quinta-feira, 15 de abril de 2010

HOMENAGEM A ÂNGELO DE LIMA

SONETO

Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...

Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára m cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.

Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria

Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.


ÂNGELO DE LIMA





1

“E ele galga e prossegue sob a espora”
Dos medos e terrores que amealho
Enquanto se procura por atalho
O medo de viver a sorte escora
E muda a cada passo enquanto tem
A vida em desmedida dor intensa
Sem ter sequer quem tanto me convença
Do gozo prosseguindo muito aquém
Amortecida dor em passo errático
Corcel das esperanças segue ao léu
Aonde poderia ter um céu
O canto não mostrara em senso prático
Senão este vazio que inda trago,
Matando a placidez de um torpe lago.


2

“Mas a espora da dor seu flanco estria”
E gera este temor enquanto sigo
Deveras procurando por abrigo
A noite não seria tanto fria
Não fosse a realidade tão atroz
E quando se percebe mais distante
A sorte noutra face deslumbrante
Calando do meu peito a intensa voz
Não pude ser assim sequer poeta
E tanto quis decerto novo prumo,
Engodos reconheço e logo assumo
A fúria noutra tanta se completa
A melodia morre e não traduz
Sequer um simples facho, opaca luz.


3


“Um olhar de aço que essa noite explora”
Galgando o quanto pude e não existe
Sentindo o meu destino alheio e triste
O quanto percebera e vai embora
Amarro os meus tormentos com o resto
Em gotas mais sutis e nada vejo
Sequer o que pudesse algum lampejo
Aonde se mostrara ora indigesto,
Assisto aos meus momentos mais doídos
E nunca poderia imaginar
Encanto no horizonte sem luar
Os versos noutras sanhas são sentidos
E quando me conduzo ao mesmo não
Da trama nem sentido ou direção.


4


“E mergulha na noite escura e fria”
Esta alma sem destino alheia ao quanto
Ainda em solilóquio, tolo eu canto
Enquanto não percebo a fantasia
Da qual a vida agora não percebe
Sequer qualquer momento mais tranqüilo
E quando a dor sem tréguas eu desfilo
Tornando mais cruel a velha sebe
Recebo o mesmo não tão costumeiro
E morro sem saber doutro momento
Senão imenso medo e me atormento
E quando atocaiado não esgueiro
Enfrento esta tocaia em que me deste
O solo que ora cevo, embora agreste.


5


“Pára à beira do abismo e se demora”
Enquanto não percebe solução
Assim outros caminhos não trarão
Nem mesmo a poesia e sem demora
A vida se esvaindo neste tanto
Aonde se pudesse acreditar
Nas tramas tão diversas e entranhar
Ao menos qualquer, mas falso o encanto
E dele nada tenho mesmo quando
Pensara noutro rumo sem penhascos,
Quebrando da esperança finos frascos
Fiascos com terror se preparando
E nada do que possa ainda arrisco,
O amor que outrora quis, agora arisco.


6


“Pára e fica na doida correria”
Sem rumo ou norte enquanto não se vê
Ainda procurando algum por que
A sorte desta forma desafia
O encanto que talvez inda pudesse
Traçar novo sentido, mas se vejo
O mundo sendo apenas um lampejo
O prêmio se desvia e não o merecesse
Quem busca novamente outro caminho
Embora muitas vezes perfilasse
Além do que se molda neste impasse,
Do fim a todo engano me avizinho
E sinto ser deveras o que resta
A quem se deu em face nunca honesta.

7


“Pára e fica e demora-se um momento.”
Ainda pasmo enquanto não mergulho
Sabendo a cada passo um pedregulho
No vago desta dor tanto lamento
E quando sou assim apenas morto
Deveras não consigo outra saída
E sei somente o pranto em despedida
Aonde poderia haver um porto,
Mesquinha luz cevada a cada dia
E nela me remeto sem respostas
Expondo o que decerto não mais gostas
Ainda novo rumo poderia
Quem segue errôneo passo rumo ao nada,
Já tendo a sua sorte desvairada...



8

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