terça-feira, 13 de abril de 2010

HOMENAGEM A SAFO

1

“em taças de ouro.”
Beber à farta
Sorte descarta
Ancoradouro
Vivo tesouro
Nunca se aparta
Relendo a carta
De vós me douro,
Seria tanto
Quanto tivesse
Imensa messe
Sobejo canto
Sabendo enfim
Do amor em mim.

2

“que tão graciosa serves para a festa,”
E tanto quanto pode engalanais
Vencendo com ternura os temporais
O amor quando demais sempre nos gesta
Não posso perceber qualquer tempesta
Se em tanto tempo vivo tenho um cais
E nele com certeza derramais
Beleza sem igual ao sonho empresta
A senda mais sublime dita a vida
E dela se prepara a tão ungida
Vontade de seguir vosso caminho,
E quando mais encontro a correnteza
Amor se transformando em fortaleza
Dos deuses, neste instante eu me avizinho...

3


“e dá-me um pouco desse claro gozo”
Sabendo desde quanto muito quer
Quem conhecendo a fundo uma mulher
Desfruta deste mar que é tão formoso
E bebe cada gota e tanto sabe
Diversidade transformando então
O quanto posso neste tanto ter
Vivendo sempre o divinal prazer
Singrando tenras luas cevo o grão
Sobeja glória divindade em vós
Servindo tanto quanto posso além
E sei da farta luz que agora tem
Quem caminhando em senda assim feroz
Desvenda cada passo rumo ao quanto
O amor se mostra sempre em raro encanto.

4

“Apanhando grinaldas, vem, ó Musa”
Traçar com sonhos fartos; noites belas
E tanto quanto posso no amor revelas
Belezas tão sobejas dor escusa
E sinto ferve em nós vontade tanta
Diversa luz em tom melhor e raro
E quando amor além em ti declaro
Uma alma bebe a sorte e então já canta
Ao vislumbrar então clarão imenso
Sabendo sempre deste tanto amor
E nele vivo com fartura a flor
Plantada em luz ao se mostrar intenso
Desejo traça a sorte quando vejo
Em ti sobeja glória em tal desejo.

5


“igual ao mel”
Bebo da luz
Que reproduz
Caminho e céu
Desvendo o véu
Em contraluz
Tanto seduz
Amor fiel
Reserva a sorte
Impede o corte
Transcendo quando
Transformações
Agora expões
Nos dominando...

6


“e os anetos exalam seu aroma”
Tomando em minhas mãos tanto carinho
E nele com certeza se me aninho
A vida em tempestade já se doma,
Não posso prosseguir sem ter a soma
Da qual e pela qual jamais sozinho
O mundo transformando pão e vinho
Com força a cada passo ora me toma,
Resisto a tanto amor? Nem mesmo quando
Pudesse resistir, mas me adentrando
O quanto posso ainda acreditar
No verso mais feliz, a dor se aplaca
O amor fincando em mim a mansa estaca
Permite novamente navegar.

7

“desabrocham as flores do carvalho”
E delas eu percebo a bela senda
Aonde tanto sonho já se atenda
No quanto em farta luz em me amealho,
Sentindo assim a sorte a cada atalho
O quanto do prazer amor desvenda
Não posso mais saber qualquer contenda
Se em tanto brilho nunca me retalho
Vagando por caminhos mais diversos
Usando como bússolas meus versos
Dispersos dias traço em luz enorme,
E tanto poderia ser assim
Amor domando cedo o meu jardim,
Do quanto desejara sempre informe.

8


“Aqui num campo onde os cavalos pastam”
Risonhas maravilhas, fontes claras
E tanto quanto amor tu me declaras
Os dias mais doridos já se afastam
Os templos divinais só não me bastam
Vivendo com ternura tais searas
As sortes mais audazes; tanto amparas
As dores vão além e se desgastam.
Saber da plenitude deste encanto
E quanto mais feliz, eu sei e canto
O mundo mostra o brilho feito em sonho
O quanto posso ter até reponho
Cevando a glória e o fausto aonde posso
Sentir divino encanto teu e nosso...


9

“uma sombra de rosas; cai o sono”
E quanto me permito crer no todo
A vida se traçando em tanto engodo
Gerando a cada passo o quanto adono
Do verso frágil manso tento e clono
Viver fartura invés de dor e lodo
Pudesse ter ao menos deste modo
O amor querido e na verdade um dono
Sabendo sempre o que talvez pudesse
Sentir com toda a fúria a imensa messe
Da qual e pela qual mergulho ainda
Vivenciando o passo enquanto audaz
E dele moldo a voz porquanto faz
A sorte fera que este amor deslinda.

10


“em meio aos ramos; cobre este lugar”
O corte dita o meu caminho em paz
E dele todo mostra o quão mordaz
O passo feito enquanto jogo ao mar
A prenda lúdica traçando amar
Se dela vejo o meu caminho e traz
O quanto posso ou mesmo sou capaz
E neste tanto quanto faço o altar
Ao percorrer o meu sobejo mundo
E quanto posso e mesmo enfim me inundo
Do sonho vivo em tempestade atroz
Sabendo deste sempre fero rio
Aonde tento o verso e assim desfio
Buscando tanto percorrer a foz.


11

“Aqui a água fria rumoreja calma,”
E dela mesma se produz o canto
Enquanto tento este possível manto
Aonde todo fim traduzindo acalma
E dele sinto mesmo terna luz
Vencida pelo anseio medo ou corte
E tento esguia noite feita um norte
Aonde sempre ao adentrar conduz
Traçando brusco caminhar presente
Seguindo a sorte deste tosco mar
E nele posso então viver o amar
Diverso deste quando tanto sente
A quem a noite transgredindo o sonho
Deveras muito mais do quanto ponho.

12


“das folhas trêmulas
Dos dias tais
Meros cristais
Do mar anêmolas
Escassas vênulas
Riscos iguais
Aos magistrais
Que ora em fórmulas
Ditas prefácio
Amor? É fácil?
Bem sabes não
Assim se vê
Sem ter por que
Nem direção.


13

“o odor do incenso”
Amor refaz
A sorte audaz
Caminho imenso
E quando penso
Na minha paz
Sede voraz
Não recompenso
No tanto posso
No quanto faço
Se tanto é nosso
O que não traço
Vivo remoço
E me refaço.

14


“e dos altares sempre se levanta”
A sorte tanta de quem sabe a luta
E quando audaz se jamais reluta
Vestindo enfim esta terrível manta
E dela vejo o que se faz e espanta
Quem tanto quis e na verdade astuta
Percebe quando o caminhar disputa
Com quem deveras ao sentir quebranta
Pereço enquanto posso tanto ou menos
Viver os dias que julguei amenos
Ao mergulhar neste delírio insano
E quando tento decifrar meu rumo
Os erros fartos com certeza; assumo
E sei deveras o meu próprio engano.

15


“ao redor há um bosque de macieiras”
E nele sei do caminhar disperso
Aonde tanto poderia um verso
Falar da noite em que tu foges. Beiras.
As sortes frágeis e deveras queiras
Falar do quando se imagina imerso
Quem pensa mesmo que se vê diverso
Do quanto podem noites vãs, bandeiras
E sinto cedo o tal terror sublime
Aonde amor se mostraria um crime
E sendo assim ao mergulhar além
O quanto posso, mas jamais se crê
No tanto quando procurar por que
Embora saiba se esta luz convém.

16

“Eu vos rogo, ó cretenses, vinde ao templo”
E sabei vós o que deveras sinto
Neste vulcânico caminho extinto
Enquanto amor ainda aqui; contemplo,
Reflete então esta maior beleza
E nela vejo o que não sei nem tento
Calando agora em tanto amor o alento
Sentindo mesmo ter tão grã pureza
Quem na verdade ao se saber imensa
Conhece o canto pelo qual me expresso
O verso sáfico ao trazer começo
Do encanto tal que deste amor convença
A sorte rara pela qual a messe
Sobeja glória em que este sonho tece.

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