quarta-feira, 21 de abril de 2010

HISTÓRIAS DE UM REPENTISTA VOLUME 24

3986
Meu coração procura um manso ninho
onde, passarinheiro encontre a paz.
Pois o peito/andorinha se sozinho,
verão não reconhece e nunca traz.
Bebendo de teu corpo todo o vinho,
que julga ter direito e ser capaz.
Batendo tanto tempo tão fraquinho,
dispara, simplesmente e quer bem mais.
Eu te amo e jamais nego a minha sina
de ser feliz somente ao lado teu.
Tanta alegria,amada sempre mina
dos olhos de quem veio em salvação.
Há muito que meu sangue se verteu
nas veias, nas artérias, coração...
3987
Muitas vezes, entregue aos meus tormentos,
Adormeço nos jardins dessa casa.
Sem saber, mergulhando numa brasa.
Procuro me esquecer dos velhos ventos,
Vagas vozes volvendo, ventos lentos,
Todos os totens, tolo o tempo atrasa.
O quanto que procuro se defasa
No jasmim nos jardins dos sofrimentos...
Em mim, nada assim, símio sinto o fim;
E cravo o desagravo dentro em mim.
Nos galhos da roseira sou espinhos...
Nas dálias, peito em tralhas fiz enredo
Desses lírios, delírios, meu segredo
Hibiscos, passarinhos... perco os ninhos...
3988
Quero poder amar com liberdade,
Que não precise nunca mais mentir...
Quero poder viver, nada pedir,
Não esperar sequer pela saudade...
Atracar no cais, barco em tempestade,
Com toda proteção, poder fugir...
Não ter medos, segredos por aqui;
Minhas âncoras, Porto Soledade,
Saveiro, refletindo sobre o mar,
À sombra que roubou desse luar.
Nas correntes marinhas ir sem rumo...
No meio dos sargaços; flutuar,
Em meio a vendavais, manter o prumo
Na doce sensação de livre, amar.
3989
Meu medo caminhando o seu naufrágio,
Procura nas barcaças meu destino;
Esqueceu de saber qual o presságio
Guardado fosse guia, atroz, mas fino...
A vida, transcorrendo em cada estágio,
Renova-se no riso do menino
Esquecido no canto, embora frágil,
Percebe logo amor em desatino
que é sempre a paga, lívida e cruel.
Buscando essas estrelas do seu céu,
encontra tão somente estas mortalhas,
de amores que se foram nas batalhas,
Nas defesas que tento conhecer
Aumentarão apenas meu sofrer...
3990
Meu medo caminhando o seu naufrágio,
Procura nas barcaças meu destino;
Esqueceu de saber qual o presságio
Guardado fosse guia, atroz, mas fino...
A vida, transcorrendo em cada estágio,
Renova-se no riso do menino
Esquecido no canto, embora frágil,
Percebe logo amor em desatino
que é sempre a paga, lívida e cruel.
Buscando essas estrelas do seu céu,
encontra tão somente estas mortalhas,
de amores que se foram nas batalhas,
Nas defesas que tento conhecer
Aumentarão apenas meu sofrer...
3991
O coração tristonho de um poeta
Que o tempo corroeu sem esperanças,
Na casa adormecida e tão dileta
Somente alguns resquícios das lembranças
De um tempo em que pensara ser completa
A vida em alegrias, festas, danças.
A morte se aproxima e se repleta
Das velhas sensações, outrora mansas...
Mas tudo o que se fez, pagou seu preço,
Assombrações vagando em noite escura.
Amor até mudou seu endereço
Deixando um coração que envelhecia
Distante dos desejos de ternura,
Morrendo em solidão, triste e vazia...
3992
Caminhos que nos levem mundo afora
Além destas notícias dos jornais.
As dores e maldades jogo fora
O mundo se mostrando muito mais
Que toda a sensação que tenho agora,
Do medo que nos toma e mata a paz.
Passando pelos mares, ilhas, rios
Ardendo nas queimadas da ilusão.
Tocando nestes nervos, olhos, fios
Dizendo da amizade e do perdão.
Povôo os corações que sei vazios,
Com todos os sentidos da emoção.
Os passos prometidos, liberdade,
Os laços bem mais firmes da amizade.
3993
Beleza não põe mesa meu amor,
Mas ajuda querida a ser feliz.
Um rosto ao bonito e sedutor
É nessa vida inteira o que eu mais quis.
Sorriso tão suave e tentador
Da moça que se fez tão bela atriz
Tu sabes, tem por certo o seu valor.
Beleza quero sempre e peço bis.
No fundo, um coração também ajuda
Uma pessoa boa tem encantos.
Uma alma que na dor já nos acuda
Merece nosso amor, nossa amizade.
Matizes de beleza, tantos, tantos...
Cada ser tem a sua claridade...
3994
Maio primaveril, aqui outono...
mostrando tantas cores, raro céu;
deitado e tão distante no abandono,
quem dera se tivesse um bom corcel,
por certo voaria até chegar
ao Porto dos meus sonhos, terra bela.
A voz que vem chegando de além mar,
riscando num segundo, minha estrela.
Dizendo deste amor que é meu amparo,
nas cores de uma aurora divinal.
Voando em pensamento, nunca paro,
saido deste trópico outonal
chegando de surpresa, sem aviso,
buscando lado a lado, o paraíso...
3995
Cantando o nosso amor em serenata
Nas noites entre estrelas e luar.
Paixão que nos domina e arrebata
Vontade de contigo namorar,
Reflexos te tocando cor de prata
Nas mãos este desejo a dedilhar
Canções e corações, amor nos ata
No sonho tão gostoso de sonhar.
Amada não descanso um só minuto,
Meu coração que outrora fora bruto
Em tua voz macia já se acalma,
Nas tramas deste amor, percebo o quanto
Amar é se entregar ao teu encanto,
No mergulho que faço, de corpo, alma...
3996
Sentindo tua pele me tocando
Na noite que se esvai, silenciosa,
O brilho desta lua iluminando
Mulher que tanto quero, maviosa.
Contentamento imenso aconchegando
Teu corpo contra o meu. Perfume e rosa.
Te quero sempre mais e te recebo
Imersa nos meus braços, u’a sereia,
O teu semblante calmo assim percebo,
À medida que toma, o fogo ateia
No sonho desejoso onde concebo
A sorte deste amor. A lua cheia
É nossa testemunha noite afora,
Amor se renovando sem ter hora....
3997
Seguindo o teu compasso, minha amada,
Adoro cada passo que tu dás.
Viver em forte laço, temer nada,
A cada novo abraço, a mesma paz.
Amor contigo eu faço, madrugada,
Deitado no teu braço, sou capaz.
Não quero ser apenas teu amigo,
Nem quero mais a dor da solidão
Em ti encontrei tudo o que persigo,
Contigo bate forte o coração.
Amor separa o joio, salva o trigo,
Tu és o meu segredo e salvação...
Venha amor; não temas a saudade
O nosso amor reflete a liberdade...
3998
Olhando tua imagem, galeria,
Nas portas, num vitral, numa emboscada.
Reparo num segundo como és fria,
A boca que me morde, escancarada...
Uma águia que devora minha cria,
Depois, dissimulando a gargalhada,
Deixa-me sem saber se é noite ou dia.
E fico abandonado, na calçada...
Heráldica tormenta vai noblíssima,
Escaras meu agreste coração...
A mão que me acarinha, branca, alvíssima.
Não mostra na verdade quem tu és...
Não tenho nem resquícios do perdão,
Embalde me joguei ,tolo, a teus pés..
3999
Ao ver que tu seguiste outro caminho
Distante do que tanto desejei,
Prefiro prosseguir assim sozinho,
Mas saiba que em verdade eu tanto amei
Alguém que me marcando com carinho
Fazendo-me sentir tal qual um rei,
Depressa abandonou o nosso ninho,
E nessa solidão eu mergulhei.
Espero que tu sejas mais feliz
Ao lado de quem vives; minha amada,
Seguindo novo rumo, nova estrada,
Carrego inda comigo a cicatriz
De um tempo em que contente imaginara
Que um grande amor, enfim, eu encontrara!
4000
Janelas bem abertas, peito exposto,
Sem tréguas nem temores nas trincheiras
Deixando a sensação de estar disposto
A ter as emoções mais verdadeiras,
Sentindo todo o bem do doce gosto
Trazendo em suas mãos essas bandeiras
Moldadas em sorrisos no meu rosto.
Sem promessas escadas ou ladeiras.
Acolho o sentimento benfazejo
Que toma a minha casa sem licença.
Fazendo do seu sonho o meu desejo.
Numa ternura rara, pois imensa,
A sensação da boca aberta em beijo
Numa certeza plena em recompensa...
4001
Amores, sofrimentos ,risos, gozos...
Em dias tão difíceis, solidão...
Noutros momentos somos andrajosos,
Mendigos que procuram por perdão...
Os dias sempre assim, tempestuosos
Maltratam um faminto coração
Que busca em mil amores belicosos
Caminhos bem distintos, solução.
Na dor da perda eterna sem ter sido,
Na dor de se saber somente resto.
Assim talvez, amor já não empresto
E sinto-me, por isso enfim vencido
Da dor deste desejo que é fatal;
A vida se passando... eu... filial...
4002
Não creio em teu amor que quer disfarce
Em outros corpos sempre que recorda
Mudando tão somente noutra face
Atando teu carinho em outra corda.
Não creio em sentimento que se embace
Quando teimosamente a vida aborda.
Não creio que a saudade logo passe
Nem que reste expectante em fina borda.
Tu tens outros amores, sensações;
E neles é que afogas tuas mágoas.
Depois ao perceberes ilusões
Culpando-me por ter nova paixão.
Se o rio vai correndo em outras águas,
A culpa é de quem não teve perdão.
4003
Nós somos os retratos mais fiéis
De tudo o que nos move, sentimento.
Andamos em conjunto, estes corcéis
Bebemos deste vinho, num momento
Sabemos da verdade destes méis
Voamos liberdade em mesmo vento.
Longe destes tormentos mais cruéis
Usando uma alegria como ungüento.
Levamos nossas mãos no mesmo andor,
Com corpos imantados bem unidos,
Fazendo de nós mesmos; refletor.
Enraizamos sonhos em conjunto,
Destinos num só rumo estão cumpridos,
Num mundo que se faz pra sempre junto
4004
Vagando por teu corpo, meu navio
Na busca dos naufrágios e tormentas.
Invado com jangada cada fio
Nas trilhas delicadas, doces, lentas...
Vislumbro a maravilha de teu porto
E jogo meus sentidos sobre ti.
Vou manso e tão feliz, vou quase absorto
E sinto que em teus mares me perdi.
Apenas mergulhar e nada mais,
Bebendo cada gota labareda,
Recebo todo orvalho deste cais
Adentro devagar esta vereda
Que leva com carinho e com malícias.
Ao mundo deslumbrante em mil delícias...
4005
Amigo, eu sei que é dura uma saudade
O amor nos conduzindo, muitas vezes
Nos rouba sem saber, felicidade
Por dias, por semanas ou por meses...
Eu também já passei por dissabores
Bem sei quanto é cruel a solidão!
A vida vai chegando aos estertores
A morte nos parece solução!
Amar demais traz sempre este tormento,
Cortando em nosso peito, a desventura.
Sangrando vilãmente em sofrimento
A vida nos parece uma tortura.
Porém não desanimes, companheiro,
Um novo amor virá, mais verdadeiro
4006
Buscamos nossos eixos, nossos fios,
Atando nossos corpos; firmes laços.
Descemos correntezas, fontes, rios,
Em firmes, decididos, fortes passos.
No embalo deste sonho, vamos fundo,
Nós somos de nós mesmos, cobertor.
Não temos mais segredos, mesmo mundo
Que é feito sem ter medos, puro amor.
Das pernas tão cansadas de outras sendas,
Revigoramos lutas e esperanças.
Nos olhos não deixamos mais que vendas
Impeçam de tentarmos outras danças
Rompendo mil palácios ou impérios,
No amor/felicidade os ministérios...
4007
Bebamos dos rocios femininos!
Nos cios os meus ócios são bem vindos.
Decifro na nudez meus desatinos
Duros tempos de seca já vão findos.
Nas ancas bem fogosas, meus anseios.
Requebros e maneios, montaria.
Meus lábios percorrendo belos seios,
Carnificina feita em euforia.
Na dança que se dane a louvação
Ação premeditada lavando a alma.
A boca sem saber premonição
Invade a toca, aloca e não se acalma.
Ao bagunçar assim este coreto,
Milhões de paraísos eu cometo!
4008
Sargaços e bagaços, ossos soltos,
Expostos em meus olhos, fome e riso.
Meus versos contrafeitos vão revoltos,
Ascetas não adentram paraíso.
Nas metas que se encetam, amor/gozo,
Facilidade a prazo no cartão.
Vencendo o chato karma pedregoso,
Acendo a estupidez do coração.
Ao ver coxa morena e tão roliça
A flor do meu desejo já se ouriça
E vem fazer bagunça no meu peito
Dos bagos e bagaços faço desta
Palavra que bagunça e vira festa
Deixando para trás qualquer conceito.
4009
No coração selvagem que se arrisca
E pula o precipício da paixão,
A faca que me toca e logo risca
Nas farpas produzindo a sensação
Que ao mesmo tempo salva e me confisca
Nos sons de uma temível explosão
Desejo na verdade se faz isca
Apascentando a fera coração.
Em tua cabeleira solta ao léu
Mergulhos no infinito de nós dois,
A chama permanece no depois,
Bebendo as tempestades vou ao céu
E nele navegando eternidade
No amor que desconhece saciedade!
4010
Eu quero teu melhor sorriso, irônico...
Viver em teus desejos, os mais santos...
Rasgar, sem perceber, todos os mantos,
Poder sorrir contigo, amor platônico!
Longe de tua boca, vou agônico,
Não sei de abissais mares, celacantos,
Nem quero mais cobrir-te, seus quebrantos,
Por certo, ao te ver, resto catatônico.
As tuas mãos, centelhas são tenazes.
Cravando tuas garras mais vorazes,
Devoras, louva-deus, nada mais sobra...
Te quero, venerando teus engodos,
Penetras mais sutil, teus eletrodos,
Os teus olhos hipnóticos de cobra...
4011
Nunca ninguém que te conhece pensa
Nas tuas cicatrizes, nos teus lanhos...
Éramos, sem sabermos, dois estranhos,
A quem a morte sorria; clara e densa...
Vivíamos em fuga, atroz ofensa,
Computando agonias como ganhos...
Embebido nos teus olhos castanhos,
colecionava a dor de uma descrença.
Minha alma se mostrando em tal fastio
Negando a correnteza, mata o rio.
Nas águas nauseabundas se afogavam
Tuas linfas, quais ninfas me excitaram,
E num jogo indecente me mostraram:
Criaturas insólitas se amavam!
4012
Roubaste o meu sossego e mesmo assim
Não deixo de querer tal tempestade
Matando do meu peito a liberdade
Ao latejar amor dentro de mim.
A vida que já fora, outrora, clean,
Num tormento que açoda e que me invade
Deveras esqueceu tranqüilidade,
Tormenta do começo até o fim.
Paixão me avassalando, faz estragos,
Delícias de carícias e de afagos,
Sombrio maremoto no meu peito.
Na paz que desde agora é movediça
Florada num esterco, forte viça
Maltrata me deixando satisfeito...
4013
Não temo mais o frio nem o fogo
Não quero mais nem ódio nem rancor.
Acendo o quanto quis em nosso jogo
Ascendo à magnitude deste amor.
Não quero um simples lago em que me afogo
Um mar de imenso sonho, a te propor,
Sabendo desde sempre o quanto, logo
Meu corpo com teu corpo justapor.
E sem fronteiras, perto é o infinito,
À caça dos jardins celestiais,
Nos lúdicos passeios sensuais,
Teus seios, minha boca... Necessito
Dos olhos e dos lábios que navegam
Por óleos que; trocados, não se negam...
4014
Na sede que se mata a cada gole
De amor e de carinho e de amizade,
O sonho de alegria nos engole
Deixando para trás a falsidade.
A pedra quando encara a pedra mole
Desfeita pela força de vontade,
É como uma esperança que decole
Trazendo para a vida qualidade.
Amiga é muito bom saber de ti,
A companheira exata na hora certa.
Que sabe quando deve, num alerta
Sanar os descaminhos que vivi.
Enfática palavra que reluz
Uma amizade em glória se traduz!
4015
Os olhos sequiosos numa busca
Em torno de milhares de falenas,
O quanto a luz dos olhos já se ofusca
Deixando entre as estrelas; luzes plenas.
O sonho mais simplório se rebusca
E as noites não serão jamais amenas.
Palavra antes sincera, hoje patusca;
Amarga quem queria amena cena.
Gotejo purulentas e baldias
Esperanças sem termos nem palavras.
Na seca que destrói as minhas lavras
As noites com certeza serão frias.
Talvez inda persista algum resquício
Que possa nos salvar do precipício.
4016
Minha alma, dura, fria, atroz, basáltica,
Lagrima, solitária, cisma errante...
Não fora, mais feroz a cada instante,
Minha alma, traduzindo cosmonáutica...
Vagueando os espaços, mares, náutica,
Espreita pela porta vai mutante.
Quebrando essa cadeira, mesa, estante...
Viaja pelos ares, astronáutica...
Alma, solfejo e sofrimento, pasmo,
Asco, frasco retrátil e marasmo...
Cúmulo tumular, tubular sonho...
Perfume e fuga, frágil como o nada,
Asperge vai desfeita, figurada,
Criando um formidável mar medonho..
4017
Eu te trago de tal forma entranhada
Perdendo os meus limites, sigo em ti.
É pouco te dizer que me perdi
Em teu corpo, seqüência demarcada
De rios, afluentes, foz e estrada,
Fronteiras? Com certeza as esqueci.
Tampouco se liberto eu já vivi.
De tanto que sou teu, não peço nada.
Na terra movediça em que vivemos,
Os olhos tão distantes seguem mares,
Desta água apodrecida que bebemos
Durante muito tempo foi servida
Matando em nascedouro meus pomares,
Tentando agonizar a nossa vida...
4018
Embora assim tu queres parecer,
Bem sei que esta guerreira, feminina,
Na mansidão enorme me faz ver
O quanto me conquista e me domina.
Sabendo que envolvido em tal prazer
A sorte que se fez tão cristalina
Não deixa outro destino se antever
Senão o que tão belo descortina...
A força delicada mostra assim,
Com calma este poder que nunca nego,
Dominas totalmente, tudo enfim,
És mais do que tu pensas, meu amor,
No mar de amor que junto a ti carrego,
Estampas toda a glória aonde for.
4019
Lágrimas, os tormentos, convulsões.
Dilacerados, torpes, tais horrores.
Açoitantes lamentos sangram dores,
Nas cortinas vorazes, podridões
Quem soubera servil matou perdões
Quem não vira um ser vil como os amores,
Não servira. Nas iras; multicores,
As margaridas sangram corações...
Receba o simples mártir do universo,
As labaredas queimam todo cerne.
Não resta quase nada do meu verso.
Da podre carne surge nova vida,
Aurora vem da noite já perdida,
Assim também o amor, temível berne...
4020
Não quero que tu sofras se eu morrer,
A ausência nunca existe na verdade,
Mesmo que seja apenas na saudade,
Amor perenizando faz viver.
A morte no teu peito se ocorrer
Não sofra, restará nossa amizade,
Talvez algum resquício em claridade
Do tanto que brilhamos no prazer.
Prazer de ter alguém ao nosso lado,
Neste caminho longo e complicado
Da vida que se irmana em harmonia
Se ainda, mesmo assim, não resistir
Mais nada amor, jamais vou impedir
Teus passos rumo ao belo e claro dia.
4021
Sonhei contigo; velha chaga amiga...
Buscava, em vão, a paz que nunca tive;
Por lares, bares, onde sempre estive.
Na excelsa febre, vida inda periga...
Teus látegos cortando sem fadiga;
Expondo a carne, rasgos, inclusive.
Faziam de meus olhos, um aclive,
Por onde devoravam cada espiga,
Gotejando sanguíneas as demências...
Pedi a esmo aos deuses, por clemências,
Restavam-me somente, velhos medos...
A velha chaga ria-se de tudo.
num corte tão sutil inda me iludo
E tendo desfazer os meus enredos...
4022
Num lânguido tormento, me seduzes,
Seios e devaneios me provocam,
As vozes da volúpia, que me tocam,
Transformam tolas formas, novas luzes...
As ondas de desejos que produzes,
Inflamam os meus versos, que te invocam...
Meus feitos mais perfeitos se retocam,
Teu corpo incorporando minhas cruzes...
Percorro teu veludo, velos, pelos
Navego teus venenos nego vê-los,
Deliro tua lira na minha’alma...
Amansas minhas danças, minhas lanças
Destinos contra sensos, vais, alcanças.
Na vésper estrelar, reluzes calma...
4023
Solidão; fúnebre maltrata tanto...
Não deixa pedra sobre pedra em mim,
Cruel fantasma és um sinal d’espanto
que me persegue, feroz, destrata assim,
Causando o medo, recebendo o sim
Como prenúncio do não, nunca canto,
Meu principal sonho seria, enfim;
Poder voar livre, tirar seu manto...
A solidão, feroz arma, corta. Sabre
Pairando sobre meus sentidos, mata...
Nem sequer sabe que tal chaga s’abre...
Nos meus delírios, solidão, matando,
Marcando todos meus momentos. Ando
Nessa procura, insanamente ingrata.
4024
Depois de semear a tempestade
Por tempos mais distintos, minha vida,
Depois de discutir felicidade
Em hora tão marcada quão doída.
Depois de procurar com ansiedade
A porta que mostrasse uma saída
Depois de renegado assim, quem há de
Cobrar minha esperança adormecida.
O tempo que é senhor, portanto rei,
Aos poucos me mostrando nova dança
Que é feita deste sonho que encontrei
Contigo, minha amiga em aliança,
Depois de tanto fogo que espalhei,
Agora só espalho uma bonança..
4025
Nas noites frias quando enfim, não tenho
O calor de teus braços me acolhendo,
A tristeza invadindo tudo, fecho o cenho,
Pouco a pouco perdido; irei morrendo...
Mal acredito, nada resta. Venho
Meus caminhos, tortos, me perdendo...
Nessa procura, no vazio embrenho;
Não consigo saber nenhum adendo...
Te quis, decerto essa certeza foge
Não me deixou, sequer, sentir o alforje
Que pesava atroz, me machucando os ombros...
Não sei mais repartir sequer o peso
De tanto que sofri, sigo indefeso
A recolher meus restos dos escombros..
4026
Mergulhada num lago sem saída,
Encontras as quimeras que me deste
As roupas que vestiste, toda peste
Que cultivavas numa torpe vida...
Não te salvarei, deixo-te perdida,
Afogada na mágoa que te veste,
Sem nem sequer rezar para que reste;
De teus sonhos, alguma sobrevida.
Nas águas podres, pestes e vorazes
Predadores te beijam, mais audazes...
Sugam teu sangue, matam lentamente...
Minha vingança tarda, mas não falta,
Apagar todas luzes da ribalta,
Aplaudindo espetáculos, somente...
4027
Sentir a brisa mansa que me enleva,
Trazendo este prazer imensurável.
Carinho gigantesco sempre ceva
Sorriso tão gostoso e mais amável.
A vida, de repente, não mais neva,
Neste calor além do imaginável,
Não temo solidão, terrível treva;
Depois que te encontrei, tão adorável...
Semeias alegrias, mil encantos,
Tu és a glória plena, ser feliz.
Morena, me inebrias com teus cantos,
Menina teus ciúmes são delícias.
Vivendo do teu lado o que mais quis,
No turbilhão gostoso de carícias...
4028
Amada amiga amante, rosa rara,
Aguardo o teu carinho em ansiedade
Nesta emoção que espero, bela e cara,
Poder usufruir felicidade
Ao lado de quem sempre me antepara
Com braços e sorrisos de verdade,
Adoça a minha vida tão amara
Mostrando este prazer da liberdade...
Beijando tua pele, cara amiga,
Tornando cada olhar mais prazeroso,
Que a sorte ao nosso lado assim prossiga
Trazendo uma alegria que é sem fim.
No gesto mais amigo e carinhoso,
Onda do amor que veio para mim..
4029
Quem me dera viver eternamente
Quem me dera saber felicidade
Quem me dera o prazer sempre presente
Quem me dera o querer da mocidade.
Quem me dera este brilho dos teus olhos
Quem me dera este trilho dos teus passos.
Quem me dera os perfumes, flores, molhos
Quem me dera o calor dos mansos braços.
Quem me dera o teu corpo junto ao meu
Quem me dera o sorriso da vitória
Quem me dera esta luz em pleno breu
Quem me dera esta lua merencória...
O bom Deus escutando um sonhador
Presenteou-me com nosso imenso amor...
4030
Essências indianas, pantanais...
Sacrários cristalinos, alabastros...
Vertiginosamente caem astros,
A vida se reforma e quer bem mais...
Nos templos eregidos, tais cristais,
Persigo teus presságios nos teus rastros,
Quem fora tal bandeira, simples mastros,
Vagando procurei por teus sinais!
Noctâmbulos vampiros bebem sangue.
Crustáceos mais diversos, podre mangue.
Te quero, meu suor transpira essa alma!
Pudesse, simplesmente, tua calma...
Respiro teu bafejo, pira e fogo.
Minha alma se perdendo no teu jogo!
4031
Necrofágicas larvas te beijando...
O tempo não mais pára nem repara.
Tua vida esvaída se antepara
Nesses vermes famintos devorando...
A tua boca aberta se tornando
Uma enorme caverna. Foste cara,
Mas nem uma palavra diz, dispara...
A noite eterna, tétrica, chegando...
Nauseabundos olores te perseguem,
Mergulhaste profundo, negros fossos...
Sequer os que t’amavam mais conseguem
Resistir a tais fúnebres cortejos.
E quando não restar sequer os ossos,
Enfim eu poderei te dar meus beijos!
4032
Saudade deste tempo tão feliz
Jogado nos porões de um existência.
Voltar para o passado, um aprendiz
Seria um ato simples de clemência.
Um coração marcado em cicatriz
Levando um sonhador a tal demência,
Vagando bar em bar... Tanto te quis!
Agora só me resta a penitência
Das noites pelas ruas, avenidas...
Dos meus sonhos desfeitos; nada, nada..
Somente as noites frias, as calçadas...
Ao longe... Nossa música a mostrar
Quão foram diferentes nossas vidas...
Só me restam sarjetas... Boulevard...
4033
À noite te sentindo do meu lado
Por certo, estou mais forte e mais sereno.
Teu rosto tão bonito e delicado
Deixando este ambiente mais ameno.
Depois de tantas dores do passado,
Bebido sem sentir, tanto veneno,
Encontro no teu braço enveredado
Um mundo que sonhara, vivo e pleno.
Enrosco minhas pernas entre as tuas
Aninho-me contigo num só ser.
As pernas bronzeadas, quentes, nuas
Na languidez parece que me diz,
Que em toda esta delícia, teu prazer;
Até que enfim, querida, eu sou feliz...
4034
Tomada pelo amor, a eternidade,
Além de todo o tempo, além da vida.
Transcende o sentimento. Na verdade
Se mostra, redentor, nossa saída.
Embora tão constante, esta saudade
Redime minha sorte já perdida,
Poder te amar com toda a liberdade
Tocado pela luz tão distraída.
Eu sinto esta presença em cada dia,
Não sabes mas estás dentro de mim,
Motivas meu viver, minha alegria
Eterna sensação de estar contigo,
Vivendo nosso amor até o fim.
Meu passo, par em par, assim prossigo...
4035
Um sentimento enorme que enobreça
Os olhos de quem quer ser mais feliz,
Permite que esperança sempre teça
A vida que sonhamos, que se quis.
Não deixe que a tristeza te enfraqueça
Amiga, corrigindo a cicatriz,
Fazendo com que a alma não se esqueça,
Felicidade cura e pede bis.
Nós somos passageiros, simplesmente,
Da nave genial que nos transporta.
Aberto o coração, cabeça e mente,
Quem sabe num futuro em puro alento,
Abramos da alegria nova porta
Que mate, sem ter pena , o sofrimento?
4036
Quando eu escuto a voz feroz dos medos,
Viscosa, essa serpente vem e invade...
Rasteja até chegar, nem cedo ou tarde,
Vertiginosamente meus segredos...
Na vasta, rubra esfera, travo os dedos...
Quero o gosto nefasto e mais covarde,
Os enganos as farsas, gozos ledos...
Fingindo nas penumbras, claridade...
Pegajosas as tramas que preparas,
Mentirosas as rosas que perfumas,
Nas manhas, tarde, noites, vais, esfumas...
Eu recebo teu beijo quais escaras
Não sobreviverei, vou de repente,
Morto por esse amor; cruel serpente...
4037
Obrigado Senhor por estar cego
E não ver esta canalha Te explorando,
Na cruz foi bem suave cada prego,
Pior é nas Igrejas ir sangrando.
Obrigado Senhor por estar mudo,
Assim minha palavra se tempera.
Ao ver Teu povo frágil e miúdo
Servido no jantar da besta fera.
Obrigado Senhor por ter cortado
Meus braços e também as minhas pernas,
Consigo deste jeito estar parado
E não matar em fúria algum covarde
Encontro as redenções que são eternas,
POIS TENHO DENTRO EM MIM, A LIBERDADE!
4038
Entrando tantas vezes pelo cano
Não aprendi na vida a ser sacana,
Embora guarde em mim o desengano,
Eu sei da podridão da raça humana
Tem gente disfarçada de bacana
Gatuno sem vergonhas, um bichano
Nesta arte de roubar, mas não me engana
Enquanto sacaneia já faz plano
Renova o repertório de trambiques,
Os barcos naufragando nos seus diques
Cambada na verdade é bem astuta
Traíras, não conhecem a amizade,
Sorrisos, quando dão, de falsidade.
Ó turma de pilantra fédaputa!
DEDICADO A UM MÉDICO, GENTE FINÍSSIMA E A SUA
SECRETARIA DE SAÚDE
4039
Cartas jogadas sorte desafio...
Nos dados, rodam, giram... Nas roletas,
Olhos negros, vermelhos. Sina, cio...
Tudo passando, luzes violetas...
Estás distante, estática. Eu me fio
Nos lunares lunáticos...Lunetas
Mirando espaços; louco tempo, estio.
A sorte não bafeja, lambo as tetas
Da ganância; mas falta puro leite.
Não há sequer ninguém que isso aceite,
As cartas viciadas gritam não!
Espero o final, lento inexorável,
Quem me dera tivesse mais amável,
A lança que perfura o coração!
4040
Coração beduíno, meu deserto...
Nos oásis buscando pela vida,
Cansado de sofrer, da despedida.
Vontade de estar longe, estando perto.
Coração, navegando em mar aberto,
Distâncias que percorre a nau perdida.
Cansado de bater, pede guarida.
Cruel busca incessante, vive incerto...
A cada batimento vai mais fraco,
O espelho em que te miras, mais opaco.
A vida não convida para a festa!
Nas tuas rebeldias, foste herói.
Agora a tarde vinda e como dói...
Nada, nem coração, enfim me resta!
4041
No teu ateliê, refaço a vida,
Nos detalhes sutis, nos mais profundos.
Teus dedos na magia, novos mundos
Desfilam nesses corpos, na esquecida
Arte. Pois professaste da ferida,
A grandeza estrelar. São nauseabundos
Para quem não conhece; rasos, fundos,
Beleza transportada em cruel lida...
Bisturis, as tenazes, a costura;
As pinças, as lembranças, vida dura...
E negas, no trabalho a velha dita...
Refazes o que fora vida morta,
Semideus, tens nas mãos, a nova porta,
Nas suas mãos, da morte ressucita...
4042
Resta somente um passo. Dos abismos
Adivinho a presença da desgraça...
Tudo roda, vou trôpego e me embaça
A vista, já prevejo cataclismos...
Nada me restará nem exorcismos,
A vida sempre foi cruel trapaça.
Fendeu, quebrou, rachou a carapaça,
Deixando penetrar microrganismos
Que cortam, virulentos e fatais...
Resta somente um passo, nada mais.
De tudo que restou, podre lembrança
Procura por apoio, pois flutua...
Ao longe, ao avistá-la, bela e nua,
Desesperado clamo-te, esperança!
4043
A luz que se irradia, tão distante,
Também aquece, amada. Não se esqueça
Que a vida não repete um só instante
Por mais que isto difícil me pareça.
A força do querer quando gigante
Não tem sequer juízo que obedeça,
Um passo que se afirme mais constante
Não deixa que saudade trame a peça.
Toda realidade é dolorida
A vida se permite sonhos, risos.
A luz que se irradia, vai perdida
Em meio a turbilhões de pensamentos,
Os passos muitas vezes imprecisos,
Se perdem no caminho, em outros ventos....
4044
Dei um chute no saco de Cupido!
Cansado desta peste que não pára.
É seta que me fere e desampara,
Inda se ri, safado pervertido!
Não quero mais um beijo deslambido
De quem com ironia me escancara
Sorriso com sarcasmo e se faz cara,
Num gesto em desamor envilecido.
Fazendo que não quer o que deseja
Mostrando sob a saia um cadeado.
No beijo que pensei tivesse dado,
Um dardo sem juízo já me alveja
E vendo o resultado desta farsa
Percebo no moleque, o teu comparsa.
4045
Escrúpulos demais! Que coisa horrenda!
O sexo nos traz glória, esteja certa.
Não quero te dizer amor à venda
Mas gozo é necessário. A porta aberta
Deixando para trás a burra lenda
Aonde se falava em deus asceta
Quem faz o mecanismo da moenda
Permite o arco, a flecha e a deusa meta.
Requebros e meneios, seios fartos,
Dentadas e mordidas, vale tudo.
Vem logo, se preciso até te ajudo
Enchemos de prazer os nossos quartos
Viagens por desejos mais safados.
Matando os imbecis assexuados!
4046
Eu quero o teu colinho, minha véia
Que a noite necessita de platéia
E o corpo bem sacana quer orgasmos,
Sem medo de loucuras ou marasmos.
As bocas vão uivando em alcatéia
Orquestra de ironias e sarcasmos.
O mapa de teu corpo diz Pangéia,
Os dedos e os olhares ficam pasmos.
Ao circunavegar em genuflexo
Entendo a divindade do amor/sexo
Paradigma final de uma existência.
No gozo deste amor mais sensual
Inferno traz o céu paradoxal
Eu quero a vida inteira em penitência!
4047
Quisera te falar de uma alegria
Que ao menos consolasse, em mansa paz.
Meu verso na verdade mentiria
A noite em solidão logo se faz
E deixa tão distante a fantasia,
Escombros do que tive, o sonho traz
Na espera em desespero pelo dia
Apenas o vazio satisfaz.
Jogado nalgum canto desta casa
Retratos de uma vida que perdi.
Parecendo que o tempo, vil, se atrasa,
Rastejo tão somente. Na verdade,
Vivendo do que tive, estou aqui,
Um quadro desbotado da saudade...
4048
Foste cinza; perpétua solidão.
Companheira voraz de tantas dores...
Feria-me lambendo... Teus odores
Chegavam, recendendo a podridão!
Nas trabéculas da alma, servidão.
Nos jardins que nasceste não há flores,
Caminhos dissonantes dos amores,
Não me resta mais nada, sigo em vão!
Solidão, companheira predileta.
O que seria da vida sem teu braço?
Não teria sentido ser poeta,
Se não fosse essa ausência tão presente...
A dor que tanto sinto veramente,
Aumenta em teu carinho, teu abraço!
4049
Destino que pensara ser traçado
Em outras dimensões, divinos cimos
Agora ao encontrá-lo destroçado
Percebo quantas vezes nos ferimos.
Com mãos ensangüentadas foi traçado
O rumo que em desejos, nós abrimos.
O tempo vai incólume e passado
Distante dos caminhos que seguimos.
Agora ao ver a tarde esmorecendo
A morte sem remédios se anuncia.
De tudo o que vivi, eu vou tecendo
A rede feita em ódio; luta e intriga.
O pouco que tivemos de alegria,
Mostra tua presença ali, amiga...
4050
Recebendo o bafejo benfazejo
Das alvoradas belas, da manhã.
Vivendo mansamente nesse afã;
Pretendo penetrar teu azulejo...
Nos tempos irreais, um realejo...
Quem dera concebesse um amanhã.
Seria, ao levantar, leviatã!
Mas não me restaria um só arpejo...
Coração tropical, sonhos febris,
Um dia imaginei ser tão feliz...
pensando inda ter jeito e solução,
Nas minhas lutas, frisos, frascos, feras...
Em vários passos; quedas e crateras...
Sobrevivente louco, coração!
4051
Vastos pastos, delícias camponesas,
Na broa matinal, no queijo, a pinga.
Saudade do que tive inda respinga
Entorna mil prazeres sobre as mesas.
Bornal vai carregado de belezas
O gosto da lembrança sempre vinga
Embora o tempo traga bem mais ginga
As luzes se perderam, correntezas...
Amores do passado, sonhos frágeis,
As mãos quando escondidas são mais ágeis,
As coxas tão roliças da morena.
No toque de malícia, sensual,
O gozo maltratando o matagal,
O viço do que fomos; forte, acena...
4052
Teus dedos escorregam no piano,
Acordes dissonantes; meu destino.
Apenas encontrando desengano,
Matando em nascedouro amor menino.
A vida se perdendo em cada plano
Deixando tão somente o desatino.
Cerrando desta peça, último pano,
O nosso sol jamais esteve a pino.
Às vezes me iludindo com carinhos
Que, soube bem depois, eram tão falsos,
Ao preparar assim os cadafalsos,
Apodreceste todos os meus vinhos.
Não tendo mais ninguém que me socorra
Emparedei meus sonhos na masmorra...
4053
Cortado pelas cruzes que me pregas,
Das urzes semeadas no caminho
Entrando em minha pele, sigo às cegas
Sabendo ser feliz mesmo sozinho.
Cansei de ser babaca e tão piegas,
Não quero o teu amor nem teu carinho.
Românticos, meus versos soam bregas,
Prefiro quando eu canto em desalinho.
Não quero mais palavras tão tranqüilas,
Venenos que me trazes e destilas
Já não conseguem tantos sofrimentos.
Teu nome eu rabisquei de minha agenda,
Tirei a carapaça e rasgo a venda
Agora vou liberto e solto aos ventos...
4054
Labaredas lambendo o meu sorriso,
A chama que me queima já alivia,
Às vezes navegar inda é preciso,
Porém perco meu barco a cada dia.
Amor se aproximando sem aviso,
Chegando num descuido, traz sangria,
Nas cores deste amor, me mimetizo
E deixo para trás a noite fria.
Das labaredas sei dos ferimentos,
Da dor que causa cada queimadura.
Embora na ferida encontre cura
Ao mesmo tempo em vivos sofrimentos,
Amar é se entregar à vil tortura
Bebida em grandes goles de ternura...
4055
Nem sei mais dos meus sonhos, nem desejo...
As crateras abertas no meu peito,
deixam-me, na verdade, satisfeito.
Apenas um sorriso ainda almejo.
O tempo que perdi, pelo que vejo;
Marcando a minha vida do seu jeito
Agora amortalhando muda o pleito,
Porém estou rendido, e não pelejo.
Nos trâmites normais perdi meu tento.
resquícios de alegria ainda invento
amores vou fingindo pela vida.
As portas se fecharam num instante.
Não vejo mais sequer uma saída
Meu coração precisa dum transplante!
4056
Bêbado! Totalmente embriagado;
No vazio da noite, assim prossigo,
As estrelas caídas que persigo
Nada dizendo mandam seu recado.
Meu barco em vários portos atracado
Nem sabe se existiu ou há perigo
No amor, eu quero crer, mas não consigo
De tudo, na verdade ando cansado.
A morte que se esconde em cada trago
Às vezes inda faz algum afago;
Amores? Só mentiras! Foi de araque.
Não quero lamentar a minha sorte,
Se a vida me renega, algum suporte
Encontro em cada gole de conhaque!
4057
Desamparado sigo meu caminho,
Não tenho mais esperas nem sentido...
Meu mundo desastrado, dividido.
Sou passado, pesado, passarinho...
Amparo, cara Amparo, quero ninho.
És essência, demência, lis, libido.
Busco o barco impossível, erigido,
Sonhos tempestuosos... Vou sozinho...
Amparo, foste guerra, foste paz...
A vida que se encerra, tanto faz.
Queria simplesmente cheiro, faro...
Toques sutis na cútis que pretendo.
A noite vem, irei sem ti, morrendo,
Sem forças, esperanças, sem amparo...
4058
A noite dos amores, densa e bruta,
Não permite perfumes nem de rosas
Amar, renunciar à tensa luta,
Não posso receber as mãos nervosas
Nem templos esculpidos nesta gruta:
Coração, responsável por sedosas
Ilusões... Quem me dera a nova escuta
Trouxesse nos meus sonhos, lendas, prosas...
Amor que não perdoa e me constrange,
Não deixa essa pobre alma libertária.
os carinhos transformam-se em falange.
Nos pícaros febris, mais alto encerra...
Noite que não permite luminária,
Estrela apaixonada pela Terra...
4059
Vazio que propagas em sorrisos
Irônicas palavras imbecis.
Já cansado de ouvir terríveis guizos,
Espero que tu sejas mais feliz.
Nos olhos idiotas, os avisos
Que um dia percebera, mas não quis.
Agora a ver a face da verdade
Exposta em canalhice e traição
Rasgando o que restou; em liberdade,
Encontro finalmente a solução.
Não levo mais de ti sequer saudade.
Cadáver semi vivo em podridão;
Liberto de teus guizos e venenos,
Meus dias serão calmos e serenos...
4060
A vida que inebria enquanto fere
Merece tão somente o meu desprezo.
Do quanto que não tenho e que interfere
É na verdade o bem que tanto prezo.
Sorriso cadavérico da imunda
Mulher que se fingira num instante
Além da solidão que me fecunda
O sonho de um momento fascinante.
Morrendo em ironia e sarcasmos,
Gritando em mel o fel que produzia.
Sabendo disfarçar falsos orgasmos,
Aos poucos, tão venal, apodrecia.
Cansado das falácias e mentiras,
Devolvo toda a merda que me atiras...
4061
Saudade do que fui e se perdeu
Nas curvas dolorosas do caminho.
A sorte há tanto tempo me esqueceu,
Na solidão cruel em que caminho
Apenas o que resta inda sou eu,
E pouco a pouco – só- eu me definho.
O tempo tão cruel me emudeceu
Avinagrando assim o que era vinho.
Nos dedos engelhados pelo tempo,
As marcas indeléveis do cigarro,
Andando sem destino no meu carro,
Encontro tão somente o contratempo
Do vago que carrego dentro em mim,
A vida se esvaindo, chega ao fim...
4062
Fazendo em puro amor nossa linguagem
Que sempre transbordou em emoção,
Permita-nos, Bom Deus, esta viagem
Com toda mansidão do coração.
Que não se perca amor, qualquer bobagem,
É bela esta bagagem, U'a lição.
Estás aqui comigo o tempo inteiro,
Nos sonhos, nas palavras, no perfume.
O amor é nosso amigo e companheiro,
Caminheiro entre as urzes do ciúme.
Trazendo nos seus olhos tal luzeiro
Que chega em cordilheira ao alto cume.
Não temas a manhã que sempre vem,
Vivemos palmo a palmo o nosso bem..
4063
Bordando uma ilusão em céu tão claro,
Olhos distantes buscam uma estrela
Que é feita de cristal deveras raro.
Meu Deus, como é difícil poder vê-la...
O gosto da existência, triste, amaro,
Percebe que não posso mais contê-la
Faltando para os passos, anteparo,
Tal sorte, se perdendo em bela tela.
O cheiro de esperança, outono leva.
Não deixa mais um sonho conduzir.
Minha alma solitária tanto neva
Que nada mais farei, senão sonhar,
Quem sabe poderei, enfim pedir,
Um beijo desta estrela... longe... ao mar...
4064
Nós somos lavradores da esperança
Propondo em nosso canto um novo mundo
Que é feito da partilha em confiança
Do sentimento nobre e mais profundo
Que venha mais depressa e sem tardança
Tomando nossa sorte num segundo.
Na força tão sensível da amizade
Talvez a solução bem mais perene.
Permitindo voar em liberdade
Respeita a toda luz que já se acene
Estrada colorida feita em paz,
Onde a diversidade de matiz
Que a vida num conjunto sempre traz
Fazendo encantador o amor feliz.
4065
Depois de semear a tempestade
Por tempos mais distintos, minha vida,
Depois de discutir felicidade
Em hora tão marcada quão doída.
Depois de procurar com ansiedade
A porta que mostrasse uma saída
Depois de renegado assim, quem há de
Cobrar minha esperança adormecida.
O tempo que é senhor, portanto rei,
Aos poucos me mostrando nova dança
Que é feita deste sonho que encontrei
Contigo, minha amiga em aliança,
Depois de tanto fogo que espalhei,
Agora só espalho uma bonança..
4066
Qual folha que se perde em forte vento,
Matando uma esperança dentro em nós,
Roubando toda a paz do pensamento,
Num sentimento triste e tão atroz.
Um coração se perde e bate lento,
O tempo nos devora logo após.
Tomado pela dor deste tormento,
A vida se prendendo em tantos nós.
Qual folha que caiu lá, bem distante
Dos braços que tentaram recebê-la
A dor se transformando mais constante
Somente o teu retorno salvará
Meu céu que sem a lua e sem estrela,
Jamais sem ter teus olhos brilhará!
4067
Manhã que vem chegando, bela aurora,
com raios de esplendor, o sol nos toma,
tua beleza imensa se decora
neste matizes raros, tudo soma.
Orvalho no jardim, cristal que chora
amor que dilacera e não se assoma,
quem dera meu amor, contigo agora
estarmos bem mais juntos, nova soma.
Tu és meu aconchego, estou em ti,
em cada novo verso que te faço.
Amor igual ao nosso, eu não vivi,
mostrando da manhã, a claridade,
em rumo a mais um dia, passo a passo,
envolto em teus braços, liberdade...
4068
À noite te sentindo do meu lado
Por certo, estou mais forte e mais sereno.
Teu rosto tão bonito e delicado
Deixando este ambiente mais ameno.
Depois de tantas dores do passado,
Bebido sem sentir, tanto veneno,
Encontro no teu braço enveredado
Um mundo que sonhara, vivo e pleno.
Enrosco minhas pernas entre as tuas
Aninho-me contigo num só ser.
As pernas bronzeadas, quentes, nuas
Na languidez parece que me diz,
Que em toda esta delícia, teu prazer;
Até que enfim, querida, eu sou feliz...
4069
Nas ondas que perfazem tal mistério;
Estrelas vão pulsando num quasar.
Cometas peregrinos... Cemitério
Deste corpos celestes a vagar...
Universo vagando sem critério,
Transformando tudo sem parar...
Em momentos diversos; este império,
Transbordando violento em fogo e ar!
Nas ondas que recebo das estrelas,
As esferas são feras e tão mansas...
Quem me dera pudesse então bebê-las,
Transportando os espaços dentro em mim...
Percorrendo meus versos, novas danças...
Amores vão vagando até o fim...
4070
Espelho onde retocas maquiagem...
Nunca mente, mas finges não ouvir.
A noite transtornando tua imagem,
Madrugada teimosa não quer vir...
Espelho refletindo essa visagem,
O tempo vil mendigo vem pedir,
Nem espera resposta, por passagem.
Belas flores murchando... Vais sair...
O espelho respingando tanta mágoa,
As rugas mapearam o teu rosto.
As lágrimas descendo, dão um beijo...
A tristeza transforma-se nessa água
Que borra a maquiagem... No desgosto...
Mas, minha amada, como te desejo!!!!
4071
Amar além do mar em fortes vagas
Um vício necessário e mavioso.
Quem veio, como eu vim de tristes plagas
Percebe quanto amor é valioso.
Nas mãos mais delicadas; mansas, magas
Percorro o meu caminho, vou ao gozo
De todas as venturas que mereço.
De todas esperanças que cultivo.
Amar não é vestir-se em adereço
Nem mesmo se mostrar demais altivo,
Amar é meu destino e nele vivo,
Meu coração em ti tem endereço.
Amada amiga, venha pro meu lado,
Estou aqui, sozinho, apaixonado...
4072
Saudade deste amor que já partiu
Envolto numa estrela, ganha espaço...
Amor que se perdera, tão sutil,
Ah! Quem me dera estar, no teu abraço...
Pergunto onde te escondes; ninguém viu...
Apalpando o vazio estendo o braço,
Apenas o silêncio... Nada ouviu
Quem se foi, não deixou um simples traço...
Eu quero imaginar que ela me queira:
“Olhando a mesma estrela vê também
Teu corpo deitadinho em minha beira”
Espero que tu voltes para mim,
Me deixa ser teu derradeiro bem,
Estrela: não me deixe triste assim...
4073
Querida, como é bom saber que existes
Tu és a redenção destes meus versos.
Às vezes te parecem bem mais tristes
Mas vivem em distintos universos.
Eu quero o teu sorriso e teu afago,
O teu carinho imenso, o teu sossego.
Na placidez serena deste lago,
Tu sabes como em ti eu tenho apego.
Deitar-me no teu colo, um horizonte
Vislumbro com total felicidade.
Bebendo calmamente nossa fonte
Que traz assim eterna mocidade...
Estar assim contigo, minha amiga,
Garante que esperança em mim, prossiga..
4074
Vontade de ficar aqui contigo;
O dia se arrastando, lento e denso.
Querendo me embrenhar em teu abrigo...
Em nada mais, te juro amor, eu penso...
Se faz sol ou se chove, já nem ligo;
Calor que encontro em ti, bem sei imenso;
E assim o dia passa, assim prossigo
Na placidez sereno, e mais intenso...
Redescobrir teu corpo e teus caminhos,
Beijando calmamente cada parte.
Anseios e desejos... teus carinhos...
A cada novo toque, a descoberta
Do amor que se faz tela, cenário, arte...
A porta está fechada e a alma aberta...
4075
Embora assim tu queiras parecer,
Bem sei que esta guerreira, feminina,
Na mansidão enorme me faz ver
O quanto me conquista e me domina.
Sabendo que envolvido em tal prazer
A sorte que se fez tão cristalina
Não deixa outro destino se antever
Senão o que tão belo descortina...
A força delicada mostra assim,
Com calma este poder que nunca nego,
Dominas totalmente, tudo enfim,
És mais do que tu pensas, meu amor,
No mar de amor que junto a ti carrego,
Estampas toda a glória aonde for.
4076
Amada, se me calo alguma vez
A culpa é dos meus olhos sonhadores.
De tanto amor a vida assim se fez
Que fico embevecido vendo as cores.
Tu sabes que eu andei adoecido,
Cansaço me tomando por inteiro.
Mas sigo sempre em ti tão decidido
Na busca deste amor mais verdadeiro.
Desculpe se pareço mais distante,
Meu corpo está, portanto; bem mais frágil.
Eu quero ser de ti o par constante,
Mas sinto: não estou assim tão ágil.
Amar-te é ter um bálsamo divino,
Tu és a minha sorte, o meu destino...
4077
Meu velho companheiro! Como é bom
Saber que estás comigo e quanto apóias.
A vida se perdendo... Amar é dom
Que quem o cultivar merece as jóias.
Mas saiba que ela foi e não retorna,
Se bem que a própria lua tem as fases.
A sorte num amor já não me adorna,
E perco-me vazio em meio a frases...
Mesmo assim, obrigado, camarada.
Quem sabe poderei ser mais feliz.
Meu canto se perdendo em quase nada
Me alerta, pois no amor, sou aprendiz...
Agora eu te agradeço meu amigo,
Contigo nunca temo um só perigo!
4078
Amor se fez magia e puro encanto,
é toda uma alegria concebida.
No amor que tu me deste; o nosso canto,
certeza de ter paz em nossa vida.
Amor que imaginei vício gostoso
companheiro fiel do dia a dia.
Nos braços deste amor, carinho e gozo,
nos sonhos deste encanto, a poesia.
Tu és a glória plena da existência.
Em ti, o meu futuro é mais feliz.
Depois da dura vida em penitência,
teus beijos tatuados, cicatriz
marcada na minha alma em sorte plena.
Amor que, em tempestade, salva; acena...
4079
Um corsário buscando por tesouros,
Nas ondas, atóis, ilhas, velhos barcos.
Nas costas em sutis ancoradouros,
Céu em redemoinhos, tantos arcos.
Nas tempestades; lutas, maus agouros,
Os ventos relembrando ledos marcos,
Tempos idos, presentes ou vindouros,
Mostrando alguns sorrisos, poucos, parcos.
Dos sonhos, não me resta quase nada.
Da gigantesca frota, dessa armada,
Somente um simples barco, nada mais...
Corsário, na procura por riquezas,
Em meio a ventos duros, a tristezas;
Que não me deixarão, fiéis, jamais!
4080
Quando desfilas nua pelas noites;
Trazendo um manto branco, transparente,
Os ventos que te levam são açoites,
O brilho em que me cobres, envolvente.
Quando te espero, longos entrenoites;
A vida maltratando qual serpente,
Anseia pelos mágicos pernoites,
Onde serás só minha; finalmente...
Nas taperas, nas quintas, nas bodegas,
Nossos vinhos guardados nas adegas;
Aguardam tal momento mais sublime...
Minhas mãos ansiosas tremem tanto.
O amor em tal momento belo, santo;
Ao te tocar, traz sensação dum crime...
4081
O sol a pino queima, atroz fornalha...
Nessa areia desértica, cruel...
Reinando, solitário lá no céu,
Seus raios feito braços traz, espalha...
Nas terras onde cobre, na batalha
Diária pela vida, num corcel,
Campeiam homens, guerras. Meu farnel
Carregado de sobras... Na toalha
Do deserto, preparo meu repasto.
Teu corpo que previ, divino casto,
Tal como esse sol queima, mas seduz...
Quem me dera pudesse desbravá-lo,
Percorrendo, montado em meu cavalo;
Conhecer teus mistérios, tua luz!
4082
Na vasta cabeleira que penteias,
As mãos cariciosas, delicadas...
As rosas que plantei foram marcadas,
Por cores que te lembram. Estonteias...
Nas armadilhas doces teces teias,
Quem me dera estar preso em tais laçadas...
Dos reinos que sonhei; vãs madrugadas.
Nas chamas que produzes, incendeias...
Te quero e não renego o sentimento.
Teus cabelos, reflexos do luar...
Macios, longos, belos, procurar
As rosas que perdi no esquecimento...
Amar é dar sentido na existência!
Das rosas brotará tua inocência!
4083
Cachorro que se perde do seu dono
Vagando pelas ruas sem licença
Vivendo a sensação de um abandono
Na vida perpetua uma descrença.
Tentando descansar, esquece o sono,
Um osso sem valor é recompensa,
Um beijo apodrecido vira abono,
A noite sem ninguém, passando imensa.
Uivando de saudade se lembrando
Do tempo em que podia até sonhar
Castelos de ilusões se desabando.
O frio desta noite me enregela,
Preciso urgentemente te encontrar,
Mesmo que seja sempre uma cadela!
4084
Tambores ecoando, quero os ecos...
Trapaças dessa sorte soam farsas.
Bebendo nessas taças nos botecos
As danças prediletas são esparsas...
Não quero nem começo ou repetecos,
Nem vistas para o mar. Parecem traças
Espalhadas na casa. Meus jalecos
Guardados e esquecidos, mal disfarças...
Tratores vão arando esta seara.
Nas voltas que fecundam, lembram Lara,
Paisagens esquecidas na gaveta...
Amores? São sonoras gargalhadas!
Procuro a minha lua; as alvoradas...
no gole de conhaque, uma luneta...
4085
Quero o sabor gentil dessas palavras,
Corroendo o que sinto. Mata a paz.
Minhas mãos cultivando tristes lavras,
De as colheitas serviram? Tanto faz.
Não sinto tal pendor, nem mais as travas;
Minhas pernas cansadas. Sou capaz
De não querer seguir. Se eu sou falaz,
Minhas serenas matas, fundo cavas...
Decepo a solidão forjando a luz.
A corda que tu trazes me seduz.
Anseio por venenos, satirizo...
Das entranhas surgiste, tal farsante.
serpente num sorriso delirante.
As pedras que me jogas; eternizo!
4086
Um menino franzino e macilento
Trazendo uma esperança em faca e corte,
O peito libertário solto ao vento,
Não teme, na verdade nem a morte.
O dia que se fora em movimento
Refém da ditadura, sem um norte,
Prevê que no futuro, outro tormento
Tirando da esperança, o seu suporte.
A mão apodrecida do poder,
Matando em nascedouro uma alegria,
Não deixa nem sequer mais se antever
Se um dia surgirá a tal liberdade,
Pairando novamente a rebeldia,
Unindo os nossos passos, a amizade...
4087
Não quero mais amores tão raquíticos.
Nem quero mais sonhar com o impossível...
Não quero mais passar momentos críticos
Buscando definir o que é mais crível.
Tentei saber das horas, perdi tempo...
Tentei falar das rosas, nem brotaram;
Sobrou-me tão somente o contratempo.
Nem flores nem espinhos se encontraram.
Bela voz que cantava nem se escuta.
A força que pensei que fora bruta,
Se perde numa curva do caminho.
Não quero mais saber se vou, caminho;
Só quero essas saudades que não perdi...
Eu não sei se te encontro mais aqui!
4088
Não quero conhecer teu torpe instante,
Nem quero transtornar minhas correntes.
Abandono-te nesta vil estante,
Onde guardo os abortos e serpentes.
Respeito teu fantasma delirante
Excluído, vencido sem patentes.
Deposito rancores. És falante,
Mas de que valeria se, dementes,
Meus olhos não protegem tua luz...
Mares diversos, pesa-me essa cruz...
Espero-te na curva, minha espreita...
Pudera, não querias meus anseios.
Vou tentando meus versos e ponteios,
Tuas dores serão minha colheita!
4089
Eu nada mais teria dessa infância,
Não fosse teu sorriso, mãe querida...
As dores que trouxeram repugnância,
Por certo amenizadas, tua vida...
Perdida no passado a velha estância;
Meus sonhos pueris, sem ter ferida...
Só para ti terei grande importância!
És o resquício vivo da perdida
Felicidade audaz, da liberdade!
Minha alma virginal, tanta saudade...
As dores violentaram a minha alma.
Caminho carregando triste peso.
Quem me dera escapasse assim, ileso.
Mas a tua presença sempre acalma!
4090
Tantas vezes pensei na formidável
Mansidão que mentias, companheira...
Quantas vezes surgias tão amável,
Escondendo uma fera. A verdadeira
Face que me ocultavas, lamentável...
A minha fantasia, tola, inteira;
Não era nem sequer resto: EXECRÁVEL!!
Já rasgaste e puíste essa bandeira
Tão sublime! Escarraste nos amores.
Perniciosamente foste pus.
Propagas tão somente vis horrores.
Desculpe ser sincero assim: dás-me asco!
Negaste deste amor, a própria luz.
A vida te trará o teu carrasco!
4091
Não tenho medos, quero já meus brilhos...
Essas notas melódicas transtornam...
As flores que colheste não adornam.
As bocas que beijei deram-me filhos!
As notas repetidas no estribilho,
trazendo a maciez que te roubaram.
A certeza fatal de que sonharam
Aqueles que verteram noutro trilho!
Nas frondes que me trazem velho cedro,
Nas noites que passei, nunca mais medro.
O tempo não deixara suas marcas!
Não temo a cicatriz, nem a facada,
A vida percebeu a dura escada.
Meu barco já não teme nem as Parcas!
4092
Vindo dos sertões, trago velhos medos:
Medo da solidão, rastros, tocaias...
O medo dessas cobras, podres laias
Que matam simplesmente. Sem segredos.
Da fome que se faz em desamor,
ao ver esse poder engravatado,
o corpo maltrapilho e maltratado,
aguarda por um novo redentor.
A fome se espalhando no roçado,
Os olhos dos meninos sem futuro.
A vida perecendo trás do muro,
Um sonho que sonhei abandonado...
Eu venho do sertão, sou brasileiro.
Quem dera conhecesse Conselheiro!
4093
Trazendo velhos sonhos, de criança,
Não posso mais negar o meu passado.
As dores que carrego na lembrança,
o tempo todo encontro do meu lado.
A vida preparando uma vingança
me faz ficar, de novo apaixonado.
Agora que este inverno já me alcança
e me encontra deveras bem cansado.
Matando em nascedouro este bisonho
terrível pesadelo, enfim medonho;
A vida me faria mais feliz...
Amor chega tolhendo a liberdade,
Causando esta temível tempestade
Que bebo com vontade e peço bis...
4094
Das retinas cansadas, meus delitos...
Não quero perceber esta saudade,
Nem quero mais sonhar sonhos aflitos,
Nem me perder : total ansiedade.
Teus passos são meus rastros, mas restritos
Às tardes que te perco: liberdade!
Demoras a voltar? Nos infinitos
Procuro; embora eu saiba, seja tarde.
Meus dedos dedilhando uma canção,
Lembrando do teu corpo/violão
Encontra estes acordes dissonantes...
Meus versos são mordazes e gentis...
Quem dera se pudesse ter teu bis;
Porém os dias seguem quais mutantes...
4095
Qual fossemos meninos sem juízo
Brincando sob a lua mensageira,
Roubando toda a cor do paraíso
Na noite desse amor em vez primeira.
O beijo que roubado, sem aviso
Chamando para a festa verdadeira
Das bocas e das mãos decerto audazes,
Salivas são trocadas, raios, lua...
Promessas que te fiz, carinhos fazes,
A soma de nós dois se continua
Mostrando quanto somos mais capazes
De termos nossa sorte exposta e nua.
Sozinhos nada impede essa folia
Em gargalhadas soltas de alegria...
4096
Nos olhos da ilusão que mostram luzes
Sinceras de esperança mais gentil.
Os medos esquecidos foram cruzes
O tempo da colheita enfim surgiu.
Na chuva tão macia deste amor
Que é tudo o que mais quero e faço caso,
Vontade de pegar e recompor
A vida que se fora num ocaso...
O coração ferrenho carpinteiro
Que faz uma alegria em cada mote.
Vibrando toda cor deste tinteiro,
Na vagareza eterna mantém pote.
Teu sangue errando a veia sem perdão,
Encontra bem feliz meu coração...
4097
Após a luta intensa; um aconchego
Que encontro nos teus braços, mostra a paz
Que em nome deste amor, enfim, carrego
Mostrando quanto amor se faz capaz.
Num mundo mais sincero em que navego
A vida em esperança, amor me traz.
Eu quero o teu desejo e tua sina,
Eu quero a maciez de teus cabelos.
Bebendo meu amor em ti, menina
Meus braços nos teu corpo são novelos.
Eu quero ser eterno namorado
Desta morena bela e sedutora,
Estar o tempo inteiro do teu lado,
Num vôo sem cansaço, a vida afora..
4098
Chegaste bem mais perto e neste zoom
Tomei-te entre meus braços de surpresa.
Mostravas com certeza medo algum
De ser tão devorada, bela presa.
As pernas eu prendi, enrodilhei
Entre as minhas, sem chance de dar fuga
E dentro de teus braços mergulhei,
Fingiste resistência. A boca suga
A língua desejada e mais gostosa,
As coxas se misturam, mãos e seios.
A noite se passando maviosa
Os olhos se tocando nos anseios
Do amor que se fez firme e tão presente
Nos gozos e nos risos, amar urgente..
4099
Quem dera se pudesse te levar
Nos barcos dos meus sonhos, u'a princesa
Tomando-te em refém, distante mar,
Enfrentando batalhas, correnteza.
Cativo da beleza deste olhar
Teria nos teus braços, a certeza
De todo este tesouro desfrutar
Com ares de banquete e sobremesa.
Deitar minha alegria do teu lado,
Vencendo qualquer guerra que apareça.
No reino dos desejos, encantado,
Viver um sonho eterno, uma ilusão,
A sorte benfazeja que apeteça
Nos mares tão profundos da paixão!
4100
Somente não atreles teu passado
A todo este futuro que sonhamos.
Os passos que em outrora foram dados
Não devem ser agora, nossos amos.
Os erros, com certeza, bem podados
Morrera neste corte de outros ramos.
No nosso renascer em esperança
A vida que se foi não mais importa.
Ao termos bem mais forte esta aliança
Abrimos para a vida nova porta.
Afaste estes fantasmas da lembrança
Que a vida que passou esteja morta.
Pensemos tão somente no porvir.
É tudo o que consigo te pedir...
4101
Nossos corpos se buscam em carícias
E fazem dos prazeres, nossos guias.
Da dor que nos tocava, nem notícias,
Estamos novamente qual querias
Deitados nestes campos de delícias
Nas flores maviosas, alegrias...
No toque de teu corpo, uma viagem
Por mundos mais fantásticos, libertos.
Amor já nos rendendo, uma pilhagem,
Mostrando estes caminhos mais despertos
Nossa nudez tomada por roupagem
Inundando em desejos os desertos
Que um dia nos tornaram mais distantes,
E a vida se refaz nestes instantes...
4102
Teus olhos, toda a fonte de magia
Que torna a minha vida mais feliz.
Vertendo num lampejo, a fantasia
Mudando toda a sorte que se diz
Tomando minha vida em alegria
Curando qualquer dor em cicatriz.
Nos mares de ternura em que mergulho
Meus olhos tão cansados e sem brilho.
Tu fazes neste mar vital marulho
Do qual felicidade, um estribilho,
Vibrando em minha vida tanto orgulho,
No qual já me espelhando, maravilho
Um dia mais alegre sem temor
Vivendo em plena glória o nosso amor...
4103
A cada novo dia te esperando...
O trem da minha vida não descansa.
Não sei nem se suporto ou até quando
resistirá um resto de esperança.
Ouvindo o trem de ferro vir chegando
o meu olhar, destino, não alcança,
eu penso em tua voz já me chamando;
mas nada, nada e nada... Minha alma cansa.
Mas volta pra estação num novo dia,
refeito do vazio que encontrara.
Ó prenda, meu amor e fantasia;
quem dera se viesses neste trem.
Porém, vai novamente e nunca pára,
restando esta esperança que já vem...
4104
Amassarias massas fazes pão.
As velhas massarias manipulam...
As fontes que fornalhas seu fogão,
As pontes que atravessas, estipulam...
As massas que, sofridas, vão ao chão,
Nas dores que conferes já pululam...
As portas que fechastes sem perdão,
Nas perdas que carpiram não ovulam...
Os termos que confesso são perdidos,
Os álibis que tive, distorcidos...
As massas que seguiram multidão;
Os mártires já foram esquecidos...
As massas procurando ouvindo o não,
Distante das maçãs; sem vinho ou pão.
4105
Nas noites que cantavam serenatas,
As bodas que fizeram tempestades,
As bocas que sangraram tão cordatas,
Nas horas que surgiram mocidades.
Nas fardas que mataram tolas matas
Dos fardos que levaram nas cidades.
Nos bardos que cantaram veleidades,
Cavalos que pisaram duras patas...
As noites que sangraram serenatas,
As bodas que fizemos nas cidades,
Nas horas que levaram veleidades,
Nas fardas que pisaram mocidades,
Cavalos destruíram nossas matas...
As bocas que matavam duras patas...
4106
Olhando meu futuro e meu passado,
Percebo que passei pela metade
Do tempo que julgara programado,
Distante da longínqua mocidade...
Por Deus tantas vezes contemplado,
Parece que escutei: felicidade,
Amei demais também fui muito amado,
Mas creia, disso não tenho saudade...
Só tenho uma saudade do que não
Vivi e nunca mais irei viver.
Fechando esta porteira-coração,
Meu verso nunca foi assim tão franco,
O que deixei passar e pude ter;
Nos meus cabelos, cada fio branco..
4107
No pranto derramado cedo e tanto
Na fome de viver cada segundo.
Em volta desse lume sem encanto
Mergulho no oceano mais profundo.
Procuro por mim mesmo e nada vejo
Senão os restos tristes do que fui.
Vencido pelas horas, meu desejo,
Castelos assombrados, tudo rui.
Na corda arrebentada, fui feliz,
Na boca dessa noite, na verdade,
Brotando tanto sangue em chafariz
Caminho procurando o fim da tarde.
Vestido com os guizos do palhaço,
A noite vai vencendo o meu cansaço!
4108
Por quanto que tentara um oratório
Aonde as dores fogem e se tingem,
Sagrando em desespero um ostensório
Vivendo enquanto as luzes sempre fingem.
As fibras da saudade quando afligem
Mostrando este caminho vão e inglório,
Nas ondas sanguinárias, desde a origem
Vertigens e vazios; merencório...
Prossigo sendo o quando nunca veio
Mascando as ilusões intermináveis.
Palavras doentias, mas amáveis
Decifram meu caminho em cada veio
No esteio deste amor voraz, sombrio,
Na mordaz sensação do nada, eu crio...
4109
Amando construí os meus castelos
Esperando que foste ali morar.
Os meus sonhos de amor eram tão belos.
Feitos da esperança de, enfim, amar...
Vieste como um sonho iluminado.
Trazendo em tuas mãos tanta beleza.
Pensava que essas sombras do passado
Estariam perdidas, com certeza...
Porém o vento forte que te trouxe
Em meio a tanta luz já se desfez...
E tanto sonho que tinha acabou-se
Saudade, o que sobrou, por sua vez...
Tristezas tão somente vou achar;
Castelos que sonhei, feitos no ar...
4110
Quem me dera pudesse transformar
Num inseto, talvez uma barata,
Só para, simplesmente, revelar,
Um mistério feroz que me maltrata...
Não consigo, sequer, imaginar,
A casa onde se esconde tal bravata
Guarda roupa que cabe sem pensar,
Profusão de vestidos em cascata...
Esse marido é tolo e não sabia,
Que sua pobre esposa escondia,
No closet coleção inigualável!
Centenas de vestidos... Espantável
A falta de cuidados da Maria,
Parece-me que a casa é ingovernável!
4111
Em plena madrugada flóreas ramas
Expostas em vestais pressentimentos.
As torres que tivemos, pensamentos,
Nas horas mais silentes tecem tramas.
Se penas e por isso pensas, amas,
Que saiba que não sabes dos tormentos.
Vivendo desfraldados sentimentos,
Refazem nos teus olhos fogo e chamas.
Nos pavilhões das dores que proclamas,
O rumo se transtorna por momentos.
Mergulho meus sentidos tantas lamas.
E salvo sem saber os mansos ventos.
Nas ramas que sentindo não proclamas,
Aguardo esses dilúvios, sofrimentos...
4112
Sentir teus lábios magos me tocando
Mal nasce o dia sinto-me feliz.
Certeza de que aos poucos, despertando,
A gente faça amor, tudo o que quis...
Teu corpo no meu corpo decorando
Suave, intensamente... como fiz...
O céu de tua boca vasculhar,
A língua se encontrando com a tua...
Num gesto tão macio decolar
Uma alma que se entorna e já flutua
Contigo, novamente a me deitar,
Sentindo tua pele, exposta e nua...
A tarde vem caindo, a noite vem...
Lá fora meu amor, não há ninguém...
4113
Mistérios que tu guardas escondidos,
Debaixo destas saias, tanto encanto.
O vento que balança os teus vestidos
Levanta meus desejos, entretanto.
Sacio estas vontades, me agiganto,
Meus dedos te tocando, decididos,
Retiro de teu corpo todo o manto,
Meus lábios te percorrem, decididos...
Te sinto então feliz e saciada,
Matamos nossa fome num segundo,
Tua beleza mágica orvalhada,
No doce que produz, eu já me inundo,
Os gozos que se fazem,sensuais,
Deixando esta vontade, querer mais...
4114
Só quero esta delícia de querer-te
Poder ter teu carinho e te abraçar;
Meus braços em teus braços, envolver-te
E sempre que puder, poder te amar...
Me nina se quiseres, meu amor,
Menina, se quiseres, sou feliz.
Eu quero esta beleza, mansa flor,
Fazendo-me, do amor, um aprendiz...
Eu quero o vento doce do cerrado
Trazendo uma esperança pro meu canto.
Quem dera se por ti eu fosse amado,
Quem dera inebriado em teu encanto,
Meus versos não seriam mais tristonhos,
Meus sonhos, sem temor, bem mais risonhos!
4115
Sentindo em teu perfume o meu desejo
De ter e ser o sonho mais gostoso
Roubando desta luz cada lampejo,
Fazendo o nosso mundo tão charmoso...
Vivendo a fantasia em cada beijo,
Tornando nossa vida eterno gozo.
Olhando nos teus olhos sempre vejo
O mundo que pretendo; fabuloso...
Teu corpo contra o meu; a noite inteira
Delícias e carinhos neste enlace
Tomados por paixão tão verdadeira.
Tuas costas desnudas... Sensual
Tango nos aproxima. Não disfarce
Esta alegria intensa... Amor fatal...
4116
Amor que, tão intenso, nos consome,
Em louca sedução alucinante,
Impede que este rumo eu já retome
Explode em alegria, a cada instante.
Nos queima e nos devora, totalmente,
Ardendo em nosso peito, sem juízo,
Vulcânicos caminhos, a vertente
Direta para o caos e o paraíso...
Mergulho num arroubo e perco o tino,
Amor como um posseiro, devastando,
Já zomba do que fui, muda o destino,
E vai, sem ter limites, me tomando.
Na sedução do amor, hipnotizado,
Vivendo sem fronteira, apaixonado!
4117
Colando a minha pele em tua tez,
Sentindo o teu perfume junto a mim,
A brisa antecipando insensatez
Que faz do nosso amor tão bom assim...
Ao ver a maravilha da nudez
Exposta em minha cama sinto, enfim,
Delícia desse amor que a gente fez,
Na noite que quem dera não ter fim...
Passeio por teu corpo,perco o rumo,
Desnudo-me entregando a uma alegria
Bebendo do desejo todo o sumo,
Viajo nas estrelas... fantasia,
Deitando meu amor, já me consumo
E quero estar assim por todo o dia...
4118
Sentindo o teu olhar por sobre mim,
Tão cuidadosamente me espiando.
Numa vigília mansa... é bom assim
É como se estivesse acalantando...
Depois de tanto tempo sinto, enfim,
Que a vida vai aos poucos se acalmando.
Eu te desejo tanto... até o fim...
Parece que inda estou; amor, sonhando...
Deitado em teu abraço, meu descanso
A noite se promete bem mais calma;
Encontro finalmente este remanso.
Ao ver-te adormecida, em paz, sorrio
Pois a tua presença, amor me acalma,
De um jeito delicado e tão macio...
4119
Eu tanto te desejo... Ah! Como quero
Poder te dar um beijo, acarinhar...
Faz tempo, tanto tempo que te espero,
Eu quero o teu carinho desfrutar...
Sentindo um arrepio e me fartando
De toda essa delícia que é te ter.
Deitados num tapete ir flutuando
Nas mais divinas formas de prazer...
Não sinta mais tristeza, eu já te imploro,
Façamos nossas noites maviosas.
Teu corpo no meu corpo... Em ti decoro
As curvas, os caminhos, ninhos... Rosas...
Tocando tua boca, perna e seio
As tuas margens, louco, eu assoreio...
4120
Gatos ronronando no quintal,
A noite sombreada de desejos.
O vento traz um frio glacial
Ao longe inda se sentem os lampejos
Dessa última esperança que morreu
Nos braços da morena sertaneja.
O manto do meu céu se escureceu
A morte feita em vida já lateja.
Prevejo tão somente um ar sombrio
Vagando em tempestades e em procela.
O coração se esvai, cego e vazio,
Matando o que restou; amiga, dela.
Desculpe te ligar; é fora de hora,
Preciso ter alguém comigo agora.
4121
À noite em terrível algazarra
Dois cães que se procuram e se lambam.
Amor unindo forte numa agarra,
Em grunhidos prazeres se descambam.
A lua é testemunha desta cena
Apenas o luar inda passeia
Na noite que em desejos já se acena,
Deitados sob a lua, bela e cheia;
Dois párias que se irmanam num só gozo,
Causando inveja à turba de infelizes
Que pensam ter poder, mas caprichoso
O amor não sabe cores nem matizes.
É bicho desgrenhado e sem pudores,
Dá-se a quem se esquece dos temores...
4122
Que a ferida que deste não se inflame.
Que a dor da solidão não me persiga.
Que a morte distraída não me chame.
Que nunca mais se entorte a forte viga.
Que nunca mais me fira cruel flame.
Que sempre que se tente se consiga.
Que eu possa ser teu vero e doce estame.
Que nunca mais te esfreguem essa intriga.
Que a sorte que pensavas ser entrave
Não venha decepar teu lindo sonho.
Que a vida te permita porta e chave.
Os versos onde mostro, onde me exponho,
Não possam se perder da grande nave
Que o mundo seja sempre assim, risonho
4123
Sucumbe a cada pranto, amor insano
Que bebe dos incensos da loucura
Arremessado à sorte e desengano,
Pressupõe tão somente uma tortura.
O rito em que se faz ser desumano
Transborda qualquer pote em amargura.
Do mel ao fel mudando cada plano
Enveredando em dor, olho perfura.
Medonhas existências que se vão,
Negadas em princípio, duro aborto.
Quem teve alguma espera, sem um porto
Não sabe mais se quer atracação.
Sequer uma alegria se sussurra
Amor que dentro da alma se fez curra...
4124
Semear estes sonhos pela Terra
Espalhando este canto genuíno.
Aonde uma esperança já descerra
Os olhos delicados de um menino.
Marcando nosso amor em cada verso
No doce sentimento que nos guia.
Abrindo novamente este universo
Imensa liberdade em alegria.
Captando todas luzes multicores
Das estrelas-balões quais pirilampos,
Da luta pela paz dois lavradores
Arando sem parar os vários campos
Nós somos cantadores da emoção
Marcados pelos ferros da paixão...
4125
Presente nesta data tão bacana
Em que comemoramos mais um ano
De quem sabendo a força que se emana
De um coração divino e soberano.
A vida tem caminhos diferentes
Que levam à total felicidade.
No quanto nós sabemos que tu sentes
A força sem igual de uma amizade
Podemos te dizer: muito obrigado
Por ser a nossa amada e boa amiga
Deixando este caminho iluminado
Quem com carinho sempre nos abriga
Merece muito mais que parabéns
Espalhando esperança entre outros bens...
4126
Amor que com amor se compartilha
Trazendo para os dois a primazia
De ter uma esperança a cada trilha
Seguido com firmeza em alegria.
Do quanto o nosso amor já percebia
Depois da sorte ingrata, uma andarilha,
Que talvez ressurgisse a poesia
Entregue sem pudores à matilha
Das dores e dos medos, da tristeza.
Amor que traz em si tanta beleza
Vencendo os seus algozes, os ciúmes,
Deslinda em nova aurora cores várias,
Distante das invejas temerárias
Encharca o coração em seus perfumes...
4127
Às vezes desfilando em solidão,
Ausente de esperanças, alegrias,
Sem ter ao menos brilho ou compaixão,
Entregue às mais temíveis ventanias.
Jogado a mais completa escuridão,
Apenas os chacais nas cercanias
Minha carne em total putrefação.
Em noites sem igual, tristes e frias.
Depois destes infaustos, novo sonho
Alvorecendo em ti, mulher amada.
Destino nos teus braços, quando ponho
Percebo ser possível a alvorada.
Meu último respiro de esperança
No amor que me permite ser criança...
4128
A voz de um trovador já bem cansada
Depois do duro inverno que passei,
Apenas por teus olhos vai banhada
A sorte em que distante mergulhei.
Não quero mais minha alma destroçada
Na força da tempesta, pois já sei
O gosto desta amarga derrocada
Que tantas vezes, cego eu encontrei.
Permita que eu me cure destas chagas
Nos braços deste amor feito alegria.
Andando por temíveis, duras plagas
Encontro ao fim da vida a fantasia
De ter amor sincero e transparente
Mudando a minha rota, de repente.
4129
Ninando em nosso amor, um acalanto
Que toma por inteiro e nos assalta,
Se faz sem ter sequer ou entretanto,
A senda mais florida já se asfalta
Na busca sem descanso seca o pranto,
Semeia uma alegria, sua pauta.
Não somos solitários. Solidários!
Ganhamos esperanças e festejos
Deixando mil rumores temerários
Vencemos; com juízo, os relampejos.
Cantando em liberdade quais canários
Agora em nossos vôos os desejos
E sonhos de alegria, nosso afã;
Uma paradisíaca maçã!
4130
Não posso permitir tal grosseria
Que grassa entre os estúpidos ladrões
Vestindo paletós, tal confraria
Desfere duros golpes, quais falcões
Banquetes que o poder já propicia
A quem devia dar as soluções.
Matando calmamente todo dia,
Apunhalando sempre os pobretões...
Na súcia que se forma no Congresso,
Talvez já se resolva esse problema
Do crime que se diz organizado.
Prendendo essa canalha, eu te confesso
Não há nenhum bandido que não tema
Pelo bando de amigos, ser roubado.
4131
Verdugos de nós mesmos, tantas vezes
Não percebemos clara a realidade.
Não somos neste mundo simples reses,
Detemos o poder de uma amizade.
Não somos quais cordeiros indefesos
Vendidos por pastores indecentes,
Tampouco aos seus grilhões estamos presos
Unidos e mais fortes, somos gentes.
Nas armas que eles trazem, escondidas,
No bote preparado, viperino,
Lutando pelo bem de nossas vidas,
Mudando na aliança este destino.
Por isso, companheira não desista,
Mesmo contra a tormenta, vá, resista!
4132
Um sonho que se faz em árdua luta
Permite um desvario na batalha,
Às vezes necessária força bruta
Ao mesmo tempo açoda e já retalha.
No grito lancinante que se escuta
O corte mais profundo da navalha.
Apenas a canalha mais astuta
Esconde-se e aproveita qualquer falha.
Nos olhos indefesos dos pequenos
A lança penetrando com vigor.
A morte se aproxima sem acenos,
O medo se espalhando na cidade,
Matando o que restara em desamor,
Mas jamais vencerá nossa amizade.
4133
O mundo, na verdade é preto e branco,
As cores mais bonitas da aquarela.
Meu canto em seu louvor é sempre franco
Maravilhosamente rara estrela.
Que brilha solitária no meu peito,
Amor que me conquista e me alucina.
Mesmo no sofrimento satisfeito,
Seguir-te além de amor traduz-se sina.
Meus olhos vão seguindo cada passo
Que dás rumo ao eterno, com paixão.
Estrela que sozinha neste espaço
Mais forte que a maior constelação.
Amor que me acompanha a cada jogo,
Explode em alegrias, Botafogo!
4134
Os cantos benfazejos da esperança
Permitem cada novo alvorecer,
O vento da alegria e da bonança
Depois de tanto tempo, já faz crer
Que a vida se permite a quem alcança
O gosto desejoso do prazer.
Meandros deste rio quando avança
Na foz em perfeição a se verter.
Amiga, tantas vezes é preciso
Que a vida nos alerte quanto é bom
Nos lábios a se abrirem num sorriso
Comemorando o teu aniversário,
A vida se mostrando em raro dom
Do amor que se faz nobre e solidário..
4135
Flor bela que espancada não sabia
Que toda flor tem sempre o seu espinho,
Às vezes maltratada, outra sombria,
Fugia toda noite de mansinho.
Deixando um coração em água fria
Amortalhado o sonho, bebo o vinho.
O quanto que não quero e nem queria,
Agora vou somente passarinho.
Teu corpo, minha amada, é meu alpiste
Com ele com certeza, cadê triste?
Pulando este alambrado faço o gol
Mergulho na metade que inda sou,
Fazendo do teu porto ancoradouro
Encontro a flor mais bela, meu tesouro...
4136
Oráculos prevejam nossa sorte
Se vimos ou não temos solução
Servimos com certeza de suporte
Ao forte vendaval desta paixão.
Não deixe que a tristeza nos aborte
Parindo esta maldita solidão.
Obrando com desejo bem mais forte
Osculo tua boca tentação.
Escusos os caminhos que seguira
Sentira tão somente o vento frio,
Amor que me aquecera feito pira
Expira e vai deixando este vazio.
O mundo que em verdade sempre gira,
Às vezes ilumina ou vai sombrio.
4137
Jamais pensei perder os teus abraços...
A vida me negava tal hipótese.
Não quero nem pensar em nova prótese.
És feita na medida pros meus braços...
Meus passos definidos por tal órtese,
Não tenho medo, sigo sem cansaços...
Quebrados meus segredos, peço apótese,
Nas horas que vencestes, perco passos...
Não posso definir como te quero,
Apenas que te quero, eu me defino...
Das luzes que queimavam, eu espero,
As cores que causaram desatino...
Os medos me fizeram bicho, fero...
No fundo espero ser o teu menino...
4138
Cigarros acabando neste maço,
A noite não diz oi nem tudo bem.
Caçando bar em bar peço um abraço
E o tempo vai roendo sem ninguém.
O risco de viver é bem escasso,
Amar sem perguntar e sem porém.
Escadas que rolei, olhar que embaço
Há tempos coração perdeu o trem.
Agora vaga mundos, vagabundo
Metralha as esperanças num segundo,
Rumina o que já tive; louco eclético.
Quem dera se amizade inda bastasse
Talvez o coração já se acalmasse,
Mas segue sem juízo; cego e cético...
4139
Tu queres que eu balance este coqueiro
E fale prontamente uma verdade.
Do quanto nada fui, mergulho inteiro
Sou íntimo do medo e da saudade.
Porém quando quebrei o meu tinteiro
Não soube mais pintar com qualidade,
Meu verso vai saindo traiçoeiro
E morde enquanto assopra a tempestade.
Sou vesgo e a miopia me consome,
Um dia em diabetes fico cego.
A sombra do que tive vai e some
Mentindo vou dizer que já me apego
Ao último resquício do que fui
Enquanto o meu castelo inda não rui...
4140
Tampouco não quisera ser cruel,
Apenas arrancar as tuas unhas,
Jogando teu destino alçando o céu,
Desfaço o porto quando me propunhas
Algum vestígio tolo deste mel,
Distante do universo que compunhas
Rasgando o pesadelo, sigo ao léu,
Não quero mais sequer ter testemunhas.
Vivendo em liberdade, aberto o peito,
Agora vou deveras satisfeito
Furando cada olhar mais indigesto.
Eu agradeço a ti, querida amiga,
Palavra tão sincera, que se diga,
Eu sei que me emprestei, mas eu não presto..
4141
No cérebro mistérios e segredos
Arcanos devaneios sensuais.
Estrídulos rebentam velhos medos,
As noites em caminhos espectrais.
Espasmos e desejos, loucos ritos,
Nas lúbricas estradas, mar corpóreo.
O quanto se profanam velhos mitos
Estímulos diversos no sensório.
Amor: uma figura que esquizóide
Em óvulo, gozo, espermatozóide,
Num misto de prazer e de delírio.
Os olhos sem destino, vão libertos,
Caminhos que trilhando são incertos
Às vezes necessitam de colírio...
4142
O quasar que pulsava no meu peito
Deixado nos escombros do que fui.
Sacio cada gozo do meu jeito
A roupa da esperança sempre pui
Vertiginoso salto sobre o nada,
Alcanço este vazio qual funâmbulo
Noctâmbulo vadio se equilibra,
Num passo feito insônico e sonâmbulo.
A morte nunca tarda e já calibra
O bote necessário e até bem vindo.
Vitupérios esqueço, elevo a fronte,
Percebo o monstro cego se emergindo
Na lua que escurece este horizonte.
Amiga, eu me despeço por aqui,
A dor e o sofrimento? Eu esqueci...
4143
Carrego nos umbrais da sorte inerte
O quanto verteria e não consigo.
Por mais que a claridade me desperte
Buscando a liberdade, enfim, prossigo.
Saliva que me morde e desafete
No beijo sem confete e sem abrigo.
Os olhos escondidos no carpete
No quanto nada havia, inda persigo.
Legado dos amores escondidos
Nas praças sem jardim, caramanchão.
No fel imerso em sonhos desvalidos
Resumo o quanto quis e nada tive.
Percebo um antepasto na amplidão
Do amor que sendo inato não retive...
4144
Quem dera, se eu pudesse ao menos te dizer
Do amor que tanto eu quis e o tempo carregou.
Agora tão distante em busca de um prazer
Às vezes me pergunto e não sei mais quem sou.
Resquícios da alegria; um novo bem querer
Talvez na fantasia ou sonho que encantou
Eu pude ter comigo o gosto de viver
Ao lado de – quem sabe?- um dia tanto amou...
Qual um louco, demente, espalho versos vãos,
Tateio o tempo inteiro em busca de outras mãos
Que venham ter comigo alvissareiro sonho...
Amiga, me perdoe e escute; pois talvez
Em meio à tempestade, alguma lucidez
Transforme o meu cantar em algo mais risonho...
4145
Cismando o pensamento, em busca de outras eras,
Retrato de uma infância enveredada em risos.
Amores maltratando, as garras destas feras
Adentram bem mais fundo e negam paraísos.
Felicidade plena, eu lembro que tu eras
A minha companheira em jogos imprecisos,
Bebendo em tua boca eternas primaveras
O jogo foi perdido em passos indecisos.
Olhando para o nada, o vazio corrói
O vento em tempestade, a vida se destrói
No meu rosto enrugado, as marcas deste amor.
As lágrimas caindo encharcam o meu rosto.
O coração se mostra em solidão exposto,
Aos poucos, mesmo em vida, a carne a decompor...
4146
Caminhos que percorro em lágrimas marcado
Deixando que se aflore a dor e o sofrimento.
O medo de viver, há tempos entranhado,
Explode vez em quando e invade o pensamento.
No verso que hoje invento, um derradeiro brado.
A dor da solidão no peito toma assento
Matando o que pensara, um dia, no passado
Ser da alegria plena, o forte e belo vento.
Encharco-me do vinho amargo, avinagrando,
O tempo não ignora e segue deformando
Imagem refletida e agônica, num lago.
Amor amortalhado, imensa distorção,
Na quase conseguida, estúpida ilusão,
No espelho da água, a morte, enfim faz seu afago..
4147.
375 - AMOR EM PAZ...
Só peço, por favor, que tenhas piedade
Daquele que, sonhando, apenas encontrou
O nada por resposta. Ao querer liberdade
Em luta desumana, o quanto se abortou.
Apenas procurando alguma suavidade
Nas mãos que concebera o parto não chegou
Matando em nascedouro a própria mocidade
Inútil sofrimento, o meu sonho acabou...
Talvez inda me reste um último lamento,
Quem sabe em algum canto, a mágica palavra
Que faça ressurgir um resto de esperança.
No amor que agora encontro, a mansidão de um vento
Tocando devagar, ao adubar a lavra
Granando e prometendo um dia em temperança...
4148
Minha alma se perdendo em meio a curvas tantas
Derrames de agonia atingindo meus versos.
Quem fora desespero aguarda novas mantas
Que possam me trazer caminhos mais diversos.
Por vezes encantando enquanto desencantas
Os ares que encontrei; decerto são perversos.
Quebranto, pedregulho, espinhos, não sei quantas
Palavras em tormenta, os sonhos vãos, dispersos...
A cada flor plantada a frustração aumenta.
As asas/ liberdade atadas não voaram,
A vida vai passando, e cada vez mais lenta.
Quem sabe inda terei, além desta saudade
Do quanto que não tive e os versos não negaram,
Um fio de esperança, ao menos, na amizade...
4149
Qual nuvem que caindo em força e tempestade
Meu verso vai seguindo os rastros que deixaste
Amor que se fez chuva emerge na saudade
Do tempo que se foi causando tal desgaste
Deixando tão somente esta mordacidade,
Deveras natural, é do meu canto uma haste
Matando a mocidade, o frio que me invade
Permite tão somente o nada que legaste.
Entranho cada som, esqueço do amanhã,
Vasculho por mim mesmo e nada encontro enfim.
A noite segue fria, a vida segue vã.
Montanha que desaba em dor torrencial,
Marcado pelo nada, escondo-me de mim
Na estrela recoberta, imenso temporal...
4150
Sou simples cantador, um violeiro
Que traz amor marcado dentro em mim.
Se tenho este cantar por companheiro
Que Deus permita sempre ser assim.
Meus dedos vão buscando com anseio
Os braços da viola e da mulher
As cordas da esperança que ponteio
Vivendo em teu caminho, bem me quer.
O sol que me ilumina todo dia
Abrindo meu destino sonhador.
Teu gosto delicado de alegria
No fruto abençoado deste amor.
Vestido de luar que na alma aflora,
Te quero, luz solar, a vida afora...
4151
Não quero te entender, ter-te me basta...
Nas variantes vozes que me dizes,
Nas profanas mordaças, tais matizes
Na corredeira louca que me arrasta...
Muitas vezes luxúrias, outras casta,
Sorrindo da dor, lágrimas felizes.
Procurar liberdade em cicatrizes
Nos segredos sutis, atrai, afasta...
O que me falas, vento já levou.
Tuas malícias, forjas o que sou...
Numa diversa hipocrisia, ris...
Conhecer-te? Jamais queria tanto.
Aos teus olhos, satânico,sou santo...
No fundo, um paradigma, és uma atriz...
4152
Amar além de tudo o que percebo,
Numa emoção diversa e salutar.
Do vento que mais quero e que recebo
Vontade de voar, ganhando o ar
Com asas que não tenho, mas concebo,
Nos braços da esperança vou vagar....
Alados como sonhos, versos leves
Levando para estrelas, infinitos...
Pedindo que sem tréguas já me enleves
Sabendo dos louvores mais benditos
Nos sentimentos puros e tão breves
Soltamos pelos céus os nossos gritos
De intensa sintonia e liberdade
Nas ânsias de saber felicidade!
4153
Um dia, ao não restar sequer a voz
De quem se imaginava andar contente,
Mordido por serpente mais feroz
Morrendo pouco a pouco, estou descrente.
Amor que procurara é feito algoz
Cerrando em minha carne cada dente.
O rio da esperança perde a foz,
Bradando sem resposta, tolamente...
Os beijos enlatados que me deste,
Tampouco me fizeram mais feliz.
A sombra do que sonho me reveste
E o karma que carrego, sina e fado,
Meu anjo se perdeu na meretriz,
Melado neste gozo. Anjo safado...
4154
Palavra que não corta nem machuca
Porém tanto incomoda quanto coça.
A faca penetrando em minha nuca
O fogo se espalhando na palhoça;
A vida pode ser meio maluca,
Mas quem sabe lavrando a minha roça
Enquanto esta palavra assim cutuca
Gotejo de esperança já se empoça.
Amiga, eu sou sincero- estou cansado.
Porrada que levamos todo dia
Chupa cabra na Igreja e no Senado
Matando a cordeirada pobre e crente
Ao ver tal canalhice em miopia.
Podia corrigir a minha lente.
4155
Vesgueio pelas ruas, cão sem dono
Procuro algumas rosas, ganho espinhos.
Não é que eu já reclame do abandono,
Mas sinto, às vezes, falta dos carinhos.
Nas noites mais insones, me apaixono,
Depois esqueço tudo. Noutros vinhos
Tomando meu pileque até que o sono
Chegando me renegue estes caminhos.
Meu barco, sem juízo foi a pique
Chovendo canivete, o piquenique
Acaba sendo espelho do fracasso.
A par do que vivi, amor profano
Comete em lucidez um desengano
E segue meu cadáver passo a passo...
4156
Caminho em pedregulhos; perco a linha
O trem de minha vida descarrila
As dores vão fechando e fazem fila,
A noite que congela é toda minha.
Buscando uma alegria que não vinha
O sangue em agonia já destila
Em goles gigantescos de tequila,
Uma esperança aos poucos se definha.
Amigo, na verdade me liberto
Das pedras que encontrei estrada afora.
A bosta que estercara revigora
E deixa até florir neste deserto.
Bebendo deste sonho em conta-gotas
As roupas que eu vesti ficaram rotas...
4157
A vida ano que vem, talvez quem sabe
Num quase que não tenho já faz tempo.
No passo de quem vai que não se acabe
A pedra no caminho é contratempo?
Bebido deste vinho, pás carrego
Cultivo o que não quis, fazer o quê?
Procuro pelo amor, porém sou cego,
O gozo de viver: diz-me- cadê?
Amálgama dos sonhos, sombras feitas
Batuca uma vontade de aguardente.
A lua te sarrando enquanto deitas
Cravando em minhas costas, unhas, dentes.
Acredito que possa, enfim, voar
Deitando meu tesão neste luar...
4158
Calando sobre o quanto não sabia
Rugindo sobre o quase que perdi
Remorso colorindo a noite fria,
Vencido pelo quadro que esqueci
Rolando pela velha escadaria
Da casa que matei quando nasci.
Talvez inda me reste uma alegria
Despida em noite boa. Vem pra aqui.
Remédios para quê? Já basta o tédio.
Maldito este luar em seu assédio
No orgasmo que chamei, mas que não veio.
Problemas acumulo; mas sem seio;
Sem coxa de morena ou de mulata
Caleidoscópio cego me retrata...
4159
Um multifacetário coração
Amando em frases ocas, sem sentido,
Caminheiro sem par ou direção
Ditame deste sonho; já perdido.
Nas ocas, ocos, tocas, medos, vão.
O quanto que tentara; dividido
Nos ermos da palavra- solidão.
Toando o quanto tive – o sempre não.
Fazendas são distâncias ilusórias
Medalhas esquecidas na gaveta,
Retratos de outras luas merencórias
Corando o coração tão descuidado.
No abscesso da esperança, a dor/lanceta
Resume o que não tive e foi drenado...
4160
O fardo da existência tanto pesa
Nas costas de quem quer ser mais feliz.
Sorrisos e palavras, vã defesa.
Nem sempre o que se fala é o que se diz.
A vida vai se expondo sobre a mesa,
E ao perceber que sou um aprendiz
Às vezes se emoldura com beleza
Em outras vai negando o que eu mais quis.
Sozinho, no começo e no final,
Restando tão somente o simples nada.
Estrelas que carrego no bornal
Não servem pra guiar por toda a estrada.
Da vida que passei, sempre lutando
Minha amiga, ao vazio retornando.
4161
O sonho; da ilusão rica roupagem,
Amante das bastardas emoções
Permite num momento esta miragem
Levando aos mais distantes dos rincões.
Às vezes recriando a personagem
Perdida entre tempestas e vulcões.
Reflete o que se foi em nova imagem,
Das ânsias mais diversas, criações.
Sonhando com o gozo que não tive
Saudades do que fora e já perdi,
A cada novo sonho se revive.
Distante da esperança; volto a ti,
E trago num instante o teu sorriso.
Nos sonhos meu inferno e paraíso...
4162
A cada novo dia te esperando...
O trem da minha vida não descansa.
Não sei nem se suporto ou até quando
resistirá um resto de esperança.
Ouvindo o trem de ferro vir chegando
o meu olhar, destino, não alcança,
eu penso em tua voz já me chamando;
mas nada, nada e nada... Minha alma cansa.
Mas volta pra estação num novo dia,
refeito do vazio que encontrara.
Ó prenda, meu amor e fantasia;
quem dera se viesses neste trem.
Porém, vai novamente e nunca pára,
restando esta esperança que já vem...
4163
Guria, o frio imenso das coxilhas
No poncho, num amargo e no café
Com broa a suportar as duras trilhas,
Montado num cavalo ou mesmo a pé,
Na busca das divinas maravilhas
Que encontro tão somente aí, Bagé;
A sorte se distando muitas milhas
Dos vales deste Rio Muriaé
Espero que ao chegar, braços abertos,
Receba desta boca colorada
O beijo que regando meus desertos
Me traga a recompensa assim, uai,
Tu sabes que minha alma apaixonada
Aos pés de ti, morena, logo cai...
4164
Um lêmure perdido na cidade...
Sinto-me quando encontro teu olhar.
Por vezes me demonstras falsidade,
Em outras já convocas a sonhar.
Revoltas no meu peito, claridade,
Reversos e complexos, morro mar...
Mentiras são humores. À vontade,
Proclamas vibrações, chamas, luar...
Deitada quase sempre num divã,
A diva se redime na vitória.
As plácidas lembranças, vida vã,
Esgotam minhas culpas mais venais
Embora retumbando na memória
Palavras são palavras, nada mais.
4165
Mar! Dono das quimeras que me matam,
Nos vendavais; inquieto me tortura...
Os medos dessas ondas já maltratam,
A noite que marinha é tão obscura
Traz-me fosforescentes algas vivas...
Águas vivas queimando... Tu gravitas
Se eleva por sobre águas mais altivas...
As noites que vivemos não levitas...
Leviatã fantástico... Sereia...
Quem dera desejasses meus desejos...
Incêndios netunares, mar ateia
Forjando maremotos e procelas...
No mar que navegaram nossos beijos,
Abismos terebrantes, belas celas...
4166
Em ti, o meu delírio, uma morfina
Tu és fantasmagórica e demente...
Nos versos que me mentes, amofina
A porta que fechaste vilãmente,
Abriram-se mil olhos na menina
Respeito tuas dores fielmente.
Mesmo que nada trague, já domina
Transforma a minha vida totalmente.
Nas pás com que cobriste as esperanças,
Dormindo retornei sem ter lembranças .
Não foste nem sequer a liberdade...
às vezes vou negando a claridade
e luto contra toda esta engrenagem.
Reflito em ti, portanto, a minha imagem.
4167
.. É tanto amor assim que me alucina
As bocas se procuram, tiram saias.
Encontro de diversa melanina
Meus mares invadindo as tuas praias.
Vivemos nos encontros, noites-dias
O brilho do meu sol em tua lua.
Criamos desse amor, as fantasias
Belezas dessa deusa intensa e nua
Minha rainha d’ébano, ternura...
Dessa boca vermelha e tão carnuda
O beijo mais voraz; atroz brandura
Atiça todo sonho e se desnuda...
Nas garras dessa deusa, mansa fera,
Um misto de princesa e de pantera...
4168
Visão mais divinal que já me trazes,
Em meio a tempestades e neblinas
Olhares que me mostras tão vivazes
Hipnotizam enquanto me alucinas
Floresces do que canto em versos tristes,
Nas flores é que mostras teu destino...
mas peço: os meus carinhos; não evites
Desejo-te com ânsias de menino...
Minha religião: amar-te tanto,
Nas preces que eu te faço, meu amor...
Vestida com sublime e belo manto,
Amando–te com fé e com louvor...
Amor que em noite fria, já me aquece,
Faço-te, em plena luz, a minha prece!
4169
Cultuo a liberdade em meu olhar,
Os céus não me trarão as tempestades.
Também eu não as temo, bebo o mar
Engulo o sofrimento e as saudades...
Depois de tantas marcas, cicatrizes,
Feridas terebrantes são piadas...
Espero nossas noites mais felizes
Embora não persiga as alvoradas...
Desculpe se não trago um firme chão,
Quem dera se eu pudesse ter raízes...
Que faço; pois olhando p’ra amplidão,
Percebo neste espaço mil matizes...
Meus olhos espelhando constelares,
Jamais serão teus mansos, calmos, mares...
4170
Seguindo cada passo, irei aonde fores
Qual sombra, par a par, estradas, sendas, ruas.
Compartilhando assim alegrias e as dores
Nas tramas do prazer, aonde tu flutuas,
Trarão ao meu jardim maravilhosas flores.
Das nossas peles vejo o belo em carnes nuas
Ao ter farta delícia enalteço os pendores
Que trazes, meu amor, nestas loucuras, tuas...
Apaixonadamente entregue ao sentimento
Num misto de desejo e medo de uma ausência,
Vagando sem destino ao gozo de um tormento
O pensamento voa e chega à conclusão
Que encontra no teu corpo o riso e a penitência
Os dois materiais que moldam a paixão!
4171
Cultuo a liberdade em meu olhar,
Os céus não me trarão as tempestades.
Também eu não as temo, bebo o mar
Engulo o sofrimento e as saudades...
Depois de tantas marcas, cicatrizes,
Feridas terebrantes são piadas...
Espero nossas noites mais felizes
Embora não consiga as alvoradas...
Desculpe se não trago um firme chão,
Quem dera se eu pudesse ter raízes...
Que faço, pois olhando p’ra amplidão
Percebo neste espaço mil matizes...
Meus olhos espelhando constelares,
Jamais serão teus mansos, calmos, mares...
4172
Eu trago lá de Minas a saudade,
Marcada pelo gosto deste beijo.
Criança que viveu a liberdade,
Dos montes, dos riachos; pão e queijo.
Porém meu coração não tem juizo
E sofre por amar mais do que sabe.
Nas contas que já fiz; só prejuízo
Causado por querer bem mais que cabe.
Às vezes me pergunto como pode,
Mineiro não mergulha tanto assim.
Se bobear um pouco ele se explode
Não sei o que será; pobre de mim...
Um coração mineiro apaixonado
Pesando pra caramba aqui do lado...
4173
Bem sei que minha morte apagará lembranças
Do riso cometido e da lágrima que abriga.
O quanto que não fui, amargas esperanças,
O sonho insatisfeito, uma agonia antiga.
Promessa inconseqüente exposta em contradanças
A falsa gargalhada, o amor que desabriga.
Alma que vocifera e vai sem temperanças
Nem rastro do que fui, nem sombra ou luz amiga.
Morrer completamente, uma ausência absoluta!
Matéria transformada. Apenas a certeza
Desta transformação um eterno ilusório.
Da massa que restar em forma podre e bruta
A vida se refaz em mágica beleza
Por isso minha amiga, esqueça o crematório!
4174
Não quero a glória imensa herdada nas batalhas
Tampouco um heroísmo algoz e sanguinário.
Eu não quero a riqueza erguida por navalhas
Cortando; fundo, a carne em gozo temerário.
Não quero – sanguessuga; enquanto tu trabalhas
Nem mesmo trucidar qualquer um adversário.
Não quero carregar amores como tralhas
Nem mesmo a luta insana e ardente de um templário
- No peito serenado, esqueço de medalhas.-
Prefiro este perfume- o que vem do jardim
Trazendo a boa nova: a rosa que brotou,
A festa em que se mostra o amigo que chegou.
Refletindo a alegria e amor que existe em mim;
Eu quero, com certeza, o brilho da amizade
E o maior heroísmo: a vida em liberdade!
4175
Amor que prometeste – anel que se quebrou
Olhando o meu passado, há tanto por dizer
Do sonho que abortei; do nada que chegou.
Da noite que perdi, da ausência de prazer.
Amor que prometeste – o tempo aniquilou...
O gosto do vazio, herança de um viver
Que nada me trazendo, o nada me deixou.
Do tanto que eu queria; o vazio restou...
As bocas que eu beijei; as tolas gargalhadas,
A festa prometida em danças demarcadas,
A moça na sacada, a lua na varanda.
Os sarros na calçada; o gozo que não veio.
A mão desce gulosa, encontra um belo seio...
A vida em carrossel. Girando na ciranda...
4176
Carregas a beleza de outra vida
Em todo esse mistério da natura.
Eu sinto que transborda, assim, querida;
Amor que em ti achou toda ternura...
Eu quero que me escutes, vale o tempo
De espera pelo brilho que virá.
Não tema assim sequer um contratempo
Que o sol mais uma vez radiará.
Depois dos tantos dias de cultivo
Na doce sensação, fecundidade.
Do sonho que risonho; sinto e vivo,
A força que te move: eternidade.
Em toda essa ternura, a maciez
Trazida pelo amor, na gravidez...
4177
385 - AMOR...
Em argênteas doçuras, branca neve,
Quando em trevas noturnas, um oásis...
Aos poucos; com carinho leve e breve
Mudando sua face em tantas fases.
Se das névoas, coberta é fino véu...
Vagando solitária no deserto.
Reina, maravilhosa, no meu céu
Em seus braços - futuro vai incerto...
Eu amo as suas rendas, seu cetim.
Em brancas, alvas luzes, me inundando.
O bom de todo amor que existe em mim,
Nas horas mais tardias, transmudando.
Beleza que me encanta clara e nua...
Deitada em minha cama, amada lua...
4178
Estou a te esperar faz tanto tempo
Que nada impedirá de ser feliz
Nem tempestade, medo ou contratempo
Tampouco uma ferida em cicatriz.
Amar não é, querida, passatempo
É tudo o que sonhei e sempre quis...
Estar contigo agora, a vida inteira,
Ouvindo uma canção mais otimista,
A sorte e a fantasia companheira,
Querida, por favor, jamais desista.
Contigo noite e dia, sempre estou,
Por vezes te pareço mais distante...
Não foi um outro amor que me enlevou
Apenas teu olhar estonteante...
4179
Há tempos te procuro, prenda minha;
Dos pampas a mais bela que já vi.
Do coração mineiro, uma rainha
Te espero, minha amada, bem aqui.
Nas terras mais geladas de onde vinha
Às mais altas montanhas, quero a ti.
Menina mais faceira e mais bonita,
Tua presença cura qualquer dor.
O meu olhar se perde quando fita
Teu corpo tão perfeito e sedutor.
Morena quero enfim, poder te dar
Um beijo nesta boca carmesim,
Contigo caminhando no luar
Do amor que é tão imenso dentro em mim...
4180
Fazermos nesta noite, estripulias...
Dançarmos mil desejos nesta cama.
Prazeres dedicados, mil folias!
Nem mesmo a vizinhança mais reclama!
Amor que a gente faz traz alegrias,
Rolando estas estrelas, lua e grama...
Tocando devagar mão no pescoço
Descendo tua boca... Que loucura!
Amar sem ter juízos... alvoroço
Nos corpos que se juntam; na mistura
Sabemos desfrutar deste colosso
Que rola a noite inteira, com ternura...
Depois de viajarmos nos corcéis
Bebemos calmamente nossos méis...
4181
Que a vida não te trague além deste horizonte
A tempestade atroz que vibra em eloqüência
Assoreando a sorte e secando esta fonte
Mostrando a dor cruel imersa na inclemência
Causando à fantasia o temível desmonte.
No caudaloso rio, amor em evidência
Deslumbre ao qual se expõe quem atravessa a ponte
E ganha como prêmio o poder da ciência.
Persiga, minha amiga, a estrela que luzindo
Invade a noite escura e traz em esperança
Perfume benfazejo imerso na bonança.
Querida companheira, aos poucos vou sentindo
A brisa me roçando o rosto, num carinho,
Como a dizer: - Amigo, encontraste o caminho!
4182
Quando, no entardecer eu sinto a ventania
Batendo no meu rosto exposto ao sol,
Relembro do que fora apenas fantasia
Perdido sem destino, um barco sem farol
Há tempos dentro em mim a sorte se escondia
Fingindo ser feliz; negara o girassol.
Sangrando em nascedouro, abortando o meu dia
Bebendo da tristeza; isolando-se: atol.
A noite traz o luto, o sol já se escondeu.
Amor que tanto eu quis, percebo que morreu
Nos braços da saudade, adormecer? Quem há de...
Amar e ser feliz: um sonho benfazejo.
Porém a solidão explode num bafejo;
Em ventania intensa, adentra pela tarde...
4183
A dor de amar demais e nunca estar contente,
Amordaçando o sonho em velhas catedrais
No quanto nada fui; vazio se pressente
O meu olhar distante aguarda um novo cais.
Arcanas ilusões num canto tão demente
Sangrando o coração. Amores são vitais,
Porém a dor prossegue e toma totalmente
Deixando como herança estranhos funerais...
Quem dera se tivesse o vento da bonança
Nos lábios da mulher que tantas vezes quis.
A noite se aproxima, a tarde em dor avança,
A solidão se mostra inteira em noite plena.
Um dia até pensara, enfim ser mais feliz.
As brumas, tempestade, apagaram a cena...

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