quinta-feira, 22 de abril de 2010

HISTÓRIAS DE UM REPENTISTA VOLUME 35

5860
Amor assim, bandido e vagabundo
Que engana e faz promessas, logo esquece,
Se foi delicioso num segundo,
Ajoelhando esquece toda prece.
Vagando solitário pelo mundo,
Uma outra teia, cedo vai e tece
Se dá pra qualquer um já se oferece
Fenece mas renasce mais profundo.
Vivendo da aventura e do desejo,
Mal vejo já se entrega noutra esquina,
De todos sentimentos, tenho pejo
De tantas desventuras, sedução,
Ao ver tua nudez eu me alucino,
E deito no teu corpo o meu perdão...
X
5861
Falei sobre teu nome com a bruxa
Que fez a previsão mais acertada,
A dor quando lateja e já repuxa,
Na perna que senti, foi amputada
É como uma saudade do que fui
Num tempo mais distante e sem sentido.
De tudo o que passamos já se intui
Que nada foi bem feito e resolvido.
Teu leito qual de rio seca o peito
Amante que te quis por toda a vida,
Vingando meu destino já desfeito
Eu agradeço a ti, minha querida,
O cálice salgado que me deste,
Do amor que prometeu ser inconteste...
X
5862
Ao caminhar insone pelas ruas,
O corpo vai expondo as cicatrizes,
Os dias se passaram mais felizes,
As horas foram mortas, ledas, nuas...
A lua se desnuda onde flutuas
E pinta a tentação noutros matizes,
Dançando em minha cama são atrizes
No picadeiro imenso quando atuas...
E finges num sorriso, ledo engano,
Desesperadamente não disfarças,
Vou farto, embriagado e soberano,
Na peça que encenaste, nada vejo..
Apenas sentimentos quando esgarças,
Por ironia aumentam meu desejo...
X
5863
Nós no jardim do amor, a lua plena...
Estou embevecido, apaixonado..
Se nessa estrela guia, a noite acena,
Deixando o sofrimento assim, de lado...
A boca que ofereces, tão serena,
Num beijo santa prece, extasiado,
A mansidão suprema e tão amena
Agora eu entendi meu sonho alado
De ter estrela guia, anjo sublime,
Enlevo de doçura e maciez,
Amor é tão voraz mas já suprime
O que faltara sempre para mim,
Estrela guia mostra na nudez,
Somente serei teu, pra sempre... Enfim...
X
5864
Quero desvendar cada segredo
No labirinto imenso da paixão
Traçando no teu corpo cada enredo
Imerso em total alucinação...
Por tantos descaminhos me enveredo
Vou vendendo a minha alma sem perdão.
Fazendo deste templo todo o credo,
Ns formas mais sutis da tentação...
Amor que desgarrado sela o rumo,
Arranco todo o véu da hipocrisia,
E bebo desta taça todo o sumo,
Que existe e que resiste dentro em mim,
Espalho sobre ti a fantasia,
Esse profano amor, eu quero assim.
X
5865
.
Logo ao te ver andando pelas ruas
Recordo-me das noites que passamos,
As nossas silhuetas seminuas
Nas camas e nas lamas que tramamos.
As bocas se mordendo leves, cruas,
Instantes em que quase flutuamos.
Atuas noutros palcos onde suas
Desejos teus encontram outros amos.
Dizer-te: como estás? Prazer em vê-la.
Cinismo hipocrisia, mas que faço?
Noutra constelação virou estrela.
Aqui já encontrei uma outra atriz,
Roubando tua cena e teu espaço.
É bom saber que estás também feliz?
X
5866
Teu amor convulsiona e me domina,
Atira-me pra cama sem pudores,
Teu corpo de mulher, ar de menina
Sorrisos delicados, sedutores...
Meu corpo neste templo desatina;
Penetra por altares tentadores,
Perder-me nessa mata, minha sina,
Na troca de salivas e de humores....
Tua beleza rara e transbordante,
Levando alucinada, a tal loucura,
Mistura angelical com a bacante
Que deita em minha cama todo dia,
Esbalda mansidão numa tortura
No fogo sensual, ninfomania...
X
5867
Descansando no colo da morena,
Na rede de teus braços meu amor,
Vontade de ficar contigo acena,
Me perco em teu carinho tentador.
Saudade quando muito me envenena
Tomando da alegria o bom sabor,
Vem logo, que eu te espero, bem serena
Morena, com teu jeito sedutor...
Açucena bonita do jardim,
Morena meu amor é todo teu,
A cena que guardaste para mim,
Vem plena de calor de carinho,
Serena, do meu mundo se perdeu,
Que pena, mas voltei a ser sozinho...
X
5868
Teus seios, doces seios, tão macios...
Quem dera poder neles me perder;
Eu saberia então o que é viver!
Jamais eu sentiria tantos frios
As coxas já deflagram qual pavios
Numa explosão difícil de conter;
Delicioso campo do prazer.
Quem dera misturar os nossos cios!
Penetrando com calma, devagar,
Essa estrada tão bela lembra o mar;
Neste úmido desejo, meu caminho.
Venceria, feliz, o meu complexo,
Viveria contigo: seu anexo...
Explodindo os dois juntos num carinho...
X
5869
Do amor que a liberdade em versos clamo,
Ocupo o pensamento o tempo inteiro,
É planta que concebo pelo ramo,
Eu amo o teu amor alvissareiro.
Liberto o sentimento e não reclamo,
Pois sei quanto quiseste este janeiro.
Ao ter-te novamente, sempre tramo
Amor que desejei mais verdadeiro...
O amor que sempre canto é todo teu,
A pena mais cruel é a saudade...
Meu coração insano, pois ateu,
Deixou de ser incréu, te conhecendo,
Amor que trouxe o mel da liberdade,
Sentidos mais diversos, percorrendo...
X
5870
Para quem vive neste mundo só,
Amigos são as pontes para a vida,
Um lobo solitário causa dó,
Uma esperança sempre cai perdida.
A solidão penetra como faca
Trazendo a sensação deste vazio,
Qual febre alucinante quando ataca,
Matando sem calor, portando o frio.
No exílio de minha alma, nada resta
Senão tua amizade, companheiro.
Sem ela vou ao caos e perco a festa
O mundo sem sentido, o tempo inteiro.
Mas sei que em tanta coisa eu não me iludo,
Uma amizade plena é quase tudo...
X
5871
Amigo em nobre cofre coração
Guardado com carinho dentro em mim,
Precisa de vontade e doação?
Jamais amigo cobra nada assim.
Uma amizade é feita no perdão
Incondicionalmente. Nada enfim
Compara-se com essa sensação
Saber que na verdade, existe o sim.
E o não se necessário nunca omite,
Amor que se faz pleno e nada cobra,
Não sabe e nem conhece qual limite
Abrindo com carinho o dito cofre,
A força para a luta já recobra.
E junto com quem gosta, amigo sofre...
X
5872
Uma amizade é sempre proveitosa.
E porventura, a nossa foi assim,
Perfume obrigatório em cada rosa
Misturas com essências de jasmim.
Distante te percebo generosa
Teus versos sempre fazem bem p’ra mim.
Minha alma se sentindo tão vaidosa,
Contigo irei, amiga, até o fim...
Passamos por percalços nessa vida;
Mas temos nosso afeto salvador.
Tua presença viva e bem sentida
Ajuda-me nas horas complicadas.
Acima da paixão e de um amor,
As mãos unidas sempre acalentadas...
X
5873
Ordena, o meu destino, que te siga
Por tantos universos quanto existam.
Cantando nos meus versos, minha amiga,
Que os medos de menino não resistam.
O fado de ser teu, já me condena
Feliz alegoria da esperança.
Maravilhosamente quero a pena,
Que é feita toda em paz e em temperança.
Olhar que já te alcança de saída,
Na dança da alegria a que se expõe
Por mais que te pareça destruída,
A paz no teu sorriso recompõe
No passo mais preciso que persigo,
Quem dera meu amor, viver contigo!
X
5874
Ressuscitando amor já quase extinto
Num peito que se fez teu devedor,
Nas cores que me deste se me pinto
Refaço meu desejo em cada cor.
Às vezes insincero tento e minto,
Mas forjas outro mundo encantador
Me embriagando, louco, neste absinto,
Te sinto em cada rama em cada flor.
Se queres meu querer, não faças isso,
Honestos sentimentos sempre trago,
Amor não se refaz somente em viço,
Precisa mais profundos argumentos.
Eu quero teu amor em manso lago,
Não vibro mais em trágicos tormentos...
X
5875
Espero-te, sozinho no meu quarto,
Meu pinho está chorando tua ausência.
De tanta solidão, por certo farto,
Perdendo totalmente a paciência.
Escadas, tanto andar, moro no quarto.
Subir escadaria é penitência,
Senão vier amor, depressa eu parto,
Então querida, venha por clemência.
Se quero o teu amor já não disfarço,
Compasso passo a passo com teu passo,
Espero esta presença mais depressa.
O sol já quer se por e eu tenho pressa,
A noite não chegou, meu bem, ainda...
Mas saiba a qualquer hora és tão bem vinda...
X
5876
Uma amizade é plena se sincera,
Não deixa que se omita uma verdade.
Nem sempre em plena paz, às vezes fera,
O que importa é a dura realidade...
Falando sem temer à plena, à vera,
Demonstro em meu carinho, uma amizade
De quem se gosta, amigo, o que se espera
Franqueza absoluta e sem maldade.
Brigamos, discutimos, sem perdão,
Apenas por amarmos, bem querermos,
Depois de muita guerra e discussão,
Aprenderemos sempre o bom caminho.
Verdade só se mostra nestes termos,
É mais fácil errar se estou sozinho...
X
5877
Encosto meu desejo em tua pele,
Rolamos noite inteira sem parar,
O meu corpo ao teu corpo se compele
Invado as tempestades do teu mar.
O gosto de contigo naufragar,
Tu pedes e repetes que revele
O brilho que escondeste do luar,
As marcas do prazer tu queres, sele
Em tuas belas pernas, devagar...
As velas deste barco que navego,
Me levam aos lugares mais bonitos,
No sal apimentado já me apego
E sinto a embriaguez dos teus desejos
Cumprimos toda noite os mesmos ritos,
Em meio a tempestades, mil festejos..
X
5878
Teus olhos tão suaves e serenos,
Cativam quem os mira com cuidado,
Olhos maravilhosos e pequenos
Certeza de um desejo bem marcado.
Feitiço que me encharca de venenos,
Amor perfeito, assim, extasiado,
Dos lumes destes olhos, os meus plenos
No canto que te faço, apaixonado.
Recebo de teus olhos brilho farto
E aos poucos me enamoro mais e mais,
Aqui na solidão deste meu quarto,
Percebo logo o lume deste olhar,
Assim na claridade que ele traz,
Eu sinto que alegria vai chegar...
X
5879
Trazendo essas imagens distorcidas
De um tempo em que vivi felicidade,
Agora minhas mãos vão decididas
Na busca de um amor que, na verdade
Tramando uma esperança em nossas vidas,
Se embrenhe procurando claridade.
Embora já perceba de saída,
Que o resto disto tudo: uma saudade...
Vivi por longos anos na procura
De um cais onde eu pudesse me aportar.
Felicidade morre sem pintura
Depois de tanto tempo sem ninguém,
Pergunto por teus rastros ao luar,
Depressa, meu amor, que a noite vem...
X
5880
Vivendo no castelo da esperança
Sozinho sem ter nada nem ninguém,
A noite simplesmente vai e vem,
Na eterna dança feita insegurança.
O tempo que inclemente vai, avança
Deixando tão distante o grande bem
Só vejo enfim, um vulto, mas é quem?
Um resto malfadado da lembrança?
Meu sonho emoldurado nos vitrais...
Baixinho... bem distante eu ouço a voz
De tempos tão longínquos... nunca mais...
Debruço nas ameias te esperando,
Anseio tua volta, amor atroz...
O tempo desse jeito, vai passando...
X
5881
Não tema; meu amor, nada separa
As almas dos amantes se sinceras.
A sensação divina e que é tão cara
Encara as tempestades, duras feras...
A força de teu braço me antepara
Mesmo que sejam longas esperas
A marcha deste amor ninguém mais pára,
Por maiores que sejam as crateras
Abertas nos caminhos de quem ama
As asas da emoção superam tudo.
Não há vento que apague a forte chama
Que queima no meu peito enamorado.
Mas precisa cultivo. Eu não me iludo,
Lutando a cada dia, do teu lado...
X
5882
Uma amizade é feita num sorriso,
Numa palavra amável, de carinho,
Se no momento exato, enfim, preciso,
Nos dará a direção do bom caminho.
Um elogio franco e bem medido,
Uma dedicação quando se expressa,
Mostrando que esta vida faz sentido,
Um sentimento nobre que confessa.
O dom de ser feliz se faz assim,
Nos gestos tão pequenos, mas imensos,
Tua amizade mostra-se por fim,
Melhor assim que em gestos mais intensos.
Não sabes, meu amor, minha querida,
Mas mudas totalmente enfim, a vida...
X
5883
Não devo mais matar esta ilusão
Que é fonte de desejo e sentimento.
Embora tantas vezes, pensamento,
Se perde emaranhado na paixão...
Rasgando pouco a pouco o coração,
Negando imensa paz deste tormento
Que faz de uma alegria, sofrimento,
Gritando tantas vezes sim no não.
Quem dera se meu verso te dissesse
Do amor tão gigantesco que te trago.
Meu canto em emoção quase de prece,
Traria novamente uma esperança
De ter depois de tudo, o teu afago
Na voz suave e doce, quase mansa...
X
5884
Amigo; nos teus ombros me apoiei
E pude, desta forma ter visão
Maior do que jamais eu esperei
Podendo ver, do mundo, a amplidão.
Teus braços me guiaram pela vida
E sempre me ampararam; meu amigo,
Até quando a minha alma anda perdida,
Eu posso sempre estar; contar contigo...
Por isso, camarada e companheiro,
Eu tenho esta certeza da vitória,
Quem encontra um amigo verdadeiro
Já pode agradecer a Deus, a glória
De ser bem mais capaz e preparado
Pois tem um anjo bom, sempre a seu lado...
X
5885
O sol posto, nas nuvens solidão!
Meu verso enamorado de teus braços.
Embalde repetindo esta canção,
Meu sonho procurando teus espaços.
Aguardando-te intero o coração
No tinteiro da tarde nos terraços
Mais altos, nos bordados da amplidão,
Precisamos atar os velhos laços...
Ficavas abrigada das tempestas,
Amor quando é verdade, louva a vida
É gás que me cintila em gozos, festas.
Lembrança dolorosa não se acoite
Amor que não se orgulha deste açoite,
Descansando nos braços teus, querida...
X
5886
Um mimo tão estranho que me deste,
Bem sei que com carinho e com presteza,
O vento da esperança, leste, oeste.
Só sei que aqui chegou, tenho certeza.
Vivia enamorado de teu rosto
Que exposto no retrato da parede
Mostrava uma beleza em fino gosto
Alimentando amor, em fome e sede.
Agora que recebo este teu mimo,
O meu retrato em forma-coração,
Percebo quanto mais assim te estimo
Será que amor não foi uma ilusão?
E peço, encarecido que me digas,
No peito, amor por mim, também abrigas?
X
5887
Desculpe se chamei-te de criança,
Defesa, simplesmente, nada mais,
Guardando o teu sorriso na lembrança
Com medo de, na vida, perder paz,
Chamar-te para a festa e para a dança
Que à gosto a nossa vida sempre traz.
Só sei que há tanto tempo amei demais
Vibrando no meu corpo uma esperança
De ser além de tudo, teu amado,
É sonho que trará um sofrimento
A quem por tanto amor já foi marcado.
Propostas amorosas? Por favor; não!
Eu sei que a solidão, este tormento,
Maltratará demais o coração...
X
5888
As mãos macias desta deusa nua
A passear tanto carinho insano.
Minha alma satisfeita então flutua
Das santas alegrias já me ufano.
A boca me promete e morde, crua,
Viajo por espaços outro plano;
E a noite encantadora, continua...
Não me permitirá jamais engano...
O mundo, quando um Deus amante fez
Não tinha inda metade desta luz
Que, clareando a vida, me conduz
A teus braços, total insensatez..
Me rendo aos teus caprichos, teu desejo...
A boca escancarada pede um beijo...
X
5889
A vida sem seu braço esquece do deleite.
Chorando, convulsivo, a madrugada fria...
Minha esperança, breve, escapa.Fugidia...
Quem dera se eu pudesse, atar-me, como enfeite,
Ao corpo da pantera. Espero que m’aceite
Ao menos um segundo... O meu mundo teria
O brilho d’uma lua. A vida sorriria...
No braço que preciso, aguardo que me estreite!
A solidão atroz aguarda pelo encanto
Da deusa que se esconde, em alvo e belo manto.
Adormeço e não tenho a presença que espero...
Qual falena procuro o lume, mas não vem.
Outra noite se passa; outra vez sem ninguém
Tua beleza imensa: amor, desejo fero!
X
5890
Não falo da tristeza. Ela sempre virá,
Quer queira ou nunca queira, a vida continua...
Em busca de carinho, o meu destino: rua!
Muitas vezes sozinho, aqui ou acolá.
Procuro meu socorro. Em vão! Não chegará...
No frio de minha alma, o meu corpo já sua.
A vida que sonhei, jurei que era tua.
Mas não vieste e, só, vida segue má...
Amor, dedicação... São sentimentos frágeis.
As mãos que me negaste, em sonhos eram ágeis.
Reparo bem na sorte...Essa palavra engana.
Pensamos, num segundo em coisa benfazeja.
A sorte de viver, o que mais se deseja...
Porém a minha sorte, há muito me abandona...
X
5891
Eu quero te cobrir com meu amor,
Nessa entrega total, perder o siso,
Os corpos se misturam com ardor,
Tomando em bem querer nosso juízo...
Lambuzo tua boca sem pudor
Com mel do meu desejo em paraíso,
Vibrando no teu corpo tentador,
Atado na nudez, eu me matizo..
E vibro a cada instante, tu és minha,
Mulher maravilhosa que sonhei.
Teus seios, minha boca, tudo alinha,
Fulguras como em ti eu me abrasei.
Revelo o meu amor, sussurro manso,
E o máximo do amor, contigo alcanço...
X
5892
Amiga tua mão tão carinhosa,
Em dádivas diversas, se apresenta.
Arranca mil espinhos de uma rosa,
E traz uma emoção quando se assenta
Nos ombros de quem pena pela vida,
As dores tão cruéis que se ofertaram,
Ajuda a encaminhar quando perdida,
As sendas dos que tanto amarguraram
Os erros cometidos no passado,
As quedas e os tropeços no caminho,
Amiga, no teu passo, emoldurado,
Os símbolos tão puros do carinho...
As dádivas se feitas com amor,
Já dobram, com certeza, de valor...
X
5893
Nestas águas tão claras que navego
Em busca da sereia que fugiu,
O rastro que encontrei escapuliu
Na luz que me deixou vazio e cego.
Amor que sei imenso e nunca nego,
Ao mesmo tempo santo se faz vil.
Meu mundo neste mar se dividiu
Em correntes marinhas que trafego.
Buscando minha amada, a tal sereia,
Qual náufrago termino em plena areia.
No sol que me castiga, a salvação!
Fortuna me negou o manso vento,
Voando, neste indócil pensamento,
Mergulho no oceano da paixão!
X
5894
Ok, minha querida, tudo bem...
Aceito a decisão e fim de papo.
A solidão parece que já vem,
Fazer o quê? Eu juro não escapo
Depois talvez ressurja noutro alguém
Mas por enquanto resta só um trapo.
Sozinho, minha amada, sou ninguém,
O coração esgarça num fiapo.
As malas arrumaste, podes ir!
Pra casa dos teus pais, e boa sorte.
Não tenho quase nada a te pedir,
Somente desejar felicidade...
Tá bom... serei portanto bem mais forte,
Meu prêmio de consolo... Uma amizade....
X
5895
Esquece o nosso amor. Tu me disseste,
Mais uma vez, querida, obedeci.
O vento que soprava, sudoeste,
Agora noutros ventos me perdi.
Por mais que uma ilusão já não me reste
Apenas te saber, cuidar de ti...
O que fazer? Manter a mesma veste
Se nada do que quis encontro aqui?
Seguir por outro rumo, obediente,
Beijando tantas bocas que nem sei,
Vivendo ou mais tentando estar contente,
No continente imenso. Uma outra chama,
Quem sabe se depois, seguindo a lei,
Te encontre novamente em minha cama..
X
5896
Fazendo do meu canto um instrumento
Que dê algum prazer ou alegria,
Servindo pr’a quem canta de um alento
Trazendo pr’a quem ouve a fantasia.
Meu verso passa a ser um instrumento
Que traz dentro de si a sintonia
Perfeita e minimiza o sofrimento.
Num mundo que bem sei ser utopia
Por isso canto amor, louvo a amizade;
Meu canto talvez seja outro retrato
Diverso dessa dura realidade.
Desculpe, meu amigo, se isso traz
Distâncias entre o sonho e o triste fato.
À guerra eu preferi a santa paz...
X
5897
Conhecer os caminhos , as bandeiras
Saber de cada estrada e seara.
As defesas em lutas derradeiras,
Desfrutar da pepita bela e rara.
Penetrar casamatas e trincheiras,
Convidando teu corpo, amada, para
As guerras, novas danças nas esteiras,
Nada; nem a distância nos separa.
Nos lençóis, no sofá ou no quintal.
Bebendo à nossa glória mil champanhas,
No vale, na montanha, no curral.
Descendo por teus rios, matas, mar.
Adentro finalmente nas entranhas
Conhecer... conquistar... colonizar..
X
5898
Atormentando amor com versos vários,
Diversos do que sempre me propus,
Recebo destes ventos temerários
O gosto mais amargo que supus.
Fechando o sofrimento em calendários
Passados do que amor que agora pus.
Invado teus desejos, não templários
Bebendo de teu corpo farta luz...
Se faço com meu gesto teu ciúme,
Me esparso e vou disperso no meu canto.
Roubando do jardim, todo o perfume
Matando a sensação de tua ausência,
Amor sentindo em ti, total encanto,
Já sabe e necessita de premência...
X
5899
Eu quero desvendar teu poço escuro,
Roubar desta umidade; fonte e mel,
No gosto mais suave e, sei, tão puro,
Atento ao teu desejo viajo ao céu...
Por vezes, o meu passo é inseguro,
Por outras, me tonteio em carrossel;
As mãos tão delicadas que seguro,
Desnudam-me e retiram o teu véu...
E vivo agonizante nos teus braços,
Gemidos, alaridos suspirosos,
Numa paixão vadia, nossos passos,
Maravilhosamente te desnudo,
Abrimos os caminhos mais gostosos,
E mergulhamos livres... Sim... com tudo...
X
5900
Não quero transformar a nossa casa
Num terreno propício para a guerra,
Amor sem ser feliz logo desterra
Ao ver nosso castelo ardendo em brasa.
Se tudo que vivemos nos abrasa
Total devastação na nossa terra
Meu barco, solto ao mar, à deriva, erra.
Sou pássaro perdido sem ter asa.
Em verdadeiro campo de batalha
Não posso mais conter, a dor se espalha;
E nada do que fomos vida traz...
Espero que te lembres da alegria
Do tempo em que tivemos harmonia,
E em nosso mundo voltará a paz...
X
5901
Se em branca neve nascem rosas belas
Se em árido deserto nascem flores,
Amor quando impossível me revelas,
Nas horas insensatas, bons humores,
Se tramas sentimentos coerentes
Mil vezes estarás sem ter sentido.
Às vezes nos momentos envolventes
Se perde totalmente o concebido.
Amor/incoerência se equivalem,
Trazendo no non sense uma razão,
Tão perto e tão distante não me falem
Do manso sentimento em supetão.
Um coração caótico abrandado,
Que renasce ao morrer apaixonado...
X
5902
O sol que já traspassa essa janela
Adentra devagar, tomando tudo,
Na claridade imensa se revela
Amor tão delicado sem contudo.
Não nego o sentimento que me arvora,
Nem temo insensatez que ele proclama.
Minha alma na tua alma se decora
Acende portentosa intensa chama.
Dourando cada fio de cabelo
Daquela que envolveu meu pensamento,
Amor quando é demais, quero revê-lo,
A cada novo dia em bom momento.
Beleza em transparência diamantina,
Abraça, quando adentra e me domina....
X
5903
Refeito deste susto que passei
Em busca dum amor mais que perfeito
Em mansa claridade já me deito
E quero me esquecer que nunca sei
Se queres ou não queres minha lei
Se sabes ou não sabes do meu leito.
Da boca que me morde o meu confeito?
Jamais serei aquilo que sonhei!
Eu quero a mansidão sem ter espora
A parte que me cabe não demora
Sei que serei feliz ao lado teu.
Mas posso te dizer deste meu verso
Que rasga sem temer este universo
Vivendo desta luz que em ti nasceu...
X
5904
Ufano da vitória contra o mal,
Amor já se apresenta enfim, sorrindo.
Com toque de malícia e sensual,
Em pétalas de flores vai se abrindo.
Perfuma totalmente minha casa,
Aromas delicados, olorosos,
Ao mesmo tempo chega e já me abrasa
Abraços tão gentis e calorosos.
Recebo teu carinho qual sedento
Viandante por desertos quer oásis,
Secando toda fonte, sofrimento,
Vagueio por teus braços, luas, fases.
E sinto-me vencido e tão feliz,
Amor que sana em paz a cicatriz...
X
5905
Amor só se conquista com carinho,
Assim também se fez nossa amizade.
Quem não pretende ser jamais sozinho
Não deve demonstrar autoridade.
Com guerras não farás um belo ninho,
Somente pela paz, felicidade,
A rosa não conquista pelo espinho,
Somente na alegria, saciedade...
Sendo assim querida, mais amável,
O mundo te será mais benfazejo,
O vento que te sopra favorável,
Aquele que me acalma e me acarinha,
Fazendo da harmonia o seu desejo
Tornando essa alegria tua e minha..
X
5906
Percebo meu futuro da janela
Espero mas não posso mais contar
Com a luz, com o brilho do luar
Já que nem toda noite se revela.
Meu barco vai sem quilha e perde a vela
Dentro de pouco tempo, naufragar.
Não quero ser sozinho e peço par,
Amor que me liberta desta cela
Por onde nem a luz deu sua cara,
Corcel que voa solto já dispara
Em busca de outro céu já não se cansa.
No risco que permite minha caça
Amor que não consigo se esvoaça
E dorme nos teus braços,esperança!
X
5097
Tantas vezes, nas noites constelares,
Teus rastros pelos astros, eu procuro.
Vagando em tantos brilhos, nos luares,
Iluminando assim um mundo escuro
Aonde me encontrei por tanto tempo,
Os passos se perdendo nesta estrada,
A cada nova curva e contratempo,
O medo de não ter nova alvorada...
Surgiste como um sol queimando lento,
Na aurora divinal, uma esperança,
Amada, não me sais do pensamento,
O teu olhar, teu lume sempre alcança
E traz; a cada dia, uma certeza,
A vida do teu lado; uma beleza...
X
5908
Mares e marés, matas, cachoeira
O canto da promessa já se cala.
A dor que me tortura a vida inteira
Batendo nesta porta, entra na sala...
E traz a tempestade verdadeira
Que pesa em minha vida, quero amá-la;
Tomando em meu destino, a dianteira.
Calando-me não deixa sequer fala.
Quem sabe encontrarei no fim da vida
Depois de tanto amor em despedida
Depois da solidão terrível fera,
No cimo das montanhas, meu cansaço,
Encontro nestes rastros o teu traço
Trazendo para mim a primavera...
X
5909
Nos jardins desta vida, tantas flores,
Os retratos divinos da esperança.
Por onde meu olhar, feliz, alcança
Milhares e milhares, meus amores!
Um dia, nosso Deus em seus favores
Aos homens, nos deixou essa lembrança:
Apenas quem tiver alma tão mansa
Que saiba conhecer os seus olores
E guarde, na memória seus perfumes
Será um ser liberto de queixumes.
Um sentimento nobre e sedutor;
Felicidade está muito mais perto
Do que tu pensas. Disto esteja certo.
Por isso nos jardins plantei amor.
X
5910
Amada não permita que ambição
Destrua cada sonho que tivemos,
Vivendo tanto tempo; uma lição
Depois de certos dias aprendemos.
Quem cega com desejos, coração,
Não sabe quanto amor; na vida, temos;
Tomados por imensa sensação
Dessa alegria toda que vivemos
Quando não queremos nada além
Da doce recompensa do prazer
Que damos para quem nos quer também.
Querida, nosso amor merece tanto,
Por isso é que não posso te perder;
Abrindo o coração, ouça o meu canto!
X
5911
A vida sempre trouxe tanta dor,
Embora em poucas lutas que venci
Guardei essa esperança por aqui
Sabendo que jamais verei a cor
Duma felicidade e seu calor.
Por tanto que lutei sempre esqueci
Que a noite quando chega traz em si
O frio da saudade em seu vigor.
Mas nada me trará outro caminho.
Meu mundo percorrer a pé, sozinho,
E nada mudará a triste história...
Porém ao acordar nesta manhã,
Ao ver essa menina, novo afã,
Será que enfim, terei minha Vitória?
X
5912
Se tudo que me trouxe a madrugada
Se esvai mal amanheça o novo dia,
De que me valerá esta poesia
Um canto que não serve para nada.
Não posso conceber mulher amada
Que não me traga luz e fantasia
Na vida um novo mundo em cantoria
E força que supera a longa estrada.
Desculpas não aceito por não ter
Verdades neste mundo por saber.
Eu canto sem temer, pois neste canto
Misturo sentimentos que disfarço
E guardo no universo que não traço.
Embora vá sozinho e sem espanto...
X
5913
A vida não teria tanta luz
Se quem eu sempre quis não me quisesse
Aí não bastaria toda prece
Imagem que no olhar se reproduz.
Sem medo da saudade; amor traduz,
Bem mais do que meu canto já merece.
De todos os meus sonhos não se esquece
Aquela que em meu verso se seduz,
Somente essa menina que chegou
Em meio à tempestade, já brilhou
A flor do meu desejo mais profundo.
Mar e sol, lua e vida soberana
Um peito apaixonado não se engana
E morre nos teus braços num segundo...
X
5914
Dourado sonho dominando tudo...
Os olhos esquecidos adormecem...
Nas horas mais doridas não esquecem
E deixam o meu dia quase mudo...
Não posso compreender, porém, contudo,
Que as noites que vieram se padecem
Dos sonhos que perdemos e enlouquecem
Fazendo um coração já tartamudo.
Amor interagindo com saudade
Matando, sem querer, felicidade.
Nos braços que me entrego, em fantasia...
A vida me promete este tesouro,
O sol que me ilumina, onde me douro,
Tu és a minha estrela da alegria!
X
5915
"As feridas da alma são curadas com carinho, atenção e paz.
Machado de Assis
Amiga, estas feridas de minha alma,
Quais profundas escaras me maltratam,
Apenas teu carinho já me acalma,
Teus olhos no meu peito se retratam...
Vencendo o desamor com atenção,
Demonstras quanto és bela, companheira,
Afloras tal beleza em coração,
Estarei ao teu lado a vida inteira.
Na paz que proporciona a cada dia
Com tal satisfação que sempre encanta,
Mostrando quanto é bom ter alegria,
Numa alma que em pureza se agiganta.
Curaste tais feridas. Cicatrizes,
Respaldos para dias mais felizes...
X
5916
No viço destas folhas, primavera
Reflete-se nos raios deste sol;
Paramento divino, girassol
Altares catedrais, uma tapera.
Tudo reluz, paisagem, quem me dera
Pudesse percorrer, ser o farol.
A natureza orgástica... Na fera
Que repousa, reparo um triste rol.
As marcas tão profundas, dentes, garras.
Escondo-me, sou presa, neste arbusto,
Num átimo rompendo essas amarras
Reparo nos teus olhos, minha fada...
De frágil, num repente, sou robusto.
Na força que me dás, querida amada!
X
5917
Fonte límpida e fresca dos amores...
Nos cantos destes pássaros felizes,
As searas prometem tantas flores,
Abraçadas nas asas das perdizes...
Na pompa onde se mostram tais pendores,
Não sei desses receios nego crises.
Os álamos as luzes os odores
No mato se misturam mil matizes...
Neste missal criado por um Deus
Luxuoso desfile se repete,
Nas várzeas e montanhas, olhos meus
Deslumbramento tal que me compete
Pintar na poesia luz e breus,
No centro deste quadro amor reflete...
X
5918
Recebi sua carta, minha amiga.
Em todas as palavras um adeus...
No fundo de minha alma vá, prossiga,
Consigo não irão os olhos meus...
A sensação que tenho, tão antiga,
Desfeitos tantos sonhos de himeneus,
E de querer, enfim, que já consiga
Viver mais plenamente os sonhos seus...
Bem sei que depois disso vou sozinho...
É certo que tentamos ser felizes.
O fio deste amor jamais foi linho,
Não quero recordar a nossa dor.
Vivemos nosso céu, vieram crises,
Mas sinto um novo vento... salvador..
X
5919
Amor que tão distante, em vão não me compete...
Vestida de saudade, a lua se entristece...
É lagrima que cai, inunda este carpete.
A dor, embevecida, amarga tela tece...
Amor que nunca cura, embalde se repete,
Não adianta crença, esqueça sua prece...
Desfila a solidão, a lua por vedete,
Minha pobre esperança, em lágrimas fenece...
Porém me resta o canto, o meu fiel parceiro...
A benção mais divina inunda o mundo inteiro!
Por tanto tempo quis o brilho da manhã!
O canto abençoado atravessando o mar...
Inunda o sofrimento, acorda o meu luar.
Nas bênçãos deste amor, o meu belo amanhã...
X
5920
Nossas noites passando vãs, errantes,
Lascivas sensações, à flor da pele...
Meus lábios no teu corpo, navegantes,
Espreitam na nudez que me revele
As escondidas minas, diamantes.
Pedindo que em meus sonhos já se atrele
Os sonhos de quem quero, por instantes.
Antes que a solidão venha e congele...
As nossas carnes, vivas ardentias,
Intumescidos lagos, empoçados
Vibrantes os desejos, fantasias...
As sombras bruxuleiam, nosso quarto,
Delícias destes rios desaguados
No mar tão prazeroso. Pleno e farto...
X
5921
Quantos caminhos tenho até chegar
A mansidão do colo de quem amo,
Passando por montanhas, vales, mar,
Vivendo qual cativo fujo d’amo
E busco a liberdade par em par
Com sonhos que já tive e sempre exclamo
Na fúria de poder não mais deixar
Que o tempo se assoberbe em cada ramo
Das matas ciliares do que penso,
E tramo toda noite em minha cama;
Vivendo em tal angústia; sempre tenso,
Aguardo que termine nossa história
Da forma que mais quero e que reclamo,
Louvando o nosso amor em plena glória..
X
5922
Eu sempre te quis, nunca percebeste
Em tua vida leve e sem pecado.
Meu mundo sempre trouxe amargurado
Desejo que jamais tu recebeste
Durante toda a vida. Nunca leste
Os caminhos que traça o triste fado.
O mundo, que percebes encantado
Te enganas pois em ouro não reveste...
Agora que tu sabes que te quero,
Embora tanto doa, sou sincero
E trago, no meu peito, esta saudade
Dos tempos onde tinha um doce beijo
Rondando dia e noite meu desejo:
Ser teu. Querida, mate esta vontade!
X
5923
Eu quero o teu sorriso esculturado
Em teu rosto tão belo, angelical.
Distante do que fora amargurado,
Maliciosamente sensual...
Meu verso te buscando extasiado,
Encontra-te querida, bem e mal,
Ferindo um coração apaixonado,
Rolando meu desejo pelo astral...
Às vezes te concebo noutra história,
Amante de meus sonhos mais queridos.
Vencer todos os medos, minh glória,
Bem sabes quanto quero o teu amor.
Porém destes meus sonhos, vãos, perdidos,
Espero renascer jardim e flor...
X
5924
Menina nunca esqueça que o encanto
Que trazes nesta vida é passageiro.
Depois deste período, o derradeiro
Sonho virá trazendo um triste pranto.
E destas flóreas sendas; manso canto
De um pássaro ferido por inteiro
Será talvez teu último parceiro
Todo universo enfim em desencanto!
Mas não temas a noite, ela virá
E tantos pesadelos te trará
Perceba, a juventude sempre engana...
Teus olhos de risonhos, doces brilhos,
Procurarão, embalde novos trilhos,
E sobreviverás, pois soberana...
X
5925
Rolando com as pedras no caminho,
Imaculados sonhos, anjos, vícios.
As mãos que se misturam num carinho,
As pernas nos beirais, nos precipícios...
Em toda a castidade proclamada,
Revestes os teus sonhos de princesa.
Na boca que ofereces, desejada,
O rastro de delícias sobre a mesa.
Nos lodos misturados, aturdidos,
Profundas emoções diamantinas..
Segredos sob os mantos bem urdidos,
Tremulam tuas mãos, quase meninas.
E deitas do meu lado, tão gentil,
No toque prazeroso, enfim... sutil...
X
5926
Desejo desnudar teus belos seios,
Intumescidos, loucos e sedentos,
Nos toques mais suaves, meus anseios,
Fragrâncias delicadas, pensamentos...
Entrar por tuas minas e teus veios,
Calando meus caminhos mais sedentos,
Deitando em teus cabelos, meus enleios,
Meus dedos te percorrem, calmos, lentos...
Nos rumos que me levam aos mistérios
Que tento desvendar, tua nudez...
Sabendo desfrutar gozos etéreos.
Carnais estes meus sonhos mais intensos,
Sangrando assim, total insensatez...
Momentos deliciosos, livres, tensos....
X
5927
Nos umbrais percebendo o vento frio
Que invade sem perguntas, toma tudo.
Coração vai entregue e tão vazio,
Sem canto e sem promessa onde me iludo.
O meu mar se asfixia, perde um rio
No sentimento ignóbil, seco, rudo,
Impede a sensação de um novo estio,
Deixando-me calado, inerte, mudo...
Somente me restando uma saída
Do labirinto atroz desta saudade.
Tramando a solução em minha vida,
Pr’a todas incertezas quando houver,
Sozinho, sem ter porto, sem mulher...
Restando só um sopro da amizade...
X
5928
Desfraldam-se essas nuvens altaneiras
Nublando todo o céu de uma esperança.
De todas as certezas, as primeiras,
Que nevam e me negam toda dança.
Verdades que se mostram quais bandeiras
Meu sonho sem temor, por certo alcança.
Nas montanhas gerais, azuis, mineiras,
Um grito benfazejo de bonança...
Altivas emoções que assim propagas,
Roçando meus cabelos, tuas mãos...
No vinho do desejo me embriagas,
Convidas para a festa, ganho o céu.
Dos dias que tivera, todos vãos,
As nuvens já se afastam, abrem véu...
X
5929
Na boca carmesim que me ofereces,
Cintilam as estrelas em tiaras,
Os beijos são altares, nossas preces,
Alagam-se em ternuras, claras, caras...
Pedindo que o amor demais; confesses,
Teus braços nos meus braços quando amparas,
Propagas ilusões, tresloucas, teces
Com fios prateados, luas raras...
Na limpidez tranqüila de teus lábios,
A lividez do medo não desponta.
Meus sonhos já procuram rumo. Cabe-os
Nesta harmonia imensa e sedutora
Desta emoção sincera que desponta,
Na boca que ofereces, redentora...
X
5930
Nascido de um momento mais sublime,
Verdugo de ilusões ,cala em meu peito.
Às vezes, insensato, me deprime,
Noutras já se mostra satisfeito.
Dos erros cometidos, me redime,
Em fúria estremecendo no meu leito,
Na sensação voraz remete ao crime,
Mortalha que emoldura do seu jeito.
Mas quando penso em ti, deusa vestal,
Recende teu perfume; raro olor.
Se torna levemente sensual.
Apascentando sempre, sem batalha,
Repleta meu caminho em puro amor,
Meu sonho, vivo fio da navalha...
X
5931
Teu corpo majestoso assim floria,
Em meio a tantas flores, meu jardim.
Vivendo meu desejo em fantasia,
Nos imortais sonhares, trago enfim
O canto que me deste, em harmonia;
Amor que ao se entregar, jamais tem fim.
Envolto em minha voz, em poesia,
Aprende que a verdade existe sim.
Nas chamas, vibrações e nos anseios,
Espaços percorrendo, estrelares.
As mãos que acariciam os teus seios,
Silêncios destas bocas ocupadas,
Vagando em nossos corpos, mil lugares,
Nas horas mais divinas, aguardadas...
X
5932
Ilusões povoando o pensamento,
Flamejam sensações mais discrepantes.
Torrentes que me invadem num momento,
Nas carnes sensuais, dilacerantes.
No mundo dos meus sonhos toma assento.
Teus olhos tão morenos, radiantes,
Nos céus em brilho farto, tomam tento
Meus barcos nos teus mares, navegantes...
Nas rútilas manhãs, o teu clarão,
Inflama meu desejo, fico tonto.
Atado estou às tramas da paixão
E tudo o que pensara aqui já conto
Sabendo o quanto amor, sendo vital,
Em tudo o que eu fizer, fundamental...
X
5933
Ditando meus caminhos, alva lua
Trilhando por sertões e pelas ruas
Minha alma assim noctâmbula; flutua,
Procura pelas ninfas, belas, nuas...
Nas folhas prateando minhas sendas,
Mostrando qual destino perseguir.
Na femina presença sedas, rendas;
Pretendo te tocar e te sentir...
Nas floridas searas, rumo e sina,
Pairando meus segredos, teu canteiro.
Tua presença, amada, diamantina
Com brilho sensual e verdadeiro...
A lua com seus rastros... tudo quieto...
Polvilhando o meu sonho mais secreto...
X
5934
Quem dera te envolver entre meus braços
E aos poucos no entrelace sensual
Invadir teus recônditos espaços
Numa troca de fluidos magistral.
Quem dera te tocar sob os lençóis,
E penetrar teus mares abissais
Nos brilhos de milhões de raros sóis
Nas fontes flamejantes e termais.
Violo teus segredos, os penetro,
E formo meus castelos, sou o rei,
Tocando teu prazer, invado, cetro...
Fazendo do desejo nossa lei.
Na conjunção de côncavo/convexo,
Delícias e loucuras perdem nexo...
X
5935
Bendito seja amor que nos tortura,
Maltrata e nos corrói, depois redime.
Bendita essa mulher, que eu não estime
Outra, pois nela encontro minha cura.
Bendita seja a lua em sua alvura,
Que em seu louvor minha alma sempre prime.
Que meu verso em delírio sempre rime
Em toda essa altivez, toda brandura...
Bendito seja o sol, também a chuva,
Bendito seja o vinho, feito da uva
Sempre erotizada em fantasia.
Bendito seja o cio que transtorna,
Cálice do prazer, no gozo entorna.
Bendito nosso orgasmo dia a dia...
X
5936
Alegria nascendo a cada dia
Trazendo um vento calmo de esperança
Na luta sem final contra a lembrança
De toda dor que mata a fantasia.
A cada novo tempo, a poesia
Inunda-se sem quer sombras da vingança
Rondando nosso amor em aliança
E trama contra a noite negra e fria...
Crisântemos florescem no jardim,
Eu guardo belas flores dentro em mim
Pedindo que este canto nunca engane.
Por mais que seja triste a madrugada
A vida se refaz nesta alvorada
Que trouxe o manso amor de Viviane...
X
5937
A boca tão voraz que te descobre
Entregue em mil lascívias, languidez.
A pele delicada que me cobre
No contato integral, nossa nudez.
Insensatez profana e divinal,
Desejos se misturam, lambuzados...
No toque mais profundo e sensual
Dois corpos por si mesmos, devorados...
A noite fascinante não termina...
Volúpias não se bastam, querem mais...
O gosto desta boca determina
Que o tempo nunca passe... amor... jamais...
Na letargia mole de nós dois,
Cigarros e carinhos do depois...
X
5938
Na cicatriz do amor que foi demais,
O gosto do que fora já se aflora.
Não sei se poderei falar agora
Do tempo que não volta nunca mais.
Descendo de esperanças ancestrais
Na voz que se calou, antes canora,
A tarde dessa vida, não sonora
Morrendo em cada curva, cala a paz.
Restando o sentimento de costume
Quando deste rosal, seca o perfume.
O medo do futuro sei que invade.
Não vivo mais pensando em ilusão,
Fechando toda a porta, coração,
Te peço pelo menos, amizade...
X
5939
Ao ter já percebido que amizade
Supera qualquer trauma em nossa vida,
Vivendo enfim total felicidade,
Eu vejo uma tristeza em despedida,
Meus versos já supondo a claridade
Esbarram-se nas curvas de saída,
Saúdam desse amor prosperidade,
Cultivam esperança decidida.
Eu quero por sentindo no meu canto
Que ufana uma vitória sem temores.
Amiga não permita o desencanto
Que cala nossa voz, trama seqüelas.
Misturam-se nos céus milhões de cores,
Nas telas em que o canto bom revelas...
5940
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Pablo Neruda
Não preciso do pão, a fome passa,
Não preciso da luz, não temo o escuro.
Nem alegria; circo, rua e praça,
Nem sensação de um ar que seja puro.
Mesmo esperança... tonta e velha farsa,
Eu não temo o chão, frio, pobre e duro.
Trazendo para o sangue esta fumaça
Das fábricas, dos carros... isso; aturo.
Não preciso da boca que me mente,
Não preciso do mar, estrela e lua.
De nada necessito, nem de gente...
Das ruas entupidas, não preciso.
Nem alma quando inútil já flutua.
Mas nunca me retire o teu sorriso...
X
5941
Trouxeste dentro em ti do passado,
Os restos que te pesam tanto, amor.
Resquício do que fora retratado
Em cada gesto teu, seja onde for.
Teu passo a cada dia vai marcado
Tomado muitas vezes sem vigor,
Em cada corte já cicatrizada
Demonstra o teu viver tão sofredor.
Revelas sentimentos contraditos,
Afagas tua cólera insensata
Ocultas pensamentos que, malditos
O teu sorriso quase não disfarça.
A mão que acaricia e não maltrata
Tu mordes, simplesmente e já se esgarça...
X
5942
Não deixes que o rancor te tome inteira
Balança cada frase que eu disse,
E sacudindo assim, toda a poeira
Pensa que isso não passa de crendice
E joga fora pela ribanceira
Os versos que te fiz. Foi criancice
Embora esta palavra sorrateira,
O nosso amor em lágrimas predisse.
Palavras quando feitas em espinhos
Sendo tempestuosas morrem cedo.
Às vezes se escondendo dos carinhos
Nos armam e nos fazem mais ariscos.
Talvez seja; portanto o meu segredo.
Mas nada que te impeça correr riscos...
X
5943
Palavras, versos, frases, nada falam
Nem sons ou melodias... nada disso;
Mais fortes que o que sinto, nem resvalam.
Nem flores mais sublimes têm tal viço.
Os prados verdejantes... rios, trilhas..
Montanhas, vales, luas, constelares...
Por mais que se demonstrem maravilhas,
Não chegam, meu amor, teus calcanhares...
E como definir tua beleza
Se nada que conheço se equipara.
Estás além de tudo, com certeza,
Numa exclusividade mais que rara...
Falar de perfeição... tenho o direito?
Simplesmente dizer: sim. É perfeito!
X
5944
Que guardas dentro em ti, querida amada?
Um pélago gigante de esperanças?
Noite solitária enluarada?
Mil festas e delírios, bailes, danças?
Uma manhã gelada e orvalhada?
Um poço tão escuro de lembranças?
Uma roseira morta, abandonada?
Um resto da alegria de crianças?
Procuro conhecer-te por inteiro,
Em tal profundidade, já me perco.
Amiga, amada, sonho verdadeiro
Ou quem sabe miragem num deserto.
De todas as opções sempre me cerco.
Difícil conhecer, mesmo de perto....
X
5945
Desculpa se não tenho tal doçura
Nem a brandura sempre requerida
Por quem sonhando sempre com ternura
Encontra tal rudeza em sua vida.
Embora radical com alma pura;
Espero que a palavra proferida
Não trague nos teus olhos amargura.
Perdi minha finesse de saída...
Sou qual um lavrador, mão calejada
Foram tantos espinhos recebidos
Minha alma em sangue e dor foi destilada,
Não tenho a maciez que tu querias.
De tanto que meus pés foram feridos,
Te falo deste amor, sem poesias....
X
5946
Ao acordar percebo-te comigo,
Serpenteando em beijos; minha pele.
Eu tento levantar, mas não consigo,
Num sentimento breve que revele
Desejo que pressinto ser cativo.
Dançando sobre mim, se delicia
Recomeçando tudo. Então, passivo,
Me entrego ao teu querer, que me vicia...
De novo percorremos esta estrada
Que leva-nos ao êxtase do gozo.
A noite continua na alvorada
Num moto,assim, contínuo; prazeroso.
Depois de saciada, me sorris,
Palavras delicadas e gentis...
X
5947
Desta brilhante estrela matinal
Pressinto nosso amor como um corcel
Que, livre, caminhando pelo céu
Traz-nos esta alvorada divinal!
Quem dera viajar por belo astral
Em busca deste belo carrossel
Que trouxe nosso amor num belo véu
De estrelas com doçura virginal.
Não deixe que a manhã tão ciumenta
Encubra tanto brilho. Violenta
Esta aurora te pede: nunca raia!
Porém em minha vida minha amada
A vida já se mostra irradiada
Nos olhos qual fogueira; sol em praia...
X
5948
Nos campos onde espero ter meu fim
Os perfumes silvestres me dominam.
Minhas noites, nas flores se alucinam
E deixam bem distante meu jardim.
Tem rosa, tem crisântemo, jasmim.
Porém os tais perfumes desatinam
Aquelas que, passando, se destinam
Aos campos que inda guardo dentro em mim..
De todos os desejos que esqueci
Um deles rememoro sempre aqui.
Dos sonhos que perdi, nada restou...
Os olhos perfumados da lembrança
Flor, que sempre floresce na esperança
Que me perfuma a vida, nosso amor...
X
5949
Lateja meu desejo em tua busca,
Levanto este lençol, te vejo nua...
Tua beleza imensa já me ofusca
Ao ver tua nudez, alma flutua...
E tento te tocar, mas temeroso
Afasto-me ficando assim, distante,
Sentindo que no corpo mavioso
Pressinto uma viagem deslumbrante...
Porém o medo toma-me de assalto
E tudo o que sonhara vai por terra...
Meu passo tremulante, quase incauto.
O teu olhar, percebo, enfim descerra..
Sorrindo, me convidas para a cama..
O medo se dissipa... O quarto inflama...
X
5950
Vem, avassaladora e me domina,
Lambendo o meu pescoço, enfia a língua;
Tua loucura imensa me alucina
Sem teu amor,querida, morro à míngua...
As bocas se passeiam na loucura
Que dá um novo rumo ao nosso caso,
Rainha desejada, esta ternura,
Tortura. Deste jeito até me caso..
Desmonto-me contigo, e tu desmaias,
Não solto tuas mãos, calor intenso,
Deságuo meu prazer em tuas praias,
Num caudaloso rio, sol imenso...
De toda essa alegria bebo a fonte,
A vida se refaz neste horizonte...
X
5951
Percebo na chegada de outro dia
Um sopro de esperança de um futuro
Que traga nossa vida em harmonia,
Amenizando o chão, por vezes duro.
Quem dera se pudesse, a poesia,
Trazer a claridade que procuro,
A vida não seria assim tão fria,
O mundo não seria tão escuro.
Fazer de cada ser o teu irmão,
Além de obrigação, uma esperança
De termos bem mais juntos a união
Que tanto foi sonhada por um Deus
Exemplo de que um sonho em aliança
Transforma em claridade tantos breus..
X
5952
Ao ver teus seios nus o meu desejo
Aumenta pouco a pouco, mil delírios...
Tal avidez me toma quando vejo
Alabastrinos campos, alvos lírios...
Andando pelo quarto, sigo os passos,
Meus olhos vão sedentos o tempo passa.
Sorrindo tão matreira. Estendo os braços,
Mas perco tua imagem na fumaça...
Afago os teus cabelos, num momento,
Percebo que este sonho, uma utopia.
Que não me larga mais o pensamento,
Povoa minha vida em fantasia.
Sentindo já teu hálito, querida,
Tu tomas totalmente a minha vida...
X
5953
Como eu te quero! Tanto, tanto assim...
Nas horas mais benditas, nosso amor...
Trazendo todo encanto para mim
Vibrando em nossa vida com vigor.
Florando minha vida em teu jardim
Num dia mais feliz e sedutor
Guardando esta esperança até o fim
De ser eternamente um sonhador.
Eu quero e te desejo boa sorte,
Não deixe que a distância nos destrua.
Amor que necessita ser mais forte
Que toda tempestade que vier,
Na placidez imensa de uma lua
Teus braços carinhosos de mulher..
X
5954
O mundo que remete ao triste canto,
Roubando a fantasia em que pintara
O nosso sentimento em puro encanto,
Tornando nossa vida mais amara..
Não posso permitir tal desencanto
Enchendo de amarguras a seara
Causando o sofrimento, verte pranto..
Calando uma alegria que sonhara..
Mas sei que te desejo minha amiga,
Renasço em cada sonho que tiveres.
Sem tua mão a sorte já periga
Minha alma se perdendo, quase morta...
Por isso tanta luz quando vieres,
Aberto o coração, a casa, a porta...
X
5955
Percebo a maravilha em mil matizes
Da tarde que adormece no horizonte...
Entrego-me a momentos mais felizes
Da vida, inesgotável e calma fonte.
Esqueço meus temores, cicatrizes,
Aguardo que esta lua já se aponte,
Estrelas roubam cena quais atrizes.
O sol vai desabando trás um monte...
Eu conto as horas todas te esperando,
A noite te trará pós o sol-pôr.
Deste caleidoscópio sinto quando
Tua presença amiga, enfim virá;
Trazendo novo verso a se compor,
E a lua, nos meus braços, dormirá..
X
5956
Amor, este elixir da eternidade
É fonte de uma eterna juventude
Permite que se encontre a mocidade,
Se pleno de amizade e de virtude.
Refaz uma esperança, mata a fera
De garras tão ferozes, afiadas,
Renasce em meu jardim a primavera
Eterna e divinal em mil floradas...
Amor, uma manhã ensolarada,
Nos versos que componho a ti, querida,
Premissa que remoça na alvorada
Que teima se sentir por toda a vida...
Amiga, um sentimento que é tão forte,
Impede quando em vida, que haja morte...
X
5957
Contigo, caminhando pela vida,
Sem medo nem de pedras ou espinhos.
Jamais conceberei a despedida,
Envolto em tuas mãos, em teus carinhos.
Por mais que seja dura a nossa lida,
Por mais que nossos passos tão sozinhos,
Amar é sempre assim, nossa saída,
No canto da amizade nossos ninhos...
Querida não se esqueça que o amor
É mote que nos leva à perfeição.
Expressa com vontade a solução
Vibrando em nossa vida com vigor.
Por isso nosso sonho, liberdade,
Somente será feito na amizade...
X
5958
Amar é com certeza um vício bom,
Que toma nosso corpo em aflição,
Inato, todo amor, por si é dom
Que invade nosso mundo, em sedução.
No gosto desta boca, todo o tom
Perfeito que nos toca o coração,
Dum canto enamorado, chega o som,
Que forma a sinfonia da paixão.
É droga que não tem como escapar,
Num êxtase divino nos comanda.
Do amor eu já nem sei como escapar,
A vida sem amor,perfeito tédio,
O mundo sem querer, todo desanda.
Na doença se encontra o seu remédio....
X
5959
Teus olhos azuis, serenos,
Me lembram de imenso mar,
Neles, conheço os venenos,
Que, tão doces, vão matar...
Eu me afogo no mar dos olhos teus,
Na viva sensação de ser feliz.
Porém todo o temor de um ledo adeus
Turvando lentamente este matiz.
Do azul tão cristalino, negros breus,
Trazendo a minha sorte por um triz.
Teus olhos serão sempre assim tão meus?
E nada nem ninguém vem e prediz.
Doçura dos venenos mais fatais,
A cura e a doença compartilham
As cores dos teus olhos... Nada mais
Traduz o que pressinto mas não quero.
Destinos bem diversos olhos trilham,
O que jamais virá ou o que espero?
X
5960
As nuvens que te viram vão nevadas
Em busca d'outros campos e paragens,
Em meio a tempestades e visagens
Carregam tantas dores nas estradas...
Vago como essas nuvens desgraçadas
Não consigo entender suas viagens
Por ruas e vertentes, tantas margens
E nada me trará mais madrugadas
Que já se foram, nossas companheiras.
As matas e as luas mais brejeiras
Não sabem por que foste embora, amor...
Assim como essas nuvens voltarás
Depois das tempestades estarás
Marcada pelas chuvas, sem calor...
X
5961
Na garganta oprimida pelo medo,
Contida nossa voz por tantos anos,
A força que se esconde no segredo
Que marca todo o povo, em duros danos.
Condena nossa vida ao vil degredo
Erigida com base nos enganos
Matando uma esperança desde cedo,
Roubando dos que sonham tantos planos...
O mártir que no Gólgota morreu
Apenas é lembrado em punição
O canto que embalava se esqueceu
Temendo dos pastores a vingança.
Calaram se olvidando do perdão
A voz que traduzia-se esperança...
X
5962
Qual rocio que molha um duro chão
A luta que se faz no dia a dia,
Vencendo já nos traz fecundação
Do sonho que se fez em poesia.
Plantamos com soberba devoção
Em versos todos plenos de alegria,
Colheita prometida em cada grão,
Sementes que vieram da harmonia...
Molhadas com as lágrimas doridas
Em carnes torturadas no passado,
Sonhando transformar as nossas vidas,
Nos olhos confiantes, lavrador
Que usou sua esperança como arado
Colhendo na aridez o puro amor....
X
5963
Encantam-me teus olhos sedutores
Com jeito de farol por sobre o mar.
Nas pedras, nos atóis, nos estertores
Das ondas que se quebram, preamar...
Meus dias são dos teus adoradores,
Certeza tão gostosa de sonhar.
Nos beijos, nos olhares sedutores
Mergulho e sempre quero naufragar.
Olhar em azulejo rouba o céu,
Em prismas multiplica tons, matizes.
Um arco íris formando um raro anel,
Roubado de teus olhos moça bela,
Curando tanta dor em cicatrizes,
Futuro em girassol, já se revela..
X
5964
Uma estrela caída sem defesa
Esmoler coração exposto e nu.
Nesta imunda expressão, quase princesa,
O mundo se adivinha duro e cru.
A vida anunciada em podres dentes,
Nas roupas velhas, rotas, cariadas...
Um sorriso infantil, as mãos prementes
Das justas emoções, abandonadas.
Uma escultura viva e miserável,
Retrata como a cruz não disse nada.
Mas mesmo nesta foto insuportável,
Justiça há tanto tempo abandonada,
A placidez da estrela e m meigo rosto,
Mostrando ali um Cristo amigo, exposto...
5965
X
Estiveste ao meu lado nesta noite
Sentindo o teu respiro, adormeci,
A proteção divina nos acoite
Na luta que expressamos, por aqui.
Meus veros sentimentos, liberdade,
A voz não se cansou de repetir.
O que esta vida em gestos de amizade
A cada novo tempo vai pedir.
Nos olhos marginais, nossa bandeira,
Nos campos, nas estradas, nas vielas.
Na luta que se faz mais verdadeira,
Em todos os cortiços e favelas.
A luz de um novo tempo vai brilhar
Somente quando a fome se aplacar...
X
5966
Não me peças que eu mude meu pensar
Nem que assim eu cambie cada passo,
Amiga no futuro a te encontrar
Em cada novo dia, novo espaço
Do princípio ao fim sempre irei lutar
Sem medo e sem sequer saber cansaço.
De tudo é necessário despojar
Na breve sensação de cada abraço.
A luta deve ser sim, voluntária
Sem culpas ou prisões que nos detenham,
Por mais que a noite seja temerária,
O sol que brilhará nesta alvorada,
Permita que os desejos sempre venham,
Trazendo uma outra luz já renovada...
X
5967
Falar quanto desejo o teu carinho,
Deitado do teu lado, meu prazer.
Podendo totalmente te fazer
Gozar assim que esteja enfim sozinho
Contigo num recanto, nosso ninho,
Tocando esta nudez que quero ter,
Lambendo, te beijando, até verter
O mel que tanto quero, com jeitinho...
Sentir teus seios belos, minha boca,
Roçar teus pelos junto com meus lábios.
Deitar-te nos meus braços, voz tão rouca,
Gemidos e sussurros, noite inteira,
Nos dedos, olhos, mãos, que são mais sábios
Poder satisfazer-te, companheira...
X
5968
Estamos todos num mesmo barco, em mar tempestuoso, e
devemos uns aos outros uma terrível lealdade.
(G.K.Chesterton)
Amiga, nesta luta que travamos
Contra as injustiças desta vida.
Nos elos que felizes, nós criamos,
A solução se mostra na guarida
Que em conjunto sabemos que nos damos,
A voz que não se mostra dividida,
Não se submeterá aos torpes amos
Sabendo que unidade é a saída.
Não deixemos que o vento em tempestade
Nos cale ou intimide nosso canto,
Devemos entre nós a lealdade
Material que nos une em liberdade,
Tentando transformar em puro encanto
O brado que ecoamos, amizade...
X
5969
E se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis?
Também os pecadores amam aos que os amam.
Evangelho segundo Lucas
Capítulo 6
Versículo 36.
Ao ver tantas desgraças que acontecem
Percebo quanto o amor foi esquecido.
Bocas que se maldizem sempre tecem
Desculpas para ofensas. Esquecido
O povo que será dono do céu,
Tão maltratado morre em cada esquina.
Usando de artimanhas como um véu,
A mão que é tão voraz, já discrimina.
O triste, meu querido carpinteiro,
É vermos em Teu nome tanta farsa,
Quem tinha que ensinar ao mundo inteiro,
Odiando, simplesmente se disfarça
E grita contra irmãos, discriminando,
No desamor imenso, vão matando...
X
5970
No bimbalhar dos sinos me chamavas
À praça aonde em beijos desfrutávamos
De todo uma emoção sem medo ou travas
E assim, sem perceber quanto sonhávamos
O fogo adolescente, imensas lavas
Nos carinhos intensos que trocávamos
Dizias simplesmente o quanto amavas
E um mundo tão feliz já desfrutávamos...
Não sabia que os anjos, como os sinos,
Sorriam ao voarem sobre a praça.
Ao verem bem nos olhos dos meninos
Um brilho de ilusão e de esperança,
Que quando o tempo corre e a vida passa
Só restará nos cofres da lembrança.
X
5971
Te falo deste amor como um abrigo
Em meio às intempéries desta estrada.
Pois saiba que estarei sempre contigo
Não precisas, amor; temer mais nada.
Um porto de partida e de chegada,
Presságios de um futuro mais amigo,
Da sorte que por nós fez-se aguardada
É tudo o que desejo e que te digo.
Vencendo nossos traumas e degredos,
Amor que nos enfeita e fortalece;
Distante do passado e de seus medos
Na novidade rara da amizade,
Unindo nosso canto em mesma prece,
Louvando o nosso amor em liberdade...
X
5972
Sentir tua presença do meu lado
Em cada novo dia, amanhecer.
O vento que se foi de tão gelado
Contrasta com o sol que vai nascer.
Quem veio do silêncio do passado
Ouvindo o teu sussurro passa a crer
Na vida como um bem iluminado,
E sonha a eternidade sem temer.
As mãos tão delicadas, olhos mansos,
Sorriso que transcende e sempre acalma.
Na placidez serena dos remansos...
Sentir o teu afago, minha amiga,
É como libertar, apurar a alma,
E permitir que um sonho, enfim, prossiga...
X
5973
No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
RABINDRANATH TAGORE
Quando chegaste, amada, sorrateira,
Mal percebi amor que me trazias.
Uma palavra amiga e tão certeira
Iluminava assim, todos os dias.
Uma esperança amarga e derradeira
Dormitava em meus olhos, fantasia.
Não notei que a palavra verdadeira
Se escondia em sorrisos de alegria.
Perdido, sem olhar por certo em volta,
Deixei de te sentir por tanto tempo...
Agora, tua mão de novo volta
E me acariciando tu sorris.
Após a tempestade em contratempo,
Ao ver brotar tal flor, fico feliz...
X
5974
Amor não cabe em si, nem quer resposta,
Se expandindo noutra alma, se completa.
Amor é divindade pura, exposta,
Que nele se fartando se repleta.
Amor não obedece regra ou lei,
Liberto não conhece escravidão,
Invadindo um plebeu o faz ser rei,
Cativo, já nos dá libertação.
Amar é conceber felicidade.
É dar sem esperar contrapartida.
É conhecer enfim toda a verdade,
É dar sentido pleno à nossa vida.
Fazendo deste amor uma bandeira,
A paz se faz eterna companheira...
X
5975
Quando o amor te acenar, segue-o,
ainda que por caminhos ásperos e íngremes.
E quando suas asas te envolverem,
rende-te a ele,
ainda que a lâmina escondida sob suas asas possa ferir-te.
Khalil Gibran
Por mais que sejam duros os caminhos
Nas íngremes montanhas, no deserto.
Por mais que as rosas tramem seus espinhos
Se o amor chamar, esteja sempre perto.
Nos passos que darás; os fundos cortes
Não sejam empecilhos para a luta.
Os brados de um amor são sempre fortes,
Resistem à tortura e à força bruta.
Se entregue totalmente ao bom do amor,
Pois mesmo que te traga uma ferida,
É nele que se encontra o grão valor
Que torna bem mais útil nossa vida.
Perceba que estas urzes que virão
Se calam com a força do perdão...
X
5976
Em tudo está tua lembrança,
Na chuva e no sol,
Nos passos nas escadas...
Como uma noiva eu cheguei, há muito tempo,
Os seixos nas trilhas,
E as ruas de muitas cidades,
O caminhar em teus belos jardins,
Cada flor e rosa e árvore...
RÚHIYYIH RABBANI
Tua lembrança existe em cada passo
Que dou nesta procura insaciável,
Nas horas mais difíceis, no cansaço;
Em toda plenitude, insuperável
Resides no meu rosto, em cada traço.
Na lua, chuva e sol, quase tocável.
Nas ruas, campos, trilhas, praça e paço.
Em cada sentimento imaginável...
Eu sinto o teu perfume em cada flor.
Nas árvores, seus galhos, na floresta.
Por onde meu caminho simples for.
Na página esquecida que me resta,
Na voz que uma emoção sempre se empresta,
Tua lembrança vive. Eterno amor...
X
5977
Eu perdi o meu coração no empoeirado caminho deste mundo;
Mas tu o tomaste em tuas mãos.
RABINDRANATH TAGORE
Vieste em salvação para estas dores
Que tanto maltrataram meu caminho;
Perfumes se perdendo, deixam flores,
Sobrando tão somente cada espinho.
Meu rumo empoeirado, sem ter cores,
Vagando bar em bar, sempre sozinho.
Na busca de outros portos redentores.
Vazio o coração, perdendo o ninho...
Depois de esfacelado pela vida,
Marcado em tão profundas cicatrizes,
Sem ter nem solução, sem ver saída
Chegaste calmamente e com cuidado;
Mostrando-me outros dias, mais felizes,
Nas mãos, um coração empoeirado...
X
5978
E disse-lhes também uma parábola: Ninguém tira um pedaço de
uma roupa nova para a coser em roupa velha, pois romperá a nova
e o remendo não condiz com a velha.
Evangelho de Lucas
Cap 5 vers 36
Amigo, tantos erros cometidos
Impedem se pensar que a solução
De todos os problemas envolvidos
Seja dada por velha explicação.
Os tempos que se passam, corrompidos
Em bases tão cruéis; escravidão,
Impedem que outros dias construídos
Demonstrem o caminho e direção.
Recomeçar em bases mais saudáveis
Caminhos que nos tragam igualdade.
Criando assim pessoas mais amáveis,
Desigualdades são insuportáveis,
Um novo mundo pleno em liberdade
Na fonte insuperável da amizade!
X
5979
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda...
Pablo Neruda
Voltando para casa, tão cansado,
Desta labuta imensa, dia a dia;
O sonho tão distante, inalcançado,
Porém minha alma nunca se esvazia..
No sangue e no suor, sempre banhado,
Uma esperança teima. É fantasia...
Do amor que é tão sublime derramado
Nas lágrimas vibrantes, na alegria...
Embora mal disfarce a decepção
Persisto nesta luta. Se é inglória
Nem por isso dispensa esta paixão
Dos olhos que apascentam, mas não calam.
Minha amiga, nas mãos a nova história
De que estas Escrituras tanto falam...
X
5980
Que fazer deste sonho que não passa,
Persegue cada passo e não se espanta.
A sombra de teu corpo não disfarça,
E na soma diuturna se agiganta.
Parece que minha alma sempre caça
Na fúria desejada, sempre tanta...
Infernos que se fazem paraíso,
Em lendas se ministram meus temores.
O verso mais rotundo e mais preciso,
Se embala nestes círculos de horrores.
Restando tão somente meu sorriso
Que sente, entre os demônios, meus amores...
Arcanjos e diabos sem perdão
Revezam nos domínios da paixão...
X
5981
A flor que um dia renasceu feliz
No peito de quem teve todo o amor
Num átimo se adere em cicatriz
Tomando todo o corpo, sedutor.
Fazendo deste corpo o que bem quis,
Escravo sem juízo desta flor...
Bebendo cada gole desta história,
Revendo o que passou, passo por passo,
Amar é reviver, guardar memória
Do que já se perdeu em rumo, espaço,
E reverter a dor em fina glória
Na devoção sincera de um abraço...
Assim comigo foi, flor do cerrado,
Meu verso se mostrando extasiado...
X
5982
Não basta-me falar em versos tantos
Do amor que procurei e não me deste.
Diversos nossos mundos, desencantos
Servindo como mantos, minhas vestes.
Soltando meu cantar por outros cantos
Os gritos que soltamos, mais agrestes...
Não quero o que pareça ser verdade
Ou mesmo no que tenho como farsa,
Se temos sentimento em lealdade
A velha roupa gasta não disfarça
O medo do futuro em liberdade,
Talvez já seja o rumo que se esgarça.
Amar é conviver, disto estou certo,
Matarei minha sede em teu deserto?
X
5983
Quando vou para o pampa levo o sol
Das minas que ficaram para trás,
Olhando para frente, um arrebol
Distante do caminho que perfaz
O sonho de quem fora girassol
Agora noutro mundo busca a paz...
Vencido pelas léguas, no cansaço,
Abertas estas trilhas em torturas,
Caminho mais liberto em cada passo,
Deixando para trás as amarguras.
Fazendo da amizade, novo laço
Banhado no raro ouro das ternuras.
Refino desta forma, canto e brio,
Na esperança de ter eterno estio...
X
5894
No tabaco que fumo; tua imagem
Erguendo-se em fumaça. Sensação
De ter na solidão, uma miragem
Formando uma fantástica emoção.
Tomar em tuas mãos esta mensagem
Que traça em nosso sonho, a direção...
Percebo que em teus olhos, timidez
Impede que sejamos mais felizes...
Não quero te entornar a sensatez
Nem quero que tu mudes teus matizes,
Nem perca por segundos, lucidez.
E creio, meu amor nisso que dizes:
Que amar é se entregar sem ter defesas.
Seguir, nunca temendo as correntezas...
X
5985
Tenho tantos amigos neste mundo,
Que fazem a delícia do viver,
De tantas amizade já me inundo,
E faço forte o brado, percorrer.
Um canto tão igual, denso e profundo
Que forma a maravilha em bel prazer...
Amigos solitários que nem eu,
Dos sonhos e do sangue derramados,
Do coração ferrenho que ascendeu
Depois de ter os pés acorrentados,
Na luta em quem ganha se perdeu,
Nos olhos mais feridos, lagrimados...
Eu tenho meus irmãos em cada verso
Sementes que plantamos no universo...
X
5986
Eu quero libertar-te em meu amor,
Sem ter sequer amarras que te prendam.
Um sentimento assim, libertador
Permite que t’as luzes já se acendam.
Amar-te com desejo e com vigor,
Sem guerras nem guerreiros que se rendam,
Não sou teu guia e nunca teu mentor,
Apenas dois caminhos que pretendam
Andar em paralelo; vida afora,
Unindo nossas forças se preciso,
Numa emoção tão forte que se aflora
Em cada novo dia, uma esperança
Marcada por carinho e por sorriso,
Libertos em conjunto, a mesma dança..
X
5987
O tempo passa rápido demais,
Nas ruas da cidade, me perdendo....
Na solução diversa em cada cais,
As dívidas e as dores remoendo.
Se vou ou se resisto, tanto faz.
O certo é que sem ti irei morrendo...
A flor que não nasceu, morreu no asfalto,
O gesto empoeirado e sem sentido.
Escapo do ladrão em novo assalto
Se morro, não percebo, distraído...
Recordo o que paguei por ser incauto
Do fim do nosso amor, sempre duvido...
Mas vejo que esta curva recomeça.
Agora não. Amada. Tenho pressa...
X
5988
Tocar o teu cabelo, desnudar-te...
Numa mansa viagem me entregar,
Singrar teu corpo inteiro... qualquer parte...
Estâncias tão gostosas de encontrar,
Nesta certeza sábia de adorar-te
Te conhecendo aos poucos, devagar...
Ir penetrando manso, sem defesas,
Em tuas termas lindas, naturais...
Encharcando-me em tuas correntezas,
Nestas viagens, loucas, sensuais,
Depois de tanta paz, delicadezas,
Veloz, não perder tempo... Quero mais!
Fazer amor contigo a vida inteira,
Perder-me e desfrutar da corredeira...
X
5989
Quando me olhas, querida, sinto assim,
O toque dessas mãos tão carinhosas...
Vertendo todo o amor que tenho em mim,
Perfumas com teus olhos, belas rosas...
Roubando esta beleza de um jardim
De nossas ilusões, maravilhosas...
As tuas mãos tocando cada parte
Do corpo que se entrega sem segredos...
Forjando em nosso amor com total arte
Eu sinto-te roçar tocar meus dedos...
É bom saber que aprendo sempre a amar-te.
Acalma minhas dores e meus medos.
Corpos unidos, ondas, mar areia,
A lua deste amor, p’ra sempre cheia...
X
5990
Montado no meu Pégaso, esperança
Sonhando com teu corpo. Vê se encosta
Que a vida se promete em nova dança.
Amar a quem da gente se desgosta
É sofrimento imenso. A noite avança
E a cabeça no meu peito... vem, recosta...
Assim posso chegar até sonhar
Com céu deveras claro, meu amor.
Bem sei que tanto quis o teu luar,
E há tempos que eu espero, sem calor.
Mas veja como é bom poder amar,
Compartilhar perfume em cada flor.
Quem sabe assim tu saibas como é bom,
Voltarmos a vibrar, tom sobre tom...
X
5991
Derrame teu suor em nossa cama,
Numa ardorosa noite de prazer.
Acende-se por certo nossa chama
Vibrando em cada cena. Passo a crer
No mundo que se mostra em cada trama,
Deliciosamente em ti, viver...
Na renda que cobria esta nudez,
Na seda que se espalha em nosso leito.
Amor que tantas vezes amor fez,
Do jeito mais divino, enfim, perfeito,
Roubando o que restou de lucidez,
Amor para ninguém botar defeito....
Mas feche meu amor, esta cortina,
Que a lua ciumenta, se alucina...
X
5992
O sol que na manhã acende o céu
Ascende meu desejo mais fecundo
De ter toda esperança em alvo véu
Mudar a rota insana deste mundo.
Montando na esperança, bel corcel
Que voa em pensamento, num segundo,
Sabendo que a certeza é feita em fel,
Mas qual abelha em mel cedo me inundo.
Não há razão nem medos e mortalhas
Que façam minha voz, ser abrandada,
Nos olhos carregados de batalhas,
Nas mãos; o puro amor como defesa,
Uma amizade imensa, ensolarada,
Usando da palavra com pureza...
X
5993
Eu nada te ofereço senão isto:
A sensação profana de um prazer
Que existe no meu corpo e não desisto
Enquanto não puder te conhecer
Inteira já desnuda em minha cama,
Fluindo no teu corpo meus anseios,
Acesas as loucuras nossas chamas,
As mãos deliciadas nos teus seios.
O gosto de teus lábios sobre mim,
Até que nossos mares inundados,
Bebendo cada gota até no fim.
Depois quando estivermos mais cansados,
Sorrindo neste arfar delicioso,
Adormecer meu mundo em cada gozo
X
5994
Não quero mais lutar contra o silêncio
Daqueles que se omitem. Mãos lavadas,
Permitem cada cruz que sempre vence-o,
Palavras mal sentidas e deixadas...
Amigo como é dura esta missão
De ser exemplo vivo até na morte
Quem mata por vontade ou omissão,
Entrega o teu destino à própria sorte.
Vieste qual cordeiro em sacrifício,
Mas nada adiantou este teu gesto,
Na base do terrível edifício
Usaram este concreto que era o resto
Do sangue repartido, mundo algoz
Calando ou deturpando a tua voz...
X
5995
Retiro uma esperança do caminho
E sigo sem ter rumo ou ter destino
Nas lavras que me restam só espinho,
No canto que te faço, um desatino.
Ao ver chorar sem trégua um pobrezinho
Nas lágrimas doridas do menino,
A morte sem segredos, ganha o ninho
No corpo tão faminto magro e fino.
Somente uma certeza se denota
Na sombra do cadáver ambulante,
A vista delicada já se embota.
Será que um dia a justa liberdade
Virá de uma verdade repugnante?
Minha esperança faz-se na amizade...
X
5996
Qual pássaro veloz percorro o céu
Levando uma esperança aqui comigo,
As nuvens me cobrindo como um véu
No peito um coração assaz amigo.
Tremulam minhas asas, pesam tanto,
Pois sei quanto é difícil flutuar
Co’o peso deste enorme desencanto
Que forra meu desejo de lutar.
Não temo nem distância nem o vento
Que traz contrapartida a cada sonho.
O mundo que se faz no pensamento
Aquele que no vôo já proponho.
Nos olhos o futuro qual miragem
As asas tão pesadas da viagem ..
X
5997
Vencido pela noite que chegava,
Deitado sobre a cama sem prazeres
Distante dos amores e quereres.
Aquela a quem amara não deixava
Sequer a sua sombra. Não contava
Com os olhos sombrios das mulheres
Que nunca mais teria. Mas se feres
Com a boca em mordida que beijava
Não podes entender que, nesta vida,
Nem sempre aguardarei a despedida.
Pois quem nos dá carinho nos reflete.
Portanto não se esqueça da semente
Que maltratada torna-se serpente,
Mas se bem cultivada já promete...
X
5998
Estarei sempre aqui querida amiga,
Em cada novo tempo que virá,
A sorte de teimosa já periga
Mas sei que novo sol assim virá
Trazendo uma manhã que nos abriga
E o canto que por certo espalhará
A força da ternura tão antiga
Que nem a morte em vida calará.
Não temos outro mote senão vida
Em toda plenitude, companheira,
Por mais que seja dura esta saída,
Por mais que não nos deixem quase nada,
Se temos nossa luta verdadeira,
A vida há de ser nossa camarada...
X
5999
Difícil responder assim, amada,
Eu sei que te desejo; isso me basta.
Futuro renascendo em madrugada
A noite que aproxima e nos afasta.
Só sei que não mais sei de quase nada
Imagem desta deusa pura e casta
Se perde quando a deusa é observada
De perto. O sentimento se desgasta
Com todas as palavras quando usamos
Sem ao menos pensar no que dizemos.
Jamais pensei que fossemos dois amos
E escravos deste sonho mais bonito.
Mas eu devo dizer que nos queremos,
Embora nosso amor, morrendo aflito...
X
6000
Amiga, eu te esperei na lua nova;
Depois de tantas nuvens, não vieste.
Gripei meu coração que não renova
Vestindo esta saudade em velha veste.
A boca que negaste não se prova
Nem mesmo o pobre anel que não me deste.
Amiga, desalinhas nosso prumo
E crias estruturas bem mais fracas.
O parto dos amores perde o rumo,
Carrego nossas dores, velhas macas,
Da seiva prometida seco o sumo,
O peito da amizade sangra estacas...
Tu és o meu remédio, nega cura,
Sem ti como viver sem estrutura?
X
6001
No contrapé dessa saudade insana,
Eu percebi teus passos, titubeias...
Vencer todos os medos, tanta gana,
No final disso tudo, novas teias
Emaranhadas. Fujo pr’a cabana
Onde, meus pobres sonhos, incendeias.
Mas a mim mesmo, a dor no fundo engana,
Percorrendo silente, minhas veias...
Eu mal sei nomear seus artifícios,
Nem quero mais ceder aos seus caprichos.
Saudade não terá meus sacrifícios.
Pois procure encontrar em outros nichos;
Aonde cultivar seus velhos vícios
Prevejo em novo amor, novos indícios....
X
6002
Não quero mais conter esse delírio
Nem quero transformar todo esse pranto
Em serenata louca, sem martírio.
Quero perceber ecos no meu canto;
Eu quero a mansidão brotando em lírio
Na sedução gentil, onde agiganto,
Tua beleza intensa, meu colírio
Pintando em minha vida seu encanto...
Na dor que sentirei na tua ausência,
O que restou, no fim, da minh’história.
Te peço meu amor, tenhas clemência.
Da vida, foste encanto, foste glória,
Não deixes dominar-me esta demência
Não quero só guardar-te na memória...
X
6003
O teu corpo colado, atado ao meu,
na dança atroz que vai queimando tudo
na claridade, em que muito se perdeu,
já me deixando pasmo, quieto mudo
as mãos macias sabem sonho ateu
nas delícias, em todas, corte agudo
na carne dolorida que nasceu
somente para ser teu corpo e escudo.
quero insensatamente tresloucado
beber no doce cálice da vida
meu rumo torto, pálido, calado
repete em ti meus rumos sem guarida
cometo os mesmos erros do passado
minha alma segue em ti, nave perdida...
X
6004
AH! COMO EU PODERIA TE DIZER
DA SENSAÇÃO CRUEL DESSA SAUDADE
DIZER-TE QUE, SEM TI , MELHOR MORRER!
VOU PROCURAR-TE, SONHO EM LIBERDADE..
JAMAIS EU SABERIA QUEM HÁ DE
INFORMAR A ESSE LOUCO SEM POR QUE
EM QUE CANTO, EM QUE RUA NA CIDADE
EM QUE MUNDO ELE SOUBE TE PERDER?
AGORA QUE AS PALAVRAS SÃO NEFASTAS.
AGORA QUE MEU MUNDO JÁ PERDI
QUANTO MAIS ME APROXIMO, MAIS T'AFASTAS
MAIS SINTO A ANGÚSTIA MAIS CRUEL, SORRIR.
SE, QUANTO MAIS DE DOR, MEU PEITO, ABASTAS;
SUPLICO, POR FAVOR, O AMOR EM TI
X
6005
Horas passando, sem sentido algum ...
Solidão transformada em sofrimento.
Procuro, nada encontro, sou nenhum...
Fugindo sempre, braços soltos, lento...
Morrendo em cada esquina, sou mais um.
Nada do que já tive, só lamento.
Embriagado, sangue exposto em rum,
Amargo chimarrão, meu sentimento...
Nunca mais poderia planejar
Outro mar, vagabundo coração.
Nem nunca mais iria velejar..
Pelos teus mares , luas e sertão.
Perdido em tuas tramas, sedução...
Buscando, nos teus braços, o meu mar...
X
6006
Renovo minha sorte em teu desejo.
Sou barco que se perde em pleno mar.
No céu que já nos guia em azulejo
Encontro meus motivos para amar
Teu corpo desterrado pede um beijo,
Nas ondas vou tentar me equilibrar...
Alentos são me dados por teus versos,
Que são tal equilíbrio que conforte.
Te entrego meus sentidos, universos;
Reluto mas por certo estou mais forte.
Antíteses meus sonhos mais diversos,
Deveras me escondendo matam morte...
Teu corpo no meu corpo faz sentir,
Uma velha maneira de existir...
X
6007
Meu canto de esperança esparso ao vento,
Trazendo este bom cheiro de café.
Na força que me invade o sentimento,
Igrejas tão distantes... Amor... Fé....
A voz de uma criança, num momento;
Correndo pela casa, corta o pé.
As mãos da avó contendo o sangramento...
Saudade vem chegando... Longe até
De todos os desejos mais distantes
No rosto da primeira namorada.
Os sonhos do menino, delirantes...
O amor chegara cedo. Turbilhão
Montando a cada dia, uma cilada,
Na força inusitada da paixão!
X
6008
Tu és essa pessoa vitoriosa
Que sempre demonstrou tanta amizade.
Uma mulher assim maravilhosa
Nos traz sem perceber; felicidade.
Espinhos ninguém sabe desta rosa
Que faz da vida brilho e claridade.
A tua voz serena e gloriosa
Em todo coração tocando invade.
Não fazes mal nenhum, somente o bem.
Amiga de verdade, eu tenho o orgulho
Se ter um bom amigo teu, também.
Tua alma transparente é deslumbrante
Não deixas, no caminho, um pedregulho.
Pureza divinal de um diamante!
X
6009
Minha vida vai louca arrastando meu barco
Esperando meu tempo ouvido nas cantigas
Que o tempo mais voraz, me traz, vozes antigas
Que renascem de um chão de nebuloso charco.
Cantar dessa sereia amada onde me embarco
Nessa solidão a esmo, ouvindo t'as intrigas
No final dessa estrada as dores forjam vigas.
A minha solidão descreve-se em teu arco.
Relembro cada passo envolto na tristeza
De te sentir distante e te saber tão perto.
A vida se perdendo envolta em incerteza
Mas sinto que esse dia aos poucos se acabando,
A chuva que virá findando este deserto.
E depois disso enfim, no amor recomeçando...
X
6010
TANTOS AMARES SÃO TODOS LUGARES
SE NOS MEUS PRÓPRIOS MARES NAVEGAR
BUSCANDO NO MEU CANTO TANTO MAR
TANTO QUANTO, POSSÍVEL FOR AMARES.
TANTO QUANTO SERIAM TEUS LUARES
NOS TEUS MARES, MEUS SONHOS NAUFRAGAR
COMER TODAS AS FRUTAS, TEU POMAR
TANTO QUANTO IMPOSSÍVEL, O SONHARES.
COM PERDIDAS MANHÃS PARA HABITARES
NESTE MUNDO TÃO MÁGICO, MEUS DIAS
VAGANDO LOUCO PROCURANDO PARES
DESCORTINANDO ESPELHOS, FANTASIAS
ROLANDO NOITES, LOUCAS NESSES BARES
ONDE DERRAMAS PASSOS; POESIAS...
X
611
Tua distância, companheira amada;
Retrata esse disfarce tão usado,
Vou teimando ser tudo, sem ser nada.
O meu canto seguindo, atropelado.
Tua distância amiga, vai calada.
Cortando meu silêncio, abençoado,
Forjando minha crença, nesta estrada
Onde sigo perdido, enamorado.
Mas, no fundo, pós milhas, tantas milhas,
Onde me encontro vago, sem sentido,
Nem no que poderia ser mais brilhas.
O cálice d’amor, está partido.
Amor; irei tentando novas trilhas,
Cansado de viver assim perdido...
X
6012
Preciso deste amor que é tão intenso,
No qual eu mato a sede todo dia,
Às vezes, distraído, logo penso
Na paz que tu me dás, tanta harmonia...
Tu és onde me encontro e recompenso
A vida que se foi sem alegria...
Preciso de teus olhos, meu desejo,
São lumes que me guiam pela vida.
Pois sempre que te encontro já prevejo
A paz tão necessária e concebida.
Tu és o meu destino em que me vejo
Mais forte e decidido. Uma saída.
Floresces nos meus dias sempre mais...
Amada e desejada; santa paz...
X
6013
Na velha chama da paixão me queimo
E trago um sentimento mais sutil.
Às vezes não percebo o quanto teimo
Em verso que pareça mais gentil.
Vivendo reclamando do que faço,
Nao sei se te encontrei ou me perdi
O rumo em que desenho cada traço
Desaba tolamente, assim, em ti.
Uma criança nega seu futuro
O medo te transtorna e contamina
Fazendo da manhã um céu escuro
Destruindo meu fado em tua sina...
Tu tens em tuas mãos a faca e queijo
Somente não me castre em cada beijo...
X
6014
Sussurras tão baixinho em meus ouvidos
Palavras sensuais, desejos tantos...
Entorpecendo assim, os meus sentidos
Com magas fantasias, teus encantos...
Aos poucos nos tomando tais gemidos
A lua retirando nossos mantos.
E numa alucinada sensação
Do vento que nos toca, em arrepio.
Aumenta-se voraz, a tentação,
Na chama nos entorna um pleno estio...
O frio se transforma num vulcão
Teu corpo tão gostoso; tão macio...
A noite nesta entrega vai passando
O paraíso; vejo...vem chegando...
X
6015
O tempo passa e leva-nos com ele.
O amor se modifica a cada dia,
Que a foto que guardamos nos revele
O quanto se perdeu na fantasia...
Os anos enrugando nossa pele,
Não mata o vivo amor em alegria..
As razões superando tais paixões
Ou solidificando nossos passos.
As velhas e difíceis soluções,
Aos poucos vão perdendo seus espaços.
Recuperar o tempo nas lições
Que ensinam estreitar de vez os laços...
Tomando tuas mãos, velha esperança
Amor se renovando na mudança...
X
6016
(ay, ay, ay)adiós que se va segundo
(ay, ay, ay)en un buque navegando,
(ay, ay, ay)las niñas que lo querían
(ay, ay, ay)casi se han muerto llorando.
Violeta Parra
O tempo foi passando sem perdão,
As lágrimas secando pouco a pouco,
Quem teve nesta vida esta emoção
Sozinho, vai rendido, morre louco.
Amar demais é ver-se em tentação
Melhor seria ser feliz, tampouco...
Agora que a saudade bate ponto,
A mocidade morre tão distante.
O peito transtornado sem desconto
Vacila e quase escapa, velho amante.
Navega titubeia, segue tonto.
O mundo que já foi mais deslumbrante...
Os olhos embaçados na neblina
Do inverno que ao chegar, tudo domina...
X
6017
Passeando em teu corpo, mar e mel,
Vencendo cada etapa da conquista,
Depois ir descansar profano céu,
Numa beleza rara que se avista
No belvedere ser o teu corcel
Passando todo o corpo por revista.
Imagens fantasiosas; seios, sela,
Corcel com amazona agalopando.
Neste delírio solto se revela
Caminhos se aprofundam, penetrando...
Vislumbro desejoso a bela tela
Que a mão do sábio amor está pintando
Em corpos misturados e sedentos,
Carinhos delicados, violentos...
X
6018
Viajo no teu corpo, onda e cais
Descubro em cada atol a nova fonte
Que leva às profundezas abissais
Tornando o vento, o sol, neste horizonte
Fazendo meu querer, te querer mais,
Atando nossos portos, rumo e ponte...
Viajo sem ter rumo e sem vergonhas,
Cabendo meu destino em tuas praias.
Acordo enquanto sinto que tu sonhas,
Os olhos vão seguindo tantas saias
Que passam pelas ruas bem risonhas,
Enquanto em meu prazer cedo desmaias...
Vivo do não sei que nem sei aonde,
O olhar quase que a esmo em ti se esconde....
X
6019
Quando vou para o pampa levo o sol
Das minas que ficaram para trás,
Olhando para frente, um arrebol
Distante do caminho que perfaz
O sonho de quem fora girassol
Agora noutro mundo busca a paz...
Vencido pelas léguas, no cansaço,
Abertas estas trilhas em torturas,
Caminho mais liberto em cada passo,
Deixando para trás as amarguras.
Fazendo da amizade, novo laço
Banhado no raro ouro das ternuras.
Refino desta forma, canto e brio,
Na esperança de ter eterno estio...
6020
Sou eu a quem amor não quer que conte
O conto que demonstra amor mais fácil
Do mundo que buscava no horizonte
A paz se demonstrando bem mais grácil
Vivendo da procura desta fonte
Que faz amor verter rei em palácio
Distante de meus sonhos, noutras plagas;
Desfraldam tantas nuvens, céus, bandeiras..
Os mares se entornando em tantas vagas
A lua derrubando cordilheiras,
Amor que te pretendo não traz chagas
Nem dores e nem flores mais rasteiras.
Eu quero nosso amor em amplidão,
Tomando em força e luz, constelação...
X
6021
Preciso de um amor que me oriente
Que seja companheiro e mais ousado,
Vulcão que me devora de tão quente,
Trazendo o meu futuro iluminado,
Bafejo no meu quarto, incandescente
No fogo que domina, apaixonado...
Nas lavas desejosas que corriam
Inclemente calor qual de deserto,
Nas areias das praias revolviam,
Na afinação mais plena de um concerto,
E mil prazeres na cama te estendiam,
No teu arfar que sinto aqui bem perto,
Amor que em nossa cama qual tufão,
É feito de desejo e tentação!
X
6022
Os corpos que se tocam neste rito,
Abrindo uma ilusão, abaixam véus,
Teus seios me levando ao infinito,
Nos sonhos mais divinos, nossos céus,
Deitados sobre o chão, frio granito,
Altares, nossos sonhos, teus e meus...
Teu corpo reluzente e nu rebrilha,
Trazendo para o quarto mil fulgores
Na soma de nós dois, mesma partilha,
Do amor somos fiéis, bons servidores...
Meus passos e teus passos, nesta trilha,
Não há sequer cativos nem senhores...
Distante, bem distante a solidão,
Vislumbra, o nosso amor, adoração...
X
6023
Um canto que proponho, o da amizade
Se faz tão necessário ou mais distinto,
Roçando todo o bem de uma verdade,
Na cara deste povo mais faminto,
Embriagando logo ansiedade
No gosto da cachaça e dum absinto.
Me tinto de luares pra te ver,
Me pinto de vergonhas pra sonhar,
Sabendo que no fundo, cada ser,
Merece ter seu dia de luar,
Nos braços deste amor irei morrer,
Nos braços deste sonho a me guiar...
Na força que me leva ao desatino,
O mundo delicado do menino...
X
6024
Com sua voz amiga, suave e franca
Me dizes o bom dia que eu sonhara.
A noite que passara toda branca
Perfeita sensação divina e cara,
Que a vida que queremos nunca estanca
O rio de desejo em que se ampara.
Aberta a tua porta, escancarada,
Deixando cada rastro bem marcado,
A rosa que plantamos, encarnada,
No olhar que me deixaste,apaixonado.
Depois de tanto quase tive nada
O resto, no teu peito preservado.
No quanto que queria me perdi,
O bem que sempre quis, estava em ti...
X
6025
No céu azul pintado na janela
Verdejo uma esperança resplendente.
Estrela quem me deu, amor, foi ela,
No sonho de viver, uma aguardente.
A rosa que plantamos, amarela,
A faca que travamos, cada dente...
Brilhar no teu remanso, rio e mar,
Arcar com cada parte desta conta.
O manto que cobriu-nos fez amar,
O mar que no teu peito já desponta.
Tão longe da verdade do sonhar,
Mentira quando muita, desaponta...
Recordo cada dia que vivemos,
Por certo amor jamais esqueceremos...
X
6026
Descendo nas ladeiras da cidade,
Em meio aos casarios mais antigos.
O gosto benfazejo da saudade,
Passando pelas ruas e postigos,
Vivendo nosso amor em liberdade,
Os pesadelos mortos, sem perigos...
Atrás da porta aberta, escancarada
Encontro esta donzela que partiu
Em busca da roseira amargurada
Com gosto de vergonha em ser gentil,
Restando tão somente um quase nada
Daquilo que se fora mais sutil.
As nuvens que se formam em tormentas,
Traziam minhas tardes quentes, lentas...
X
6027
Se viver é amar, armar proponho
Meu barco no teu cais ser ancorado,
Regado nosso canto em mel e sonho,
Vibrando em cada encanto desejado.
Não deixe que um refrão tão enfadonho
Desfaça nosso sonho em outro fado.
Se faço dessa lua minha guia,
Se caço teu olhar estrelas soltas,
Minando todo o som da sinfonia
Dos mares em mil ondas tão revoltas,
O fato é que te quero todo dia,
Na chave coração deu duas voltas
Fechou mas logo abriu sua porteira,
A lua que chegou, é verdadeira...
X
6028
Se a terra não produz ainda as flores
Que um velho jardineiro imaginou
Cevando com ternura mil amores,
Nos jardins e canteiros que plantou,
Mas mesmo assim irei por onde fores
A cor destes teus olhos me guiou...
Amiga quando aramos esperanças
As horas são mais mansas e tranqüilas,
Porém quando negadas novas danças
As carnes se apodrecem, velhas vilas,
Os mares navegados nas lembranças
Espalham suas ondas se destilas
O canto mais preciso que persigo.
Insisto em te dizer: sou teu amigo...
X
6029
Na imensidão do céu, voando uma ave
Liberta das misérias deste mundo...
No coração reflito branca nave
Na qual sem perceber vou mais profundo,
Soltando essas amarras, sem entrave
Circulo a liberdade num segundo...
Expando cada verso, em fogo, em facho,
Na luz que recebi dos olhos teus....
Ao ver uma ave livre, aqui de baixo,
Espero que jamais ouça um adeus
De quem amo demais e que não acho
Cansados nesta busca, os olhos meus...
Amada, por favor, volte pra casa,
Que a lua sem te ter, decerto atrasa...
X
6030
Amizade tempera nossa vida
Salgada pela dor de uma distância
Trazendo em cada verso a despedida,
Formada por injusta discrepância
Que faz do diferente voz unida
No passo sem sentido, uma elegância...
Aflitas esperanças de mudança
Deixadas já faz tempo numa estante
Vivendo mais conforme cada dança
Acende cada luz em todo instante
E faz da diferença uma aliança
Defesas que se criam num rompante.
Viemos de lugares bem distintos,
Cachaças misturadas com absintos...
X
6031
Mineiras esperanças bem que quis
Na espera sem ter tréguas nem cansaço.
O gesto da morena mais feliz
No gosto que se acena no seu braço.
Querendo ser da vida um aprendiz
Uma beleza rara pega a laço.
Espera tão feliz, mata mineira,
Valendo a pena ser tão insistente.
Descendo pelo Vale em cachoeira
No Paraíso o verso mais contente.
Lerdeza de sonhar a vida inteira,
O mundo fica belo, de repente....
Espera Feliz, nunca mais só,
Morena que sonhei, Caparaó...
X
6032
Passando no sertão, o sol a pino,
Calor irresistível, sufocante.
A dor da solidão traça o destino
Daquele que sonhou com este instante
Dos tempos esquecidos de menino,
Ninando um sonho leve e aconchegante...
Espero minha força pra dançar
A dança deste amor febre ligeira,
Neste aguaceiro imenso a me tomar,
A paz que procurava, derradeira.
Vestido deste sol a me abrasar,
Aguardo a cada dia a companheira
Que sei que surgirá logo que veja
A lua da esperança, sertaneja...
X
6033
Quero peixe, mar, rede e pescaria
Na colheita divina da amizade.
Plantando meu amor a cada dia,
Granando com certeza a liberdade,
Frutificar meu canto de alegria,
Acreditando sempre na verdade.
Vestir minha esperança, renda e seda,
No linho verdejante de meu sonho,
Andar amor embrenho na vereda
Do mundo que pretendo, mais risonho,
Fazendo do meu canto uma alameda,
É tudo o que mais quero e te proponho...
Bordando em utopia nova fonte...
Forjando novo mundo, no horizonte
X
6034
No ritual divino de te amar,
Tão rotineiro fato me entretém,
É como o bem da vida comungar,
Sabendo que depois a sorte vem
Montada no cavalo a galopar
Nos ápices que só quem ama tem.
Mascaro minha dor com teu sorriso,
Bendigo cada vez que te aproximas,
Saber do teu amor que é tão preciso,
Afaga nos meus versos, todas rimas,
Nos olhos que me beijam, me matizo,
Belezas que são raras obras primas...
Eu amo tua voz ardente e doce,
Como se de uma deusa, assim o fosse...
X
6035
Deixaste uma saudade tão bonita
Que muitas vezes lembro por querer,
Quem sabe se outra dose se repita
E venhas como um raio de prazer
Trazendo teu olhar, tua pepita
Que faz a minha sorte renascer...
Anos passaram, tantos que nem sei,
Só sinto que te quero, amor demais.
Nesta saudade doce eu mergulhei.
Não te esqueci, meu bem, enfim, jamais...
Amar como ninguém, por certo amei,
A porta deste amor não fechei mais..
Nas cores deste sonho me decoro,
E posso enfim, dizer; amor te adoro!
X
6036
Viemos dos botecos, aguardentes
Tomando nosso sangue, nossas veias,
Dos olhos transbordados, dúbios; quentes.
Das luas cobertores, novas, cheias...
Dos vagos pensamentos, onde mentes;
Ilusões em que bebes e recheias
As horas que passamos nas calçadas,
Viver já nos parece um privilégio.
As costas pelas garras bem marcadas,
Os sonhos que se foram, sortilégio
Da sorte sem sentido. Mãos atadas
Unidas desde o tempo de colégio...
Somos dois amigos, companheiros...
Unidos por sangrias e puteiros.
X
6037
Celebrando teu nome com meus versos
Pedindo o teu desejo em meus anseios.
Vagando por centenas de universos
Depois de tudo deito-me em teus seios...
Nossos sentidos que antes bem dispersos
Se encontram, se misturam sem receios.
Viemos de outros mundos tão diversos
Agora nos unimos. Os esteios
Que formam nossa base em tanto amor;
São os meios que usamos sem temor
Nas lutas contra a dor e a solidão,
Deitado nos teus braços; manso, rio.
Deságuo no teu mar, braças do rio
E vivo tão feliz nossa emoção...
X
6038
Querida, é com total felicidade
Que falo deste dia mais feliz.
Trazendo em tua vida, claridade,
Tu és o que sonhei e bem mais quis.
Viver contigo é bom, isso é verdade,
Assim minha alma fala e o peito diz.
Não quero te falar do amor imenso
Que sinto e tu bem sabes que isto é vero,
Nem falo de que sempre em ti eu penso,
Nem tanto quanto amor sempre te espero,
Amor que trago em mim, por ser extenso
Bem sabe que o passado me foi fero...
Por isso e muito mais, no amor que tens,
Feliz aniversário. Parabéns!
X
6039
Meu coração varado por Cupido,
Em flechas tão certeiras quanto audazes.
Agora meu amor, o que decido,
Se falo em sentimentos mais falazes
O que pensara estar mais decidido,
Se perde no caminho num four de ases...
Cupido, esse moleque bem traquinas,
Tomou meu velho peito num assalto,
Já nem sabia mais; pernas, meninas,
Agora vem tropeço no ressalto,
A que será portanto que destinas
Ó deus! Um coração em sobressalto
Te pede, por favor, não faças isso,
Não quero mais saber de compromisso...
X
6040
A solidão não é nenhum troféu
Que deva ser exposto em galeria.
É raio que riscando o negro céu
Impede novo sonho de alegria.
Amando e transformando fel em mel,
Vencendo a solidão com galhardia,
Deixando bem distante esta cruel
Quimera que nos banha em agonia...
Nas névoas desta tarde solitária,
Em meio a tantas dores incontestes.
A vida se mostrando assim, contrária,
Espero que este caos seja finito,
Vestindo deste amor, contente, as vestes,
Futuro grandioso, enfim, eu fito...
X
6041
Meu canto em liberdade, sem valor,
Não deve incomodar mais a ninguém,
Não sou mais do que simples trovador
Que gosta de cantar, de querer bem.
Não faço de meu verso um sedutor,
Pois sei má qualidade que ele tem.
Apenas vou tentando ser feliz
Da forma que mais quero e mais desejo,
Brincando da maneira que se quis
Um velho sonhador que não tem pejo
De em público mostrar a cicatriz
E mesmo assim sorrir. Por isso vejo
Com pena se meu canto te incomoda,
Desculpe se ele está fora de moda...
X
6042
Contemplando-te esqueço de querer
A mim mesmo me perdendo em tal beleza
Que faz todo o sentido se perder
Nos braços de quem fora, com certeza
Aquela que deu gosto ao meu viver
Matando qualquer fonte de tristeza..
Não tenho mais palavras, minha amada
Tu és tudo o que quis sempre na vida.
Ao sentir os teus passos nesta escada
Percebo que esta sorte resolvida
Dará numa manhã, nova alvorada
Depois da noite imersa, e sem saída...
A nau que no teu corpo encontra o mar,
Agora pode, livre, navegar...
X
6043
As horas se passando sem proveito,
As víboras mordendo um imbecil;
Um verme que ambulando no meu leito,
Vai se mostrando ignaro, o ser tão vil.
Mostrando estupidez, nisto é perfeito,
Não sabe ser tampouco mais gentil...
Os dias se decorrem de outros dias,
Eterno carrossel do meu destino,
Deitando quase perco as fantasias
Mas sigo em meu porvir sendo o menino
Que sempre transbordava em alegrias,
Trazendo uma esperança quase a pino.
De ter amor sincero e mais feliz,
Curando do que fora, cicatriz...
X
6044
Vejo os meus dias todos por fazer;
As vagas emoções findam distantes.
Vasculho cada parte do meu ser
E não resisto às dores terebrantes
Das chagas que carrego sem saber
O que pudera ver por uns instantes...
Vazio, sigo inerte, passos lentos,
Buscando a solução em cada prado
Estás comigo, amor; nos pensamentos,
Às vezes eu te encontro aqui do lado,
Mas passas como um raio, sentimentos
Qual fossem um remendo desbotado...
Inútil sensação que me restou,
Do gosto saboroso que passou...
X
6045
Eu peço tua ajuda, minha amada,
Suavize esta mão que pesa tanto.
De várias cicatrizes, tão marcada,
Que sei, se olhares bem trará espanto.
Quem sabe em teu carinho amaciada,
Consiga te trazer algum encanto.
Não trago flores, risos...trago o nada.
Remendos de magias e quebranto.
Não fira nosso amor, pois ferirás
Não a mim, calejado pela vida.
No corte tão profundo que farás
Trarás somente o resto que perdi.
Porém na pele frágil, m’a querida
Tu ferirás somente mesmo a ti...
X
6046
Passo pela alameda dos meus sonhos,
Ouvindo sabiás e curiós...
Quem teve tantos dias mais tristonhos
Saindo de um passado tão atroz
Sabe dos caminhos mais risonhos,
Do mundo que criou, feliz, após...
Silêncio a traduzir a paz querida,
O vento passa lento pelos galhos,
De tanto que encontrei em minha vida
Projetos que encetei morreram falhos.
Nesta alameda encontro uma saída,
Juntando o coração, tantos retalhos...
Amiga, esta alameda, na verdade,
Demonstra como é bom ter amizade...
X
6047
Sossego, só sossego é que te peço,
Não posso suportar tuas vontades,
Se às vezes os meus erros não confesso
Preciso p’ra viver, tranqüilidade.
Palavras, com cuidado, sei que meço,
Cansado de só ter ansiedade...
Preciso desta paz que não me dás,
Preciso da certeza de um espaço
Que em nome de um amor não tenho mais.
Desfilo pela casa meu cansaço
Que a boca que me beija, morde e traz.
Não vou mais suportar este teu laço,
A corda que me prende, não suporto,
Meu barco irá buscar um novo porto...
X
6048
Vieste com sorriso tão maroto,
Espinhos arranharam tua pele.
Amor fantasiado em um garoto
Trazendo um novo sonho em que se atrele.
Qual fora uma donzela em cerne roto
Que num momento lúdico revele
Prazer de quem comeu e bem gostou,
As marcas do desejo estão no rosto,
Da flor que neste sonho se entregou.
O seio delicado e semi exposto
Guardado cada beijo que o tocou...
Num átimo teu gozo sobreposto
Escorre em tuas pernas, sangue e brilho...
Quem sabe o velho boto em novo filho?
X
6049
Se tudo de repente é oco e frágil,
Se todo o grande amor morre sozinho,
Não quero minha vida como um plágio,
Preciso desabar do velho ninho.
Amor se verdadeiro, sem pedágio,
Num ágil movimento quer carinho.
Me deixo, assim, levar por mais um tempo
De tal arte que trague uma esperança.
Acima de um terrível contratempo
Que impeça novo dia em nova dança.
Amar não é deveras, passatempo
É força que nos alça quando alcança.
Por isso quero amor, eternidade,
Que tenha como base uma amizade!
X
6050
A minha inatenção por tantas vezes
Causou-te a sensação de ingratidão.
Depois de tantas dores e revezes
Meu barco se perdeu de direção.
O tempo solitário, dias, meses,
No fundo o que me resta é o coração...
Eu me lembro do dia em que perdi
O rumo nesta estrada tão complexa.
Estava tão distante que nem vi
A tua imagem bela, em mim, reflexa.
Agora que percebo estás aqui.
A minha vida corre desconexa...
Neste quarto silente nada vejo
Senão a mão em preces, em desejo...
X
6051
Se neste chão incerto se fez luz
Porque não poderíamos sonhar?
Um mar de vaga-lumes reproduz
Toda a beleza rara do luar?
Amiga um canto raro nos conduz
À força e a vontade de lutar.
A luz que bruxuleia a da esperança
Ao fim do grande túnel da existência
Mostra-nos que em perfeita e calma dança
Talvez venha esse resto de clemência.
Por isso é necessária uma aliança
Untada com perfeita paciência...
Assim é bem possível realidade
Erguida em firmes bases, da amizade...
X
6052
Passando pela estrada vi roseira
Imensa e tão florida no jardim,
Depois de procurar a vida inteira,
Roseira tão bonita e rara assim,
Descobri que a rosa derradeira
Nascera há tanto tempo dentro em mim...
Ao falar da beleza destas flores,
Percebo como Deus foi delicado
Trazendo para a terra seus olores,
Tornando um coração extasiado,
Assim também já fez com meus amores,
Por isso estou por ti, apaixonado...
Falando dessas flores vejo a vida,
Tão perfumada e rara em ti, querida...
X
6053
Coração aboiado em sofrimento
Procura uma invernada em esperança.
Cansado de entornar tanto lamento,
Espera que esta noite venha mansa
Carpindo toda dor nesse momento,
Os braços da mulher que eu amo, alcança...
Coragem pra poder dizer do amor
Que foi a perdição deste meu peito.
Um boiadeiro em canto sofredor,
Espera seu amor que é um direito
De quem espalha a vida em destemor
E vive tanto tempo insatisfeito...
Eu quero o teu olhar de pão de mel,
Estrela radiosa do meu céu...
X
6054
A cruz abandonada no caminho,
Traduz a sorte; morte sem perdão.
Quem passa e nem percebe, vai sozinho,
Riscando pelas trilhas, novo chão.
Mal sabe que viveu, nesse sertão,
A dona dos meus olhos, meu carinho,
Razão de vida, pobre coração.
Que teima , vai batendo, passarinho...
Essa cruz foi fincada por alguém,
Que nunca poderia imaginar;
Que ela também fora meu triste bem.
Mas, meu Deus, nunca posso revelar,
Nem a Ti, nem sequer mais a ninguém,
Esse amor consagrado no luar...
X
6055
Tomado pela paz que tanto quis
Fazendo da amizade minha sina,
Vivendo sem guardar a cicatriz
Que corta enquanto queima e me alucina.
Quem sabe poderei ser mais feliz
Sorvendo tua luz mais cristalina?
Na guerra que é prenúncio desta paz,
Eu quase que perdi as ilusões...
De tudo o que sonhei ser mais capaz,
As horas se perdendo nos senões,
O mundo que proponho satisfaz
O todo que traduz revoluções.
Eu quero o teu caminho mais sutil,
Na paz que nos demonstra mais gentil...
X
6056
Teu corpo desejável, belo cálice
Inebriante vinho da esperança,
Por mais distante que este sonho espalhe-se,
Uma avidez intensa sempre alcança.
Tua bela nudez sempre contemplo
Imaginando em sonhos, tal altar
Dourado em mavioso e raro templo,
Exposto aos raios alvos do luar...
Quem dera se pudesse eu, abarcá-lo,
Transcendo uma ilusão, que sei profética,
Em ti, divinamente, sinto, calo...
Uma emoção suprema, enfim poética...
Eu quero simplesmente ao adorar-te
Sentir tua presença em qualquer parte...
X
6057
A morte chega cedo a quem não ama
E mente pra si mesmo, temerário.
Deitado no curral, exposto à lama,
Vivendo o que temera, sem horário.
A sorte solitária não reclama,
No peito que morreu, um relicário.
Ao visto necessário para o riso,
Amor como um sentido além da vida,
Por mais que num amor se perca o siso
É nele que se encontra essa saída
Aberta para eterno paraíso,
Numa escalada mágica e sentida.
Morrer em vida assim é mau presságio,
Cuide então desse amor, embora frágil..
X
6058
.
Na estrela matutina, a noite escorre
Seu último estertor, mal raia o sol.
Amor que em nascedouro, cedo morre,
Transformando em tristezas o arrebol
O tempo soluçante, já não corre,
A vida vai perdendo o seu farol...
Toda a alegria foge e já se esfuma,
Distante desbotando, suas cores,
Uma onda no meu mar, na praia escuma,
Morrendo em fria areia em estertores,
A sorte solta ao vento, leve pluma
Levando para longe os meus amores.
Ah! Como fui feliz e não sabia...
Agora só me resta a estrela fria...
X
6059
Bordar a minha vida em tua vida,
Atando cada laço em forte linha.
Tua palavra amiga que decida
O rumo em que destino nos alinha.
No dia a dia, sempre foste minha,
Agora a nossa sorte decidida
Nos braços deste amor sem fantasia,
Nos olhos de quem sabe o que se quer,
Formando o novo canto em alegria,
Para sempre serás minha mulher,
Guerreira, companheira em sintonia...
Estou contigo venha o que vier...
Na cama, seda, renda e bom veludo,
Aos poucos, tanto amor pr’a mim é tudo...
X
6060
Ao me arrastar qual louco, te agarrei
E te levei comigo, dei afeto,
As costas já desnudas arranhei
Vibrando no teu corpo; fui completo...
E nada do que somos duvidei,
Não permiti nem medos, nenhum veto,
Imerso neste mar eu embarquei
Pelo teu corpo nu, fui recoberto...
E fomos noite afora, sem paragens,
Dois viajantes cegos sem limites,
Fazendo nos sentidos, as viagens
Que partem sem temor ao infinito.
Não te contenhas, solte-se assim... Grites...
O nosso amor profano, enfim, bendito...
X
6061
Chamaste-me: teu filho, solidão...
E voluntariamente me entreguei
Sem ter ao menos rumo em precisão,
Os olhos em teus braços, eu salguei.
No barco que emprestei, meu coração,
Por mares tão distantes, naveguei...
Despido do que fora uma esperança
Vivendo em velas soltas, incertezas.
Achando que encontrara uma bonança
Nos braços de quem dera... sutilezas
Da sorte que, longínqua não se alcança;
Povoa minha vida de tristezas...
Eu necessito ao menos respirar,
Quem sabe uma amizade em seu lugar?
X
6062
Se te pareço estranho, amor; talvez
Sejam meus olhos tristes e cansados.
Perdendo todo o foco a cada vez
Que são pelos teus olhos contemplados.
Tua beleza intensa.... Perco a rota
E nem sei mais se rumo irei rever.
A flor que enfim plantamos nunca brota
E o tempo vai passando a se perder.
Pouso um carinho nos teus lábios,
E quase me convences com palavras
Que os dias que se foram, sendo sábios,
Correram bem melhor para estas lavras.
Só sei que te encontrei, alma certeira,
Na vez mais insensata e derradeira...
X
6063
Sílfide de raríssima beleza,
Despida à luz da lua, plena intensa,
Dispersos pensamentos da princesa
Que vive na mulher que em mim não pensa...
Distante dos meus olhos, com certeza,
Espera um outro alguém por recompensa.
Minha alma se sentindo sem defesa
Perdendo toda a fé se esvai sem crença.
Brincando com as conchas na alva areia
Num quadro genial que me apavora,
Sereia que se entrega à lua cheia
Negando-me um sorriso, sem ter dó,
Nas conchas multicores se decora,
E deixa um coração batendo só...
X
6064
Na apoteose imensa da amizade
Que em versos transfiguro em manso cais.
No rosto bem marcado da saudade,
A vida em novo mundo mostra mais
Que apenas o meu canto em liberdade,
Amor em amizade é ser demais.
Além de qualquer porto de partida,
Além de qualquer ponto de chegada,
Ancoradouro raro em nossa vida,
A sensação tão plena e bem marcada
Da sorte que se mostra resolvida.
Nas hostes da alegria anunciada...
A perfeição divina está contigo,
Quando tu és por certo, um bom amigo...
X
6065
Os meus medos rolando escada abaixo;
Deixando o apartamento mais em paz.
Da luz que me queimava nem um facho
Respiro aliviado e mais audaz.
Com riso sorrateiro, quase escracho,
Tu olhas para mim, bem mais voraz...
Esqueça aquela música distante,
Falências e vergonhas... não, não mais..
A vida se tornando num instante
Um barco que assegura bem seu cais,
Teu riso tão mesquinho e triunfante
De quem sempre me soube até demais...
Agora que não temo mais o dia,
Talvez amor renasça em sintonia...
X
6066
Sou um rascunho feito alegoria
Bordado nos teares da paixão.
Acumulando dores, agonia,
Espreito numa curva, a solução
Borradas minhas cores, sem valia,
Meus sonhos esquecidos sem perdão.
Carpindo o que restou da fantasia
Cuspindo mil certezas, sou o não.
Se fiz o meu destino em aquarela,
Rabisco cada parte desta vida
Com gotas derretidas de uma vela.
Das formas que me mostra a parafina
Vislumbro o teu retrato, enfim, querida.
Na sorte que se empresta e me domina..
X
6067
.
Talhada a faca e fogo, minha sorte,
No pôr de uma esperança sob o sol.
O medo se transforma quase em morte
Secando o que se fora um girassol.
Profunda cicatriz valora o corte,
Na boca resta a marca deste anzol
Felicidade ao largo que me aporte
O brilho defensivo de um farol...
Quem quis ser mais além da plenitude
Agüenta; agora, a vida em dispepsia.
As marcas das paixões da juventude
Colheitas mais ferozes e mordazes.
Restando a solução da fantasia,
Dos beijos que se foram nada fazes...
X
6068
Correndo no quintal em laranjeiras
Mal sabe que desenha uma obra rara.
O tempo lhe trará outras bandeiras
Aos poucos solidão se mostra cara.
Estas montanhas tão distantes beiras
No fundo do que quis e que sonhara.
São sombras definidas, verdadeiras
Do tempo em que feliz, nunca pensara...
Mulheres, filhos ruas e botecos,
O paletó reflete o desamor.
As laranjeiras morrem sem ter ecos,
O gosto do azedume, verde fruta,
Reforça um paladar tão sedutor.
O amor se transformou em morte astuta...
X
6069
Surgidos do vazio do abandono,
Meus versos te propõem uma amizade
Embora tanto tempo imerso em sono,
Pela janela entrou a claridade
Da lua que se fez sem saber dono,
Do vento que bateu ansiedade.
Não primo por querer, da vida, abono
Nem quero com o raro, paridade...
Não verás aqui nada de novo,
Apenas um vitral esfumaçado.
Do nada de onde vim, não me renovo.
Sou antes, sem depois, venho de outrora,
Mas sei amiga, sempre do teu lado,
Quem sabe eu renascesse numa aurora?
X
6070
Amar é descobrir, criar o belo,
Fazer da simples fonte, mar imenso.
Assim como te vejo e te revelo
Além do que tu és, eu sempre penso.
O meu futuro em ti, pra sempre selo
Do jeito e do formato mais intenso
Meu sonho nos teus passos; quando atrelo,
Certezas de que assim me recompenso.
Tu és o que tu és e nada mais,
Não vejo desta forma, és muito além...
Hiperbolicamente; amor demais
Te torna divinal, embora humana,
Na força que transforma todo o bem
Tu és dentre as mulheres, soberana!
X
6071
Não posso perceber quanta vitória
No gozo deste amor que sempre quis.
Se nessa amarga vida fui feliz
O gosto da delícia na memória.
Vencido pelo amor em plena glória
Não deixo meu caminho e peço bis
Recebo do teu céu lindo matiz
E mudo, num segundo minha história...
Bem sei que sempre sofres por enganos.
Teu coração permita novos planos,
Quem sabe encontrarás quem sempre quis.
Nos castelos sem fadas nem princesa
A vida se transcorre em tal leveza
Que sempre sonho ser mais feliz...
X
6072
Não quero que me tragas a rainha
Exposta na nudez de uma derrota,
Desponta na certeza toda minha,
A vida que se fez além da cota.
Não posso permitir que assim sozinha,
A noite traga a festa tão remota...
Meu verso vai buscando o teu cuidado,
Amiga, não me deixes mais partir
O sonho de viver sempre ao teu lado,
Aos poucos sem certeza a redimir,
Vai logo, se esparzindo abandonado,
Não deixa nem sequer amor fluir...
Cuidando do que fora mais querido,
Amiga, meu caminho decidido..
X
6073
Talvez simples tolice cada verso
Que faço qual um tolo trovador,
Soltando minha voz pelo universo
Bem sei que vou sozinho em minha dor.
O quadro que pintei está diverso
Daquilo que sonhei, mau cantador,
O resto do que sou anda disperso,
Na busca sem limites por amor.
Não vejo mais saída, mato o rio,
Porém já não suporto mais algemas,
Prefiro prosseguir, mesmo vazio,
A ter que suportar doridos tédios,
Teus olhos, eu os quero como emblemas,
Últimos estertores, meus remédios...
X
6074
O que trago em meu peito é tão banal
Faz parte deste sonho que não tive,
De um mundo mais preciso e natural
Formado pela luz que se revive
Distante da incerteza; ou bem ou mal,
Maniqueísmo estúpido que vive
Em cada situação mal resolvida.
Nos olhos deste velho feiticeiro;
Amor, que se embargando, nega a vida.
No pranto que se fez som derradeiro
De toda esta esperança em despedida...
O que trago no peito, cessa abrigo
E vive te espreitando, vento amigo...
X
6075
No tropel destas lutas não vencidas
Contra o que se fora mais concreto.
Depois de preparar as despedidas,
O mar que tanto quis morreu em feto.
Não posso desgrudar de tais saídas
Que mostram o caminho mais direto
Embalde misturadas nossas vidas,
Se fazem como um canto mais dileto.
Sou esmo vou em vão, não tenho nada
Senão este cansaço tão antigo.
O verbo a se compor na madrugada
Se mostra como um ermo adormecido,
Prevendo os estertores, vou contigo,
Mostrando-me mais forte, mas vencido...
X
6076
As crianças dormidas como o pão
Jogados pelo esgoto da cidade,
Bebendo da tortura em podridão,
Vasculham cada resto da amizade
Que brote de algum louco coração
Distante deste mundo, da verdade.
Mistura de temor e compaixão,
Negando para outrem saciedade.
A sociedade passa e fecha o cenho,
Vergonhas espalhadas pelas ruas.
No fundo até demonstra algum empenho
Matando ou destruindo esta paisagem.
Escondam suas almas, que estão nuas
Diante deste quadro sem bandagem....
X
6077
Um anjo na minguante, asas cortadas
Sangrantes pelas ruas da cidade.
As hordas que seguia, destroçadas,
Não resta dos bons tempos, nem saudade.
Andróginas figuras desabadas,
Vencidos, bem distante da verdade.
As sombras escondidas, amputadas
As asas de quem quis felicidade...
No oco deste rincão que não vigora,
Traz seca uma esperança como guia.
Vestido do que fora não sei hora
Da volta deste sonho que amputei.
Talvez uma visagem mais tardia,
Ressuscitará o anjo que matei..
X
6078
Meu coração que fora qual mutante
Vestindo toda veste que aprazia,
Recebe tua imagem deslumbrante
E veste-se de gala em alegria.
Me deste teu futuro neste instante
Sou teu e nisso mostro quanto havia
Do todo que se fez mais importante
Que tudo que sonhei em certo dia.
Minha alma em turbilhão se aquece em ti,
Verdeja meu sorriso, inunda a face.
Do medo em borbotões que já verti
Não resta nem sequer sombra e pedaço.
Eu temo a sensação de que isto passe,
No esgotamento claro, no cansaço...
X
6079
Todos os dias canto o bem do amor,
E nada impedirá que seja assim.
Regando com cuidado cada flor,
Terei ao fim da tarde o meu jardim,
Com cheiro de alegria a meu dispor
Perfume que roubei, cada jasmim...
Em mim o vento forte da bonança
Na boca que por certo, enfim, virá.
O tempo de incertezas quando avança
No vento da tristeza fica lá
Distante do que sonho ser a dança
Que em cada novo olhar, já brilhará...
O bem do amor imenso que te trago,
Garante a fantasia deste afago...
X
6080
Nova noite caindo desolada
A tua sombra chega, dolorida
A sorte de meus olhos, isolada,
Na friagem da noite, tão sentida,
Restando tão somente um quase nada
Do amor que me deixou, em despedida...
Partindo por distantes, outras plagas,
Em mares, em falésias, penedias...
As horas se passando, toscas, vagas...
Morrendo o sentimento em agonias.
O vento tão terrível, duras pragas
A morte se mostrando em ventanias...
Só resta disto tudo, uma ilusão,
Envolta nos teus braços, compaixão...
X
6081
No céu de nosso amor, imensa glória,
Calando toda a dor da tempestade,
Guardando uma alegria na memória
Que vem da minha infância, tenra idade.
Refaço, nos teus braços, minha história
Andando em liberdade, na cidade...
Tristeza, do teu lado, cedo some,
Renasce uma esperança a cada dia,
O tempo, como ao bronze, me consome,
Porém nem a saudade tripudia,
Amando, cada vez sei mais teu nome,
Sinônimo fiel de uma alegria...
Teu passo, nem areia apagará
Na eternidade, sempre brilhará....
X
6082
Andando por caminhos mais desertos,
Meus olhos tão cansados nem olhavam,
Dos passos que seguiam; bem incertos,
Romeiros da esperança nem paravam.
Dos medos que são sonhos descobertos,
Nem mesmo um só segundo; perguntavam
Por onde caminhavam mais fagueiras
Além de todo a serra, monte e prado,
As brisas que bem sei são forasteiras,
Passando pelo amor, monte elevado
Nas selvas de carvalhos e palmeiras,
O céu que não querias estrelado...
Falavas deste canto em amizade,
Resíduo que matou felicidade...
X
6083
Amar como quem sabe que perdeu
Intimidade louca com estrelas,
Rateio uma esperança, morro ateu
E vivo sem querer poder revê-las.
Estrelas que sabiam quanto o breu
Ajudaria sempre percebê-las...
Habito a noite vã, o frio amigo,
A lua cortesã, o resto é gelo;
Se caço o que queria, não consigo
Nem sombra deste amor, quiçá revê-lo.
Na busca desta estrela, assim prossigo.
Coração; como faço p’ra contê-lo?
Amar além. Somente o que proponho,
Estrela a pontuar, com brilho, o sonho...
X
6084
Procuro tua imagem nesta casa,
Guardando as proporções, foi meu altar.
A chave que esqueci, já não se casa
Com lua nem com céu, tampouco mar.
Do fogo que restou e não me abrasa,
O quanto que tentei não te adorar...
Mas vejo o quanto errei, amor imenso.
Meus olhos se perderam sem ter rumo.
Saudade quando em branco e puro lenço
Mostrando quanto em ti não me perfumo.
Do cativeiro sempre em versos penso,
A tua imagem sobe como o fumo
Que escorre de meus dedos, meu cigarro...
No que restou de ti, frágil, me agarro...
X
6085
Amor eterno; toma-me nos braços,
Faça de teu colo o meu regaço;
Desfrutar desses sonhos, tantos passos,
Depois deitar contigo, exausto, lasso.
A noite nos tomando, olhos baços
Distantes relembrando o meu fracasso...
Amor eterno, siga em cada dia
Transbordando luzes em meu peito.
Transfunde toda paz e fantasia
Até deixar-me quieto, satisfeito.
Amor eterno em doses de alegria
Curando a velha chaga; uma alquimia...
Amor eterno, o verso fora inútil,
Sem rumo, sem destino... outrora fútil...
X
6086
De súbito me bate uma certeza
Inerente resíduo de uma vida.
Que fora em pleno rio, correnteza,
Descendo para um mar de fantasia...
O reino que encantaste sem princesa
Morreu numa insensata cantoria....
Esqueço-me nos paços e nas ruas,
Nos bares e cantinas, sol e sal.
As fotos de mulheres seminuas
Compondo um ambiente sensual.
As mãos que me acarinham não são tuas
Assim como este sonho é desigual.
Perdendo todo o senso beijo bocas
Que se riem depois. Tu me tresloucas!
X
6087
Num barco abandonado sem destino,
Embarco a solidão que me entregaste.
O vento sem sentido não domino,
Qual galho se vergando em frágil haste
Perdido neste mundo, um peregrino
Que aos poucos se consome em vil desgaste.
Apenas uma porta que se abriu
Permite que eu retorne timoneiro.
Tua palavra mansa e tão gentil
Talvez seja meu sonho derradeiro.
O céu de nevoeiros fez-se anil.
Mergulho nesta bóia por inteiro...
A quilha recomposta, leme solto.
Amiga irei contigo em mar revolto...
X
6088
Amiga eu não pretendo com meu verso
Falar destas saudades, nem dos breus.
Rondando, no teu corpo, um universo
De sonhos que matassem nosso adeus.
No campo dos desejos, mais diverso,
Aguardo teus carinhos; todos meus...
Mas vejo que não tenho outro sorriso
Que seja além de amigo, além do cais...
Com mundos imprecisos já diviso
E sinto que perdi amor demais.
O solo que pensara ser mais liso,
Não posso mais seguir, bem sei, jamais...
Tu és a minha amiga predileta...
Amor, porém, distante não completa...
X
6089
Meu maço de cigarros já no fim,
A noite é longa e nada mais terei,
Senão o que restou dentro de mim,
Do tempo em que vivia sob a lei
Deste amor tão ignaro quanto sei,
Vagando sem destino, mesmo assim,
Na busca mais frenética tracei
Os passos que morreram no jardim
Da casa onde moravas, flores falsas,
Espinhos resgatando cada passo
Perdido em debutantes sonhos, valsas
Amaras experiências mal vividas,
Restando tão somente o meu cansaço
Mas tento renovar-me em nossas vidas...
X
6090
Um mundo de desejos em bacantes
Floresce em minha cama a noite inteira.
Misturo-me com sombras delirantes
E beijo uma mulher mais verdadeira.
Um sátiro buscando tais amantes
Não sabe usufruí-las sem fronteira
O quadro que se pinta por instantes
Na fome em que se borda é dor certeira...
As sombras que me seguem mais comuns,
Das velhas tempestades que já tive.
Fantasmas? Na verdade tenho alguns,
Mas sei que logo vão, decerto, embora.
Que tanta tatuagem não me prive
Da sede de te ter comigo, agora...
X
6091
Amar a vida intensa e bravamente,
Talvez seja difícil perceber
Que embora se procure ver de frente
A vida muitas vezes nos faz crer
Que tudo que acontece de repente
Faz parte desta luta por viver,
Embora se destine cruelmente,
Em meio a tempestades, dá prazer...
Se faz nesta mulher tão deslumbrante
E mesmo que não seja, assim será.
O verso que te faço minha amante
Endeusa retirando teus defeitos,
A morte num segundo chegará,
Vivamos sem temor os nossos leitos...
X
6092
Se eu te amo? Muitas vezes me pergunto.
Bem sei quanto te quero aqui comigo.
Olhar para teus olhos, seguir junto
Contigo... Mas às vezes eu nem ligo
E mudo bem depressa pr’outro assunto.
Prevejo novamente este perigo..
Mantenho dentro em mim este segredo
Tantas vezes negado. Sim querida;
A culpa talvez seja deste medo
Que aos poucos dominou a minha vida.
De mim, dentro de mim, o meu degredo,
A porta que tranquei não vê saída...
Talvez, quem sabe, um dia com coragem
O nosso amor não seja só miragem...
X
6093
Cadáver insepulto que carrego;
De um tempo que passou, deixou resquícios...
Não sei bem se eu afirmo enquanto nego
Embora saiba bem destes indícios...
Depois de tantos mares que navego
As asas decolando em precipícios,
Distante do que fosse esse meu ego,
Se sigo, talvez sejam só meus vícios.
Os nomes, muitas vezes sepultados,
Volta e meia pululam e renascem.
Diversos, os caminhos, nossos fados,
São mais do que retratos na parede.
Falar neles é como se voassem
Em busca de outras fontes, matar sede...
X
6094
Reclamas se não falo deste amor
Que sinto e que me supre totalmente.
Se em versos, quem me dera um trovador
Pudesse te falar tranquilamente
De quanto o teu carinho é sedutor.
Dizer de tudo aquilo o que se sente
Com toda sapiência, um professor.
Mas nada disso passa em minha mente.
Eu falo deste amor em nossa cama,
Nos beijos que te dou, nos meus carinhos...
Fornalhas flamejantes, fogo e chama.
Meus lábios ocupados silenciam,
Tomando em tua carne, tantos vinhos
Que tanto me inebriam e viciam...
X
6095
Meu peito em terremotos quando vejo
Tua nudez exposta em meu dossel,
Lateja em minha carne tal desejo
De penetrar inteiro neste céu.
Recolho tantos gozos que eu almejo
O coração sem rumo, vai ao léu
Aos poucos vai tomando esse traquejo
De ser abelha farta em tanto mel...
No terremoto extenso que sofri
Na tempestade imensa, um furacão
Sentindo esta presença bem aqui,
Das enchentes, tornados, maremotos,
Envolto nos enredos da paixão,
A pele delicada... Flor de Lótus...
X
6096
Cuidado, minha amiga, com que dizes;
Palavras engatilham tempestades.
Na arte de conviver, as cicatrizes
Ressurgem simplesmente de verdades
Salgando nossos dias infelizes,
Lembrá-las é ferir com crueldades.
As almas tantas vezes são atrizes
Que escondem essas tais fragilidades...
Portanto vê se esquece o que passou,
O que feriu demais, cicatrizou,
Apenas quero olhar daqui pra frente...
Não ceda à tentação de maltratar,
Permita que eu refaça o meu cantar
Em outros rumos breves, mansamente...
X
6097
Em minha timidez, o medo aflora.
E vagando a minha alma na moldura,
Qual tela que me deste, uma escora
Que possa me ajudar na mata escura
Enfrentando fantasmas. Sou agora;
Do verbo original, a criatura
Que em mar tempestuoso não se ancora
E morre simplesmente, sem candura.
Teus pés já foram bases deste sonho,
Amada sensação de fonte e ponte.
Oriundo dum dia mais medonho
Fantasia proposta não me cabe,
Vislumbro uma esperança no horizonte,
E vou antes que o amor, em ti, se acabe...
X
6098
Por ter te amado assim, além da conta,
Dos termos do contrato que fizemos,
Talvez a minha culpa esteja pronta
Nos dias mais serenos que tivemos.
O tempo que vivemos não se conta
Apenas o que nunca mais sabemos;
Do fogo dos teus olhos, cada conta,
Perdida nos olhares que morremos...
Ancoradouro frouxo, o nosso cais,
Vencido pelas brisas costumeiras.
Um até logo vira nunca mais
Das hóstias comungadas nem sinal,
Palavras desabando em corredeiras,
Eu te amo, nada mais, foi tudo igual..
X
6099
Não quero repetir o mesmo engano
De ter a sensação de ser cativo
Fugindo totalmente deste plano
Ao qual me dediquei sem ser altivo.
Este erro cometido é bem humano
Por isso irei manter olhar bem vivo.
Amor é como um raro e belo pano
Que não suporta um gesto possessivo..
Nas nossas diferenças um forte elo
Que faz nosso futuro mais liberto,
Andarmos lado a lado em paralelo,
Sabendo que o caminho é de nós dois.
Na morte ou solidão, pois isto é certo,
Certeza de viver, mesmo depois...
6100
Tento te encontrar em cada lume
De estrelas que vadeiam pelo céu.
Nas rosas mais cheirosas, teu perfume,
Na transparência bela tiro o véu
Percebo esta beleza de costume,
Doçura de garapa em pleno mel...
Não podes desprezar quem tanto quer
Teu corpo, teu desejo satisfeito,
Envolto nas magias da mulher,
Invades com certeza um velho peito,
Que espera da maneira que vier
O amor que sempre foi nosso direito...
Eu quero te encontrar aqui, comigo,
Vencendo o teu temor, terás abrigo...
X
6101
A vida simplesmente me devora,
Mas tomo noite e dia talagadas
Desta aguardente imensa que, sem hora,
Encontro neste bar, nas madrugadas.
Amada a quem queria uma senhora,
Se veste de ilusão, já vai embora...
Não quero mais ouvir as zombarias
Que encontro a cada vez que assim suspiro.
Os becos da saudade em noites frias
Ouvindo pelas ruas como um tiro
Que as mãos que me deixaram desferias
No luto merencório do retiro...
Mas sabes da fumaça/coração
Que o gosto desta vida: uma emoção...
X
6102
A sorte não lastimo, minha amada,
Estreita esta prisão que nos uniu.
Na vida que sonhei encadeada
A vida que me deste, bem sutil.
Irreparável sina que adorada
É mais que desejada, amor gentil...
Não temo o que vier, estou contigo,
Nem temo mais a dor de qualquer corte,
Não tenho mais amor como castigo,
Meu braço te envolvendo, bem mais forte.
Vivendo o que queremos vou, prossigo
Distante do temor: adeus à morte...
Vencendo o longo inverno, a primavera,
Se mostra em teu olhar que amor libera...
X
6103
Amor, cavalo solto, bela crina
Que passa galopando em nossa vida.
Na ponta desta faca, aguda e fina,
O corte que se fez, sem dar saída.
Cativo deste amor que me domina,
A sorte não promete despedida...
No pomo deste amor, maçã e medo,
Vestido de ternura e de saudade.
Morrendo em cada verso de degredo,
Vivendo em cada sonho de verdade.
Me prendo nos teus braços, teu enredo,
Embora em nosso amor, disparidade...
Dou asas ao amor, corcel bendito
E vou braços abertos, infinito...
X
6104
As existências todas repartidas
Nas residências mortas em batalha,
Nessas crianças quietas desvalidas,
Nos gumes mais cortantes, na navalha.
Nas ilusões sem par e combalidas
Na forca que nos toca enquanto atalha.
Na velhice do jovem, do skinhead,
Na mentira do sonho de futuro
Além do que se ganha e que se perde,
O nada está guardado atrás do muro.
Meu filho, que outro filho não mais herde
O dia que se escorre e vai escuro...
Ao nada que voltamos, na verdade,
Só resta uma esperança, uma amizade...
X
6105
Às vezes escorrego pelo esgoto
Da porta escancarada do teu riso.
Um sonho mais amigo, estendo roto,
Em ratos e baratas, sempre piso.
Da perna que se foi, lateja o coto,
Meu passo, sendo assim, segue impreciso...
Quem dera me fartar, tanto comer,
Do que foi reservado para mim.
Amiga, não consigo reverter
Nem mais seguir em frente; sendo assim
Não sinto nem vontade de querer,
Apenas vou moendo até o fim...
Alegro-me com pratos e talheres,
Quiçá neste banquete, mil mulheres!
X
6106
Falar do bem, do mal, do mais ou menos...
Do que restou dos beijos mentirosos...
Meus dias se passaram bem pequenos
Cobertos de fantasmas e de gozos,
Bebendo em cada amor, os seus venenos,
Meus olhos se formaram mais brilhosos...
Agora, vou ao nada, nado solto,
Em mar que te pariu e me cevou.
Procelas, celas, túmulo revolto,
O quase que eu não fui, o que restou.
No passo tão mal dado em que me escolto
Sou outro e já nem sinto o que ficou.
Falar do bom de um sentimento amigo
É quase se entregar, correr perigo...
X
6107
"A maior pena que eu tenho,
punhal de prata,
não é de me ver morrendo,
mas de saber quem me mata."
(Cecília Meireles)
A mão que me acarinha esconde a faca
E ao mesmo tempo ri, se escancarando.
Na noite em que dormimos quando atraca
Ataca minha boca, me sugando.
Depois chamo ambulância e vou de maca
Mas volto noutra noite te buscando...
Refaço-me do susto e recomeço,
Bem sei que isto te faz, amada, forte.
Não vejo mais meu rumo ou endereço,
Aceito tão passivo a minha morte.
Talvez reste de tudo algum apreço
Mas sei que morrerei nos braços teus...
Bebendo do prazer em doce adeus..
X
6108
Esta flor caprichosa que nasceu
Num dia de ilusão, o mais perfeito,
Do amor que tanto tempo foi só meu,
Agora se esvaindo insatisfeito,
Se todo este perfume se perdeu
Que faço deste amor dentro do peito?
Quem sabe voltará num dia incerto,
E teu olor virá me socorrer.
Oásis que encontrei em meu deserto,
Talvez seja essa fonte de prazer
Que faz com que este mundo esteja aberto
À fonte que emanou meu bem querer..
Assim quando vieres, flor tão pura,
Termine toda a dor desta tortura...
X
6109
Levados pelo vento, meus amigos,
O tempo se passou, restei sozinho...
Depois de ter sonhado com abrigos,
Depois de ter vivido em outro ninho
Os olhos que me viam, tão antigos,
Agora vou bebendo de outro vinho...
Os dias foram todos tormentosos,
As horas que vieram me sangraram,
Os cantos que aprendi, tão lamentosos,
Por outros mares tortos, ecoaram...
Saudades doutros mundos venturosos
Onde essas amizades triunfaram...
Agora que te encontro novamente,
Amiga, é necessário amar urgente...
X
6110
No rio caudaloso da paixão
Meu barco com certeza se entregou
E nada mais contendo esta explosão
Nos braços da morena naufragou...
Lambendo com total sofreguidão
As barrancas, amor assoreou
Fazendo em tua foz inundação,
E todas essas margens, alagou...
Amar é ter um mar dentro de si
Sugar de toda fonte do desejo
No meio deste lago me perdi
Chovendo alucinado em teu cais.
Só sinto que te quero e assim prevejo
A tempestade louca, e quero mais...
X
6111
Seguindo de um corcel, largas passadas,
Estrela dos meus sonhos, à terra desce,
Passando pelas mágicas estradas
O teu olhar divino me aparece
E vejo nestas crinas agitadas
Estrela maviosa, amor e prece...
Na luz que tu me mostras, tão potente,
Cavalo, brilho e lume em grande porte,
Vibrando em ti, querida estou contente,
Achei em minha vida, rumo e sorte,
Quem veio de um passado penitente,
Agora não mais teme dor e morte...
Montado no corcel, em destemor,
O brilho de teus olhos, meu amor...
X
6112
Junto ao mar caminhando pela areia
As coxas e as pernas bronzeadas,
No fogo deste sol que te incendeia,
Ao vento estas madeixas balançadas...
Imagem formidável de sereia
Por ondas, tuas pernas vão molhadas...
Ao ver-te numa saia deslumbrante
Inveja desse vento, assim, me dá,
Quem dera te tocar por um instante,
Quem dera se viesses para cá,
Ficar comigo, bela, irradiante...
Ser o sol que contigo deitará
Depois dormirmos juntos sob a lua,
A noite inteira, estrela seminua...
X
6113
Querida, não se apresse de ir embora,
Parece que restei aqui sozinho...
O tempo já faz tempo que evapora
E o que ficou aqui, foi passarinho.
Tentei usar teu braço como escora,
No fim quase que entorno o pão e o vinho.
Amiga, sigo sendo o que sereno
Se enfurna na paisagem, sou mineiro.
Se sou o que querias, concateno
Verdade com trabalho de pedreiro
E faço meu castelo mais ameno
Do que veneno foi o tempo inteiro...
A morte exige tanto pra quem fica,
Aguarda, minha amiga, o tempo estica....
X
6114
Exponho cada chaga ao teu sorriso.
É claro que isto traz muito prazer.
Meu canto se quiser, é de improviso
E nele tenho pouco o que dizer
Somente te falar que meu juízo
Há muito eu fiz questão de não conter...
Quando, horrorosamente fui sensível,
Bordaste mil bordões em meu destino.
Não vejo quase nada, imprevisível
Que alente uma esperança de menino.
Entre o querer e o ter há um desnível,
Embaixo do que fomos não assino...
A cruz que se pintou, velha piada,
Andando em cada templo, destroçada...
X
6115
Do silêncio refaço cada passo
Por horizontes cegos e sem mar.
Carpindo o que me fora, descompasso
Quedando tanto tempo sem falar.
Do corte tão profundo adaga e aço,
O que resta de mim vou te mostrar...
Um cheiro de café refaz do medo
E lembra mãe e filhas tílias, roças.
O gosto da saudade meio azedo
Mostrando quantas lágrimas empoças,
Acordo novamente assim, bem cedo
E parto para o quando sem talvez,
Cadencias meus olhos... perco a vez...
X
6116
Agora é dedicar-me ao nosso amor,
Em frases, pensamentos,atitudes...
Armando meu desejo aonde eu for,
Meus versos planejando plenitudes.
Vestindo meu carinho em tua flor,
Nao boto mais as mãos pesadas, rudes...
A lua em nosso amor sempre desvenda
Segredos que não sei e nem queria.
Deixando suas marcas, seda e renda,
Vivendo em nossa trama mais um dia,
Deitada mansamente invade a tenda
Em raios majestosos, poesia...
As pedras que atiraste são meu chão,
O piso em que tocaste, o da paixão...
X
6117
Amiga, não penteie solidão
Nos bares e nas ruas, sem sentido.
No vasto desenhar, teus pés no chão,
As marcas de um destino mal cumprido.
Carpindo tua dor sem solução,
Amor é sentimento distraído...
No mar que tu guardaste dentro em ti,
Nas ondas, tempestades e marés.
O mundo em que mergulhas bem que vi,
Em vales, precipícios aos teus pés;
O mesmo em que, faz tempo, me perdi,
E guardo em minha vida, qual revés....
Amiga se perceba bem mais forte,
A cicatriz valeu o fundo corte...
X
6118
Trazendo uma batalha a cada dia
Na lida que se espalha pela casa
Ao mar eu entreguei a fantasia
Meu rumo se perdeu em velha brasa.
Se faço da navalha, a poesia,
Disfarço, pois senão a vida atrasa.
Na rua que plantei meus diamantes,
No solo em que cravei minha esperança
Os vermes foram rápidos, instantes
Distantes se perderam desta dança;
Se quero enfim, teus olhos radiantes,
Talvez assim encontre uma aliança
Que faça da amizade mote e senha,
E a noite sem temores, logo venha...
X
6119
Na rua em que brincava sem ter medos,
Criança desfraldando o coração,
Deitando em cada salto seus segredos,
Trazendo para a vida a solução,
Os olhos libertários, nos lajedos,
O canto sem temor, em explosão...
Brindada por delícias em cirandas
Nas ruas do passado, polvilhei
As flores que guardaste, festas bandas,
No tempo em que menino, já fui rei.
Os anos se passaram... Enfim, desandas,
Saudade a quem sem forças me entreguei.
Na rua em que viver em liberdade
Traduzia-se, enfim, numa amizade...
X
6120
Sentindo da alegria, o manso riso,
Que é sorte para a vida e mantimento,
No gesto mais sensível e preciso
Amor tão desejado toma tento
Renasce e com presteza mata o siso,
Trazendo a calmaria no tormento...
Amar assim, um sonho que se sente
Em cada novo brilho bela lua.
Um gesto de carinho que, excelente,
Transporta uma emoção que já flutua
E vai pelas estrelas; envolvente,
E desce em tua casa, sala e rua..
Tu és o meu consolo e minha luz,
O canto que me toca e me seduz...
X
6121
Amiga, uma amizade que deseja
Que o outro seja sempre mais feliz.
Mostrando que o futuro se azuleja
Tomando da esperança o seu matiz.
No Fado delicado relampeja
O brilho deste sonho em que se diz
De toda a sensação mais deslumbrante
Dos raios dum porvir bem mais brilhoso,
Que Deus sempre permita doravante
Que a dor já se transforme em pleno gozo.
Tornando este passado discrepante
Com o futuro belo e mavioso...
Afeito deste sonho mais sincero,
Amiga estar contigo, sempre espero...
X
6122
Desejo te rever amada minha
Perpetuando em mim, uma saudade
De todo o grande amor, que ao certo tinha
No tempo em que vivi tranqüilidade,
O certo é que perdi o rumo, a linha;
Mas ajudar-me assim, Senhor, quem há de?
Caminho natural do pensamento
No puro afeto feito, com certeza
É ver em teu semblante tal tormento
Que negue de per si, tua beleza.
Amada; não pensei um só momento
Usar desta mentira, uma torpeza.
Tu és minha rainha e nunca nego,
Mesmo distante amor por ti carrego...
X
6123
Meu lago se tomou em amargura
Do sal que sempre teve, nada mais.
No enxoval dos sonhos da ternura
Apenas a metade o tempo traz.
O que logo desfaz, depressa cura,
Mas sempre leva um pouco desta paz.
Na rede das intrigas, fina agulha,
Desfere cedo um golpe contra mim,
O meu olhar tampouco se debulha
Retesa arco com seta, até no fim,
Amor que não se fez canalha e pulha
Guardado no canteiro, no jardim,
Florindo em esperança benfazeja
Que adoça muito mais que se deseja...
X
6124
Minha alma te procura e já se espraia
Deitada no teu braço, amor imenso,
A lua delicada, enfim desmaia
Neste horizonte belo, e tão extenso,
Deitando seu carinho sobre a praia,
O mar ruge voraz, tão forte, intenso...
A solidão que fora tão amarga,
Morrendo de ciúmes, neste inverno,
Ao ver esta emoção, bendita carga,
Procura outro caminho vão, eterno,
Meu mundo desfilando assim à larga,
Distante da tristeza, rudo inferno...
Quem teve uma esperança a vida inteira,
Agora encontra a paz mais verdadeira...
X
6125
Um sentimento assim descomunal
Que toma o coração como de assalto,
Vertendo uma emoção que sem igual
Refaz a vida mansa e sem ressalto,
Tomando as nossas mãos supera umbral
Da dor que nos vigia em sobressalto...
Olhando para longe, na amplidão,
Vislumbro o teu olhar mirando em mim.
Os rumos desdenhados da ilusão,
Tomando o coração fazendo assim,
Que o braço bem mais forte da paixão,
Ganhou e seduziu até no fim...
Por isso, enamorado não me canso,
Enquanto o teu olhar, distante, alcanço...
X
6126
Falar de tal amor que a gente sente
Com tanta mansidão, delicadeza.
Mostrando quanto amar se faz urgente
A quem quer, nessa vida, tal beleza
Que o faça ser feliz integralmente,
Seguindo da esperança a correnteza.
Os olhos perfumados deste amor
Ao verem que este canto não se cansa,
Mirando no futuro promissor
Que a vista de quem sonha sempre alcança
Mostrando quanto a vida tem valor,
Firmando amor e sorte em aliança.
Dois corpos que se sentem bem amados,
São fortes, não se vergam se acoitados...
X
6127
Amor tão engenhoso em seu ardil,
Embora tantas vezes sou esquivo,
Numa palavra mansa ou mais gentil,
Ao ver-me nos seus braços vou cativo.
A flecha que atirou me descobriu
E dessa seta nunca mais me esquivo.
Quem sempre se pensara estar fadado
À dura solidão do dia a dia,
Sentindo o forte amor aqui, do lado,
Entrega-se aos rumores da alegria,
Mesmo que o tempo esteja mais nublado,
Amor descortinando a fantasia.
Nos sonhos que perdera está reposto
O doce do amargor do amor, seu gosto...
X
6128
O vento da saudade que me varre
E leva meu amor por outros montes.
Não quer que minha sorte em ti se agarre
Nem quer que eu te vislumbre em horizontes.
Meu sonho nos varais que eu não amarre
Talvez isso me seque tantas fontes.
Detalhes esquecidos no caminho,
São meras ilusões; isso não nego.
Anárquico desejo: passarinho
Sem asas que em meu peito não carrego.
A noite que virá banhada a vinho,
Travando minha mão, amor e prego.
As trilhas escondidas de tocaia,
Morena o vento beija tua saia...
X
6129
Ao fim da tarde, sinto no crepúsculo
Saudade de quem foi e não voltou.
Amor que em tanto tempo foi maiúsculo
Agora só lembrança, o que restou.
O coração não passa de um corpúsculo
Que ausculto bem distante... e não parou...
A pedra da saudade vai rolando
E traz ponta cabeça, o meu futuro.
De novo quase estou me desatando
Mas vem a solidão, revolta o escuro.
Amor chega ligeiro e tocaiando
Me pega neste salto atrás do muro.
Deixar isso de lado? Não compensa,
Quem sabe chegue um dia, a recompensa...
X
6130
Desejos tão vaidosos e profanos,
Habitam nosso quarto a noite inteira.
Dos gozos mais divinos e mundanos
Da forma mais gostosa e corriqueira
Os beijos e delírios mais insanos,
A noite sempre é nossa companheira...
Fazendo tanto amor sem piedade,
Bebendo de nós dois, nada separa...
Num raio trovejando claridade,
No gosto desta boca doce e rara;
Tornando nosso amor, cumplicidade
Num jogo que começa e nunca pára...
Abrindo calmamente tua blusa,
Os seios maviosos, deusa, musa...
X
6131
Ao te sentir sonhando junto a mim,
Sorrisos escapando de soslaio
Tu tens todo o perfume do jasmim,
Delicadeza de uma flor de maio...
Teu nome tão sublime digo enfim
Em toda prece e quase que me traio
Na santidade imensa deste amor,
No templo e nesse altar que é divinal,
Beijando mansamente este esplendor,
Teu corpo aqui sereno, sem igual.
Depois de tanto tempo de torpor
Acordo no teu sonho magistral.
E vejo a noite inteira se passando,
Tua beleza rara, eu adorando...
X
6132
A pomba da esperança me deixou
Sozinho neste cais, ao vento breve,
O meu canto impreciso, o que restou
No tempo que se foi, que a dor não leve
O gosto desta vida que amargou
Somente teu carinho que me enleve
E salve desta errante caminhada
Por entre mil jazigos da saudade.
Depois de tanto tampo quase nada
Do que tive na vida foi verdade,
Somente a mão divina abençoada,
Que trazes companheira em amizade...
Meu coração que estava assim sem rumo,
Depois de te saber, acerta o prumo...
X
6133
Desejo tão profano e animal
Tomando nossos corpos, vou faminto...
Sorvendo este prazer de mel e sal,
Em cores variadas eu me pinto
E sinto o teu perfume sensual,
Me inebriando sempre teu absinto...
Tu danças, cavalgadas, noite ardente.
Na febre que nos toma, loucas horas...
Sentindo em tua boca cada dente,
Carinhos, mais carícias, tu me imploras...
E a cama se tornando mais fervente
Mais vezes, muitas vezes... me decoras...
E sinto tua gula mais audaz
No amor que a gente fez, e quero mais...
X
6134
Sem ter o teu carinho, nada sou;
Um barco que se perde num naufrágio,
Vazio que a saudade me deixou
Num coração sensível quase frágil,
Do mundo que meu sonho imaginou,
Apenas o que resta é como um plágio...
Espero tuas mãos como se um bote;
Fossem neste mar tão revoltoso...
Pra quem só teve amor como seu mote,
Perder o teu carinho é doloroso,
Secando logo a fonte, quebra o pote
E vivo o que me resta sem ter gozo...
Amada, sei que fui só teu, inteiro..
Amor que sempre tive, verdadeiro....
X
6135
Ao vê-la, companheira de viagem,
Sorrindo, tranqüilizo meu viver.
A sorte que não seja uma miragem,
Depois de tantas dores, do sofrer.
Que a vida te permita nova aragem
Que o mundo traga a paz. Já posso ver
Neste sorriso calmo, uma esperança;
Que nada mais prossiga em sofrimento.
Nos vales prometidos, nova dança,
Dos dias mais doídos de tormento
O amor com sua forte temperança
Refez esta alegria num momento....
Amiga, estou feliz vendo-te assim.
Teu canto tão bonito ecoa em mim...
X
6136
Em todos os caminhos o perigo
Se esconde em cada curva, em cada risco.
Te quero, companheira e já nem ligo
Se tenho que ficar assim, arisco.
Depois da caminhada o meu abrigo
Debaixo desta lua, argênteo disco.
Um sonho que se torna uma quimera,
De tudo o que mais caro possuíra,
O amor que, sei, embalde já quisera,
Morrendo entrelaçado com mentira,
Amiga, tu bem sabes desta fera
Do amor quando em rancor afinal vira,
Mas tendo o teu carinho, um braço forte,
Amiga não temi nem mesmo a morte...
X
6137
Manhã trazendo todo o seu frescor
Invade nosso quarto e nos provoca;
Deitados, mergulhados no torpor,
O deus enamorado nos convoca.
No cheiro de lavanda que se espalha;
Percebo tua boca desejosa,
Unidos pela mesma cordoalha
Deslumbro essa manhã maravilhosa.
E vamos; navegantes sem destino,
Rompendo mais um dia prazeroso.
Hedônico delírio de um menino,
Passando com amor em pleno gozo;
Sem hora de chegada ou de partida,
Os dias mais felizes desta vida.
X
6138
Passar pela janela enquanto sonhas,
É como viajar pelos espaços,
Sentindo o teu perfume nestas fronhas,
No travesseiro solto, tantos laços...
As noites em promessas tão risonhas,
Terminam sem poder te dar abraços...
A lua que em teu quarto sempre via
A tua transparência que revela,
O mundo mais bonito em fantasia,
Na luz bruxuleante de uma vela,
Compondo no teu corpo a poesia,
Que sempre desejei fazer, mais bela...
Na rua, caminhando tão sozinho...
No teu quarto, tão próximo, um carinho...
X
6139
À luz da lua, pálida, dormia,
Sua nudez mostrada na janela,
A natureza em festa, então sorria
Deitando o doce vento em torno dela.
Ao longe um coração tudo sabia,
Mas não podia estar junto com ela...
Os anjos passeando pelo céu
Ao verem tal beleza esculturada
Clamavam pelo amor, lindo corcel
Que vinha assim deixando-a extasiada.
Meus lábios ao sentirem raro mel,
A vida se tornou mais encantada...
Às noites vou velando o seu cansaço,
Decoro de seu corpo todo traço...
X
6140
Incandescentes lavas borbulhando
Nesta cratera imensa do desejo.
Paixão sem precedentes nos tomando,
Nos corpos dominados, um latejo..
Um látego prazer nos devorando
As línguas são açoite em cada beijo...
Mistérios ministrados em paisagens
Bordadas nestas telas, carne viva,
As mãos vão vasculhando uma pilhagem
Que faça nossa noite mais altiva.
Os rastros desejosos da viagem
Marcados pelos mucos e saliva...
Pois ébria destes vícios mais profanos,
A noite se desnuda em vários planos...
X
6141
Por mais que assim disfarce minha dor,
Sorrindo pelas ruas, até brinco.
Mostrando-me iludido em meu penhor,
Tentando demonstrar algum afinco,
Meu coração se mostra como for,
No desabrigo o vento leva o zinco,
Da casa desabada nada resta
Senão esta risada pobre e vil.
O gosto desta vida já não presta
A sorte me prepara o seu ardil,
Perdido sem ter rumo na floresta,
Meu rosto já me espelha: um imbecil...
Meu grande amor, eu sei que te perdi,
Vivo fingindo então que te esqueci...
X
6142
Perdoe se não pude oferecer
Meus olhos como peça em sacrifício,
Além do que pretendes posso ver,
O sentimento amargo deste ofício
De amar além de tudo e perceber
Depois que para ti, somente um vício...
Sou mar que não tem praias nem fronteiras,
Sou esmo vou tão ermo e morro só.
As luzes que te dei tão verdadeiras,
Mas volto novamente ao mesmo pó,
Cansaste meu amor, da brincadeira,
Destino me moeu, foi pedra e mó.
Mas trago minha amada, doces, flores,
Quem sabe inda vislumbre meus amores?
X
6143
Os teus olhos abertos pro futuro
Percebem outras luzes bem mais fortes.
Indefinidos véus tomando o escuro
Fantasmas variados, vagos portes.
Mas sabes discernir o chão mais duro
E mudas meus caminhos, nossos nortes...
Tu és o meu farol em ilha morta,
Vigora teu bom senso e lucidez.
A senda que eu seguira, mouca e torta
Agora a se tomar de sensatez.
Com calma, devagar abrindo a porta
Indicas o caminho em que se fez
Os rumos mais serenos e cordatos
Logrando os pensamentos insensatos...
X
6144
Velhas tristezas morrem sem remédio
Quando uma amizade se faz forte,
Não deixa mais que a dor em duro assédio
Revolva e transtorne nosso norte.
Amiga, não permita mais que o tédio
Invada a nossa vida como a morte.
A voz que nos guiou tão impoluta
Convida para a festa em galhardia.
Não teme nem disfarça, quer a luta
Que traga novamente a fantasia.
Silêncio em nossa vida não se escuta,
Mais forte grita o canto em poesia.
Uma saudade foge amortalhada,
Pelo clivo da amizade bem marcada...
X
6145
Teus sonhos de grinalda, véu, vestido;
Há muito se perderam pela vida.
Jogado pelos cantos, esquecido;
Numa visão distante, de saída...
O príncipe morrendo em triste olvido,
A noite sem prazer, mal resolvida...
Prá que tanto pudor querida amiga?
O mundo que sonhavas não existe.
Castelo desabou em frágil viga,
Ao vento da verdade não resiste.
Impede que ilusão, enfim prossiga,
A boda terminou. De velha e triste...
Depois de tanto tempo amordaçada,
A mão que te tocou não é da fada...
X
6146
Vibramos nossos sonhos em luxúria
Rolando a noite inteira sem pecados.
Na fortaleza imensa em louca fúria
Destinos são cumpridos, nossos fados,
A paixão nos tomando, nessa incúria
Os beijos desejosos, altos brados...
Caminhos percorridos pelas mãos,
Entregues à loucura, insensatez.
Desejos mais profanos e pagãos
Tomados pela noite a cada vez,
Adentram os sentidos, fendas, vãos,
Destroem o que fora lucidez...
Te quero, minha deusa tão lasciva,
Na noite de paixão, mais permissiva...
X
6147
Persigo-te em caminhos, flóreas sendas,
Dolentes os teus passos, meu encanto...
Essências magistrais em belas rendas
Enlanguescente mostras o teu canto.
Que à sorte tuas sanhas, sempre ascendas,
Tu és da plena glória, um helianto..
Desfilas teus olores divinais
Em todas as andanças que perfazes;
Teus olhos são por certo, magistrais,
Fulguram como a lua em suas fases,
Te quero bem assim, e muito mais.
Tu és do meu porvir colunas, bases...
Harmoniosamente vivo em ti,
A gênese do amor que, enfim, vivi...
X
6148
Se saio na noitada, na balada,
Bebendo tanta boca por aí,
Até me embriagar da madrugada
Amando simplesmente o que senti
Nas horas que passamos, minha amada,
Na roupa que contigo, desvesti.
Se cabe mais um gole, não dispenso,
Tomar teu corpo todo para mim.
Acalma e não me deixa assim tão tenso,
Viajo sem destino até o fim.
E sei que tu trafegas no que penso,
Aos olhos do vestido, puro brim,
Jogado neste quarto de motel,
Sugando gole em gole todo o céu...
X
6149
Não sabe que sozinho, aqui, padeço
Desta vontade enorme de você.
A cada novo passo, outro tropeço;
Não tenho nem mais sei deste por que;
Aos poucos vou sentindo que enlouqueço
Procuro por seus braços, mas cadê?
Apenas solidão bate na porta;
No frio desdenhoso da saudade.
Esperança agonizante e quase morta
Reflete o que mais sinto, na verdade.
A vida não seria assim tão torta
E nem seria dura a realidade
Se amor soubesse assim quanto desejo,
Apaixonadamente só um beijo...
X
6150
Te levo para o canto, encruzilhada,
Beijando tua boca, a mão se perde.
Encontra tua porta escancarada
Aos poucos, sem juízo, a noite cede,
Depois a noite plena, enluarada
Juízo não mais pede nem se mede..
Sem farsas nem mentiras, nossa entrega
Nos cantos e nos becos da cidade,
A vida se passando, amor se esfrega
E deixa um bom sabor; felicidade.
Paixão nos devorando, louca e cega;
Explode num prazer, deixa saudade...
Nas camas, cobertores e lençóis...
Depois enfim casamos... E ai de nós...
X
6151
Tua pele de louça, éter e sonho.
Vivendo por um triz a cada dia.
Marujo deste mar, meu barco ponho
Na vida dessa moça, fantasia...
Quem sabe se terei um cais risonho
Depois de naufragar tua magia.
É perigoso ter felicidade
No jogo de perder, nunca ganhar.
Não há nada no mundo que me enfade
Mais do que essa saudade a te buscar.
Por isso, por favor, por caridade,
Depressa vem comigo, mergulhar
Numa ilha bem distante, paraíso,
Perdendo todo o rumo e sem juízo...
X
6152
Amor que já suplanta cordilheiras
Não posso mais conter aqui no peito.
Tocando o teu olhar, amor não queiras
Que eu viva, de outra forma, satisfeito.
As flechas dos teus olhos, tão certeiras,
Convidam para a festa, para o leito...
Embora não desejes meu desejo,
Embora não percebas totalmente
O quanto que em teu corpo, amor almejo,
Viver uma aventura persistente.
Vem logo, me beber em cada beijo,
Amar-te é necessário e tão urgente.
Quem sabe se vier pedirás bis,
Não custa quase nada ser feliz!
X
6153
Pedido que se fez para uma estrela
Cadente numa noite de verão.
Vontade de beijá-la e de revê-la
Tomado pelos laços da paixão.
Depois de tanto tempo, conhecê-la
Foi toda a minha sorte e solução.
Eu quero o teu carinho aqui, comigo,
Não sei mais de outra forma de viver.
O mundo desabando, mas nem ligo,
Não quero outro caminho conhecer.
Estrela prometeu me dar abrigo,
Agora sem te ter, o que fazer?
Bem vi que esta esperança foi morrente,
Estrela que se fez assim, cadente...
X
6154
Não quero mais o mal a me enganar
Forjando uma esperança em cada rosto.
Não quero mais um duro despertar
Nem quero conceber novo desgosto.
Meus olhos nos teu corpo, luz solar,
Trazendo um novo sonho assim exposto...
Quem fora dedicado ao grande amor,
Não deve ser ferido por mentiras.
Talvez uma manhã, neste esplendor,
Refaça um coração cortado em tiras;
Mesmo que seja assim, só por favor,
Desejo que esta boca tu prefiras
E beije-me tranqüila e mais serena,
Senão esta tristeza me envenena...
X
6155
Voando pra distante dos meus braços,
Uma avezinha foge deste amor.
Meus olhos vãobuscando, tristes, lassos.
Aguardam no futuro recompor
O que se fora paz, ganhando espaços
Distantes do meu canto sonhador.
Ferido pela flecha de Cupido,
Que faço se não posso ter você?
O mundo vai ficando sem sentido,
Procuro uma esperança, mas cadê?
Vem logo que eu estou bem decidido
E quero o seu amor, como se vê.
Amor tão descuidado, passarinho,
Maltrata um coração tão pobrezinho..
X
6156
Tão grande esta promessa que te fiz
De ser a ti fiel, a vida inteira,
Pois saibas, um amor se faz feliz
Noutra alma que te seja companheira,
Não trame no meu peito em cicatriz
A dor que te acompanha, verdadeira.
Não quero te enganar, mas já te peço
Não deixe a solidão chegar aqui,
Querida, em meu caminho não tropeço;
Tu és toda a beleza que vivi,
Amar é renovar mesmo processo,
Vivendo todo o bom que existe em ti.
Mas não me deixe mais, assim, sozinho...
Amar é cultivar pleno carinho...
X
6157
Amiga, com certeza um passo cego
Impede que proclames esperança.
Errei, posso dizer, eu nunca nego,
Minha memória triste já te alcança
Bem perto de teus olhos, eu me achego
E sinto que está vivo na lembrança
Todo este desvario cometido,
Na insensatez terrível de um momento.
O vento de meu passo distraído,
Feriu quem não devia, em sentimento.
Agora chego a ti, vou resolvido,
Falar desta amizade, num alento...
A falha que na vida me acompanha,
Desculpe se te trouxe dor tamanha...
X
6158
Amor que me envolvera totalmente
Não dando sequer chance de defesa,
Pintando mil segredos, de repente,
Invade novo rio em correnteza.
Se fora bem mais calmo, docemente,
Talvez me permitisse a sobremesa.
Senhora de meus sonhos, rigorosa,
Bem sabe dos meus erros do passado.
A mão que cultivou a bela rosa,
Às vezes se esqueceu que existe arado
Maltratando esta flor maravilhosa,
Carinho prometido e nunca dado...
Mas peço, encarecido, o teu perdão,
Quem sabe nosso amor tem solução?
X
6159
Não canso de sonhar e desejar
Rolando em minha cama, estou sozinho...
Comigo só um raio do luar
Tomando em claridade nosso ninho.
Aguardo ansiosamente o teu voltar,
A noite vai passando sem carinho...
Tua pele macia, o teu sorriso,
A boca tão molhada e tão gostosa..
É tudo o que mais quero e mais preciso,
Sentir o teu desejo, amada rosa,
Tua volta ansiada, sem aviso,
Promete nova senda maviosa...
Porém estás distante... e até quando,
Eu ficarei aqui só desejando?
X
6160
Amor como um clarão relampejando,
Cortando escuridão da solidão
Se faz em sentimento desde quando
Nos toma e nos decora sem perdão.
Queimando fartamente em fogo brando
Provoca vez em quando uma erupção...
Aí, fazer o quê? Seguir seu passo
Deixando o pensamento bem liberto
Voltando pra morena, quero abraço
Desde o momento alegre em que desperto
Depois de tanta luta e do cansaço
Morena quero estar aqui, bem perto
Dos olhos mais bonitos que já vi,
Vem logo não compensa estar aí..
X
6161
Mesmo que pareça mentiroso
Meu canto mais feliz nunca mentiu.
Às vezes te pareço um ardiloso
Que engana com palavra mais gentil,
Porém toda alegria dor e gozo
Por certo quem poeta já sentiu.
No vento que me trouxe veraneio
Na areia em que tostei meu coração,
Nos olhos de quem vive tanto anseio,
Nas mãos sempre perdidas no perdão.
Na doce sensação do belo seio,
No rosto da saudade, na emoção...
Falar do que mais sinto, amor demais,
Se mostra em cada verso e sempre mais...
X
6162
Se tu soubesses quanto quero o canto
Que encanta e não me canso de cantar
Falando deste amor sem desencanto
Que quero todo dia sem cansar.
Amar é conseguir calar o pranto
Que insiste volta e meia a me encharcar.
Te espero no meu leito de batalha,
Navalha exposta em riso flamejante
Para outra estrela sempre amor atalha
Depois solta seu grito triunfante.
Na sorte que não veio me retalha
E sabe quanto quero d’hora em diante.
Amar é beber sorte em canudinho,
Morrendo de saudade em pleno ninho...
X
6163
Teu corpo majestoso em minha cama,
Febril e desejoso, mil promessas,
Querida sou servil e empresto a chama
Te quero conceber mesmo às avessas.
Em todos os carinhos, farta gama,
Com toda paciência sem ter pressas...
Teu fruto tropical, doce umidade,
Luxúrias opulentas, teu frescor.
Dois corpos se entrelaçam, unidade
Vigora em nossos jogos, nosso amor...
Orgásticos jograis, saciedade,
Deslumbre tão lascivo e tentador...
Decoro assim a tua geografia,
Na noite inconseqüente de folia...
X
6164
Tomada por luxúria e por desejos
Numa espiral de sonhos belicosos,
Ardência flamejante em loucos beijos,
Fornalhas emanando tantos gozos.
Fúria descomunal em relampejos,
Magias e venenos fabulosos
Requebros tão vorazes, bamboleios,
Sensualidade intensa tão ardente.
Delícia demonstrada em belos seios
Em convulsão feroz e mais freqüente
Cabelos revirados em meneios
Sorriso cristalino e transparente...
A noite se passando nesta dança
Bacante desejosa, o céu não cansa...
X
6165
Quando ansiosamente te propus
Indômitos segredos palpitantes,
Imagem lacerante que compus
Andanças por estradas mais errantes,
A mão que inebriada nos conduz,
Ao campus soberano dos amantes...
Luxuriantes sendas, carne e gozo,
Num quarto de motel, beira de estrada,
E neste ato carnal, tempestuoso,
Depois de quase tudo, o quase nada...
O vazio onde fora fabuloso,
A queda após a bela cavalgada...
Sorrio, sem sentido e sem vontade...
É duro o retomar realidade...
X
6166
Eu sei que não fui feito pra te dar
O mundo que mereces, meu amor.
Estrela que se fez neste luar
Rompendo toda a noite em esplendor.
Só trago uma esperança em meu olhar,
Bem sei que sou somente um sonhador...
Um resto que caminha pelas ruas,
Nos bares, nos botecos, aguardentes...
Enquanto em pleno brilho continuas,
Sorrisos, lábios, olhos, envolventes.
No palco desta vida, amor; atuas
São tuas minhas horas mais prementes...
Eu te amo e ninguém pode censurar,
O chão, mesmo que em sombra, vê luar...
X
6167
Teu vulto passeando no meu quarto,
Na luz de um abajur, bruxuleante...
Num trêmulo retrato de um instante,
Prazeres... o desejo, calmo e farto...
Ao ver-te passar, sinto o teu perfume,
O rastro da pantera extasiada.
Na transparência bela e demarcada
Por esta claridade vaga-lume...
Teus seios, tuas pernas sombreados
Cabelos soltos... vejo tal beleza
Que traz, neste momento esta certeza
Aos olhos que acompanham cada passo.
Exaustos, satisfeitos e cansados.
Te viras, surpreendendo-me... disfarço...
X
6168
Mordazes sensações, profundas chagas
Mostradas entre sorrisos e carícias...
Resquícios de distantes, outras plagas,
Misturam mansidão, gozos, malícias.
Ferina, mostra os dentes e me afagas,
Palavras carinhosas são fictícias...
Mas cedo ao teu feitiço e fico aqui,
Tal qual presa esperando pelo bote.
A faca que escondida, guarda em ti,
Quebrado há tanto tempo, mel e pote,
Nos olhos viperinos sempre li
Não tenho mais defesa que rebote
Os mórbidos momentos, noite e dia...
Mordazes refletores da agonia...
X
6169
Nossos corpos febris em noite clara,
Nas curvas derrapantes, capotei.
Vibrando a precisão que nos ampara
Invado teus domínios. Encontrei
A jóia que queria, pedra rara
Aos teus fascínios, manso, me entreguei
Tesouro que escondeste bem guardado
Castelo divinal em gruta bela.
Aos poucos, calmamente penetrado,
Riquezas sem igual, logo revela
A chuva vem caindo... extasiado
Meu corpo no castelo quando atrela
Demonstra a tempestade mais gulosa,
E a noite assim se vai, maravilhosa...
X
6170
Sombras desfilando em nosso quarto
Sombras do que fomos e matamos...
De cada novo amor, marcado parto,
Aromas e perfumes que estragamos.
Agora que afinal estou mais farto
Fingimos delicados: nos amamos...
Teu rosto não rebrilha nem o meu,
Os trilhos se encontraram no cansaço.
Depois deste universo que bebeu
Restou somente o gole deste espaço.
Palavra que este amor me convenceu,
Melhor adormecer que ter teu braço...
As rendas e veludos desbotados,
Apenas velhas penas e os enfados..
X
6171
Ondulas tua língua em meu desejo
Tocando com saliva cada ponto.
Na profusão confusa deste beijo,
Aos poucos me enlevando, fico tonto,
O fim deste caminho já prevejo
Chamas-me pra batalha, eis-me, estou pronto.
Depois, vou divagando em teus caminhos,
E subo devagar, bocas molhadas...
Tocando o mar salgado destes ninhos,
As hordas invadindo, delicadas...
Ao desfrutarmos juntos dos carinhos,
Nas ondas deste mar convulsionadas
Deitamos descansando em plena areia
Tritão apaixonado por sereia...
X
6172
O teu sorriso calmo e tão dolente
Demonstra tanta paz e mansidão.
Refaço minha vida totalmente
Nos braços que prometem novo chão.
A vida se renova de repente
E traz novo futuro e solução.
Amiga, em meus momentos doloridos,
Eu sei que tu me deste teu afeto.
Mostrando novos sonhos coloridos
Um mundo mais gentil e mais dileto.
Os males que passei adormecidos
Em teu carinho imenso me completo
E venho agradecer o teu amparo,
Teu sentimento nobre que é tão raro...
X
6173
Amiga, tanta angústia a me ferir..
Meus versos são navalhas contundentes
Não posso mais calar, nem vou pedir,
Os dias são adagas mostro os dentes
Mas nada do que faço faz surgir
Aquelas emoções mais envolventes...
Eu bebo, fumo, trago, estrago e aí?
Problema meu, a morte vem ligeira...
Se tudo o que queria despedi,
A dor que me acompanha, costumeira,
Meu rumo, minha estrada eu já perdi,
A lua não achei, partiu-se inteira
Teu gesto de amizade, o que me resta,
Amiga, vem comigo para a festa!
X
6174
O som da tua voz, doce e macio,
Chamando para a festa do prazer..
A chuva matizando o tempo frio,
Incenso aromatiza o bem querer.
Volátil coração antes vazio
Agora do teu sonho quer viver..
Rondando nosso quarto, fogo lento,
Ondeias pela cama inebriante.
A fome insaciável toma assento,
Nas sedas e veludos, cada instante
Se mostra mais sutil, lascivo vento...
A transparência viva e provocante
Convida num sorriso, corpo e mente,
A noite vai , despudoradamente...
X
6175
Amor, partenogênese fantástica
Que traz do nada, o tudo insuperável...
Mostrando sua face mais elástica
Nos morde de maneira mais amável.
Notícia que se torna mais bombástica
Bebendo solução mais intragável.
Leva todo o bom senso pra falência
Derruba um matagal de sensatez.
Amar é sucumbir com inocência,
Perder de uma vez só, a lucidez.
Depois pedir por paz, pela clemência
Após a guerra louca que já fez...
Amor é ser cruel, sendo servil.
Amar, trazer remanso, a um ser vil...
X
6176
Viemos das fornalhas ilusórias
Do gosto da senzala e do bordel.
No sangue que vertemos, as histórias
Emanam tantas manchas para o céu...
Na marca em cicatriz, tantas memórias
Dos sonhos que passamos, sujo véu...
Mas temos o sorriso desdentado
Nas mãos que calejaram-se em labuta.
Os olhos num futuro desregrado.
Viemos da tortura em força bruta
Do parto quase aborto, improvisado...
Da fome acumulada em cada luta.
Trazemos nossos olhos por pendor.
E o peito escancarado em pleno amor...
X
6177
Encontrei-te nos ócios desta vida,
Bebendo da sarjeta, o mesmo bom,
Na paz que nunca fora construída
No gosto apodrecido de um bombom,
Por isso é que te adoro, amor, querida....
Roubamos sem saber o mesmo tom...
Fica comigo, amiga, camarada,
A noite se promete em mil relances
Fazer amor debaixo de uma escada,
Sentindo os passos todos nos seus lances,
Transar a luz de cada madrugada
Tomando com prazer estes romances
Do gosto do quem fora, mas se fez,
Nos trapos colorindo insensatez...
X
6178
Quantas vezes perdido pelas ruas
Fiel aos meus desígnos prometidos,
Na busca por mentiras seminuas
Nas saias, nos requebros, nos vestidos,
Nas pernas tão roliças, carnes cruas,
Vivendo das paixões mal resolvidas...
Quantas vezes sangrando em cada porre
Nos becos, nos botecos, nos puteiros,
O sangue em cada corte ainda me escorre
Dos meus velhos entraves bandalheiros,
Nem mesmo o que nós fomos mais socorre
Destes canibalismos verdadeiros...
Quantas vezes risonha meretriz
Me mostra como agora sou feliz!
X
6179
Por esta estrada límpida e divina
Vieste derramando o teu perfume.
Na senda maviosa e cristalina
Teus passos magistrais são de costume.
Tua beleza rara me fascina
O teu olhar de deusa, um mago lume...
Quem dera se pudesse ter abrigo
Nos passos que desfilas no caminho,
Andando a vida inteira assim, prossigo
Por certo não serei jamais sozinho.
Um sonho tão feliz e tão antigo
Se mostra em cada gesto de carinho...
Meus olhos te buscando vacilavam...
Teus pés longe do solo flutuavam...

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