamento aos universos,
Amada é por que nunca reparaste
Em quem entre momentos tão diversos
Um pensamento só não dedicaste
E em meio a tantos sonhos tão dispersos
Sempre esteve aqui mas não notaste...
Te quero em cada sonho, a cada dia,
Em minhas emoções, falo teu nome
Buscando te encontrar, pura alegria,
Mas nada percebendo, nada diz;
E toda esta tristeza me consome..
Comigo tu serias bem feliz...
2256
Tu chamas meu versejo de ignorante,
Sou mesmo um repentista sertanejo
Que canta amor que sente a cada instante,
Em verso bem mais simples sem ter pejo,
Nascido nesta encosta verdejante,
Nas águas da esperança bebo um beijo
E deito sob os braços desta lua,
Vestido em prateada sedução,
Da bela campesina, doce e nua,
Sem mágoa a corroer meu coração.
A noite em ato explícito flutua
Amor com uma espécie de oração.
As dores abandonam pensamento,
E sinto-me qual deus, por um momento.
2257
..
Ao tanger belas cordas de uma lira,
Em sons maravilhosos, pois amenos,
Ao lapidar um sonho, já delira,
Com dias delicados e serenos.
Os olhos desta lua; nunca tira,
Dulcíssimos, sonoros, raros trenos...
Encontra em manso amor, a liberdade
De estar além do céu, saber do mar,
Rompendo uma alvorada na ansiedade
De ter e ser o sonho que buscar
Na ebúrnea madrugada, a claridade,
Às trevas dentro da alma, iluminar
No céu, mulher qual deusa, raios plenos,
Brilhando no infinito, a bela Vênus...
2258
A terra sertaneja tão bravia,
Demonstra inospitez da natureza;
Porém o puro amor que eu bem queria,
Contendo a perfeição feita em beleza,
Numa lua caipira traduzia
Amor imenso, pleno de grandeza.
Quem dera se esculpisse com buril
As formas da morena que eu deixei,
Nas matas nordestinas, amor viu
O quanto na verdade eu tanto amei,
Semi-aridez no solo duro e vil,
Um coração divino eu encontrei.
As lágrimas caindo qual cascata,
Saudosas dos carinhos da mulata...
2259
Meus versos vão buscando novas rimas,
Que façam deste amor, puro tesouro,
Poetas, bardos, vates, ricas primas
Que valem na verdade quase um ouro,
Mudando a poesia em vários climas,
A traduzir boiada em louco estouro.
Assim, ao reclamar simplicidade,
O verso se embrenhando no sertão,
Aguarda paciente a caridade
De quem escute o canto de um cancão
Tristonho ao reclamar rusticidade
Já sabe a dor do amor, se vem em vão...
Poeta nas palavras teus cristais.
Amor é puro e simples, nada mais...
2260
Ouvir do coração canções em ecos,
Deixando bem distante qualquer susto,
Não ter a sensação de ser dos pecos,
Viver uma emoção a todo custo,
Os dias que se foram, tristes, secos,
Refazem plenitude em cada arbusto.
Com mãos de mestre, amor já nos renova,
E deixa para trás a dor e o medo,
Tomando uma ilusão, coloca à prova
Receios de vivermos no degredo,
Porém ao ver o céu em lua nova
Descubro em renascer, o seu segredo.
Às vezes em seus braços eu me iludo,
Mas em novo mergulho eu vou com tudo...
2261
Afirmo-te, em firmeza, peremptório
Que a vida sem amor é como acinte,
Amar é ter na vida um oratório
E ser de Deus, fiel e bom ouvinte,
E comprazer no mesmo refeitório
Com deuses, claro céu que assim se pinte
Das cores divinais de uma festança
Em luzes amarelas e vermelhas,
Sabendo desfrutar desta esperança
Que mostra no caminho, tais centelhas,
Louvando a plenitude em que se avança
Arqueando em sorriso, as sobrancelhas;
Amar é na verdade embasbacar-se,
Levando a vida inteira sem disfarce...
2262
Amor; ao perceber duros revezes
Encontra na amizade uma firme haste
Por isso é que querida, tantas vezes,
Em outros braços, cedo me encontraste,
Na mão que feita em cardo já me leses
Em outras mãos recebo num contraste
Carinhos dedicados, nova empresa
Que mostra, num momento o paraíso,
Minha alma ao se encontra quase indefesa
Cedendo à sedução de um bom sorriso,
Afoga noutros colos, a tristeza,
Em toque tão suave e mais preciso...
Amor, se nos teus braços me repele,
Eu lembro-te, preciso mesmo dele...
2263
Olhar que reconheço em multidões
Aplausos emotivos; mais fecundo
O sentimento enorme das paixões,
Que ganham num momento todo o mundo,
Envoltas nestas tramas, seduções
Perfazem alegria em mar profundo.
Meu coração servindo de morada,
Sentindo este bafejo a palpitar,
Portando a noite imensa que, encantada,
Já traz a fantasia a se aflorar,
A quem outrora a vida trouxe o nada,
Amor em plenitude, devagar
Estremecendo em paz, calando o pranto
Abrandando o meu peito, um puro encanto...
2264
Por vezes minha estrada vai perdida
Deixando a sensação de um labirinto,
Vagando sem ter rumo em minha vida,
A morte dolorosa eu já pressinto,
Porém numa amizade, esta saída,
Nos olhos da esperança então me tinto.
Distantes os caminhos que deixaram
São ermos, na verdade, disto eu sei,
As dores e tristezas demarcaram
Estrada que conheço e que passei,
Andanças bem diversas demonstraram
Que o amor em amizade, é sacra lei.
Que em calmaria traz a feroz turba,
Refém da solidão, tudo conturba...
2265
Às vezes por caminho imaginário
Envolto no poder da sedução
Amor vai me tornando um visionário
Refém de uma divina sensação
Prazer que desde quando embrionário
Mostrara ser completa solução
Embora tanta vez, sei que não deva
Ao perceber os raios tão sutis
Permito- me seguir em sua leva,
Volvendo a ter os sonhos juvenis
Apascentando o peito feito em treva,
Sabendo ter amor, sou mais feliz...
Imagens maviosas dos risonhos
Momentos que eu vivi, eternos sonhos...
2266
Entrego-me aos desejos e me guias.
Eu sinto em tua entrega a sensação
Da doce sedução em fantasias
Nas rotas mais profundas da paixão...
Ouvindo em tua voz as melodias
Que trazem ao meu mundo a tentação
De ter-te aqui comigo e nesses dias
Viver em plena terra uma amplidão...
Sentindo tua mão me percorrendo,
Alvíssaras da sorte. Uma delícia
Que em ti, amada; sempre irei vivendo.
E deito meu delírio em febre, em chama.
Sorris tão docemente e com malícia;
De novo, o teu desejo já me chama...
2267
Quem segue este caminho tão deserto
Brandindo em solidão, quase transido,
Na busca de alegria em peito aberto,
Ao mesmo tempo inerte e condoído
Em cada novo dia sempre alerto,
Que o passo que foi dado, sem sentido.
Um sonho que se mostra bem mais justo
Premissa, com certeza, de guinada,
Trazendo um tempo bom- garanto- augusto
Mudando sempre o rumo desta estrada.
Não quero na tristeza estar combusto,
Por isso é que perfaço a caminhada
Nos laços da amizade, sem receio,
Que o vento da esperança trouxe, veio...
2268
O braço da amizade que me enleia
Enquanto a dor da vida faz sangria
Nem mesmo a tempestade inda receia
Aquele que se fez pura alegria
De ter a vida plena em alva areia
O mar que há tanto tempo inda bramia.
O coração decerto assim sossega
Tomado por destino bem mais certo,
A vida que seguira quase cega
Em trágico caminho, um vão deserto,
Agora nos teus braços já navega
Em horizonte plano, belo, aberto...
O dia a dia passa sem alarme,
Achando quem o medo, enfim, desarme...
2269
Querer poder estar contigo amor,
Tocar os teus cabelos tão macios,
Deitar-me do teu lado, ao teu dispor,
Fazendo deste outono, outros estios.
Abraçar-te querida, com ardor,
Deixando bem distantes estes frios
Que teimam maltratar um sonhador,
Tornando estes meus olhos tão vazios.
Eu amo-te demais, nunca duvide
Do sentimento imenso que dedico,
Do raio deste sol que já me incide,
Das mãos tão delicadas, do sorriso...
Amada, do teu lado sempre fico,
Certeza de que achei o paraíso..
2270
Em tais primores, sigo em novo Fado,
Alçando em fantasia uma esperança,
No corpo da mulher, extasiado,
A noite em calmaria, logo avança,
Quem teve seu destino alvoroçado
Pelo corte profundo desta lança
Pressente que terá um novo aspecto
A vida que no amor, fronte levanta,
No sonho mais divino me completo,
A dor se amaldiçoa, enfim se espanta,
E sinto-me, deveras mais repleto,
Nesta emoção que eu quero, rara e santa
De poder conceber mesmo ilusão,
Frondosos arvoredos da paixão...
2271
Visitando os cadáveres que trago
Percebo que não foram de verdade
São marcas das mentiras sem afago
Do canto que remota a mocidade.
Amor que se promete sem estrago
Avança sem saber felicidade
O mar que me trouxer tranqüilidade
Morrendo nem salgado nem amargo.
Espero nova sina em menos sal
Salvando meus recados na lixeira
O canto que te trouxe em festival
Aprendo esta lição que é verdadeira:
Adeus não se declara no final,
Constrói-se, na verdade, a vida inteira
2272
Adentro nos teus mares, meus navios,
Vagando pelas costas, praias, portos.
Meus olhos te procuram, vão absortos;
Cumprindo suas sinas mais vadios.
Unindo nossos corpos, firmes fios,
Acertam meus caminhos, antes tortos.
Dos sonhos que eu julgara, há muito mortos,
Renasço em noites quentes, nos estios...
Da essência magistral deste desejo
Que forma em duas vidas, diamante.
A pele se salgando em cada beijo,
Tomando novo rumo em um instante,
Amor nos ilumina, um relampejo
Numa explosão divina e deslumbrante...
2273
- AMIGA, AMIGA (Adélia)
Querida amiga, quero teu perfume...
Não me escondas mais luzes sem promessa.
A vida me traduz tanto queixume....
Ser feliz é preciso e tenho pressa.
Estar ao fim dos dias neste cume,
Cordilheira do amor! Se tudo estressa,
Me acalmo nos teus beijos, de costume...
Nas dores e feridas, és compressa!
Nos nobres sentimentos, tua glória.
Nos belos pensamentos, meu futuro...
Nos mais tristes momentos, a vitória!
Das flores e dos frutos és corbelha,
Mas quando estou sozinho, o mundo escuro...
Encontro a claridade: nobre Adélia!
2274
- QUERIDA AMIGA
Distante das quimeras, velhos amos,
Em anuência mostram novos fados,
Assim quando da vida desfrutamos
Buscando em velha senda outros prados,
Na solidão perversa nós achamos
Os dias belicosos já passados.
Embora a fortaleza desmorone,
Deixando sempre à mostra, na verdade,
Fragilidade torna-me um insone
Quem nunca divisou felicidade,
A dor de uma esperança ao telefone
Desliga. Foi engano. Falsidade...
Quem sabe se encontrando a ti, amiga,
A liberdade plena, enfim, consiga...
2275
Não quero rebuscar palavreado
Nem mesmo misturar alho e bugalho,
Amor é bicho esperto e disgramado,
Conhece do meu peito cada atalho,
Se um passo, na verdade, for mal dado,
Lá vem o bicho solto a dar trabalho.
Dinheiro; eu nunca tive nem juntei,
Tampouco quis fortuna, nem tesouro,
Amar; esteja certa, é minha lei,
Mesmo que arranque a pele e todo o couro,
Nos braços da mulher eu me entreguei,
No corpo da danada encontrei ouro.
Ali plantei semente e te garanto
Frutificou a vida em puro encanto..
2276
Meu companheiro; peço-te piedade
Não me obrigue a falar, mas dou razão
De tudo o que aprendi nem a metade
Vai ter a serventia ou precisão.
Mentira misturada com verdade,
Causando no meu peito comoção.
A gente desconhece quem abriga,
Na casa, na choupana ou na tapera,
Ardendo no meu corpo feito urtiga,
Mordendo e maltratando feito fera.
Pra essa mulher maldita eu trago a figa,
Que a peste na desgraça degenera.
Bem que tu me avisaste meu amigo,
Eu mereço, bem sei, este castigo...
2277
Meu peito quase um bárbaro imperfeito
Sem ter as filigranas portentosas,
De imenso matagal em chuvas feito,
Nas lágrimas e espinhos, velhas rosas
Aradas com a dor de qualquer jeito
Em tardes bolorentas, caprichosas...
Eu trago dentro em mim toda a tristeza
Que é natural daquele que cresceu
Sabendo que enfrentar a natureza
É ter da noite treva em total breu.
Assim, marchando sempre com rudeza
Palavra feito faca, este sou eu!
Nos olhos da morena, amor socorre,
Que o sangue da esperança ainda escorre..
2278
Quem dera se eu pudesse na viola
Traduzir em meu canto o sentimento,
Numa alegria imensa que consola,
Tocado pela lua e pelo vento
Minha alma num momento já decola
E voa em liberdade, o pensamento.
Quem dera se eu pudesse traduzir
Em poucas redondilhas a beleza
Que eu vejo neste céu claro a luzir
Cobrindo como um manto a natureza
Em cores e matizes a cerzir
Força descomunal, mas indefesa...
Quem dera se eu pudesse, na verdade
Dizer que a salvação vem da amizade...
2279
Por mais que tantas vezes fui tentado
A ter outro caminho, um novo norte,
Meu canto que se fez amargurado
Clamando e desejando a própria morte
Sentindo t’a presença aqui do lado
Cicatrizou em paz, profano corte.
Poeira no meu peito toma assento,
A sorte de viver bem resolvida,
O fogo da paixão queimando lento,
A vida em boas mãos já conduzida,
A dor que se fizera em sofrimento,
Pela força do amor foi repelida.
E agora caminhando, vou ereto,
Nas dádivas do amor, eu me completo...
2280
Qual fera que transtorna impunemente,
Ferindo em dente e garra o caminhante,
Na dor que com prazer tanto se sente,
No lume que escurece triunfante,
Mortalha em que se apraz, tomando a gente,
Do medo e fantasia, um seu amante.
Num fogo que decerto não sacia
Perpetuamente a dor dos ancestrais
Moldando em ilusões, falsa alegria,
Em danças e promessas sensuais.
Amor com sofrimento consorcia,
Porém quero bebê-lo e sempre mais.
Inebriadamente, amor consome
Em fúria delicada, sede e fome...
2281
Amor primordialmente ronda o mundo
Unicamente feito em rico Fado,
Tomando-nos de assalto, num segundo,
Já torna o meu caminho transtornado,
Das chamas deste amor, quando me inundo,
Refaço as esperanças do passado.
Por vezes sentimento tão doído
Embora quase sempre deslumbrante,
Em passo mais veloz e decidido,
Permite que sigamos, mesmo avante.
Louvando com mil louros o vencido
Ao derrotado faz que se agigante,
Tremendo em nossas veias, nossos pulsos,
Amor é feito em trágicos impulsos...
2282
Paixão alucinante me domina,
Sem medo de viver felicidade.
A boca tão sedenta da menina,
Vibrando na total saciedade...
Adentro meu desejo em tua mina,
Buscando teu carinho, quem há de
Ajudar na procura, minha sina,
Sabendo que de tudo, uma verdade
Maior que todo canto que fizer,
Maior que todo sonho que chegar
No corpo desejado da mulher
Que tanto procurei e não achava;
Agora em ti consigo deslumbrar
Beleza de vulcão, calor e lava...
2283
Espero o teu amor a cada dia,
Com gosto de carinho, pão e mel,
Dançando par em par com a alegria
Flutuo em cada passo, ganho o céu...
No teu beijo, perfeita sintonia
Nos traz proximidade. Carrossel
De desejos divinos, fantasia
Voando em cada noite, num corcel...
Sonhando com teus olhos sedutores,
No bem que reconheço, vem inteiro,
Meus versos exaltando estes amores
Traduzem meu querer por ti, menina,
O amor com seus desejos tão certeiros,
Com setas, me atingindo, me domina...
2284
Ao te encontrar, amor; eu descobri
Que a vida pode ter felicidade.
Não sabes mas bem antes, tudo aqui
Trazia um triste gosto de saudade
De um tempo que passou, mal percebi,
Deixando em seu lugar, ansiedade.
Agora que encontrei amor em ti
Eu volto a ser feliz, isso é verdade...
Estrela que vagava sem ter rumo,
Cometa sem paragem nem remanso;
Mas desde que em teus lábios me perfumo
Abri meu coração e esqueço o medo,
Os píncaros da sorte, amor alcanço
Do cofre do esplendor deste o segredo...
2285
Somente ao teu amor, amiga; aspiro
E faço de meu verso um instrumento
Que seja num papel, mesmo em papiro,
Invada um coração queimando lento.
O sonho, na verdade que eu prefiro,
Jamais abandonou meu pensamento.
Repete sempre a mesma ladainha,
Unítona esperança que me toma,
De ter a tua boca junto à minha,
Na multiplicação que é feita em soma
De corpos que a saudade já avizinha
No fogo que nos queima quando assoma.
Querida, no teu corpo a divindade
Sublime a traduzir felicidade...
2286
Invado as tuas ilhas do desejo,
Penetro em cada ponto, me sacio.
À noite no delírio de um festejo,
Não desperdiço, amor, nem mais um cio.
Deitando em tua nudez, eu sempre vejo,
Calor que já mitiga todo o frio,
Prazer que pela pele, sim, poreja;
Amando sem parar, horas a fio...
Matar a nossa sede, sem limites,
Num mundo de alegria, formidável...
Das grutas conhecer estalagmites.
Depois de navegar tantos caminhos,
Vibrar nosso desejo insaciável,
Adormecer um mundo de carinhos...
2287
Não quero ter meus versos recitados
Nem mesmo nos saraus, academias,
Os olhos de repente enodoados
De um cego que em amor tem alegrias
Permitam tão somente as sinas, fados
Que o coração que eu clamo singre os dias
Deitando sob a lua em alva areia
Receba com carinho este repente
Que cantando em louvor à lua cheia
Transborda em emoção, e simplesmente
Transfunda tanto amor pra sua veia
E mostre tudo aquilo, o que mais sente,
Um reles repentista apaixonado,
Num céu em pirilampos estrelado...
2288
Alvíssaras ao louco trovador
Que canta e que decanta sem descanso
Em versos de amizade mostra amor
Que em sonhos delicados eu alcanço
Um coração só mostra seu valor
Quando nos traz a paz feita em remanso.
Outrora em serenata ou madrigais,
Os bardos imploravam com destreza
Louvando uma amizade feita em cais,
Rompendo a madrugada na incerteza
Do amor que talvez fosse nunca mais,
Porém em canto livre tal pureza
Que mesmo que distando tantas léguas
Às guerras e desgraças trama tréguas..
2289
Amigo, não permita que teu verso
Se perca sem sentido, pois somente
Um canto que se mostre mais perverso
Atando em frios braços a corrente,
Deixando um horizonte tão disperso,
Ferindo o coração de toda gente...
A fonte da alegria deve ter
As cores da ilusão da poesia,
Atado nestes sonhos, meu prazer
Enxágua minhas dores, na alegria
As águas frescas quero, então beber,
Nos versos que trouxeres fantasia...
Amigo a vida vale sempre a pena
Quando um sorriso em paz, decerto acena..
2290
Nas mãos que arando a terra com rudeza,
Transmitem os carinhos mais divinos,
Amor bate no peito com certeza,
Não precisou jamais de alexandrinos,
Pois nele próprio, amor, eis a beleza,
Que é nata e existe em todos os meninos
Amar é dom decerto natural,
O resto não tem mesmo uma valia,
Amar e ser feliz; tem todo aval
De um Deus que fez com toda maestria
A natureza intensa e sensual
Mostrando todo amor à poesia
Vinho celestial amor revela
No corpo da mulher, morena bela...
2291
Cantando nosso amor em poesia,
Sem medo da distância nem do tempo.
Fazendo deste sonho, alegoria,
A vida não se faz em contratempo.
Eu quero ter teus sonhos verdadeiros,
O gosto delicado de teu toque,
Nos passos que vibramos, companheiros,
Amor que já se entrega sem estoque.
Fulgura nosso céu em lua cheia,
Nos rastros luminosos, te procuro,
A noite do teu lado se incendeia,
O coração clareia, mato escuro...
No mundo um bem maior já não existe,
O coração mineiro: jamais triste...
2292
Quem me dera um violeiro
Pra cantar amor perfeito,
Ser eterno companheiro,
E viver tão satisfeito
Tendo amor; pra que dinheiro?
Vou levando deste jeito,
Com um amor verdadeiro,
Sem achar nenhum defeito.
Caminhando, de repente,
Encontrando a solução
Que se dá pra toda gente,
Nas cordas de um violão
Tanto amor que se pressente
Nos braços de uma paixão!
2293
A saudade é dolorida,
No meu peito deu um nó,
Depois desta despedida,
Coração andando só,
Na longa estrada da vida,
Vou comendo tanto pó,
Morena na despedida,
Foi-se embora sem ter dó.
A saudade traz apuro,
Maltratando, não descansa,
Meu amor pra sempre eu juro,
Nunca tirei da lembrança
Nosso amor, que foi tão puro,
Mas morreu cedo, criança...
2294
Caminho pelas ruas lado a lado
Com bela estrela viva e deslumbrante,
Fazendo de meu canto enamorado
O rumo que procuro a cada instante.
Depois de padecer, muito cansado
Do tanto que sofri, estar diante
Do bem por tanto tempo procurado,
A vida se ilumina, radiante.
Na tua companhia não me canso
E avanço a noite inteira, dança e festa,
Vagando qual cometa as pernas tranço
Inebriado em olhos tão bonitos.
Amar-te em mil delírios, o que resta
Senão felicidade em doces ritos...
2295
Peço a Deus a caridade
De trazer uma esperança
Que me salve de verdade,
Acolhendo esta lembrança
No valor desta amizade
Eu encontro a temperança
Vou buscando a claridade,
No meu peito de criança
Que não sabe nem metade
Mas se veste de pujança
Procurando a liberdade,
Que tão cedo não se alcança
Pelo campo ou na cidade,
Formatando uma aliança...
2296
Uma esperança imensa, mas esguia
Vagando em noite fria, no luar,
Encontra tão somente a fantasia,
E perde-se morrendo devagar.
Além de todo o sonho que eu dizia,
Percebo que a vontade de chorar
Matou em um segundo a poesia,
Erguendo uma tristeza como altar.
Quem dera se pudesse ter alguém,
Que fosse na verdade um lenitivo,
Se tristemente sigo sem ninguém,
Apenas na esperança sobrevivo
De ter um dia, amor que sei tão bem,
Transforma o coração, pobre cativo...
2297
Além deste desejo, compartilho
Amor tão delicado e sonhador,
Não vejo neste mundo um empecilho
Que possa já conter o nosso amor.
És Afrodite e Amor, dileto filho,
Que em setas, anjo bom e tentador;
Ao ver o quanto em ti me maravilho,
Me fez de teu olhar adorador.
Nos sonhos mais gentis, estás presente,
Não deixo de pensar um só minuto,
Minha alma ao te rever, cedo pressente
O quanto és importante para mim,
Que seja assim bendito esse bom fruto
Que é feito da alegria imensa. Enfim...
2298
Saudades de outros tempos, outras eras,
Aonde uma esperança tão querida,
Ganhava com certeza altas esferas,
Em redenção perfeita, plena vida.
A noite depois disso, dolorida,
Secando num deserto, as primaveras,
Uma alegria aos poucos esquecida,
Em dores e tristezas tão severas.
Olhar perdido eu sigo sendo vago,
Buscando o teu olhar, longe de mim,
Apenas solidão faz seu afago
Mordaz em ironia, trama o fim.
Quem dera a placidez de um manso lago,
Ou mesmo a morte venha logo, enfim...
2299
Amigo é verdadeira esta emoção,
Pois nasce com tal força em sentimento
Que traz uma alegria em floração
Num canto que se vai esparso ao vento.
Sabendo desfrutar cada momento,
Encontro na amizade a solução
De toda tempestade, do tormento
Que toca, nos ferindo o coração.
Embora sejam duros os meus versos,
Encontro na amizade, esta harmonia
Que trama nos sentidos mais diversos
Louvando a própria vida em sintonia.
Distante de outros tempos tão perversos,
Promessa de carinho e de alegria...
2300
No teu aniversário meu amigo,
Eu quero agradecer cada palavra
Que trazes como um doce e forte abrigo,
No peito uma esperança em que se lavra
A sorte benfazeja que virá
Após a tempestade, dura e fria.
O sol que novamente brilhará,
Mostrando para nós toda a magia
Que trazes no teu peito, camarada,
Presente divinal em anjo feito.
Prenúncio de alegria nesta estrada,
De amores, amizades, belo leito.
Feliz aniversário, companheiro,
Amigo fidedigno, verdadeiro...
2301
Castelos construídos de um desdém,
Vazia madrugada, noite fria.
Vagando solitário, sem ninguém,
Minha alma vai morrendo, assim, vazia.
Quem teve nesta vida um doce bem,
E um dia se banhou em alegria,
Percebe como é triste ser alguém
Que morre, pouco a pouco, todo dia...
Perguntas: -Por que choras meu amigo?
As horas vão passando cruelmente,
Somente no meu peito, uma tristeza
E um sonho em que buscando um novo abrigo
Perdido em solidão, vou tolamente
Beber da seca fonte da incerteza...
2302
Uma alma solitária vai perdida
Não tendo nesta vida qualquer norte,
Crucificada em dores; contraída
Entregue, na verdade à própria sorte.
Não vendo nem a porta nem saída,
Aporta num momento e busca a morte.
Uma alma solitária, ninguém vê
Visão de uma tristeza que sem fim
Não deixa nem permite sem por que,
Que o mundo desabando leve assim
O resto de esperança que inda existe,
Matando devagar uma ilusão,
Um coração atroz, morrendo triste,
Qual presa para a fera solidão...
2303
As dores que insensatas já perduram
Crivadas pelos olhos feitos ódios,
São frutos que em tristezas se maturam
Distantes da alegria dada em pódios...
Nos óleos em que curas se perfilam,
O gesto do perdão vai se alongando
Venenos com certeza não destilam
Aqueles que recebem amor, quando
A dor ao invadir a casa aberta,
Recebendo no amor, contrapartida,
Deixando a solidão, erma e deserta,
Vagando ao derredor, não vê saída.
Por isso é que a tristeza vaga avulsa,
Ao receber do amor firme repulsa...
2304
Quem pensa que da sorte mais perfeita,
Recebe com fulgor a claridade,
Em cama feita em louros sempre deita
Ao perceber do céu imensidade,
Ao ver a vida assim tão satisfeita
Conhece toda a força da amizade
Que é pura inspiração em verso solto,
Tramando uma emoção que, sem igual,
Apascentando um mar antes revolto,
Perfaz uma alegria em festival.
Ao garantir potência na passada,
Permite que vislumbre no futuro
A vida por um sol iluminada,
Num mundo que jamais será escuro...
2305
As mágoas fossem águas deste rio
Que desce em cachoeiras e cascatas,
Vencendo a tempestade quer estio
E goza em profusão adentra as matas.
A natureza mostra insano cio
Em luas seminuas plenas pratas.
Abençoados sonhos de um jardim
Em meio a belas rosas cultivado,
O quanto que já fui voltando assim,
Ao perceber amor bem demarcado
Fazendo no meu peito tal festim
Que eu penso que jamais fui magoado.
Morena, com certeza os belos seios
Redimem a tristeza e meus receios...
2306
Poder te dar um beijo, prenda amada,
Sedento, carinhoso e lambuzado
Sentindo na manhã toda orvalhada
O bom da vida estando do teu lado.
O frio que chegou da madrugada,
O gosto de teu beijo serenado,
A manta que nos cobre temperada
Pelo calor benquisto e desejado.
A vida que lá fora recomeça,
Aqui, em nosso canto, continua.
Que o mundo em seus tormentos não impeça
Que o dia recomece uma rotina.
Esqueça que lá fora existe a rua,
Se achegue. Venha aqui, minha menina..
2307
Emudecendo a voz do coração
Depois que tu partiste e me deixaste,
A vida maltratando grita o não
Uma esperança é quase uma fina haste
Que enverga-se ao poder de um furacão,
Sofrendo em violência tal desgaste,
Há tanto tempo a voz emudecera,
E o peito em agonia, tão cansado,
Matando em tanto frio, a primavera,
Apenas solidão foi meu legado.
O medo de seguir, terrível fera,
Atando a minha vida no passado.
Porém ao perceber uma amizade
Recuperei a paz, eis a verdade...
2308
- TODO O MEU AMOR...
Não me deixas sentir sequer o medo...
Não tenho tempestades, nem as temo...
Amar parece ser o teu segredo.
Nos mares que navego, és o meu remo...
Por vezes, se freqüento meu degredo,
A morte tão silente nunca eufemo,
Aguardo minha dores, simples, ledo...
A teu lado sequer, nunca mais tremo...
Perfume e singeleza, tens da rosa,
Caminhas flutuando pelo céu...
Amada, teu caminho descortina,
Nas mãos desta mulher voluptuosa,
Delícias e luxúrias, carrossel...
És todo o meu amor: Ó minha Adina!
2309
Quando, ao dobrar dos sinos, percebi
Que quem durante tempos fora minha,
Eu nunca mais veria;então senti
O medo e desamparo da avezinha
Engaiolada: nunca mais saí...
A solidão, da morte má vizinha,
Depois de tantos anos, ei-la aqui.
Minha alma vai morrendo, pobrezinha...
Amores e saudades, com certeza,
Irmanados; devoram totalmente...
Deixando tão somente uma tristeza
Mas tenho por ventura uma esperança
Que em mim já coexiste, pois latente,
Com doce amor guardado na lembrança...
2310
Meu coração trazendo como guia
A lua sertaneja, em rica prata,
Mergulho divinal na fantasia
Deitando cada raio em densa mata,
Parece que o bom Deus ali dizia
De todo este prazer que me arrebata.
Meus passos se mostrando alvissareiros,
Trazendo em cada senda tal pujança,
Que mesmo que pareçam corriqueiros,
Jamais esquecerei. Bela lembrança
De sonhos realizados, altaneiros,
Natureza desnuda em minha andança.
Um passional delírio em ansiedade,
Pintado pelo Deus por amizade...
2311
Vida densa, tristezas, minha sina...
Amores e mortalhas, companheiras..
A boca que beijei, fria assassina,
As noites que se foram, carniceiras...
Não quero recordar essa menina,
As horas dos amores, as primeiras,
Um peito juvenil, já desatina...
Vontade de pular, saltar das beiras!
Mas quando essa tristeza soberana,
Mais forte dominava, sem carinho,
A sorte poderosa, não me engana,
A lua retornou de seu caminho,
Brilhando suas luzes, gloriosa,
Ágata, nome de mulher bondosa!
2312
À barca, pois gentil esta maré
Que venha em esperança com amor,
A sorte com certeza vem com fé
Vencendo uma tristeza ou dissabor.
Amada em teu carinho, um cafuné
Preciso e com detalhe encantador
O nosso amor decerto já deu pé
Transmite uma alegria em puro ardor.
As asas dos meus sonhos decolando,
Beijando o pensamento, vão distante.
Amor jamais permite ser farsante
Aquele que em certezas, sabe quando
A vida prometida chegará,
E o sol de nossos sonhos brilhará...
2313
Pergunto pela amiga que partiu
Deixando este rosal em puro espinho.
A chuva vai caindo de mansinho,
O coração dispara em dor sutil,
Ausência de quem quero e não se viu
Nem rastro que me leve ao manso ninho,
Fiquei aqui tristonho e tão sozinho,
A rosa da esperança não se abriu.
Vivendo sem saber da claridade
Que trama em minha vida, uma ventura.
A noite sem te ter, amiga, escura,
Eu quero desfrutar dessa amizade,
Qual fosse um cantador trovadoresco
Pintando com teu nome um belo afresco...
23 14
Nosso amor assim paradisíaco,
Não descansa nem pode descansar...
As noites a rolar, afrodisíaco,
Afrodite não cansa de dançar...
Amor espúrio, sexo e caneladas!
As luas sem pecados, voyeuristas;
Não deixam de luzir as madrugadas,
Aplaudem, invejosas, dois artistas!
Nas orgias satúrnicas, bacantes...
A noite velha atriz, nos dá cometas...
As bocas se percorrem, delirantes.
Misturam tantos dedos, pernas, tetas...
Nosso amor, nas ternuras e delícias...
Nos desejos atrozes de carícias!
2315
Preso, contido em tais cruéis mistérios,
Não me permito as urzes nem espinhos...
Nas marcas de teus passos nos caminhos,
Por certo derrubaste meu império!
Não posso permitir tal adultério,
As bocas que beijaste, teus carinhos.
Do grande amor que tive, cemitério;
Os pássaros procuram novos ninhos!
Não quero mais saber de tuas culpas.
A noite não permite mais desculpas.
Te quis, jamais oculto essa verdade.
Os trapos que deixaste já rasguei;
Em tudo transtornaste minha lei.
De ti não restará nem a saudade...
2316
Uma amizade imensa e verdadeira
É feita a cada dia, não tem planos,
Recebe a ventania corriqueira
E cessa a dor matando os desenganos.
Na labareda imensa, uma fogueira,
Já sabe dos prazeres soberanos,
Uma amizade assim, alvissareira,
Sentimentos divinos entre humanos...
Distante da tristeza, em belas plagas,
Cicatrizando as fundas, duras chagas
Apoio necessário na passada
Amiga, eu te agradeço todo dia,
Pois sinto no teu passo esta harmonia
Que traz uma esperança demarcada.
2317
Todos os meus prazeres traduzidos
Nos olhos e nos lábios desta amada.
Depois de tantos mares percorridos,
A noite se apazigua, alucinada...
Nos claustros que vivera, em solidão,
Amarga sensação de desventura.
Buscando uma energia de carvão,
Queimando meu amor em tanta agrura.
Depois deste silêncio fragoroso
Depois destas desditas sem final.
Depois deste viver tão tenebroso,
Depois desta saudade que é fatal.
Encontro nos teus lábios, meu sossego;
Deitando no teu colo, um aconchego...
2318
Nas praias, nos desertos, solidão...
Nesse medo de amar que me maltrata.
O sol que me incendeia, meu verão,
A doce solidão desta cascata...
Esse mundo não cabe coração,
Na noite que enluara, densa mata,
Nas horas mais difíceis , teu perdão.
Amor que traduziste cor de prata....
Mas a vida se refaz em cada cena,
A porta, paraíso não se engana.
A pele que me encanta tão morena,
É luta em que terei, por certo gana,
Na boca que me morde, tão pequena,
A sílfide sem par, bela Adriana!
2318
No fogo que me queima
Prazer em tez morena,
Amor que tanto teima,
Decerto o gozo acena.
Eu quero o paladar
Da boca feita em mel,
Entrando devagar,
Adentro inteiro o céu.
Na toca melindrosa,
As águas/cachoeira,
Beleza cor de rosa,
Eu quero sempre inteira,
Menina em teu amor,
Colhendo cada flor...
2319
Caindo sobre os sonhos, pesadelos...
Nos seios desta amada que não ama...
Meus mundos não permitem revivê-los
Nas lavas dos vulcões percorro chama.
Nos brotos das abóboras, seus grelos,
Quem dera reviver amor sem lama.
Envolto nos meus sonhos qual novelos
Que trazem meus destinos. Velha trama...
Adormeci nos braços desta lua...
Balançando, deitei na mansa rede.
Mulher que nunca veio, estava nua...
Nos desertos, meu corpo mata a sede.
A boca que silvava, continua.
Um grande amor que nunca tive, atua...
2320
Quem dera se pudesse, um jardineiro,
Cuidar da bela flor que em ti já vejo.
O dia passaria por inteiro,
Neste jardim florido em meu festejo.
O mundo enfim seria um verdadeiro
Sonho em realidade que antevejo
De todos meus desejos, o primeiro
Podendo te regar com doce beijo.
Querendo renascer nesta paixão,
Cuidando com carinho desta flor
De raridade imensa, uma emoção
Tocando o jardineiro extasiado
Vibrando nos canteiros nosso amor,
Que é sempre, noite e dia bem regado...
2321
As luzes na cidade vão sumindo,
Deixando simples rastros na calçada
Um dia prometido, outrora lindo,
Refaz um novo brilho em alvorada.
Teu nome, o coração vai repetindo,
Estribilho somente sem mais nada,
O dia que em teus olhos vem surgindo
Na luz de um belo sol, fonte adorada
De toda a plenitude de um calor
Que possa renascer em meu desejo,
Viver a magnitude deste amor
Que sopra um doce vento benfazejo.
Felicidade em sonho encantador,
Precisa, na verdade de traquejo...
2322
Amor não tem juízo nem idade,
É fogo que nos deixa mais contentes,
Distante de outros dias penitentes,
Promete para nós felicidade.
Embora muita vez a ansiedade
Em laços mais cruéis, tomando as gentes,
Fomenta os sentimentos mais descrentes,
Matando de velhice a mocidade..
Amar é conhecer o paraíso
Em senda delicada e tão florida,
Louvando a fantasia num sorriso,
Deixando ao coração a lua nova,
Refeita da minguante e dura vida,
Amor em puro amor, já se renova...
2323
Deitada na minha cama,
Em tremendo reboliço
Acendendo logo a chama
Meu amor florindo em viço,
Recomeça logo a trama,
Que é feita em louco feitiço,
Moreninha, amor te chama,
Vem comigo que eu te atiço.
E te atirando pro leito,
Em cetins, nosso dossel,
Meu amor tão satisfeito
É caminho para o céu,
Mas venha de qualquer jeito
Desde que entorne teu mel...
2324
Uma amizade suprema
Que se faz com puro amor,
É pepita, pura gema,
Que sabe de seu valor,
Pois amiga, nunca tema
Sequer tristezas ou dor,
A alegria de um poema
Feito por um trovador
Já se expressa num sorriso,
Emoldura a minha face,
Descortina o paraíso
Vislumbrado sem disfarce,
É laço firme e conciso,
Não permite que se esgarce...
2325
Vou fazer uma viagem
Dentro do meu pensamento,
Encontrando essa visagem
Que me acalma o sentimento
Se o amor é só bobagem
O que eu faço do lamento
De quem pensou ser miragem
E se perde em sofrimento.
Amor de cartas marcadas,
É mentira ou ilusão,
As sortes sendo lançadas
Encharcando o coração,
Sonho de conto de fadas,
Meu amor, pura paixão...
2326
Ao mar se entrega areia displicente,
E em cada onda se deixa penetrar,
Assim como este mar, também a gente
Em toda sedução bem devagar
Aos poucos me deixando mais contente,
Depois de tanto ser, tanto me dar,
Um cristalino gozo que se sente,
Na areia em ondas sempre a se esbaldar.
Promessas e perdões, risos e festas,
Em profusão delírios e vontades.
No sentimento enorme em que tu gestas
Uma esperança audaz e maviosa,
Distante das procelas e saudades,
Cultivo em nosso amor: olores, rosas...
2327
Beijar-te mansamente e viajar
Por todos os recônditos, sem tréguas...
Teu corpo com meus lábios, decorar...
Meu pensamento voa, muitas léguas...
Sentir este desejo se aflorando
Em cada poro; imerso em tua pele,
As emoções levitam, flutuando...
Imenso sentimento nos compele
A sermos mais felizes, lado a lado,
A termos nossos sonhos reunidos
Num beijo tão voraz e delicado,
Já nos tomando todos os sentidos...
Falar de nosso amor... Felicidade...
Nos censurar querida, ninguém há de...
2328
Um povo que cativo, escravizado
Trazendo no costado, cicatrizes,
Ao sol de um novo mundo, maltratado,
Em cantos amargosos, infelizes.
O corpo pelo açoite deformado,
A vida permitindo tais deslizes
Na sombra tão medonha do passado,
As liberdades? Foram quais atrizes
Que em cenas degradantes demonstraram
Os cortes e as vergastas, podridão.
Assim em dura senda, escravidão,
No quadro da lembrança emolduraram
Vergonha que inda corta, e vil lateja
Sob as bênçãos sagradas de uma Igreja.
2329
Na plantação de um roçado
Cultivei meu bem querer,
Coração apaixonado
Sabe da vida, o prazer.
Coração pesa de um lado,
Tanto amor pode conter,
No meu passo bem marcado,
Alegrando o meu viver
Sei da vida em cada passo,
Alegria que me dá,
Procurando eu já te enlaço
Vou te amando desde já
Felicidade no abraço
Encontrei decerto cá...
2330
Turvada pela dor, água da fonte
Que fora transparente e mais serena,
Parece, de repente, que envenena
E mata, não permite um horizonte...
Um coração sofrendo tal desmonte,
De dor e solidão, a vida plena,
Confunde fonte sempre mais amena,
As águas tão barrentas descem monte.
Celestes tempestades ,tanto raio,
Turvando meu amor como se vê;
Em busca deste sol, por vezes saio,
E sempre o que recebo é vil martírio.
Procuro solução, em vão, cadê?
Apenas essa fonte em meu delírio!
2331
Coveira dessas minhas ilusões,
Uma atroz serviçal das negras trevas...
Dilapida sem medo os corações,
Onde fora verão, sem perdão, nevas...
Fizeste minhas deusas, simples servas...
Trazes torpes problemas... Soluções
Ocultas; velha chaga, podridões!
Cadáveres de amores, sempre cevas...
A sórdida lembrança que deixaste
Reproduz fielmente meu tormento...
Nas pútridas manhãs que me beijaste,
As horas se verteram em lamento...
Não te quero mais, suma! És podre traste.
Deixe-me então em paz, por um momento....
2332
Relembro o nosso amor em doce encanto,
Com toda uma pureza em mãos serenas,
Palavras delicadas, mais amenas,
Uma ilusão servindo como manto.
Eu te amo, tão somente e tanto, tanto...
Em ti jamais vivi as duras penas
De amores que já foram, mas apenas
Deixaram algum resquício feito em pranto.
Revejo o nosso amor e nisto creio
Ter sido o momento mais feliz.
Aberto o peito, a vida alçando vôo
Liberta sem temores, sem receio.
Contigo, com certeza o que eu mais quis,
Portanto em nosso amor, ainda ecôo...
2333
O mundo prometido esvai-se vão,
Tirando esta saudade sobra o nada.
Vagando pelas ruas, madrugada,
Exponho em cada esquina o coração.
Ao longe, bem distante, uma canção.
No bar casais em riso e gargalhada,
Uma esperança morre destroçada,
Jogada sem pudores, vai ao chão...
Lembrar de nosso amor... Uma vaidade
Somente e nada mais, tudo morreu...
Voltando tão depressa à realidade
Encontro este vazio que sou eu,
Apenas a sarjeta, meu destino,
Aguarda em boca aberta, último trino...
2334
Minha carcaça resta sobre ti;
Maravilhosamente desnudada.
Adormeces, tão bela e descuidada.
Recordando, nest’ hora, o que vivi,
Os prazeres, as dores, que senti,
Desespero ao chegar triste alvorada...
Quem dera não passasse a madrugada!
Teu corpo, livro aberto, que já li...
Belo templo, rosário e monumento.
Deus permita ficar mais um momento;
Mas a manhã chegando irá varrer...
Por que, meu Deus, responda! Eu te suplico...
Por que ter que partir... Aqui eu fico
Agonizando a sorte do morrer!
2335
Tento fugir, fingir quem nada temo;
Noites e manhãs, luzes mais sombrias...
Repare bem, verás quanto vadias
As nossas travessias sem um remo...
Em todos madrigais, louco, blasfemo,
Procuro versejar tais melodias,
Mas nada restará, nem os meus dias...
A vida verterá demônios, demos...
Queria sossegar os meus tormentos,
Queria conseguir meus pensamentos,
Reinando, soberanos...Fantasia...
A vida preparou sua armadilha,
Tantas vezes a noite vem, me pilha;
Abraçando, abnegado, essa agonia...
2336
Dorida madrugada em solidão,
Acendo o meu cigarro, tiro um trago.
A tua ausência causa tal estrago
Descompassando logo o coração.
Ascendo ao infinito em emoção
O vento frio beija-me em afago
Quem dera a placidez de um manso lago,
Mas tão somente escuto o mesmo não.
Aguardo mais um tempo e nada vem,
Somente uma saudade inesgotável.
Procuro, vago à toa. Mas ninguém...
Na janela entreaberta do meu peito
A madrugada passa, interminável,
Nem mesmo a tua sombra sobre o leito...
2337
Quero que tu saiba minha amiga,
O quanto te desejo a cada instante,
A madrugada fria nos abriga,
Deitando no teu colo, amigo, amante...
Eu quero assim te ter, volúpia intensa,
Desnuda em minha cama, companheira,
Meu corpo te pretende recompensa,
De quanto já sofri a vida inteira.
Usufruir da boca mais carnuda,
Morena tão querida para mim,
Um olhar de carinho te desnuda,
E beijo cada lábio carmesim
Rolando em nossa cama, chama acesa,
Ser o teu caçador e tua presa...
2338
Caminhando sem cansaço
Pelo sertão das Gerais,
Procurando um forte abraço
Da amizade feita em cais.
Esperança eu logo traço,
Pois sei que isto é bom demais,
Estreitando cada laço,
Sem eu me esquecer jamais
De uma amiga que carrego,
Dentro do peito em abrigo,
Sem seu brilho fico cego,
Sem a sorte que persigo,
À amizade eu já me entrego,
Deixe-me ser teu amigo.
2339
Bendito seja o sonho que sonhou
Alguém enamorado em poesia,
Vibrando neste embalo, a fantasia,
O canto da esperança desfrutou.
Vencendo a triste noite que passou,
Refém de uma tristeza, da agonia,
Percebe a claridade em novo dia,
E em pura sedução já se entregou.
Benditos os amantes mais audazes,
Que mostram-se em verdade mais capazes
De terem esperanças inerentes,
E acima da ilusão, louca mulher,
Terá toda alegria que quiser,
Em doces emoções, dias contentes...
2340
Minha alma em solidão, triste chorou,
Buscando a quem amei perdidamente,
Lamento de minha alma, vem urgente
Clamar por quem depressa me deixou.
O tempo sem te ter, duro passou
Agora a noite cai suavemente,
Nos braços do quem sabe, vou contente,
Trazendo o doce gozo que sonhou
Um coração vadio e vagabundo,
Vagando em vento incerto pelo mundo
Até chegar às sendas da ilusão.
Agora em novo amor, minha alma acalma,
Sabendo desfrutar com toda calma
As novas diretrizes da paixão...
2341
Nos braços tão serenos deste amor,
Serei o que pensares e quiseres,
Mulher a mais bendita entre mulheres,
Recende à maravilha feita em flor,
O teu sorriso brando, sedutor,
Mostrando na verdade o que mais queres,
Do jeito e da maneira que vieres
Terás o meu carinho. Um sonhador
Que vai a noite inteira de mansinho,
Buscando por teu colo um doce ninho,
Calando tanto beijo em tua boca,
Na fantasia imensa, quase louca,
De ter os teus segredos desvendados,
Em olhos com certeza, apaixonados...
2342
Distante da amargura e sem lamento,
Apenas alegria traz a voz,
Atando uma esperança em fortes nós,
Abrindo o peito aguarda o manso vento,
Que volta de repente ao pensamento,
E mata a solidão cruel, atroz,
Sabendo deste amor que vem após
Os dias tão vazios, sofrimento...
A chama deste amor jamais se apaga,
Curando esta ferida, dura chaga,
Soltando uma emoção em alto grito,
Vencendo a sensação de uma aspereza,
Alçando num momento um infinito,
Envolta em fantasias com destreza...
2343
Um sonho vem pousando devagar
E deita sobre um corpo que em ternura
Permite uma alegria imensa e pura,
Emoldurado em forma de um altar.
Minha alma solitária a soluçar
Pedindo que esta imagem de candura
Acabe bem depressa com tortura
Que fez o pensamento delirar.
Acaso, meu amor, inda resiste
À dor da solidão que me apavora,
Não deixe que eu persista assim tão triste
Vem logo, eu necessito amor agora,
Eu quero o teu carinho sonho meu,
Que a sorte em tua ausência se perdeu...
2344
Imagem de beleza feminina
Deitada em minha cama, até que enfim,
Tão cedo uma ilusão já descortina,
Envolta em lençóis puro cetim,
Às vésperas da dor que me arruína,
Brandura de emoção trazendo assim,
O gosto de ventura vive em mim,
E encontro em tua boca, seda fina.
A flor dos meus desejos sem abrolhos,
Iluminando a vida em claros olhos,
Vencendo a tempestade traz em si,
Amor que imaginei outrora em alma
Que pura, satisfaze e já me acalma,
O sonho mais gostoso que eu vivi...
2345
Mergulho no teu corpo em tal deleite
Trazendo para mim tua ardentia,
O fogo em tua pele me irradia,
Convite para amor que logo deite
Na cama em que o prazer se mostra enfeite
De corpos que se querem, fantasia,
Distante do que fora nostalgia,
Tomando da alegria um puro leite.
Amada, como é bom estar ao lado
De quem nunca cansei de imaginar
Desnuda, num encontro onde suado
Pretendo sem juízo, mergulhar.
Vencendo a resistência, num segundo,
Adentro os teus segredos, e vou fundo...
2346
Mesmo que uma alegria seja breve,
Louvando a vida em cor maravilhosa,
Palavra tão amiga e mais mimosa,
Não deixa mais que caía em fria neve
O tempo transformado bem mais leve,
Fomenta uma alegria graciosa,
Deixando a vida amarga e tormentosa
Distante do momento em que se deve
Saber da glória imensa de se ter,
Uma amizade plena de prazer,
Calando em nosso peito amargas dores,
Amiga não consigo te esquecer,
Contigo é bem mais fácil meu viver,
Pois sabes cultivar jardins e flores.
2347
Não quero mais dentro alma esta tristeza
Que dobra como um sino em duros dias,
Algozes tempestades, ventanias,
Rondando a minha casa em incerteza.
Não quero mais ouvir a triste reza
Daquelas carpideiras, agonias,
As noites solitárias são tão frias,
Distantes de um sentido de beleza.
Não quero mais a chuva no telhado
Nem mesmo a cantinela em ladainha.
Alvíssaras ao meu sonho enamorado,
Que me impregnando traz tanta ternura,
Deixando para trás uma amargura,
Numa emoção sublime que é só minha...
2348
Amor que santifica e faz eterno
A quem em suas garras se entregar,
Aquece com carinho em longo inverno,
Trazendo para nós a luz solar,
Sem ter o teu amor eu me consterno
E passo pela vida a divagar,
Um sentimento doce e sempre terno,
Moldando uma alegria devagar...
Amar demais é ter a juventude
Em toda mansidão em fino trato,
Amor é da alegria um bom retrato,
Além de ser feliz, tanto e amiúde,
Quem ama em fantasia permanece
E tece em sintonia bela prece...
2349
Deitada num dossel, és virginal,
A deusa dos amores te deu luz!
Montado em meu corcel, no longo astral,
Caminho transtornado. Me seduz
O lume que emanaste neste umbral
Do castelo dos sonhos. Andaluz
Cavalo a me levar, na sideral
Trilha, o teu brilho sempre me conduz!
A vida, sem demora me deu vez,
O campo das estrelas no infinito...
A morte de meu mundo se desfez,
O tempo sem querer me deu seu rito.
Emocionado solto um berro, um grito,
Envolto em tal pureza, minha Agnes...
2350
Ao meio dia, o sol deveras quente
Adentrando a janela queima lento.
Imagem deste amor quando ao relento
Sangrava em minha vida tolamente.
Lutando pra viver vou novamente,
Poeira no meu peito toma assento,
Porém ainda sinto o forte vento
Que um dia me deixou quase demente.
Os olhos da morena, sensuais,
Renascem neste horário, em duro sol.
Um dia, esquecerei, e assim não mais
O brilho de uma estrela fulgurante
Que serve para todos de farol,
Retornará, decerto, deslumbrante...
2351
Neste álamo que beira meu caminho,
Meus olhos contemplando teu futuro.
O mundo que parece mais escuro
Em voltas se transforma, bem mansinho.
Nos troncos destas árvores meu ninho,
Pousando tanto tempo sobre o muro.
Amor que me prometes, de tão puro,
Embora sempre deixe mais sozinho...
Em tais vegetações busco meu mundo.
Inundo meus amores de tais flores.
Espero teu amor mais um segundo.
E vejo como és bela e inconstante.
Não deixas que me encontre nos amores
Que fazem com que queira-te, uma amante.
2352
Por tantas vezes sinto que entristece
Um peito em que sozinho já se humilha
Buscando noutro peito nova trilha,
Que ao se perder de fato assim padece.
Pudesse ouvir talvez última prece,
Quem sabe então teria a maravilha
De ter como esperança o não ser ilha
Viver a vida em paz. Não apetece...
Eu sei quanto tu sofres, minha amiga,
Estou sempre ao teu lado, não esqueça,
Se a mão desta tristeza desabriga
Eu te ofereço o braço em todo apoio.
Assim, talvez, quem sabe não padeça
Aquela que conhece o trigo e o joio.
2353
Refém da compulsão que diz amor,
Em versos e palavras, pensamentos
Embora tantas vezes os lamentos
Precedam solução em rara flor.
Aflora em minha pele os sentimentos
Que me fazem ser simples trovador
Na busca do ideal, um sonhador,
Que teima em ter teus beijos como ungüento.
No imenso regozijo de ser teu,
Meu sonho se cumprindo docemente,
Quem teve a fantasia e a perdeu
Não sabe como é bom ser eloqüente
Ao defender com força uma alegria,
Mesmo que seja só em poesia...
2354
Princesa sertaneja, meu desejo,
Estar entre teus braços sedutores.
À noite de trazer num manso beijo,
As luzes que iluminam meus amores!
A fonte do desejo, sem ter pejo;
Envolta nos carinhos destas flores,
Trazendo pr’este peito sertanejo
A certeza e beleza destas cores.
Altiva e tão serena, meu amor.
Os versos que eu te faço, num momento,
São formas mais constantes do penhor
Que trago no meu peito. Não duvide!
Rainha não permite sofrimento,
Princesa com certeza és, Alaíde!
2355
A sorte de um amor quando encontraste
Jogaste na janela em dissabor,
Receba então espinho e mate a flor,
Deixando tão somente uma fria haste.
Segredos que em verdade murmuraste,
Falando assim tão mal de um pobre amor
Não deixam quase nada a te propor
Senão tentar conter este desgaste.
Meu verso ultrapassado vai teimoso,
Que faço se não posso mais conter,
Em liberdade solta a sua voz
E volta novamente caprichoso
Na busca insaciável por prazer,
Tendo em mulher amada a bela foz...
2356
Ao ver-me derrotado e sempre triste,
Ardendo na terrível solidão,
Olhando tão somente para o chão
Pensando que alegria não existe.
Tua palavra amiga tanto insiste
E mostra de repente, a solução,
Deixando para trás caminho vão
Mostrando o renascer que inda resiste
No peito de quem sabe, um sonhador,
Com toda a mansidão e liberdade
De poder ter enfim, felicidade,
Nos braços mais airosos de um amor
Que é feito e modelado em amizade,
Que aos poucos demonstrando o seu valor...
2357
A vida tantas vezes faz chorar,
Nenhum prazer decerto me ofertando,
Apenas devagar, ir desabando
O sonho que não pude realizar.
Quem dera se eu pudesse me encantar
Com aves que revoam, belo bando,
Apenas vou assim, imaginando
Deitando meu olhar por sobre o mar
Que morre e que renasce em branca areia,
Talvez querendo dar-me uma lição
Mostrando que esperança resta ainda
Nos olhar tão sedutor da lua cheia,
Espero que isto toque o coração
E a vida inda ressurja rara e linda...
2358
Amor, apaixonante teu carisma...
Beleza, representas Afrodite...
Teus olhos repercutem todo o prisma,
Quem foi teu criador? Peço palpite...
Nas noites te procuro, velho cisma,
Tanta candura assim, nunca se admite...
Amar-te é conhecer cada sofisma,
Procuro-te, rainha Nefertiti,
Akhenaton, procuro tal beleza,
Encontro a solidão como promessa...
Não posso te negar a realeza...
A vida nunca teve tanta pressa...
No fundo cultivando tal tristeza,
A morte me servindo de compressa...
2359
A saudade me tomando
O tempo quase não passa,
Aos poucos me matando,
Nem sorriso mais disfarça
Eu procuro e não sei quando,
Esperança se esvoaça
Meu castelo desabando
Se perdendo na fumaça.
Velhos sonhos que se foram,
Meus sorrisos de ironia
Tão somente me decoram
Que me dera se eu pudesse
Ter de novo a fantasia,
De um amor que não se esquece...
2360
Tristeza que inundou a vastidão
De um mar em sofrimento, vendaval.
Realça a cada dia o grande mal
Que amor deixou legado ao coração.
Um pobre coração que em ilusão
Achara ser possível, afinal,
Guardar uma alegria sem igual
E morre em triste seca, aborta o grão.
Quem dera se eu pudesse refazer
Caminhos tão terríveis que passei,
Talvez inda restasse alguma cura,
Porém a vida avança sem prazer,
Nem mesmo uma alegria, disso eu sei,
Restando em minha boca, esta amargura...
2361
Perguntas, mas por que; se és minha amada?
Decerto eu sempre tive esta esperança
Do sonho mavioso da criança
Que dorme do teu lado, em madrugada.
Minha alma de tua alma enamorada,
Só guarda maravilhas na lembrança,
Sorrisos e desejos de bonança,
A cada nova noite em mãos de fada.
Amor tão delicado de viver,
Delícias prometidas sem por que,
Decerto desfrutadas com prazer.
Futuro benfazejo então se vê
Nos olhos deste amor, meu bem querer,
Sempre serás amada, cara Aimê!
2362
É necessário, saiba muito amor,
Para vencer o medo e todo o tédio,
A vida nos concede este remédio
Que aplaca o sofrimento, e traz calor.
Apascentando a fúria acalma a dor,
Permita então que amor te faça assédio
E adentre o coração e jamais vede-o
Calando a doce voz, matando a flor.
Amar sem ter medidas, simplesmente,
A quem te gosta ou não, traz lenitivo
Secando as mágoas tantas; água o chão
E muda a nossa vida totalmente,
Deixando o coração bem mais altivo.
O segredo do amor? Pleno perdão...
2363
Eu quero o braço forte da amizade
Guiando meu caminho, passo a passo,
Quem tem sonho de paz e liberdade,
Alcança com certeza um belo espaço
Se tem a companhia deste braço
Que mostra a plenitude em claridade,
Ao estreitar, amiga, cada laço,
Percebo ter vencido a tempestade
Das dores, solidão e desespero
De quem andando só não vê sequer
A luz que o túnel traz, mesmo distante.
Na força da amizade eu me tempero,
E vejo que terei o que eu quiser
Mesmo que seja só por um instante...
2364
Não quero mais incerta claridade
Que tantas vezes queima, outras se esvai,
O sol feito em mormaço nesta tarde,
Promete a tempestade que não cai.
Deixando bem distante a mocidade,
Palavra sem cuidado já me trai,
O sonho de viver, casar, ser pai
Morrendo devagar, mata a vontade.
De um dia ser feliz, mas não me cabe
Sequer sonhar demais, vago sozinho.
Quem teve uma ilusão, seca o caminho,
Espera simplesmente que se acabe,
Na dura tempestade prometida,
O que restou, amiga, em minha vida...
2365
Quem dera tua força, na batalha.
O brio de teus olhos, ó princesa.
A morte sem sentido nunca atalha
Os motes que cantaste, sem tristeza!
És livre e esse teu vôo nunca falha,
Dispara teus desejos, realeza...
Não há dor nem quimera, tens navalha
Pronta p’ra cortar essa incerteza.
Quem vive neste mundo e nunca vê
O brilho da rainha dos meus dias.
Não sabe nem conhece fantasias.
No fundo reconhece bem por que
Independência crias, nas coxias
Do teatro desta vida... Forte Aidê!
2366
Caminho pela vida, simplesmente,
Na semi-morta luz de uma esperança
Aguardo em fantasia a nova dança
Que um dia prometida, qual demente
Escapa entre meus dedos, novamente.
Guardando o que já fui, leda lembrança
Quem dera se eu pudesse ser criança
Recuperar a vida totalmente.
Porém um tédio imenso, uma tristeza
Deitando em minha cama, põe a mesa
Deixando uma vontade de morrer.
Quem teve uma alegria, pelo menos,
Recorda de outros dias mais amenos,
Numa ânsia de sonhar e de viver...
2367
A solidão, quimera mais atroz,
Havia me legado ao sofrimento.
A boca da saudade, mais feroz,
Mordia cruelmente; esquecimento!
Distante de meu peito, ouço a voz,
Sincera e tão venal do meu tormento.
Sou rio que não sinto minha foz,
Destino me deixou, solto no vento....
Embora mais sincero que já fui,
O medo na verdade, contradiz.
Minha alma sofredora, vai perdida..
O tempo da existência nunca flui,
Sou pássaro ferido, qual perdiz...
Só me encontro feliz, se estás, Aída...
2368
Ao vento se entregando uma saudade,
É parte do que fui sem recompensa.
Vagando em noite fria, a dor compensa
O tempo em que vivi felicidade.
Quem se pudesse em liberdade
Alçar um pensamento que convença
O coração insano da força imensa
Que uma esperança traz na realidade...
Amiga, me perdoe o verso triste,
Eu necessito sempre do teu colo,
A planta vai secando em duro solo.
Apenas a amizade inda resiste
E nela eu me apegando posso crer
Que um dia inda haverá o amanhecer...
2369
Ah! Quem me dera fosses meu amor!
Como a vida seria mais completa.
A poesia, amiga predileta,
Companheira, por onde quer que eu for;
Teria enfim, parceira mais dileta.
E nunca mais seria um sofredor,
Quem sempre teve espinhos nunca flor,
No sonho audaz, tentando ser poeta...
Se fosses meu amor, que bela a vida!
Andar buscando glória, sorridente.
Não conceber sequer a despedida...
Sentir o teu perfume que, envolvente,
Penetra nas narinas. Na sofrida
Luta por viver; sentir-me gente!
2370
Juventude perpétua sem queixumes,
Promessas de viver felicidade...
Amar sem sofrimentos, sem ciúmes,
Guardar, bem escondida a vil saudade.
Princesa que me encharca de perfumes
Não quero retornar à realidade!
Na terra dos prazeres, bons costumes,
A fantasia vive na verdade!
Qual Água que em pureza não se iguala,
Perfume de lavanda solto ao ar.
A vida com doçura, calma, inala,
Meus reinos pelo amor de ser teu rei!
Amar é pouco, quero te adorar!
Alessandra, princesa que sonhei!
2371
Querida como é bom ter teu alento
Em tantas tempestades, porto amigo.
Os rios se tomando em tal tormento
Por vezes em cascatas, desabrigo.
Meu canto mais suave sempre tento
Mas tantas vezes, brusco, não consigo.
Mesmo tropegamente, se prossigo,
Não posso mais calar meu sentimento.
Numa amargura, às vezes eu me embrenho,
E fecho, em versos duros, o meu cenho.
A culpa é dessa sensibilidade
Inerente mortalha de quem sonha.
Tua presença sempre tão risonha,
Refaz em amizade, a claridade...
2372
Amiga refazendo em cada verso
Aquilo que sonhei, em luz serena,
Carinho, eu nunca soube que envenena,
Muito ao contrário, salva este universo.
Não deixe que algum sonho mais perverso
Transmude uma palavra mais amena,
A sorte em tua vida, sempre plena,
Jamais permitirá sonho diverso
Daquele que decerto foi o guia
Que leva ao teu olhar a mansidão,
Prefácio de uma vida em emoção,
Que nos redima e trague a cada dia,
O verso mais perfeito, o do perdão,
Que emana de um amor, e o irradia...
2373
Amor que deu cupim, o quê que eu faço?
Não vou dedetizar senão eu danço.
Apego-me e depressa perco o traço
E a noite sem ninguém, sozinho avanço
A casa carcomida não resiste,
Assim como este amor morre calado,
Se eu fico, na verdade vivo triste
Se eu saio, solitário estou ferrado.
E agora o que fazer, me diz José?
Do amor encupinzado que encontrei
Se fosse inda formiga lava-pé
Garanto, era mais fácil resolver,
Melhor mandar querida, o pau comer,
Ao menos de um prazer eu falarei...
2374
Quem dera se eu pudesse te dizer
De toda uma delícia que é sonhar,
Além de toda forma de prazer
É mais, cada vez mais; solto, voar...
As rédeas não me prendem. Finjo ter
As asas que permitam o céu, ar.
Na verdade mal consigo me conter
Numa explosão que trama sem cortar.
Bom dia minha cara companheira;
Amiga que aprendi a ter comigo,
E quero sempre assim, tão verdadeira.
Sabendo que te quero, solto a voz,
Gritando e te pedindo sempre abrigo,
Nos versos e carinhos; laços, nós...
2375
Lagrimas com palavras mais distantes,
Ultimas meus sorrisos, não t'os dou!
As marcas que já trazes nas estantes,
São cantos e recantos, velho grou...
Não posso nem desfio o que fui antes,
Importa-me talvez fingir teu gol!
Respeitos e malícias mais farsantes,
Nada do que disseste me fartou...
A dor em litros, leve-as, pois contigo,
Regozijo-me, obeso sofrimento!
Os cânticos proclamo, num castigo
Que me trazem cinismo e poesia.
É bom sentir, nas lágrimas, lamento...
Na dolorosa noite, uma alegria..
2376
Amar:belo concerto em duas vozes,
Que fazem da harmonia doce encanto,
Na mesma melodia este bel canto
Apascentando dores mais atrozes,
Deixando mais distantes seus algozes
Amores encetando um sonho santo
Distante do talvez e do entretanto,
Encontram-se comuns, as mesmas fozes.
Amar é ter certezas e verdades
E ter nas incertezas, mansidão.
Sonhar etereamente veleidades
Pegar o sentimento com a mão
Saber que a cada dia bem regado,
Amor será bendito, eternizado.
2377
Te imagino no brilho da manhã...
Aurora boreal, um rico encanto...
És fonte de ilusão, num louco afã,
Amanhecer sonoro, lindo canto...
A vida sem te ter, é pobre e vã;
É rio que derrama um mar de pranto.
A vida não será triste e malsã,
O mundo não trará somente espanto.
És sábia, disso sei e te venero,
As mãos derramam tapas de pelica.
Amor que desconheces quando fero,
Na dor que silencia, não desfralda,
Por certo tantos erros nada explica,
Perdoe meus enganos, sábia Alda!
2378
Uma brilhante estrela sobre o mar...
Distante, num saveiro peço cais...
Num ritual insano, te adorar,
Embalde! Me disseste: nunca mais!
A vida que perdi, quero encontrar,
Mas como, se em tristezas, tudo jaz...
Estrela brilha mais do que o luar,
Procuro teu caminho, sou audaz.
Mas a noite responde: estás insano!
Nas Plêiades perdida nunca volta...
Meu peito, magoado, se revolta.
O mundo gigantesco num ciclone,
Meu barco naufragando, meu engano...
Distantes dos teus braços, Alcione!
2379
Não posso resistir ao teu desejo,
Na força que se emana, poderosa.
Nas tempestades, és um relampejo.
Perfume que tu tens, recende rosa.
A noite dos teus passos, sempre vejo
Na força que te faz tão orgulhosa!
Contigo não resisto nem pelejo.
És sábia mas, no fundo, carinhosa!
Meus versos procurando teu carinho,
Em busca destas luzes envolventes.
Te ter é conhecer a fina sorte.
Não posso mais me ver, nem vou sozinho...
Conselhos que me dás, tão competentes,
Tu és, Alcina, bela estrela forte!
2380
Eu venho, amigo, parabenizar
Quem faz de nossa vida um manso rio
Que desce calmamente para o mar.
O sonho mais profícuo, cedo eu crio,
E nele prosseguindo sem parar
Um mundo em perfeição que eu fantasio,
Encontra em suas mãos um bom lugar
Aonde não resiste mais o frio,
Emanas em teus olhos tal calor
Capaz de apascentar quem te conhece,
Reconhecendo, assim, o teu valor,
Eu agradeço a ti, em reza e prece,
Feliz aniversário, companheiro,
Espero estar contigo o ano inteiro.
2381
A manhã me trazendo seus albores
E seus raios solares... sensação
Da abelha fecundando belas flores,
Na eterna primavera... coração!
A manhã, companheira dos amores,
Refaz a nossa vida, é solução
Para os noturnos medos, seus horrores,
Abrindo a porta, fecha a solidão!
Há tanta coisa mais interessante
Que acompanha os solares raios, vida...
As libélulas, pássaros, as cores...
Nossa vida passando em um instante...
A tristeza anestésica, esquecida...
A manhã vem trazendo seus albores...
2382
- À LUCIANO PAVAROTTI
Ninguém irá calar a bela voz
Que tantas vezes foi meu lenitivo.
No sonho e na esperança sempre vivo
Eternamente aqui dentro de nós.
Sabemos : todo rio morre em foz,
Porém o seu cantar tão belo e altivo,
Dele jamais me esqueço e nem me privo.
Mesmo que toda perda seja atroz
Algumas são decerto mais doídas.
Ao embalar em canto tantas vidas,
Encanto que espalhava, o bom tenor,
Deixando-nos sentir tanta beleza
Porém jamais se cala, com certeza
Quem em vida se fez encantador...
2383
Desculpe se te ofendo, minha musa;
Por vezes me esqueci do teu ciúme.
Não fiques assim tonta, tão confusa;
Não posso mais viver sem teu perfume.
A noite se demonstra cega, obtusa
Se não estás. Me perco num queixume,
Se foges de meus braços. Ó cafusa ,
Meus olhos necessitam do teu lume!
Tens no sangue, beleza duma Iara,
De princesa africana esta linhagem.
Rainha dos desejos, da coragem,
A vida te ilumina, jóia rara!
Amar e desejar-te: doce sina!
E m’honras com teus beijos, Albertina!
2384
Entregue a belos sonhos sou feliz,
Caminho por distâncias tão extensas,
Cavalgo o meu corcel. Tanto te quis
Quem sabe assim mereça as recompensas.
De ter esta alegria que se diz
Nos olhos e na boca; noites tensas
Sonhando com amor, a cicatriz
Marcada, bem maior do que tu pensas..
Eu sei que esta demora é aflitiva,
Em cada novo dia, mais aumenta,
Vontade de saber da luz altiva
Que mostra qual caminho vou seguir.
Amada, esta paixão tão violenta,
Pronta no meu peito a explodir...
2385
Ó prenda, nas coxilhas te buscando;
Seguindo o cantar do minuano,
No mate, meu amor se temperando.
Espero te encontrar, mas desengano
Te leva pros arroios mais distantes.
Tomar as tuas mãos, guapa guria,
Vibrar os nossos sonhos delirantes,
Nestas belas estâncias da alegria...
Te guardo na guaiaca-coração,
Não sabes quanto quero-te morena.
Envolto nestas tramas da paixão,
Na sensação divina, amada e plena
De ter teus braços sempre do meu lado,
Mineiro-jardineiro apaixonado...
2386
Os dias em cristais passam gelados,
Apenas em tristezas vou carpindo
Deixando meus desejos resguardados
A solidão, deveras, me vestindo.
Quem dera se pudessem ir alados
Os sonhos que acabaram me ferindo,
Em lúdicas paisagens, prateados
Momentos que se foram, descobrindo
Em garras mais venais, um coração
Envolto em trevas, dura realidade.
Na busca redentora do perdão
Olhares; vão perdidos no infinito,
O tempo vai passando, estou aflito,
Não restou nem sequer uma amizade...
2387
Noite de plenilúnio no sertão!
A lua se fazendo namorada,
Dispara um sertanejo coração.
Em busca da mulher, presença amada!
Por vezes imagino teu perdão,
Por outras vou olhar, não vejo nada!
O mundo se derrama na amplidão,
As mãos mais solitárias sem espada
Que proteja nos ermos do caminho.
Não deixe-me ficar sem o teu brilho,
És lua que ilumina alva e tão mansa
Não posso mais viver aqui sozinho,
Iluminas meu rumo onde vou, trilho.
Nesta brancura que Alba sempre alcança!
2388
Amiga; ao percorrermos o caminho
Cercado por divinas, belas rosas,
As dores vão morrendo, silenciosas,
Feridas tão somente por carinho.
Bebendo da alegria, o doce vinho,
As mãos vão se mostrando carinhosas,
Decerto sempre assim, cariciosas
Permitem que sonhamos com um ninho
Aonde não teremos mais outonos,
Eterna primavera chegará
Portando em belas flores, claridade.
Distante dos terríveis abandonos,
O sol em nossa vida brilhará
Esculturado ao brilho da amizade...
2389
Noite chegando, cais distante e triste...
Mar se quebra, falésias, nas areias...
Um brilho neste céu, longe, resiste.
As mãos tão calejadas criam teias.
Esperando por luz que não existe.
Mares distantes, tristes, incendeias
Na força que carregas. Vais, insiste
No mundo que suportam minhas veias.
Noite distante, nuvens levam ventos.
Os medos, as angústias nesse cais...
O mundo não permite sofrimentos,
A noite renasceu, não morre mais...
A vida se ressurge, vai temprana,
Na força que se emana em ti, Alanna!
2390
Tento fugir, fingir quem nada temo;
Noites e manhãs, luzes mais sombrias...
Repare bem, verás quanto vadias
As nossas travessias sem um remo...
Em todos madrigais, louco, blasfemo,
Procuro versejar tais melodias,
Mas nada restará, nem os meus dias...
A vida verterá demônios, demos...
Queria sossegar os meus tormentos,
Queria conseguir meus pensamentos,
Reinando, soberanos...Fantasia...
A vida preparou sua armadilha,
Tantas vezes a noite vem, me pilha;
Abraçando, abnegado, essa agonia...
2391
Minha alegre menina quero a dança
Do teu corpo, requebros sobre mim;
A noite verdadeira já se avança
E a boca mais sedenta,carmesim...
Alegres os compassos da esperança
Que queimam seu pavio até no fim.
No fogo deste estio, não se cansa,
E sabe que me ganha, inteiro sim...
Tua alegria imensa contagia
E faz de cada gesto a sedução.
Que esquenta todo amor em fantasia
E tudo, sem ter tréguas, contamina,
Ardente como o fogo da paixão,
Na dança tão alegre da menina...
2392
Na voz desta menina mansa trança
Eu tranço minhas pernas e tropeço
Avanço com desejo e não me cansa
A dança que começa e que te peço.
Espero uma esperança noite avança
A moça não decide se mereço
Vontade de deitar, fazer criança
Mas acho que eu errei este endereço.
A chave mil segredos cofre fecha
As pernas permanecem mais fechadas,
Cabelo me entornando em cada mecha
Vedando tuas portas quê que faço?
Às vezes eu as pego descuidadas
Nas pernas eu encontre algum espaço!
2393
Pois “tem que ser agora ou nunca mais”,
Não deixe mais o tempo te levar...
Distante de teus braços perco a paz
Areia que perdeu braça de mar.
Não quero a liberdade que me traz
A triste solidão sem ter amar..
Não vejo a solução de não ter cais
Prefiro sem juízo, naufragar.
Vivendo simplesmente nosso caso
Me caso e não terei felicidade?
Amor quando é demais morre em ocaso?
O prazo que me deste não findou
O rosto, a boca, o gozo; na verdade
Demonstram que este tempo não passou...
2394
Perdidos, bem distantes da verdade,
Pastores vão levando ao desamor,
Ovelhas vêm no escuro, a claridade
Longínqua fomentada no terror.
Amar é conhecer a liberdade
Saber que temos Bom o Grão Senhor,
No Reino onde perdão com amizade,
Permite a plenitude e o esplendor.
Hipocrisia varre o pastoreio
Levando tanta ovelha à perdição.
Cajado que é forjado no receio,
Mentindo e ocultando das ovelhas
A mágica sincera do perdão,
Pastores escondendo estas centelhas...
2395
Em meio a tempestades, fúrias, ventos,
Rajadas e trovões raios, coriscos,
Tornados, furacões nos sentimentos,
Que aos poucos vão ficando mais ariscos.
Os dias se transformam em tormentos,
E passo simplesmente a correr riscos,
Não restam mais pomares nem hibiscos
De tudo o que plantei? Só sofrimentos.
Num torvelinho a vida se arrastando
Amor em solidão se transformando,
Jogado nos penedos da saudade.
Quem dera se esta chuva não caísse,
E o amor nunca deixasse nem partisse,
Conheceria enfim, felicidade...
2396
Durante tanto tempo a vida em treva,
Na frialdade imensa de um granito,
O passo que tentara já se entreva
E teima em não cumprir nem sina ou rito.
A sorte no meu peito faz a ceva
E mostra em teu olhar, meu infinito,
Amor que prometeste tão bonito,
À doce fantasia sempre leva...
Quem veio de outros dias mais atrozes,
Esquece dos seus medos tão ferozes,
Embarca os sonhos em luxúria e cio.
Entregue às sem limites sensações
De corpos em ferozes convulsões,
No paraíso em terra que desfio...
2397
A minha alma fechada quer respiro,
O meu berço quebrado diz de farsas
Nos mundos que não vi, resta um papiro,
Charnecas tristes charcos, meus comparsas;
Na sombra que ilumina vou, atiro...
Não me digas licença nem disfarças,
O canto que vasculho, vou, me estiro,
Voando repetis as mansas garças...
A minha alma transmuda-se em concreto,
Inaudita e feroz, nunca se cala...
Amor que me legaste, vai discreto,
O medo caminhando pela sala...
Perdoes por não ter nem mais afeto,
O gosto que me deixas, pus e bala...
2398
Adentro delicado em teus caminhos,
Extasiado encontro maravilhas,
Sorvendo desta fonte em mil carinhos,
Percebo a maciez em belas ilhas...
Arranco quando houver alguns espinhos,
E perco-me em delírio nessas trilhas,
Um pássaro buscando por seus ninhos,
Ao ver-te em plena festa já me pilhas
Com néctar e manás deliciado,
Matando minha sede em bela fonte,
Sentindo este querer revigorado
Na fome de te ter sem mais segredos,
Em convulsão derramas no horizonte
Enchentes lambuzando nossos dedos...
2399
A noite sempre trouxe uma verdade
Em meio a multidões tão delirantes.
Nas danças, nos salões mais deslumbrantes,
O sonho transformado em realidade!
A lua simboliza liberdade,
Explode em tantos brilhos radiantes
Nos faz sentirmos deuses por instantes.
Transporta do infinito a claridade!
Pois quando estou amando é como a lua
Minha alma dançarina já flutua
Nos salões e nos bailes dos meus sonhos...
Meus olhos são dois lumes, são faróis,
No peito a violência de mil sóis.
Meus dias vão passando mais risonhos!
2400
Minha alma escravizada perde a cor.
O brilho que trazia não reluz!
Nos seus palácios sobrevive a dor,
Pesada, arrasta pelas ruas, cruz...
Lavas, derrete. Não detém amor
Às armas da saudade, velho obus...
Revivendo ascos que me dão torpor,
Minha alma sangra e se escondeu da luz
Tive saída? Solidão me nega...
Já me calei diante disso tudo...
Quem fora amor, a realidade esfrega.
Minha alma serva ja não mais encanta
Palavras calo, ficarei mais mudo..
Essa dor entalada na garganta!
2401
Nesta escuridão plena, um resto perambula...
Meu caminho está cego e nunca encontro luz,
Espelho de minha alma em trevas se reluz,
Quem dera se soubesse a cura. Cadê bula?
Me resta esta penumbra, minha alma deambula
Por mares de tristeza. Efeito que produz
O canto da saudade... enorme, minha cruz,
Afortunadamente, espero que me engula
E não deixe nem sequer os ossos pro banquete
Da saudade chacal. Peito é uma maquete
Do mausoléu que espera a minha alma caquética!
Invoco a tempestade, um lamento terrível
Ecoa em pleno vento, o som dorido, incrível,
De minha decomposta alma fria, anorética!
2402
Vindo de terras nobres e gentis,
Dona dos meus momentos de ilusão.
No tempo em que julgava-me feliz,
Castelo dos desejos: coração!
Meus sonhos, meus anseios mais sutis
Traziam bem distantes a canção,
Minha felicidade por um triz...
Na praia, nestas ondas, no verão!
(Sobre tão bela praia, esta visão)
E eu gritarei teu nome, pelos mares,
Luz mais clara, nobreza feito nome.
Nos campos verdejantes, nos luares,
Nas ondas , nos remansos desta areia...
Uma visagem mágica consome:
Aline, doce, nobre, uma sereia!
2403
Eu bem sei que jamais tu mentirias,
Verdade é aliada e companheira...
O medo destas noites, longas, frias,
Por certo perseguiu-te a vida inteira...
Nas mãos tão carinhosas, ventanias,
Orgulho te servindo de bandeira...
Na chama das mentiras não te ardias,
Na vida, sempre foste verdadeira!
Não há um ser humano que cobice,
Nem queres os engodos da riqueza.
Sem reino tu és mais que uma princesa,
És dona da verdade, cara Alice.
Embora tantas dores isto traga.
Um Deus tão benfazejo já te afaga!
2404
Permita que eu veleje em pensamento
Atrás de um sonho feito em breve espuma
Distantes das repulsas, do tormento,
Amor sem ter destino já se esfuma.
Não quero pressionar de forma alguma,
Mas necessito, ao menos, manso vento,
Do qual, no qual, querida, eu já me alento
E sinto o coração em leve pluma
Guardando eternamente a fria chaga
Teria em sentimento fina adaga
A penetrar constantes ilusões...
Não quero mais saber de despedida,
Preciso te falar de minha vida,
Envolta em tempestade e turbilhões...
2405
Meu álibi, disseste é incabível!
Não tenho mais desculpas a forjar...
Olhaste um coração tão impassível,
As pedras sutilmente, vão rolar!
O resto que sobrou, indefectível,
Não passa de penugem sobre o mar...
Meu álibi, pensei fosse infalível,
Agora que percebo, perco o par...
Ávido dessa vida que vivi,
Não devia vestir tal sutileza...
Por favor, não me julgues de per si...
Mentiras fazem parte deste jogo!
Cobri com mil desculpas, na defesa,
Te peço envergonhado, ouça meu rogo!
2406
Trinca ferro cantando no quintal,
A minha mãe chamando pro almoço,
Água boa, trazida desse poço,
O sol quarando roupas no varal...
A chuva desabando em temporal
A saudade fazendo um alvoroço;
Coração mergulhando no tal fosso
Dos castelos sonhados, bem e mal!
Como pude perder minha inocência,
Minhas tardes, envoltas nos problemas,
Pai pedirei, então, Vossa clemência!
Pois voltar, se pudesse, a ser criança,
Seria libertar-me das algemas,
Presas em tais fantasmas da lembrança...
2407
Nas mãos tão delicadas novo brilho,
Nos olhos esperança destacada.
Desejo teu amor como estribilho,
As noites que passamos, na calçada.
Surgiste do infinito, já me pilho
Em loucas fantasias sobre o nada.
Por certo, tantas vezes eu me humilho,
Na incerteza cruel, desesperada!
Em vias de loucura, cara amiga,
As tuas mãos são bênçãos divinais.
Ajudas a aplacar a dor antiga,
Daqueles que precisam deste cais.
Alexandra ,também da humanidade,
Faço parte, eu te peço caridade!
2408
Saber-te companheira em cada passo
Que tramo na procura deste sonho,
Vagando pelo céu ganhando espaço,
Promessa de um momento mais risonho.
Amada amiga, a vida se bendiz
Nos braços carinhosos que ofereces,
E digo, novamente, eu sou feliz,
Pois tenho a sensação de altar e preces
No cais, no ancoradouro soberano
Que encontro, meu amor, em teus carinhos.
Assim um sentimento bom, temprano,
Virá direcionar os meus caminhos
E os passos eu darei com tal firmeza
Inundando a ventura com beleza...
2409
- AMO VOCÊ, QUERIDA
Teu corpo delicado e tão lascivo
Deitando esta paixão mais violenta.
Num átimo explodindo já rebenta
E mostra este desejo imperativo
De ter tua nudez, ser compulsivo,
Enlanguescente vem e me apascenta
A noite ao derredor passando lenta,
Em tua pele amor em fogo, eu crivo.
Nas atrações insanas, louco gozo,
Derramo no teu corpo, em afluentes,
Os néctares profanos da luxúria.
O tempo do teu lado, precioso,
Total penetração em lagos quentes,
Volvendo num momento, a plena fúria...

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